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Nem cima, nem embaixo: estratégias adaptativas de flutuação do plâncton

Atualizado: 8 de ago. de 2023

Texto de Klinton Souza




A adaptação é a capacidade de se ajustar a quaisquer situações e espaços para se obter uma maior vantagem na reprodução ou sobrevivência. Assim como o bico de algumas aves sofreu mudanças (selecionadas ao longo da evolução) que permitiram a captura de presas específicas, pequenos organismos habitantes da coluna d'água também desenvolveram estratégias adaptativas.


Assim como em grandes animais, a morfologia do plâncton está ligada à sua forma de vida e seu habitat. E venhamos e convenhamos, é lindo ver esses organismos tão pequenos através das lentes de um estereomicroscópio e observar tantas formas, estruturas e movimentos; sem falar das cores (ou falta delas, já que tem até bichinhos transparentes). Esses pequenos organismos, em geral menores que um milímetro, tem formas corpóreas muito curiosas e de composições variadas que influenciam a sua sustentação na coluna d’água.


Vista geral de uma amostra de plâncton vivo, em estereomicroscópio (Fonte: Inácio Domingos da Silva Neto, http://cifonauta.cebimar.usp.br/photo/7332/ , com Licença: CC BY-NC-SA 3.0)


Uma característica muito importante do plâncton é sua locomoção restrita, porém existem alguns organismos que movimentam-se verticalmente por muitos metros na coluna d’água e usam isso para fugir de predadores; isso é um exemplo de estratégia adaptativa.


Outra estratégia adaptativa do plâncton é a morfologia e composição química que permitem a sua flutuação de forma livre na coluna de água. Com relação à morfologia, eles podem ter espículas, apêndices flutuadores, corpos achatados, antenas, e até exoesqueletos menos densos que colaboram na sustentação do corpo na coluna d’água.


Já com relação à composição química, eles podem ser gelatinosos ou conter gotas de gordura e tecidos com maior quantidade de água que contribuem para diminuir a sua densidade. Alguns organismos gelatinosos adaptaram-se de tal forma a favorecer a excreção (ou substituição) de íons mais pesados por mais leves.


Exemplos de organismos com adaptações para aumentar a flutuabilidade:

a) o poliqueta Tomopteris elegans tem corpo achatado e com parapódios (projeções laterais musculosas) e, de quebra, ainda é bioluminescente (isso não ajuda na flutuação, mas é muito interessante!);

b) as medusas da espécie Palau stingless são formadas por substâncias gelatinosas, além do corpo em formato medusoide (= “guarda-chuva”);

c) a megalopa (estágio larval) do microcrustáceo Neograpsus altimanus tem distribuído em seu corpo gotas de gordura que contribuem para diminuir sua densidade;

d) as microalgas da espécie Asterionellopsis glacialis e os microcrustáceos do gênero Sergestes sp. têm espinhos em seu corpo para aumentar a área superficial e, consequentemente, aumentar sua flutuabilidade;

e) os copépodos do gênero Diatomus sp. têm um exoesqueleto menos denso e antenas que ajudam na distribuição do seu peso;

f) a véliger (estágio larval) de gastrópodes tem apêndices flutuadores.


A) Tomopteris elegans (Fonte. Licença: CC BY-NC-SA 2.0); B) Palau stingless (Fonte. Licença: CC ATÉ 2.5); C) Neograpsus altimanus (Fonte. Licença: CC BY-NC-SA 3.0); (Fonte. Licença: CC BY-NC-SA 3.0); D) Asterionellopsis glacialis (Fonte. Licença: CC BY-NC-SA 2.0); E) Diatomus sp. (Fonte. Licença: CC BY-NC-SA 2.0); F) veliger (estágio larval) de Gastropoda (Fonte. Licença: CC BY-NC-SA 3.0).


É muito interessante notar as adaptações desses minúsculos organismos ao longo da evolução “apenas” para flutuar, além de toda a sua importância para o mundo marinho. Vale lembrar que este texto não é uma revisão exaustiva sobre o tema, mas tem a intenção de compartilhar algumas curiosidades e chamar a atenção para estes seres incríveis!


E pra você não esquecer que o oceano está cheio de plâncton flutuando, basta cantarolar a música do Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar, vida leva eu!”...

 

Referências ou sugestão de leitura:


TUNDISI, JG. & MATSUMURA-TUNDISI, T. Limnologia. Oficina de Textos. São Carlos – SP, p. 150, 2008


CALAZANS D, MUELBERT JH AND MUXAGATA E. 2011. Organismos

planctônicos. Cap.9, p.165-166. In: Calazans (Organizador). Estudos Oceanográficos: do instrumental ao prático. Pelotas, Editora textos


Plâncton - IOUSP. Disponível em: <https://www.io.usp.br/index.php/infraestrutura/museu-oceanografico/29-portugues/pu blicacoes/series-divulgacao/vida-e-biodiversidade/809-plancton.html>. Acesso em: 4 maio. 2023.


Pagodinho, Zeca. Deixa a Vida Me Levar. [S.l.]: Universal Music, 2007. 1 CD. DEL BIANCO, Murilo.


Plâncton. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/biologia/plancton. Acesso em: 02 de May de 2023.

 

Sobre o autor:

Graduando em Oceanologia pela Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB. Atualmente, trabalha com Geoturismo dos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, sistematizando e divulgando pontos de interesse geológico e fomentando a conservação dessas paisagem para alunos e professores de escolas públicas e privadas, turistas e visitantes, comunidade acadêmica e comunidade local que trabalha com turismo. Um projeto vinculado ao Centro de Formação em Ciências Ambientais (CFCAm) com atividades no Laboratório de Geologia e Paleontologia (LABGEOP-UFSB). No ano de 2020, tive a mirabolante ideia de entrar num curso que nunca tinha nem ouvido falar, hoje não me vejo mais fora. Cada acontecimento, cada experiência, vem sempre para somar, e no final, mesmo com as dificuldades, se tem o sentimento de gratidão.


Instagram pessoal: @klintonsss

Email: klinton.souza@gfe.ufsb.edu.br


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