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- Encontrando autoconfiança como mulher na ciência
Por Deborah Apgaua Ilustração: Caia Colla Recebi nesse ano de 2016 um prêmio internacional que mudou a minha vida e visão sobre muitos aspectos da ciência. Este prêmio destina-se a mulheres de países em desenvolvimento, para que realizem pesquisa nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática, em universidades e instituições com excelência internacional. Objetiva, portanto, formar uma rede transformadora da sociedade onde homens e mulheres possuam oportunidades semelhantes no mercado de trabalho. Ser mulher na ciência ainda é um desafio, especialmente em um país onde a maior parte dos professores universitários das áreas de exatas são homens, e existe um desequilíbrio de gênero em cargos relacionados a lideranças. Conforme o texto já publicado neste blog (o sexo realmente importa?), aceitar que esta diferença existe, o que ainda não acontece, pode ajudar a reverter este cenário. Ainda mais importante, o aumento da autoconfiança das mulheres ajudaria a quebrar esta barreira para a maior participação feminina. É claro que a possibilidade de realizar uma pesquisa de pós-doutorado no exterior é uma parte importante da satisfação que sinto após a conquista deste prêmio. Porém, estar inserida em um grupo que busca uma nova direção para a ciência no mundo (esta “comunidade” tem o nome de “Faculty for the Future” e abre para novas propostas todos os anos, neste site), aumentou a minha autoconfiança para desenvolver pesquisa e me tornar um exemplo que inspire outras mulheres a seguir caminho semelhante. Portanto, muito antes de começar de fato minha pesquisa, tenho sentido uma grande diferença na forma com que exponho minhas ideias e guio estudantes em seus trabalhos. Quando decidi tentar este programa, precisei relembrar e organizar toda a minha carreira acadêmica desde a graduação até o doutorado. Tive que buscar o valor de cada experiência e relacionar como isto pode me levar a um lugar que inspire outras mulheres. Então descobri uma nova força que estava dentro de mim, algo que não conhecia. Antes de submeter a proposta de trabalho fiz uma releitura e me senti realizada, independente do resultado da aplicação. Eu me pergunto quantas mulheres poderiam sentir esta satisfação se relembrassem cada passo de sua caminhada e colocassem valor em seu trabalho. Por exemplo, percebi que eu possuo mais prática em ensinar do que havia me dado conta. Durante a minha graduação, desenvolvi trabalhos em comunidades tradicionais onde participei da devolução de resultados da pesquisa e ministração de minicursos. Além disso, durante a minha pós-graduação adquiri experiência através de estágios em docência, mesmo que assistida por meu orientador. Quando estive no exterior fazendo parte de meu doutorado, mantive contato com meus colegas de trabalho e auxiliei na correção de textos. Consegui, portanto, ver a relevância de todos estes momentos quando precisei convencer a Schlumberger foundation, criadora deste programa, que eu era uma candidata que merecia a premiação. Para acreditar nesta realidade sem me diminuir, e sim encontrar merecimento em minhas escolhas acadêmicas, não me preocupei com o que eu poderia ter feito e não fiz. Quando fui submetida a uma entrevista em inglês que buscou confirmar o que eu tinha escrito, não me apresentei de forma séria e durona tentando demonstrar um estereótipo masculinizado para expressar poder. Ao contrário, fui simpática e feminina e encontrei confiança sendo eu mesma. Ao receber o resultado positivo de minha proposta, a menina insegura que não consegue expressar suas ideias científicas por não acreditar que elas sejam relevantes, já não existia mais. Como concordo com a filosofia proposta pelo programa Faculty for the Future, resolvi encarar a missão de engajar e encorajar mais mulheres na ciência. Decidi incorporar a mulher forte que estava adormecida dentro de mim e me ver como uma cientista que busca cada vez mais vivências e que sabe que ainda tem muito a aprender. A partir deste momento, com a autoconfiança revitalizada, converso com mulheres na minha universidade e em outras instituições e vejo o semblante se modificando à medida que aponto a possibilidade de um caminho simples para suas conquistas. A mudança está dentro de nós, porque muitas vezes nos boicotamos pela insegurança e baixa estima. Foco e autoconfiança são as palavras chave para nossa transformação. Em conversas com alunas da pós-graduação, percebi que algumas mulheres possuem medo de se tornar apenas uma “sombra” de outros homens (talvez resultado de um ambiente de trabalho predominantemente masculino, onde de 31 professores apenas 3 