Sou mulher e pesquisadora. Como qualquer mulher que queira seguir a carreira acadêmica já me deparei com diversos questionamentos. Tais questionamentos vão desde algo aparentemente banal, como que roupa usar em um embarque sem parecer “vulgar” (sim, apesar do calor do Brasil sempre tomo cuidado para não usar roupa decotada ou curta demais e sempre fico morrendo de inveja dos homens que simplesmente tiram a camisa e trabalham!) até algo mais complexo, como em que momento devo encaixar filhos no “cronograma” da minha tese (apresentarei esse tópico em uma outra publicação).
Entretanto, apesar de já ter discutido com amigas as dificuldades de ser mulher e pesquisadora, nunca pensei que esse assunto fosse sair de uma mesa de bar ou de um cafezinho no laboratório. Assim, tão grande foi a minha surpresa ao receber um e-mail sobre o primeiro workshop da recém formada Society for Women in Marine Science (SWMS), organizado pelo Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI). Não tive dúvidas em me inscrever, e em setembro de 2014 estava com mais 90 mulheres de diversas faixas de idade e posições, analisando as dificuldades e buscando soluções para mulheres nas ciências marinhas.
Foi um dia intenso, com apresentações, mesa redonda e uma enorme quantidade de mulheres que queriam dar o seu depoimento. Uma colega da Universidade de Massachusetts contou que ela teve que embarcar por três dias enquanto ainda estava amamentando seu filho de quase 10 meses e além de ter sido julgada por várias pessoas como uma péssima mãe, abandonando o filho com o marido (pai), ainda teve que lidar com a dificuldade de estar com uma tripulação apenas de homens e ter que “fugir” do trabalho algumas vezes para retirar leite e armazená-lo corretamente.
Uma das palestras mais interessantes foi a da Dra. Penny Sallie Chisholm, professora de biologia no MIT (Massachusetts Institute of Technology), contando sua experiência como membro formadora do “MIT Committee on Women Faculty in the MIT School of Science”, cujo objetivo é coletar dados e analisar a posição das mulheres cientistas no MIT. Em 1999 tal comitê publicou um relatório confirmando claras desigualdades de gênero na contratação, salário, pensão, prêmios, promoções, inclusão em comitês e alocação de recursos valiosos, tais como espaço de laboratório e dinheiro de pesquisa no MIT (o relatório completo pode ser acessado aqui). Após esse primeiro relatório, diversas mudanças ocorreram: salários foram ajustados, a licença maternidade foi aumentada, as práticas de contratação mudaram. O número de professoras na faculdade de ciências, por exemplo, aumentou de 30 para 52, conforme o último relatório, publicado em 2011 (disponível aqui).
Apesar das claras melhorias observadas, o comitê do MIT ressalta estar ciente de que se trata de um processo contínuo e que muitas mudanças ainda precisam ser efetuadas. Porém me conforta ouvir histórias de grupos de pessoas que se juntaram por uma causa e obtiveram resultados positivos.
Se você se interessou pelo assunto é possível se cadastrar na lista de e-mails da SWMS para receber informações sobre workshops futuros e seguir o nosso blog.
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