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Mulheres em eventos científicos: por que estamos falando sobre isso?

Atualizado: 4 de jul. de 2020

Ilustração: Caia Colla


O Gordon Research Conference (GRC) é um grupo de aproximadamente 200 conferências de alto prestígio internacional coordenado por uma organização sem fins lucrativos com o mesmo nome. Os tópicos das conferências cobrem as mais diversas áreas da ciência. Durante esse eventos pesquisadores de várias partes do mundo se reúnem para discutir os assuntos mais recentes e as últimas descobertas científicas de um determinado campo científico. No final de julho ocorreu o GCR de Geoquímica Orgânica na cidade de Holderness nos EUA. 


O GRC - Geoquímica Orgânica ocorre a cada 2 anos e é a terceira vez que tive a oportunidade de participar deste evento, o que me deixou muito feliz. Mas o que esse ano teve de tão especial comparado aos anos anteriores? Foi o evento que mais houve participação de representantes das universidades brasileiras. E mais que isso, todas mulheres! Foram seis oceanógrafas brasileiras de quatro instituições diferentes (UFSC, UFBA, UFPR e PUC-RJ) de três regiões distintas do Brasil. E isso não foi notado só por mim ou minhas colegas, foi notado por várias pessoas que vieram salientar como a participação brasileira estava aumentando e, alguns destacaram também o fato de serem todas mulheres. Algumas pessoas chegaram até a comentar que o Brasil devia ser um país onde há grande incentivo para mulheres seguirem a carreira científica... infelizmente, essa parte tivemos que explicar que não era bem assim. 

Entre as muitas atividades que compõem o evento houve um momento para pensarmos e discutirmos sobre a diversidade de gênero no evento e na geoquímica orgânica, e como poderíamos aumentar a igualdade de participação. Nesse momento foi possível perceber que embora as oportunidades e incentivos para pesquisa sejam maiores em países da América do Norte e da Europa do que no nosso país, no quesito incentivo e participação da mulher na ciência não somos muito diferentes. Na conferência mesmo, havia um número maior de homens participantes e, principalmente de palestrantes. E, da mesma forma como ocorre no Brasil, há mulheres e homens que negam que haja qualquer tipo de desequilíbrio nas participações. 

Ao mesmo tempo que essas informações entristecem, é bom saber que há muitas pessoas conscientes do problema, dispostos a discutir e tomar atitudes para tentar mudar essa realidade. Mas como podemos mudar isso? Como podemos incentivar mais mulheres a participarem da ciência (principalmente de áreas como ciências da terra e ciências exatas)? Como aumentar a participação de mulheres em conferências, tanto como participantes ou palestrantes? Como aumentar o número de mulheres nos programas de pós-graduação, departamentos, institutos?


O primeira passo talvez seja mostrar que mulheres também podem fazer pesquisa. Pode parecer bobagem, mas muita gente acha que isso é coisa só de homem. Depois precisamos incentivá-las! E esse incentivo deve ser feito em todas as faixas etárias, começando quando elas são novas e ainda estão a procura de exemplos, como é o caso da iniciativa Meninas com Ciência USP. Mas deve continuar também quando elas estão na graduação, na pós-graduação ou até mesmo jáinseridas no mercado de trabalho. Afinal, sempre surgem dúvidas e, em um ambiente que exalta homens e deixa as mulheres de lado, não é difícil surgirem questionamentos (haja autoestima e perseverança!). Um outro ponto importante, é dar visibilidade para essas mulheres, a regra quem não é vista não é lembrada se aplica aqui. Pesquisas mostram que homens têm maior facilidade em se auto indicar e/ou indicar os colegas para cargos, prêmios etc. E se nós fizermos o mesmo? Como fazer isso? Comece conhecendo as mulheres da sua universidade, instituto, departamento… quem são? O que fazem? Onde vivem? Do que se alimentam? Converse com elas, dividam histórias, dúvidas, alegrias e aflições de serem pesquisadorAs. Depois de conhecê-las será fácil de lembrá-las na hora de escolher/indicar uma representante, uma palestrante, um exemplo, etc. 


Além disso, que tal começar a pedir que as comissões organizadoras dos eventos se preocupem em incentivar, aumentar e facilitar a participação feminina? Por exemplo, as comissões devem 1) refletir a diversidade que se espera em um evento científico (uma comissão formada por homens brancos de meia idade não vai saber quais são as necessidades do restante das pessoas); 2) determinar que haverá igualdade de gênero no número de palestrantes; 2) inserir em seus códigos de conduta ações para que as mulheres se sintam confortáveis e não sejam desrespeitadas durante a conferência (a propósito, as conferências que você participa tem código de conduta?); 3) orientar os revisores dos trabalhos submetidos a terem consciência das suas tendências (olha que legal esse código que foi passado para os revisores do SciPy2018); 4) oferecer espaços de cuidado/recreação para as pessoas que levarem suas crianças; 5) oferecer um espaço adequado (atenção aqui, espaço adequado e não simplesmente um espaço!) para mães que precisam amamentar ou retirar leite (está em dúvida sobre o que é um espaço adequado, consulte as usuárias, há até mesmo um artigo discutindo isso)


A participação de mulheres em eventos internacionais é super importante para o estabelecimento de parcerias e estudos de maior importância. Para fazer ciência de ponta, precisamos de interação internacional. E as possibilidade de interação aumentam enormemente se você estiver nesses eventos, bem como se você der uma palestra para outras pessoas do seu campo de atuação. Por isso mulheres, não esqueçam da sororidade (= união e aliança entre mulheres, baseada na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum)! Com ela somos mais fortes e vamos mais longe!

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