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O oceano Pacífico está diminuindo?

Atualizado: 4 de jul. de 2020


Antes de responder essa pergunta, precisamos entender alguns conceitos e teorias. Então pegue um mapa-múndi e observe. Uma impressão que esse mapa nos passa é que os continentes estão ancorados de forma duradoura em um determinado ponto da superfície da Terra, certo? Mas, na verdade sabemos que eles estão “vagando” pelo mundo com o passar do tempo. No momento em que você lê esse post, o local no qual você se encontra está derivando lentamente e sem parar. 


Observando novamente o mapa-múndi nota-se um impressionante quebra-cabeça formado pelas linhas de costa de ambos os lados do Oceano Atlântico, principalmente  as bordas opostas da África e da América do Sul. Isso sugere que se você combinar cuidadosamente as bordas de todos os continentes eles podem ser reagrupados em uma única massa de terra, como se um quebra cabeça fosse resolvido.

Mapa publicado por Antonio Snider em 1858, mostrando o rearranjo do continente em uma grande massa de terra (Fonte: Pinet, P.R. 2014).

Foi então, baseando-se em informações geológicas e paleontológicas (em fósseis) que o meteorologista alemão, Alfred Wegener, apresentou ao mundo em 1915 uma nova hipótese de compreensão da história da Terra: a deriva continental.  Segundo Wegener, entre 100 e 150 milhões de anos atrás essa única massa de terra, a Pangeia, se partiu e os pedaços, ou melhor, os continentes, se afastaram, abrindo novas bacias oceânicas entre eles (aqui vale fazer um parênteses pois, se existia um único supercontinente, também existia um único oceano, o Panthalassa).


Porém, diversos pesquisadores contestaram a afirmação de Wegener de que a crosta de granito dos continentes poderia “arar” seu trajeto pela crosta basáltica, mais densa, dos oceanos e alguns geofísicos afirmaram, com base em cálculos, que a deriva continental não era possível de ocorrer. Além disso, o próprio Wegener não conseguia explicar porque  os continentes derivaram. Assim, a teoria da deriva continental de Wegener foi ignorada por mais de meio século. 


Com a posterior descoberta da cordilheira mesoceânica do Oceano Atlântico (Cordilheira Mesoatlântica), pôde-se notar a semelhança do seu recorte com o das bordas dos continentes às margens do Atlântico. Além disso, foi constatado que o assoalho do vale desta cordilheira é composto por basalto jovem recém-cristalizado. Assim, em meados dos anos 60, geólogos e geofísicos propuseram uma nova hipótese: o fundo oceânico novo e a crosta são criados continuamente! 


Eles surgem a partir da  intrusão e extrusão de basalto na crista de todas as cordilheiras mesoceânicas. A crosta recém-formada se move lateralmente liberando espaço na crista das cordilheiras mesoceânicas para a formação da nova crosta basáltica. Este processo, chamado de espalhamento do assoalho oceânico, provoca a expansão das bacias oceânicas e, assim, os continentes de cada lado da bacia são movidos junto com o assoalho oceânico, explicando a deriva continental!

O eixo das cordilheiras mesoceânicas é uma zona estreita e linear, em que a crosta basáltica se forma e, em seguida, se afasta da crista da cordilheira a uma taxa de vários centímetros por ano. Essa figura mostra o padrão global da idade da crosta oceânica: a crosta oceânica mais nova (em vermelho) está sempre associada ao eixo do espalhamento das cordilheiras mesoceânicas, enquanto a mais antiga (em azul) longe do mesmo (Adaptado de: Pinet, P.R. 2014).

A hipótese da deriva continental tornou-se parte de uma teoria maior, a teoria da tectônica de placas. Essa teoria foi formulada nos anos 60 e é baseada na ideia de que a superfície da Terra é dividida em uma série de placas com bordas definidas pela sismicidade, ou seja, frequência/número, magnitude/força e distribuição de terremotos. Essas placas, que também são conhecidas como  placas tectônicas ou placas litosféricas, são como finas panquecas, pois são de 10 a 50 vezes mais largas do que espessas. 

As margens das placas tectônicas estão indicadas por faixas de sismicidade. Os terremotos estão representados por pontos pretos e as setas indicam o movimento relativo das placas (Adaptado de: Pinet, P.R. 2014).

Em todas as bacias oceânicas, algumas placas estão se separando nas cordilheiras mesoceânicas e formando um novo assoalho (conforme visto anteriormente esse processo é chamado de espalhamento do assoalho oceânico). 


Já outros pares de placas, principalmente nas bordas do Oceano Pacífico, estão sofrendo um processo chamado subducção: quando pares de placas colidem ativamente e uma placa “obriga” a outra a mergulhar para a astenosfera (segunda camada da Terra, logo abaixo da litosfera), onde se derrete e produz magma. Quando os continentes de duas diferentes placas se encontram em uma zona de subducção, eles colidem e esmagam os sedimentos marinhos que ficam entre os dois, erguendo-os e criando os grandes dobramentos montanhosos, como ocorre nas elevações do Himalaia. 


Por fim, os limites das placas onde a litosfera não é criada e nem destruída são chamados falhas transformantes, e, neste casos, as placas apenas deslizam lateralmente uma pela outra.

Ilustrações de: a) espalhamento do assoalho oceânico, b) zona de subducção, c) falhas transformantes. Plate = placa, Asthenosphere = astenosfera (Fonte: Garrison, 2009).

Agora estamos prontos para responder a pergunta inicial: o Pacífico está diminuindo? E a resposta é sim! Como há pouquíssimas zonas de subducção nos Oceanos Atlântico, Índico e Ártico, essas bacias estão se expandindo com passar do tempo, por causa do espalhamento do assoalho oceânico a partir de suas cordilheiras mesoceânicas. Por outro lado, nas bordas do Oceano Pacífico encontramos a maioria das zonas de subducção. Como as taxas de subducção são muito maiores do que as taxas de produção do assoalho nas cordilheiras mesoceânicas, pois existem mais regiões de espalhamento do que zonas de subducção, o resultado é o encolhimento do Oceano Pacífico em tempo geológico.

 

Fonte: 


Garrison, T. Essentials of oceanography. 5a edição. Brooks/Cole, Cengage Learning, 464 p. 

Pinet, P.R. 2014. Invitation To Oceanography. 7a edição. Jones & Bartlett Learning. 662 p.



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