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Amazonas: um mar de “água doce”

Atualizado: 19 de jun. de 2020


Já falamos aqui na sessão “Vida de Cientista” sobre nossas aventuras ao trabalhar com o oceano, quer seja embarcadas em grandes navios, em submarinos, ou com o pé em terra firme, porém em ilhas bem distantes. Entretanto, a aventura que vou contar agora nos levará para o interior do continente, no norte do Brasil, no Amazonas!


Oi?!... Amazonas?!... Mas o foco desse blog não é ciências do mar?!..

Sim, vocês estão certos, Netuno é o Deus dos mares na mitologia romana e nossa maior atenção é para ele, o oceano! Porém, para chegar até o mar naveguei por diversos rios, e vou descrever um pouco do começo dessa trajetória. É engraçado pensar, mas foi lá, na Amazônia, que conheci pela primeira vez uma oceanógrafa, a Dra. Miriam Marmontel, coordenadora do Grupo de Pesquisas em Mamíferos Aquáticos do Instituto Mamirauá. Outro belo exemplo de que áreas distintas podem e devem caminhar juntas (lembram do post sobre a veterinária e a oceanografia?).


Bem, mas vamos desde o começo... Tudo começou há aproximadamente 10 anos atrás, quando eu estava indo para o último ano da graduação em biologia e já trabalhava com peixes em Minas Gerais. Foi quando uma amiga que estava fazendo um estágio voluntário no Mamirauá me ligou, contando que sua vaga seria logo aberta e perguntando se eu não tinha interesse em me inscrever... Pensei, tudo bem, me inscrevo, mal não vai fazer... porém fui aceita e mil coisas começaram a passar na minha cabeça... Tinha que viajar pra Tefé - AM, ia trabalhar no Instituto Mamirauá...


Tefé é um município no interior do estado do Amazonas, de aproximadamente 62.000 habitantes. Me explicaram que, por estar praticamente no meio do Amazonas, sua posição era bastante estratégica, e portanto lá tem base do exército, da marinha e da aeronáutica. Mas também é a cidade sede do Instituto Mamirauá, e era lá onde eu moraria por 6 meses.

A aventura de chegar lá não fica atrás de nenhuma outra descrita aqui no blog. Na ida peguei um avião pequeno em Manaus, a partir de onde sobrevoei a selva amazônica, e tudo que se via era um belo tapete verde, sem fim, apenas cortados pelas suas veias, os rios! Eu me  lembrava o tempo todo de meu pai, piloto de avião de pequeno porte, contando que prefere contornar a costa brasileira do que sobrevoar a Amazônia. Diz ele, que no caso de uma queda, ser localizado  no mar é mais fácil do que na floresta, pois o avião fica mais exposto para buscas, além dos grandes navios servirem como base para uma possível localização.


Seis meses após, na volta, o aeroporto de Tefé estava fechado devido à grande quantidade de urubus nas proximidades por causa de um lixão ali nas redondezas. O único problema era que Tefé não é ligada por terra com  nenhuma outra cidade, e não havia local para onde deslocar o lixão ou até mesmo fazer um futuro aterro. Me restou retornar navegando, ou passando 3 dias em um barco (daqueles que as pessoas penduram as redes, típico da região Norte do país), ou em uma lancha a jato (como era chamada) gastando apenas 24 horas. Escolhi a lancha por ser mais rápida pois queria passar um tempo em Manaus com uma amiga. Mas confesso que me arrependi amargamente, pois mesmo sem o costume de enjoar no mar, enjoei muito nessa lancha, tanto pelo desconforto da cadeira, quanto pelo barulho dos motores e, principalmente, pelo calor.


Já o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá é uma Organização Social fomentada e supervisionada pelo, até então, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Foi criado em 1999 e desde o começo vem desenvolvendo suas atividades por meio de programas de pesquisa, manejo e assessoria técnica nas áreas das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã. Reserva de Desenvolvimento Sustentável é uma categoria de área protegida prevista no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC - lembra que já falamos desse sistema por aqui?!). O principal objetivo dessa categoria é conciliar a conservação da natureza à melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes, que participa de todo e qualquer processo relacionado com a reserva. Na Reserva de Desenvolvimento Mamirauá, a primeira reserva dessa categoria criada em 1996, presenciei a população local participando ativamente das atividades de pesquisa e manejo, da vigilância, da gerência e manutenção da Pousada Uakari (uma pousada localizada na própria reserva), entre diversas outras atividades.

Durante o estágio, pesquisei a biologia reprodutiva de algumas espécies de peixes ornamentais da família Cichlidae. O principal objetivo era buscar informações sobre as espécies que pudessem ser utilizadas em um futuro manejo sustentável das mesmas (para maiores informações acessar os links no final do texto). Participava também de uma das atividades de extensão do projeto, que consistia em receber os turistas da Pousada Uakari em nosso laboratório flutuante, apresentar as espécies ornamentais locais, as formas de coleta (fazíamos até uma pequena coleta com eles), e falar sobre as pesquisas em andamento. Era nesse momento, ou quando estava em campo auxiliando em outras coletas, que realmente sentia o coração bater mais forte por estar no Amazonas, me sentindo pequena perto da imensidão da floresta, da diversidade de peixes amostrados e da cultura dos ribeirinhos.


Com certeza foram seis meses inesquecíveis, de deslumbramento por esse canto incrível do Brasil, de muito aprendizado, e de convívio com  pessoas maravilhosas que tenho uma profunda admiração!

 

Referências e recomendações:


Recomendo que naveguem pela página do Instituto Mamirauá para conhecer um pouco mais sobre as reservas, as atividades, as pessoas e tudo mais que falei brevemente nesse post:


O Plano de Manejo das Áreas de Coleta de Peixes Ornamentais da Reserva Amanã pode ser obtido em:


E os artigos publicados, oriundos do período que fiquei por lá em:




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