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Como uma larva no mar: a vida de um poliqueta

Por Agna Silveira


Os organismos do grupo Polychaeta pertencem a uma classe de invertebrados do filo Annelida (já falamos de poliquetas aqui). São vermes que podem ter uma aparência grotesca, mas também apresentam-se bonitos e graciosos; podem ser vermes de escamas, vermes arenícolas (que vivem na areia) e muitos outros. São divididos comumente em 2 grupos de acordo com o seu estilo de vida: se vivem em túneis ou tubos, onde quase não se locomovem, são chamados de Sedentaria, mas se são livres e exploram o mundo por aí, são chamados de Errantia.

Polychaeta da família Tomopteridae, a única família holoplanctônica, ou seja,

que tem todo o seu ciclo de vida no plâncton. É um típico exemplar dos Errantia. Fonte.


Poliqueta tubícola (ou seja, vive em tubos, típico Sedentaria) da Baía do Araçá, São  Sebastião, SP Foto: Álvaro E. Migotto. Fonte.


Os biólogos costumam classificar os organismos vivos de acordo com as mais diferentes características, utilizando critérios morfológicos, fisiológicos, genéticos e moleculares, por exemplo. Chamamos esse processo de classificação taxonômica e ela resulta no agrupamento dos organismos  em Filo, Classe, Ordem, Família, entre outros. Para exemplificar essa sistematização , tomamos como exemplo o nosso personagem principal (uma larva de poliqueta da família Spionidae coletada no píer de Porto Seguro). A sua classificação taxonômica encontra-se abaixo:


Filo Annelida

Classe Polychaeta

Ordem Canalipalpata

Subordem Spionida

Família Spionidae


Larva de Polychaeta, família Spionidae, coletada no píer de Porto Seguro, BA. Foto: Catarina Marcolin.

Os poliquetas adultos podem se reproduzir de forma assexuada ou sexuada. Vamos relembrar um pouco o que isso quer dizer? Quando os poliquetas se reproduzem sexuadamente, eles liberam gametas diretamente na água, onde ocorre a fertilização. A partir daí se desenvolvem larvas planctotróficas (que se alimentam de plâncton). As larvas são, portanto, uma fase do ciclo de vida de alguns organismos. Além disso, os poliquetas são capazes de se regenerar quando partes de seu corpo são fragmentadas em segmentos, que se regeneram em novos indivíduos (essa seria a reprodução assexuada). Percebam que não há fase larval neste caso, pois a partir de um organismo adulto se desenvolve outro adulto.


O tamanho destes animais pode variar bastante, desde seres microscópicos até organismos de 3 metros de comprimento! O corpo da larva que aparece no vídeo tem aproximadamente 700 μm de comprimento, menor que 1 mm, ou seja, equivale aproximadamente à largura da cabeça de um alfinete. 


Apesar de tão pequeninas, essas larvas conseguem nadar de modo impressionante, utilizando estruturas chamadas de parapódios (elas ocorrem em pares isolados que crescem na lateral do corpo), onde se inserem as cerdas. Essas estruturas atuam como se fossem remos ou pequenos pés, conjuntamente com músculos circulares e longitudinais para nadar à beça nos oceanos (veja o vídeo).

Estruturas corpóreas, incluindo parapódios utilizados para natação, larva da família Spionidae. Foto: Catarina Marcolin.

Video da larva de Spionidae usando os parapódios para nadar. Vídeo filmado no

laboratório da UFSB, por Catarina Marcolin. Edição Agna Silveira.



As larvas de poliqueta se alimentam de fitoplâncton ou de partículas em suspensão. Para isso, esses animais desenvolveram estruturas adaptadas para capturar partículas, como os cílios protostomiais. Talvez você esteja se perguntando como esses animais conseguem encontrar alimento nos vastos oceanos. Acontece que os poliquetas possuem órgãos sensoriais que variam nas diferentes espécies de acordo com seu estilo de vida. O que chamamos de olhos nestes organismos são órgãos fotorreceptores localizados no protostômio, que podem variar de dois a quatro pares e detectam apenas variações de intensidade luminosa. Em alguns grupos, como  os poliquetas pelágicos da família Alciopidae, existem grandes olhos capazes de formar imagem, conforme pode ser visto na imagem abaixo.

Note os enormes olhos deste poliqueta da família Alciopidae. Fonte.


Uma vez capturado o alimento, é hora da digestão! Poliquetas, incluindo suas larvas, possuem um tubo digestivo completo, ou seja, tem uma boca anterior (para captação de alimento) e um ânus exterior (para liberação de fezes). No vídeo você pode ver o alimento migrando no tubo digestivo até ser finalmente expelido na forma de fezes. Fofo não?


As larvas de poliqueta não são apenas fofas, elas participam de processos ecológicos fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas, do qual você também faz parte. São um importante elo de ligação entre os produtores primários (organismos que produzem o próprio alimento) e os animais marinhos de maior tamanho como larvas de peixes, até baleias. O que significa que estes animais são essenciais na transferência de matéria e energia nos ecossistemas marinhos. Você imaginou que um bichinho tão pequeno seria tão importante?

 

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Sobre a autora:


Sou Bacharel Interdisciplinar em Ciências, estudante de segundo ciclo no curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Fiquei encantada pelo mundo microscópico desde que o conheci, então decidi incluir o zooplâncton na minha formação como conteúdo optativo. Este texto foi o resultado da avaliação final do componente Bioecologia do Zooplâncton, ofertado na UFSB, pela professora Catarina Marcolin.














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