são mulheres). Porém, o medo paralisa, e age no sentido contrário de ações que podem nos libertar da subordinação. Assim, quando superamos a insegurança e o medo de nos tornarmos menores que homens na ciência, nos autoafirmamos para agirmos no caminho do conhecimento que levará ao sucesso acadêmico. O resultado dessas mudanças também é facilitado quando compreendemos que não fazemos ciência sozinhas e a colaboração é essencial. Assim, podemos transformar competição em colaboração e aceitar com mais facilidade que em nenhum passo acadêmico devemos estar sozinhas, pois precisamos lapidar o nosso trabalho. Sejam homens ou mulheres, acreditar que a ciência avança com colaboração diminui nosso ego e o peso da responsabilidade de deter um conhecimento que está constantemente sendo construído. Links relevantes: https://www.researchgate.net/profile/Deborah_Apgaua http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0130799 http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1365-2435.12787/abstract http://www.ufla.br/ascom/2016/09/06/estudante-da-ufla-e-contemplada-com-premio-internacional/ https://www.youtube.com/watch?v=deUQFTSX0EY Sobre Deborah: Sou doutora ecóloga florestal, apaixonada pelas florestas tropicais do mundo. Graduei-me em biologia e nesta fase busquei abordagens etnobiológicas. Já no meu mestrado e doutorado, trabalhei com ecologia florestal para estar em contato direto com as florestas brasileiras, mas no meu doutorado acabei indo parar na Austrália onde desenvolvi meu projeto com características funcionais das plantas de floresta úmida. Atualmente estou me preparando para voltar à Austrália e realizar pós-doutorado com o apoio de um prêmio que recebi para mulheres na ciência. Pretendo compreender as características de plantas que serão mais favoráveis em cenários de secas extremas causadas por mudança climática e trazer o conhecimento para o Brasil. Espero inspirar outras mulheres a seguir carreira acadêmica. #autoconfiança #autoestima #mulheresnaciência #netunoconvida #poderfeminino #caiacolla #convidados #DeborahApgaua
- Quem estuda o feio, bonito lhe parece
Por Jana M. del Favero Ilustração: Joana Ho Você sabe o que o golfinho-rotador, a tartaruga marinha e o urso panda têm em comum? Todos são considerados espécies-bandeira, ou seja, espécies carismáticas que conseguem chamar a atenção do público para uma causa conservacionista. Esse conceito surgiu na década de 80, pois como não era possível financiar projetos de proteção para todas as espécies de uma área, ao elevar o status de uma espécie carismática era possível assegurar a conservação da biodiversidade em geral. Lembro-me que quando estagiei no Projeto Tamar ao receber turistas na base de Ubatuba e falar sobre as tartarugas marinhas, eu acabava falando também sobre os peixes que elas consumiam, os danos que o lixo e o uso do carro em áreas de desova causavam e assim ia passando várias outras mensagens junto com o recado principal... Ou seja, ao falar da importância de se preservar a espécie-bandeira em questão, falava também da importância de se preservar todo o ecossistema. Embora seja um conceito eficiente (quem não pensa no mico-leão-dourado ao lembrar da preservação da Mata Atlântica?), é preciso cautela ao aplicá-lo. Ao priorizar as espécies-bandeiras, corre-se o risco de não preservar quem mais precisa, quem está mais em risco de extinção. E diversas são as espécies ameaçadas de extinção. Alguns cientistas até defendem que estamos passando pela sexta grande extinção da Terra (episódios no qual grandes números de espécies foram extintas em um curto período de tempo). Veja na figura abaixo quais foram as grandes extinções e suas causas. Adaptado Conforme mostrado na figura acima, todas as extinções em massa foram causadas por catástrofes naturais, como a queda de um meteorito. Agora pasmem, a sexta extinção está sendo causada por NÓS! Paradoxalmente, os causadores da sexta extinção são também os que podem evitar que ela seja mais trágica. Pois bem, foi pensando em proteger um grupo de animais ameaçados de extinção e “desfavorecidos” que o biólogo Simon Watt criou a “Sociedade de Preservação dos Animais Feios” (Ugly Animal Preservation Society). Sim, eu não escrevi errado, a ideia desse biólogo foi justamente contrária ao uso das tradicionais espécies-bandeira. Segundo o criador, não é justo que o panda fique com toda a atenção. A ideia inovadora do Simon Watt não parou ao criar a sociedade e divulgar espécies feias e ameaçadas. Para levantar fundos e salvar as espécies esteticamente não privilegiadas, ele e um grupo de artistas se aventuraram pelo Reino Unido apresentando noites teatrais, como um stand up comedy, no qual cada artista apresentava um animal