22 de jul de 20164 min

Empreendedoras ao Mar!

Por Adriana Lippi

Talvez o termo empreender esteja mais em voga agora do que antes, talvez eu esteja mais atenta a ele recentemente. Quando se pensa em empreendedores e empresários o que te vem à cabeça? Um cara ricaço dono de várias empresas (Richard Brandson - Virgin)? Um cara que manja muito de tecnologia e cria coisas inovadoras (Steve Jobs - Apple)? Um cara desonesto que faz lobby com metade dos políticos para conseguir se dar melhor?

Ilustração: Joana Ho.

Sinto que existem ares de prestígio para empreendedores, como se fossem pessoas meio fora do padrão e que fazem algo extraordinário. Bom, alguns são, mas talvez haja mais empreendedores do que você pensa. O que tem em comum a dona da barraca de café da manhã, a moça da cesta de trufas que as vende na universidade no intervalo das aulas e a amiga que vende artesanatos que ela mesmo faz (ou não)? Elas também são empreendedoras!

É capaz de você se deparar até com mais mulheres empreendedoras no seu círculo social do que com homens empreendedores. O estudo do SEBRAE de 2015 indica que 49% dos empreendedores brasileiros são mulheres. Os motivos para as mulheres começarem um negócio próprio podem ser dos mais variados:

E por aí vai! O empreendedorismo não é a solução para todos os problemas, afinal, se todos forem empreendedores quem vai trabalhar nas empresas já existentes? Todos os tipos de atuação tem seu valor nesse universo econômico e social.

Existem muitas teorias sobre o estado atual da economia global: haverá uma migração do capitalismo para outra forma de economia? Talvez, só o tempo dirá, mas cada vez mais pessoas querem desenvolver negócios inovadores e a internet está aí para conectar essas pessoas e divulgar para todos essas novas possibilidades. Estamos em uma crise global. Não só econômica, mas política, de representatividade, política, de gênero, de identidade, de classes, etc… E talvez os novos empreendimentos não sirvam só para gerar renda, mas talvez para ajudar o mundo a se reencontrar. Já pensou como você pode ser peça importante seja para sua família e/ou comunidade? Já pensou em algo que possa mudar o mundo?

Ok, ok, mas o que isso tudo de empreendedorismo pode ter a ver com os mares e os oceanos?

Existe um conceito recente chamado de “Economia Azul”, que seria uma evolução da “Economia Verde”. Vou tentar explicar bem simplificadamente: A Economia Verde busca reduzir impactos, se importa com a questão socioambiental buscando igualdade e inclusão social e uso eficiente dos recursos. Já a Economia Azul tem duas vertentes. Uma delas é a definição de Economia Azul por Gunter Pauli. Em seu livro ele diz que a Economia Azul deve buscar inspiração na natureza e seus processos além de valorizar as pessoas do local, tendo como alguns princípios: não existe lixo (tudo é aproveitável), os processos são não-lineares (ou seja, não existe um “fim”, um produto ou resíduo de um processo sempre pode ser o início de outro processo, podendo retornar de forma cíclica), um processo gera muitos benefícios, entre outros. A definição de Economia Azul feita na Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável de 2012) seria a aplicação da Economia Verde para regiões costeiras.

Não sou especialista em empreendimentos de Economia Verde ou Azul, mas vou tentar dar alguns exemplos pra ilustrar:

Como exemplos da Economia Verde, voltada para os oceanos, tem a Ocean Drop, uma empresa bem nova formado por oceanógrafos, que utiliza microalgas encontradas nos oceanos para criar suplementos nutricionais. Há também a Eco-Reef, que comercializa animais para aquários marinhos que são reproduzidos em cativeiro, ou seja, protegendo os ecossistemas já existentes de perderem espécies para atividades de aquarismo, como aconteceu com o peixe-palhaço após o filme da Disney “Procurando Nemo”, cuja a captura aumentou muito e levou ao colapso algumas populações da espécie.

Quanto a Economia Azul, eu não consegui levantar exemplos atuais de empresas que atuem no oceano, mas há alguns anos atrás o Prof. Jorge Costa da FURG estudava como utilizar o CO2 gerado por termoelétricas para produzir a microalga Spirulina para suplementação nutricional, dessa forma o “resíduo” da termoelétrica serviria para outro processo (produção de microalga). Como um exemplo não ligado aos oceanos, temos uma vinícola sul-africana que utiliza patos que fazem a função de adubagem pela fezes que eliminam e controle de pragas como caracóis, parasitas e outros insetos. Dessa forma produzem as uvas sem necessidade de uso intenso de agrotóxicos, fertilizante, pesticidas, etc… e os patos acabaram se tornando uma atração turística.

Acredito que seja possível combinar as duas visões de Economia Azul (aplicar o conceito de Pauli para regiões costeiras), mas precisamos de empreendedoras e empreendedores dispostos a criar esses negócios. E ai, alguém se habilita?


Extras:

Videos sobre Economia Azul

https://www.youtube.com/watch?v=1af08PSlaIs https://www.youtube.com/watch?v=flMvwi6jR8o


Sobre Adriana:

Oceanógrafa, programadora web, viciada em ler, aprender e questionar, com mania de controle de tarefas, equipes e finanças de projetos, diretora do Instituto Costa Brasilis. Me apaixonei pelas diatomáceas ainda no colégio, achava que passaria o resto da minha vida trabalhando com esses minúsculos e quase invisíveis seres, mas não podia ignorar as coisas visíveis do meu dia-a-dia que achava importante realizar. Participei da A.A.A Oceanográfica, do Centro Acadêmico Panthalassa, encabecei O Escafandro (periódico feito pelos alunos da graduação do IOUSP), participei da organização de eventos científicos (SNO2010, SBO2011, Oceanos & Sociedade 2013, ISBS2015), fui gerente de Tecnologia de Informação e Comunicação na SALT e agora to tentando descobrir como viver no mundo das ONG’s, mas com saudades das minhas diatomáceas!

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