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Precisamos falar sobre creches nas universidades

Atualizado: 1 de jul. de 2020

Sempre ouvi falar das creches da USP. Quando nasceu minha primeira filha tentei mas não consegui vaga. A vaga veio de presente, uma semana antes do nascimento da minha segunda filha, a mais velha tinha dois anos e meio. Elas iniciaram na creche em 2014 e meu coração transbordava de alegria. Finalmente vi de perto o que era aquela escola... O espaço, o primor no trabalho, educadoras incríveis, senti que aquele seria um lugar importante nas nossas vidas. Aí os ventos mudaram. O reitor Marco Antônio Zago começou a mostrar seu plano de governo, sua intolerância e sua aversão ao diálogo. Foi o ano de uma greve muito longa que afetou toda comunidade e o plano de incentivo à demissão voluntária foi implantado.


O ano acabou sem que pudéssemos prever o que vinha adiante, inscrições para as vagas nas creches foram abertas, as pessoas inscreveram seus filhos e aguardavam o resultado em janeiro. Janeiro veio sem o resultado mas com um aviso importante: NENHUMA CRIANÇA ENTRARIA EM NENHUMA DAS CRECHES DA USP NAQUELE ANO. Assim, sem explicação, sem preparo, sem discussão. Começamos ali uma luta que até hoje existe. Começamos pedindo reuniões para entendermos o que estava acontecendo e quem nos recebia era o Prof. Valdir Jorge, superintendente da SAS naquela época e representante do reitor. Conhecido também como bagre ensaboado, ele deslizava pelas perguntas e estava claramente tentando nos enrolar. Dizia que as vagas não foram abertas por conta do plano de demissão, alguns profissionais aderiram e segundo a reitoria, não seria seguro receber novas crianças com um quadro de funcionários reduzido.


Um estudo foi feito por cada creche, quantas crianças poderiam ser recebidas em cada creche considerando o novo quadro. Isso foi apresentado ao professor. Era uma diferença muito pequena, todas as creches tinham condições plenas de receber um bom número de crianças. A partir daquele momento o bagre, além de ensaboado, passou a ser surdo. Acabou. Era (e ainda é) como tentar dialogar com uma porta, não existe resposta, não existem explicações. Lembro de me preocupar com o futuro das creches. O próximo ano veio e as vagas não foram abertas. Crianças acabando seu ciclo, indo embora e nenhuma criança entrando. As creches começaram a esvaziar e o ânimo das pessoas foi caindo, era triste, é triste. Mas com a indignação nasce a luta. Um grupo de pais, funcionários e simpatizantes começou a se organizar, fazer parcerias, fazer barulho e conquistar apoio. Que luta bonita, que causa nobre. Por conta desse esforço muitos conselheiros se sensibilizaram e no final de 2016 foi votada a reabertura das vagas na capacidade das creches pelo Conselho Universitário, órgão máximo da Universidade. A maioria dos conselheiros votou pela reabertura. O reitor, além de não cumprir a decisão do Conselho atacou mais uma vez e no início de 2017, durante as férias e sem qualquer aviso, a reitoria mandou um caminhão para desmontar a creche oeste. As crianças iriam para a creche central e 58 vagas seriam abertas para a central.  O grupo mobilizado ficou sabendo e no mesmo momento ocupou a creche oeste. Isso aconteceu no dia 16 de janeiro e a ocupação continua, impedindo a reitoria de tomar o prédio das crianças. As creches têm capacidade para 700 crianças e hoje, temos apenas 210 matriculadas.

As creches da USP tem um papel importantíssimo na Universidade. É campo de estudo para as faculdades de Fonoaudiologia, Psicologia, Educação, Odontologia e de lá saem inúmeros trabalhos, teses e dissertações. É um lugar de formação de profissionais e referência nacional e internacional. Enquanto muitos países entendem a primeira infância como a fase mais importante na vida de uma pessoa e investem cada vez mais na educação infantil, a maior universidade da América Latina faz o contrário. Um plano foi traçado para acabar com o programa de educação infantil da USP, isso só não aconteceu porque existe resistência e luta.


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