feio e no fim de cada noite as pessoas podiam votar qual seria o mascote da sociedade. E no meio do mais esquisito sapo, salamandra, lesma ou inseto, o grande mascote vencedor foi um peixe marinho, o blobfish ou peixe-bolha ou peixe-gota. Este peixe, cientificamente chamado de Psychrolutes marcidus, além de ser feio, habita as águas profundas (entre 600 e 1200 metros de profundidade) do sul da Austrália, incluindo a Tasmânia. Eles não possuem bexiga natatória, têm o mínimo de ossos necessário, e o corpo com consistência gelatinosa, conseguindo, deste modo, combater a alta pressão do ambiente em que vivem ao terem a água ao seu redor como seu principal mecanismo estrutural. Mas confesso que achei a votação um tanto injusta, pois sabendo que a cada 10 metros que mergulhássemos para encontrar o blobfish a pressão aumentaria 1 atm, encontraríamos a feia criatura em um ambiente com mais de 60 atm e provavelmente nossos órgãos se esmagariam e nós pareceríamos uma pasta (na verdade já íamos ter morrido bem antes!), enquanto o blobfish estaria parecendo um peixe “comum” e não aquela criatura gelatinosa que julgamos tão feia ao analisá-la na superfície terrestre, em apenas 1 atm. Outro peixe marinho que concorria como o animal mais feio era a enguia europeia (nome científico: Anguilla anguilla). Apesar de criticamente ameaçada e de parecer mais uma cobra do que um peixe, acredito que essa espécie nem devia estar nesta competição. A enguia europeia é uma espécie de peixe eurialino, que aguenta grande variação de salinidade, e catadrómico, que cresce em rios e desovam do mar. Além do mais, possui larvas do tipo leptocéfalas, que são lindas, duram cerca de 3 anos e chegam a atingir 8 cm de comprimento. E agora, consegui convencer que a enguia europeia e o blobfish não são feios, mas que sim, precisam da nossa atenção e proteção?! E para você, qual animal ameaçado de extinção é feio de dar dó e deveria ser preservado? Saiba mais: Sobre a sexta extinção: http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2015/06/humanos-estao-causando-sexta-extincao-em-massa-da-terra.html Sobre a Ugly Animal Preservation Society (entre e ria muito vendo os vídeos): http://uglyanimalsoc.com #biodiversidade #blobfish #ciênciasdomar #conservação #janamdelfavero #joanaho #peixebolha #peixegota
- Osmose e Osmorregulação
Por Gabrielle Souza Os seres vivos marinhos mais simples que conhecemos vivem em equilíbrio com o meio hídrico onde estão inseridos. Porém, de modo geral, quanto maior a complexidade do organismo, mas sua constituição interior difere do meio ambiente onde vive e por isso é preciso adaptar-se fisiologicamente, utilizando um processo natural denominado de osmorregulação. Antes de falarmos de osmorregulação é importante definir o que é osmose! Osmose é simplesmente o movimento da água através de uma membrana permeável, regido pela diferença de concentração entre solutos. Ou seja, a água sempre tende a atravessar uma membrana permeável do local menos concentrado (hipotônico) em direção ao local com maior concentração de solutos (hipertônico). E isso acontece naturalmente, sem gasto de energia. Agora sim, sabendo do que se trata a osmose, podemos te dizer que a osmorregulação é o nome que damos à capacidade de um organismo de regular a quantidade de água e/ou solutos em seu interior, independente do que aconteceria se apenas a osmose estivesse acontecendo. Essa é uma estratégia amplamente utilizada por organismos marinhos para regular os sais e a água em seus corpos, mantendo-se diferentes do meio externo. Fonte Existem diversos animais que realizam este processo, são alguns exemplos: peixes, baleias, golfinhos, moluscos, crustáceos, entre outros. Na imagem abaixo pode-se analisar como a osmorregulação é feita por peixes de água salgada, mas lembre-se que há uma diferença com os peixes de água doce. Afinal de contas, a quantidade de sais na água do mar é bem diferente da água doce. Fonte Existem mais sais na água do mar do que dentro do corpo dos peixes marinhos, por isso haverá uma perda de água constante para o meio, pela osmose, o que levaria a uma rápida desidratação. Porém, os peixes marinhos têm o comportamento de ingerir a água do mar, repondo essa perda de água. Mas... e os sais ingeridos junto com essa água salgada? Eles devem eliminar este excesso de sais no corpo. E como isto é feito? Esse é um trabalho para as brânquias! Isso mesmo. Além das trocas gasosas, as brânquias são também responsáveis por eliminar o excesso de sais no corpo do peixe. Já nos peixes de água doce a situação é inversa. O meio é menos concentrado e o interior do peixe é mais concentrado. Neste caso a água entra por osmose no corpo do peixe, através da sua superfície. Estes peixes não ingerem água e suas brânquias, por sua vez, acabam absorvendo os sais. Não é incrível? Post relacionados: Querida, estou grávido Para saber mais: Schmidt Nielsen, Knut. Fisiologia Animal - Adaptação e Meio Ambiente. Quinta Edição, Livraria Santos Editora, São Paulo. 2002, 600 p. Eckert, R; Randall, D; Burggren. W. Fisiologia Animal. Mecanismos e Adaptações. Guanabara ed. 4ª. Edição. 2011. 729p #descomplicando #gabriellesouza #osmorregulação #osmose #peixes
