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Mulheres em eventos científicos: por que continuamos falando sobre isso?

Atualizado: 20 de jul. de 2020

Por Paula Birocchi



No início de 2018, soube através do SOLAS do instituto GEOMAR Helmholtz Center for Ocean Research que estavam abertas as inscrições para participar de um curso de verão do Integrate Marine Biosphere Research in Climate and Ecosystem ( IMBER ClimEco 6 Summer School ). A Juliana e eu, nos inscrevemos e fomos aprovadas para participar. Ficamos muito felizes e, eu já mandei e-mail para todos os patrocinadores (sponsorships) do evento, em meu nome e no da Juliana. Muitos responderam no mesmo dia (sexta-feira) negando o auxílio financeiro.


Até que, na segunda-feira, a coordenadora do evento, Lisa Maddison do IMBER me mandou um e-mail informando que uma pessoa havia desistido de participar e, devido ao meu entusiasmo, eu havia conseguido um auxílio do SCOR (SCOR = Scientific Committee on Oceanic Research, uma organização internacional que financia atividades de pesquisa e educação superior nas Ciências do Mar) de 1.800 dólares. Esse valor pagava as passagens aéreas para a Indonésia! Infelizmente, a Juliana não conseguiu o mesmo auxílio e não pôde ir comigo. Quando faltava praticamente um mês para a viagem, eu fui informada de um auxílio extra da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration, EUA) de 500 dólares que pagou a hospedagem, inscrição e alimentação durante o evento.


Participantes do curso

Vocês já devem imaginar como eu me senti a pessoa mais sortuda do mundo e ficava saltitando pelo IOUSP, onde eu era estudante de mestrado. Então, no dia 28 de julho embarquei em Guarulhos com destino a Etiópia, onde fiz escala de 5 horas para então seguir até Singapura. Fiquei em Singapura por 2 dias, quando dormi apenas 4- 5 horas por noite devido à mudança do fuso horário e pela empolgação mesmo. Que cidade maravilhosa! Singapura é super turística e simplesmente a combinação perfeita de uma cidade grande em que você pode desfrutar da natureza e do calor tropical, mas ao mesmo tempo de shoppings, vida noturna, comida maravilhosa e uma cultura riquíssima sobre o budismo (muitos e muitos templos), yoga etc.


Depois de Singapura, voei diretamente a Yogyakarta, a cidade Indonésia onde foi o Summer School CLIMECO 6. Que povo, que cultura, que lugar. O povo indonésio é muito receptivo e muito rico culturalmente. Uma cidade de muita gente, muita comida gostosa, muitas motos, muita natureza e muitos templos budistas, sendo o maior deles Borobudur, também localizado em Yogyakarta. Não preciso dizer que todos os palestrantes do Summer School foram sensacionais e todos muito abertos a ouvir os alunos, de igual pra igual, sem julgamentos, sem se colocar num patamar acima deles. Aprendi muito. Também tive momentos em que me senti um pouco sozinha na Indonésia, afinal fui sozinha, sem conhecer ninguém antes, mas isso não me desmotivou de continuar a nadar. Não devo negar que, durante o Summer School muitas vezes também me senti um pouco como um “peixinho fora d’água”, pois um outro colega mexicano que conheci por lá e eu éramos os únicos oceanógrafos físicos no evento. Mas, foi justamente por isso que o evento foi tão enriquecedor. Conhecer biólogos, ecólogos, engenheiros e até uma advogada, todos com a preocupação de entender melhor como aplicar a sustentabilidade de forma interdisciplinar em seus projetos de pesquisa e, por consequência, em suas vidas. Ao final do evento, tanto eu quanto o mexicano ganhamos uma menção honrosa dos organizadores a respeito das nossas apresentações de trabalho em formato de pôster, foi inesquecível. Dessa forma, eu agradeço pela oportunidade de poder participar deste evento, neste lugar. Agradeço ao apoio de todos os brasileiros que sabem dessa jornada, às brasileiras Kelly e Bia pelo companheirismo durante toda a viagem, e a organização do evento, principalmente a Lisa Maddison, a Anne, ao Chris Brown e ao SCOR e a NOAA, que financiaram a minha ida. Minha eterna gratidão!


Eu, Kelly e Bia representando o Brasil no templo Borobudur em Yogyakarta, Indonésia

Dicas? Confie em você e não desista de um sonho se você puder tentar fazê-lo se tornar realidade com seus próprios passos. Mande e-mails, muitos e-mails, porque quem não chora, não mama, e faça parcerias, novos contatos. Deixo aqui uma foto do templo Borobudur, um lugar que com certeza me inspirou e, acredito eu, deve inspirar muitas pessoas ao redor do mundo.





(Veja o primeiro post sobre o tema aqui)


 

Sobre a autora :

Paula é oceanógrafa, mestre em Oceanografia Física pelo programa de pós-graduação em Ciências do Instituto Oceanográfico da USP e doutoranda também pela USP. A autora desenvolve pesquisa com modelagem numérica a fim de compreender interações entre a oceanografia física e os processos biológicos e químicos da água do mar. Ultimamente estuda esses processos e a relação com mudanças antropogênicas no sistema carbonato no oceano. Sempre foi curiosa por ciência e apaixonada por gatos, plantas, vôlei e nos últimos anos por rugby.




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