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Retorno à sala de aula: borboletas no estômago e grilos na cabeça

Atualizado: 16 de out. de 2020



O último dia que entrei em sala de aula em 2020 foi na sexta feira 13 de março e os supersticiosos diriam que isso pode não ser um bom sinal… Depois disso as atividades presenciais na universidade foram suspensas por causa do COVID-19 e, no final de abril, entrei em licença maternidade.


Agora estou às véspera de meu retorno para a “sala de aula”, no final de outubro de 2020. Um turbilhão de emoções permeiam as semanas que antecedem esse retorno: saudades dos estudantes e das trocas, ansiedade pelo retorno a uma atividade que tanto amo, incertezas com relação à dinâmica das aulas remotas, insegurança quanto ao meu preparo para conduzir as atividades online. Tudo isso vem acompanhado pelo medo de falhar, preocupação em voltar a uma atividade que demanda tempo e dedicação, em um modelo totalmente novo para mim, ao mesmo tempo iniciando a introdução alimentar no meu bebê (algo também completamente novo para mim).


São tantas borboletas na barriga que tem noites que sonho com esse retorno, às vezes os sonhos são bons outros nem tanto… sonho que a internet caiu, sonho que esqueci as senhas de acesso a todas as plataformas, sonho até que esqueci o nome da disciplina.


Também tenho refletido bastante sobre o que os estudantes esperam de mim e das aulas, quais são suas apreensões e anseios? Se não está fácil para mim que ministrarei uma disciplina, imagina para eles que têm várias disciplinas para acompanhar, com métodos de avaliação e dinâmicas de aula distintos?


Tenho tentado focar no porquê me tornei professora. Sim, não fiz concurso para trabalhar em uma universidade pública porque queria fazer ciência apenas, não que esse não fosse um dos objetivos também. Junto à pesquisa eu queria o ensino, a sala de aula, a interação com os estudantes. O desafio de ensinar e, para isso, a necessidade de sempre estudar e aprender coisas novas me fascina, me inquieta, me tira da zona de conforto e me faz feliz. Com isso em mente tenho tentando encarar esse retorno à sala de aula, que agora é remota, como uma oportunidade de aprender novas ferramentas e superar o fato que detesto me ouvir e/ou me ver em vídeos.


​Vai dar tudo certo? Possivelmente não... Já passei da fase da vida em que se acredita que “tudo no fim dá certo”. Hoje acredito em tentar o melhor, adaptar conforme as necessidades e usar a experiência adquirida para melhorar no próxima semestre. A realidade é que, tanto para docentes como para o estudantes, o tempo é limitado, as ferramentas são novas (e por mais incríveis que elas sejam, não é simples dominá-las), a disponibilidade de tempo e de espaço para estudar/preparar aulas não é igual para todas as pessoas. Além disso, como se concentrar nessas atividades quando morrem, no Brasil, centenas de pessoas por dia devido ao COVID-19?


A única certeza por enquanto é que, se a conexão de internet permitir, o primeiro dia do retorno será de uma conversa aberta e franca com os estudantes para entender a realidade deles e para mostrar também a minha, para ouvir suas preocupações e dificuldades com relação às aulas online e para estabelecermos um canal de diálogo para ambas as partes se sentirem confortáveis para, a qualquer momento, poder dizer “para tudo que não estou dando conta”.


Aos que quiserem saber como foi a experiência, se ainda houver fôlego, eu conto no final do semestre.



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