- Um novo lar para o Nemo
Por Cathrine Boerseth Ninguém gosta de ter sua casa destruída, isso inclui as pessoas e os animais. Ursos não gostam, pássaros não gostam, peixes não gostam e até mesmo o menor animal planctônico, que às vezes até esquecemos que existe, não gosta de ter o seu lar destruído. Alguns desses animais planctônicos são na verdade meroplanctônicos, ou seja, flutuam ao sabor das correntes apenas nos estágios iniciais do seu ciclo de vida, e para se tornarem adultos precisam assentar em algum lugar: um bom lar, com uma boa base. Para muitos organismos essa boa base seria um superfície dura, como um costão rochoso ou um recife de coral. Infelizmente, na costa norte do estado do Paraná muitas dessas superfícies duras (que já são raras) são constantemente destruídas por métodos de pesca destrutivos, como o arrasto de camarão. As larvas do meroplâncton estão flutuando pelo oceano, mas há poucos lugares para elas assentarem. No mundo biológico um fato sempre afeta o outro : peixes se alimentam de organismos que vivem em ou perto de substratos rochosos, assim a falta de um habitat rochoso apropriado para o assentamento de larvas do meroplâncton significa menos alimento disponível para os peixes, e como consequência diminui o tamanho dos estoques pesqueiros. Mas, e se a gente construísse casas novas para esses animais? E se essas casas fossem tão fortes que os arrastos não fossem capazes de destruí-las? Pois bem, foi exatamente isso que pesquisadores fizeram entre 1997 e 2003 na costa do Paraná, construindo alguns recifes artificiais. Recifes artificiais são estruturas feitas pelo Homem, que podem ser de rochas, blocos de concreto ou até mesmo navios, que possuem uma variedade de buracos e fissuras e são afundadas no oceano, provendo abrigo para os mais diversos organismos marinhos. Bactérias e algas são geralmente os primeiros organismos a chegarem, seguidas pelas larvas do meroplâncton que assentam e se desenvolvem em uma infinidade de animais, de anêmonas a caranguejos. Essa variedade de animais atraem os peixes que estão em busca de alimentos, e esses peixes vão, consequentemente, atrair outros peixes maiores e/ou outros predadores. Passado algum tempo, o ecossistema do recife artificial passa a ser um lugar com alimento disponível e proteção para um grande número de organismos marinhos. Os recifes artificiais no Paraná foram feitos de cubos de concreto com buracos em forma de um trevo de quatro folhas, disponibilizando um local para os animais se esconderem ou assentarem. Porém, mesmo depois da construção do recife artificial, um monte de questões continuavam sem resposta: os organismos meroplanctônicos vão realmente assentar no local? Eles vão atrair peixes? Esses peixes vão usar a área para reprodução? O ecossistema resultante será parecido com um recife rochoso natural? A resposta para as duas primeiras questões é um grande SIM, mas as outras perguntas ainda precisavam de respostas, e foi exatamente isso que eu resolvi pesquisar. Para responder essas questões, decidimos estudar ovos e larvas de peixes. Para amostrá-los usamos uma rede presa a uma scooter subaquática (legal né?!) e uma armadilha de luz (veja fotos). Com esses métodos fui capaz de amostrar larvas e ovos que estavam bem perto do recife artificial, sendo que a rede capturou os ovos e as larvas em estágios iniciais de desenvolvimento, enquanto a armadilha capturou larvas maiores. Nós também amostramos a uma certa distância do recife (seria a abundância do ictioplâncton diferente lá?) e em um ambiente recifal rochoso natural nas redondezas (o lindo arquipélago de Currais). As amostras foram realizadas em meses entre julho de 2014 a abril de 2016, sempre que as condições climáticas e de ondas permitiam. A armadilha de luz (esquerda) e a rede fixada na scooter subaquática (direita). Então, o que os nossos dados nos mostraram? O número de ovos e larvas de peixes foi maior no recife artificial do que a uma certa distância dele. Além disso, o fato das amostras conterem ovos ou larvas recém eclodidas significa que os peixes estão usando o recife artificial ou uma área bem próxima a ele, para a reprodução. Nossos dados ainda mostraram que muitas larvas coletadas no recife artificial pertencem a