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Ecopsicologia: conectando a ecologia com a psicologia

Uma experiência de transição profissional


Por Maria Cláudia Grillo

Ilustração de Joana Ho


Cresci numa casa com árvores no quintal e sempre me senti próxima da natureza, uma ligação que permaneceu forte ao longo da vida. Meu programa preferido era ir à praia. O mar era aquele lugar belo e amplo que, para mim, representava duas palavras – alegria e liberdade - e que, ao mesmo tempo, instigava minha curiosidade investigativa. 


Lá pelos 9 anos, comecei a sentir o chamado para estudar biologia. E assim foi.  Aos 16, entrei na faculdade de biologia da UFRJ, e escolhi me aprofundar em ecologia marinha costeira. Fiz o mestrado e o doutorado nessa área e, paralelamente, dei aulas de ecologia geral e marinha em universidades por 10 anos. Como professora e orientadora acadêmica, meu interesse pelas relações humanas foi crescendo, pois, a interação com os alunos e o apoio às suas escolhas era algo bem motivante. No entanto, sentia necessidade de uma aproximação maior entre o conhecimento científico, com sua objetividade, e a compreensão da dinâmica psíquica do ser humano, inclusive com a natureza, o que me levou a me aproximar da psicologia. Comecei, então, a buscar livros de psicologia junguiana e a me encantar com o universo simbólico de Jung (analista e psiquiatra suíço, 1875 - 1961). 


Segui meu percurso atuando como analista ambiental por vários anos. Trabalhei em ambiente corporativo com biodiversidade, mudanças climáticas e sustentabilidade. Contudo, ao longo dos anos, foi crescendo minha insatisfação profissional diante do que eu chamaria de “pragmatismo econômico” frente à importância do meio ambiente em si, e foi se aprofundando em mim o desejo por uma transição profissional.  Passei, então, a imaginar um novo caminho mais integrativo. Fiz pós-graduação em psicologia junguiana e formações em arteterapia e ecoarteterapia (que utiliza materiais da natureza) e, enfim, me desliguei do ambiente corporativo. 


O desejo de seguir integrando conhecimentos entre meio ambiente e psicologia me levou, nos últimos anos, a conhecer a ecopsicologia - área de estudos relativamente nova no Brasil e que busca compreender o psiquismo humano na sua relação com as demais espécies e com o ambiente. Trata-se de uma abordagem proposta inicialmente por psicólogos da Universidade de Berkeley, EUA, na década de 1990, e que procura integrar saberes das ciências naturais e humanas, incluindo a ciência, a psicologia, a filosofia, as artes e os conhecimentos dos povos originários, numa perspectiva transdisciplinar e ecocêntrica. Em 1992, o historiador Theodore Roszak publicou a obra A Voz da Terra, uma importante referência no tema, onde foram lançadas as bases do movimento ecopsicológico.    


De forma resumida, pode-se dizer que a ecopsicologia é uma ciência que busca a investigação da dinâmica psíquica das interrelações entre o ser humano e o ambiente natural, reconhecendo seus efeitos recíprocos (positivos e negativos) e questionando, ainda, modelos culturais de felicidade baseados no consumismo e no produtivismo que, em última análise, impactam e destroem os ecossistemas. Assim, a ecopsicologia busca plantar as sementes de uma maior compreensão e de uma nova concepção das relações do ser humano com o meio ambiente. A realização de vivências de reconexão com a natureza é prática essencial de sua abordagem na conscientização sobre a importância das demais espécies e da preservação dos ecossistemas como um todo, da qual depende também a saúde mental e a própria sobrevivência humana.  


No momento, trabalho como terapeuta, numa perspectiva integrativa, e faço a Formação em Ecopsicologia e Ecologia Profunda oferecida pelo Instituto Brasileiro de Ecopsicologia (IBE), com sede em Brasília e a UNIPAZ-DF. Minha experiência na área ambiental segue apoiando minha curiosidade e meus novos caminhos e, assim, me sinto inspirada para um próximo projeto - o de construir pontes entre os conteúdos da ecologia marinha costeira com os da ecopsicologia.  


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Para informações adicionais sobre formações, imersões e vivências em ecopsicologia e ecologia profunda, buscar o Instituto Brasileiro de Ecopsicologia (IBE) - @ecopsicologiabrasil


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Referências básicas no tema

KURIANSKY, Judy; NEMETH, Darlyne G. (Orgs). Ecopsychology: advances from the intersection of psychology and environmental protection. Denver, Colorado: ABC-CLIO, 2016. V. I-II.

MACY, Joanna & Johstone, Chris. Active Hope. New World Library. Novato, California.2012.

MACY, Joanna & Molly Young Brow. Nossa Vida como Gaia. Editora Gaia. 2004.

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 8a. Ed. Rio de Janeiro. Editora Bertrand Brasil. 2005.

MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 3a. Ed. Porto Alegre. Editora Sulina. 2007.

ROSZAK, Theodore. The Voice of the earth: an exploration of ecopsychology. Grand Rapids,

Wyoming: Phanes Press, 2011.


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Sobre a autora


Maria Cláudia Grillo é bacharel e licenciada em Ciências biológicas (UFRJ), mestre e doutora em ecologia (UFRJ). Trabalhou como professora universitária por 10 anos e na área de gestão ambiental corporativa com biodiversidade, mudanças climáticas e responsabilidade social. Iniciou uma transição profissional (que também chama de ampliação profissional) há 5 anos quando fez o curso Leadership for Transition, no Schumacher College, na Inglaterra. Fez pós-graduação em psicologia junguiana e outras formações terapêuticas, como arteterapia e aromaterapia.  Atualmente, trabalha como terapeuta, oferece cursos em ecologia, incluindo a abordagem terapêutica, e cursa formação em ecopsicologia e ecologia profunda pelo Instituto Brasileiro de Ecopsicologia e a UNIPAZ DF. Adora fotografia, praias, vivências e viagens na natureza, além de arte e cultura. 



Contatos: Instagram @telos_terapia e e-mail: claudiagrilloterapeuta@gmail.com


As informações e opiniões dos textos postados são de responsabilidade única e exclusivamente do autor de cada texto e não necessariamente refletem a opinião de Bate-papo com Netuno.




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