espécies que habitam naturalmente recifes rochosos e espécies pelágicas, que vivem em águas oceânicas. E o que isso significa? Significa que o recife artificial está começando a agir como um recife natural (ótimo!), mas ainda tem um longo caminho a percorrer. Os peixes ainda são mais abundantes no recife natural e muitos são apenas “visitantes”, como espécies pelágicas. Porém todos são bem vindos! O recife artificial provém comida e proteção para todos! Os visitantes pelágicos são atraídos pela comida e assim se tornam a comida de outros peixes. Mas não se preocupe, isso é ótimo, pois é assim que um ecossistema funciona! Pode até parecer que os recifes artificiais são a solução para todos os nossos problemas, e você deve estar querendo levantar sua mão para o céu e gritar: vamos construir recifes artificiais em todos os mares, no mundo todo! Mas infelizmente como a maioria das coisas da vida, isso não é tão simples. Há muitos fatores a serem considerados, uma vez que a construção de um recife artificial é uma intervenção humana na natureza e pode causar mais prejuízos do que benefícios. Por isso, uma pesquisa cuidadosa em cada situação é mais que necessária! E o que aprendemos com tudo isso? A natureza acha o seu jeito! Nós humanos somos destrutivos e para construir nossas próprias casas, destruímos os lares de outros seres. Felizmente, muitos ecossistemas são resilientes e voltam à vida. Recifes artificiais podem até não ser a resposta para todos os nossos problemas, mas na costa do Paraná, um pequeno ecossistema destruído está se reconstruindo graças a eles! Sobre Cathrine: Bióloga, atualmente me preparando para defender minha dissertação de mestrado em Oceanografia Biológica na USP. Sou Norueguesa e me apaixonei pelo mar mergulhando nas águas congelantes do norte. Moro no Brasil há quatro anos e não vejo a hora de descobrir onde a vida vai me levar daqui para a frente. O que eu sei com certeza é que eu quero trabalhar e viver em proximidade com a natureza, seja nos trópicos lindos do Brasil ou no Ártico maravilhoso da Noruega (ou em algum lugar entre os dois). #cathrineboerseth #convidados #peixes #ciênciasdomar #recifesartificiais
- A new home for Nemo
By Cathrine Boerseth Edited by Katyanne M. Shoemaker People don't like having their homes destroyed and neither do animals; bears don’t like it, birds don't like it, fish certainly don't like it and neither do the tiniest planktonic animals that people often forget even exists. Some of these tiny animals are meroplanktonic, which means they only float around in the early stages of their lives, to grow up as adults they need somewhere to settle down, a nice home with a good foundation; for many organisms that means a hard surface like rocks or a coral reef. Sadly, in the waters of northern Paraná state, many of these nice hard (and already rare) surfaces were destroyed by destructive fishing methods like trawling. The meroplanktonic larvae were still floating around in the water, but there were few places for them to settle down. In the biological world one thing always affects another and so did the lack of appropriate habitat in our case; fish eat the organisms living on and around rocky reefs and so the lack of hard bottom substrates meant a lack of food for the fish, and so the populations declined. But what if we made new homes for these animals and what if those homes were so sturdy and strong that trawlers wouldn't be able to break them? Well, that’s exactly what researchers did between 1997 and 2013 when they deployed a number of artificial reefs along the Paraná coast. But what exactly is an artificial reef? An artificial reef can be made out of rocks, concrete blocks or even sunken ships. They are man-made structures, preferably with different holes and crevasses, placed under water to provide shelter for marine organisms. Bacteria and algae are usually the first organisms to arrive, meroplanktonic larvae settle and grow up to be anything from anemones to crabs; all of these animals attract fish looking for food and they in turn attract larger fish and other predators. After a while, the ecosystem on the artificial reef grows to become a place with both food and shelter for all kinds of marine organisms. However, even after the artificial reefs were in place, many questions were still unanswered: would meroplanktonic organisms come to settle? Would they attract fish? Would those fishes reproduce? Would the ecosystem of the artificial reefs be anything like a natural rocky reef? The answer to the two first questions was discovered to be a big YES, but what about the other questions? That's what I wanted to find out! Exiting stuff, now what? To answer those questions, we decided to look at fish larvae and fish eggs. To capture them we used a net attached to an underwater scooter (so cool, I know), and a light-trap. With the scooter and light-trap we were able to capture larvae very close to the artificial reef; the net captured eggs and the smallest fish larvae while the trap attracted larger larvae. We also sampled at a distance from the artificial reef (would the abundance of larvae and eggs be different there?) and at a natural rocky reef habitat nearby (the beautiful archipelago of Currais). We collected as many samples as the weather and waves allowed between the July of 2014 and April of 2016. The samples were collected using a light-trap (left) and a net attached to an underwater scooter (right). So what did the data show? The number of fish larvae and fish eggs was in fact higher on the artificial reef compared to samples taken at a distance from the reef. Furthermore, the fact that the samples contained eggs and very small newly hatched larval fish means that fish are either reproducing on the reefs or close by. Additionally, many of the fish larvae collected on the artificial reefs belonged to species that are known to live on rocky reef habitats; most of the other species found were pelagic, which means they live in the open water. What does it all mean? Well, it means that the artificial reef is beginning to act like a natural reef (great!), but it still has a way to go. Fish are still more abundant on the natural reef and many of the fishes on the artificial reef are more like visitors, like the pelagic species. They are all welcome of course! The artificial reef provides food and shelter; many of the visitors attracted by delicious food become food themselves, but that's ok, it's all part of the food network. It may sound like artificial reefs are the solution to all of our problems and you may want to stand up with your hands in the air shouting: let's put artificial reefs in all the seas in all the world! Then everything will be great again, right? That would be amazing, but unfortunately, as with most things in life, it's just not that simple. There are many factors to consider because deploying an artificial reef is in itself a human intervention in nature and could cause more harm than good, careful research in each individual case is essential! What can we learn from all this? Nature finds a way. Humans are destructive; in order to get our way and build our houses, we destroy houses of so many other animals. Fortunately, given time, many ecosystems are resilient enough to come back to life. Artificial reefs may not be the answer to all our problems, but on the coast of Paraná it appears that a tiny piece of a suffering ecosystem may actually be getting back on its feet. About Cathrine: Biologist and currently preparing to defend my masters’ dissertation in the field of biological oceanography at the University São Paulo. As a true Norwegian I fell in love with the ocean scuba diving in the freezing waters of the north. I have been living in Brazil for four years now and I can't wait to discover where life will take me in the future. What I know with certainty is that I want to work and live close to nature, that being in the beautiful tropics of Brazil or in the wonderful Arctic of Norway (or somewhere in between). #marinescience #cathrineboerseth #artificialreefs #invited #meroplankton #chat
- Circulação Termohalina
Por Gabrielle Souza A circulação termohalina, também chamada de circulação profunda ou abissal, consiste na circulação de águas no oceano profundo, resultante de variações na temperatura e salinidade (termo - temperatura, halina - salinidade), que causam modificações na densidade da água. Essas variações podem ser provocadas por processos de evaporação, precipitação, descarga de rios e degelo nos polos. Chamamos de termohalina, qualquer circulação que não é gerada pelo vento. Uma parte importante deste processo é a formação da água de fundo que se dá por convecção, quando a água fria na superfície em altas latitudes (nos polos) afunda. A circulação termohalina é importante na dinâmica dos oceanos, pois este fluxo de águas pode até mesmo alterar o clima. Mas é importante lembrar que a circulação termohalina tem velocidades da ordem de 1cm/s e pode levar séculos para redistribuir o calor no planeta. As águas frias da circulação termohalina só voltam à superfície em baixas latitudes, quando ocorre a mistura do calor da superfície com as camadas inferiores. Lembre-se que não existe uma fonte significativa de calor nos oceanos. As imagens abaixo apresentam o ciclo da circulação termohalina e as correntes que resultam deste fenômeno. Na primeira você pode ver como funciona a circulação, enquanto a segunda imagem mostra os locais de formação de águas profundas (deep water formation). As correntes de superfície estão em vermelho e as correntes profundas em azul. A água fria mais salgada e mais densa afunda, enquanto a água mais quente e menos salgada, com menor densidade sobe à superfície. Fonte Para saber mais: http://cienciapatodos.webnode.pt/news/o-oceano-e-o-clima/ Referências: SATO, Olga. Circulação Termohalina: São Paulo: Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. Posts relacionados: Como o derretimento das geleiras pode afetar os oceanos e o clima Dinâmica da produção primária e convecção profunda de retorno (overturn) no mar Mediterrâneo: uma abordagem por modelagem 3D de alta resolução #circulaçãotermohalina #descomplicando #gabriellesouza
- 5 animais marinhos que merecem o pódio olímpico
Por Jana M. del Favero Os jogos olímpicos estão chegando e serão três semanas admirando os atletas que vão superar a dor, bater novos recordes e nos mostrar a beleza de cada esporte. Então, para entrar no clima olímpico, resolvemos eleger os campeões dos nossos mares: Ilustração: Joana Ho Maratona: com 42,195 km, é a prova mais longa de corrida. Os maratonistas são conhecidos por serem esbeltos, porém aqui escolhemos uma gorducha, a baleia-jubarte. Nossa campeã percorre cerca de 4.500 km duas vezes ao ano, entre a Antártica - onde se alimenta - e o Brasil - onde se reproduz. Como já tivemos um post inteirinho sobre essa migração, nem vou me prorrogar muito (releia aqui). Boxe: neste esporte os boxeadores se enfrentam acertando socos no adversário da cintura para cima na tentativa de dominá-lo. A nossa campeã, a tamarutaca, também usa o soco, principalmente , para dominar o adversário, no caso sua presa. Não é à toa que uma espécie desse crustáceo (subfilo que abrange, por exemplo, as lagostas e os camarões) é também popularmente conhecida como lagosta-boxeadora. Essa espécie, Odontodactylus scyllarus, profere um golpe com uma aceleração de aproximadamente 12-23 m/s (na água), enquanto um bom soco humano atinge cerca de 10 m/s (no ar)! Esse golpe é tão rápido que a água próxima a ele chega a ferver, em um fenômeno físico conhecido como supercavitação. Vejam no vídeo abaixo o soco da nossa campeã na velocidade real e em câmera lenta: Salto em distância: o objetivo dessa modalidade do atletismo é saltar o mais longe possível, sendo o recorde olímpico de 8,95 m do americano Mike Powell, realizado em 1991. Nosso campeão, o peixe-voador (como Exocoetus volitans, da família Exocoetidae) “voa” até 180 metros em um único “vôo”. Apesar do nome voador, esse peixe não voa como as aves, batendo asas. Na verdade, assim como o atleta do salto em distância, ele ganha impulso para dar um grande salto e depois abrem as nadadeiras para planar. Esse recurso na verdade não é usado para bater recordes, e sim para fugir de predadores, como atuns, golfinhos e tubarões. Vou aproveitar esse tópico para corrigir um erro comum: a espécie que facilmente avistamos pela costa brasileira em mergulhos, Dactylopterus volitans (família Dactylopteridae), apesar de também ser popularmente conhecida como peixe-voador e de apresentar nadadeiras que parecem asas, elas não realizam os “vôos” citados, usando-as apenas para amedrontar outros organismos que a ameaçam, simulando um maior porte. Peixes-voadores Exocoetus volitans à esquerda (Fonte) e Dactylopterus volitans (Fonte) Ginástica rítmica: Esse esporte oferece ao público um verdadeiro espetáculo de dança e movimentos. E já que beleza nos movimentos é o forte desse esporte, elegemos os nudibrânquios como os vencedores. Tais animais que possuem as brânquias desprotegidas (fato que legitima seu nome) são moluscos gastrópodes popularmente conhecidos por lesmas-marinhas (sim, são parentes das lesmas terrestres) e também por dançarinas espanholas, sendo considerados por muitos os animais mais coloridos do mar. Veja no vídeo abaixo uma dançarina espanhola se movimentando e entenda o porquê desse título: Corrida: O jamaicano Usain Bolt é considerado o homem mais rápido do mundo, atingindo a velocidade de 43,9 km/h. Porém nos mares ele perderia feio para o agulhão-vela (Istiophorus platypterus) que atinge 109 km/h. O feito fica ainda mais extraordinário se lembrarmos que a água é mais densa do que o ar, o que exige ainda mais força do peixe. A extremidade do focinho longa e pontiaguda ajuda a “cortar” a pressão da água, aumentando a velocidade com que se locomove, enquanto sua vistosa nadadeira dorsal ajuda a direcionar seu corpo. E para você, qual animal marinho merece uma medalha? #ciênciasdomar #janamdelfavero #joanaho #olimpíadas
- Como o derretimento das geleiras pode afetar os oceanos e o clima?
Por Juliana Marini Marson Ilustração: Joana Ho. Hoje em dia, nós ouvimos falar o tempo todo sobre mudanças climáticas. Embora o foco das manchetes seja o aumento da temperatura do ar, todo o sistema climático – atmosfera, oceano, criosfera, vegetação e superfície terrestre – está sendo afetado, já que suas componentes estão ligadas por complexas interações. Por exemplo, como resultado do atual aquecimento na atmosfera, inúmeras geleiras estão derretendo de forma acelerada. E, como resultado, um grande volume de água doce que estava armazenado sobre o continente entra no oceano. Além do subsequente aumento no nível do mar, uma das questões que surgem deste cenário é: como esta entrada de água doce no oceano pode afetar o clima? Esta foi uma das perguntas que motivaram minha tese de doutorado. Os oceanos, assim como a atmosfera, estão em constante movimento. Além da energia dos ventos e das marés, uma importante força que gera movimentos no oceano é a diferença de densidade entre massas de água. Observe o experimento no vídeo abaixo. Num tanque cheio de água com temperatura ambiente foi colocado um cubo de gelo (azul) e uma garrafinha aberta contendo água quente (vermelha). Fica claro como o azul se espalha pelo fundo do tanque enquanto o vermelho fica próximo à superfície. Portanto, podemos dizer que águas frias são mais “pesadas” (mais densas) que águas quentes. Além da temperatura, a salinidade também é importante para determinar a densidade no oceano. A salinidade pode diminuir com chuva, neve ou gelo continental entrando no oceano; e pode aumentar com evaporação ou formação de gelo marinho. “Espera,” – você deve estar pensando – “como assim? Primeiro você diz que o gelo diminui a salinidade, depois diz que ele deixa o mar mais salgado?”. Primeiro, vamos apontar uma diferença importante aqui. Gelo continental, aquele que forma geleiras, é doce; ele é formado sobre a terra através do acúmulo e compactação da neve, que nada mais é que chuva (água doce) congelada. Gelo marinho é o resultado do congelamento da água do mar. Embora ele seja levemente salgado, a maior parte do sal contido na água do mar é expelida quando ela congela. Portanto, o sal que estava naquela parcela de água congelada vai parar na água abaixo do gelo, fazendo com que ela se torne mais salgada. Porque as moléculas de sal são mais “pesadas” do que as moléculas de água, a mesma quantidade de água salgada é mais “pesada”do que a de água sem sal (“doce”). Assim, águas quentes e doces são "mais leves" do que águas frias e salgadas, por isso a primeira tende a ficar por cima da última. Nessa busca pela estabilidade (menos denso por cima, mais denso por baixo), o oceano "revolve" como uma esteira: as águas quentes tropicais são transportadas para altas latitudes onde perdem calor e recebem sal (pela formação de gelo marinho), desse modo tornam-se mais densas e afundam. Assim formam-se as massas de água profundas, que são originadas em pontos do Atlântico Norte (próximo à Groenlândia) e do entorno Antártico (especialmente no setor Atlântico). Essas massas de água profundas são exportadas do Atlântico para os outros oceanos e eventualmente voltam para a superfície, onde ganham calor e retornam para os pólos, recomeçando o ciclo. Essa circulação é conhecida como Célula de Revolvimento Meridional (CRM), que tem um papel fundamental na distribuição de calor pela Terra (Figura 1). Por isso, como muitas geleiras próximas aos pontos de formação de águas profundas estão perdendo massa rapidamente, a água de degelo (doce) que vai para o oceano torna a superfície menos salgada e diminui a densidade das águas nessas regiões-chave, o que pode afetar a quantidade de água profunda formada. Se pouca água densa é formada nas altas latitudes, a CRM enfraquece e, consequentemente, a distribuição de calor pela Terra é afetada: o calor recebido nos trópicos não é eficientemente transportado para os pólos, o que faz com que regiões em altas e médias latitudes (Europa, por exemplo) passem a experimentar temperaturas mais baixas. Por isso é importante estudarmos o impacto da água de degelo na circulação oceânica. Mas como podemos fazer isso? Mudanças climáticas sempre ocorreram no planeta. A variabilidade em parâmetros astronômicos, tais como a inclinação do eixo da Terra e a excentricidade orbital, a quantidade de gelo cobrindo a Terra, a variação nos tipos de vegetação, a concentração de gases estufa na atmosfera (de origem natural) são alguns dos fatores que fazem o clima da Terra mudar em longas escalas de tempo. Portanto, podemos usar as mudanças climáticas passadas para entender e tentar prever as respostas naturais do planeta a estas mudanças. Há 21.000 anos, período conhecido como Último Máximo Glacial, a América do Norte e parte da Europa estavam cobertas por grandes mantos de gelo. A temperatura média da Terra era de aproximadamente 4°C (comparados aos 14°C médios de hoje). A partir daí, devido a um aumento na insolação recebida na Terra, a última glaciação chegou ao fim e esses mantos começaram a derreter. Desde lá até hoje, toda essa água de degelo causou um aumento de aproximadamente 120 m no nível do mar. Ou seja, MUITA água doce entrou no oceano. Portanto, este é um bom cenário para entender como a circulação oceânica responde à entrada de água de degelo. Assim, o objetivo do meu trabalho foi diagnosticar as mudanças na circulação oceânica sob a influência da entrada de água doce proveniente do derretimento de gelo continental. Para atingir esse objetivo, usamos resultados de um modelo numérico (como aqueles usados na previsão do tempo) que simulou a variação do clima da Terra nos últimos 21 mil anos, gerados pelo cientista Feng He na Universidade de Wisconsin-Madison (EUA). Esse modelo engloba a atmosfera, o oceano, a superfície da terra, a cobertura de gelo e a cobertura vegetativa. Na simulação, Feng He informou ao modelo como e quando variaram os parâmetros astronômicos, a concentração de gases estufa, e também onde, quando e em que quantidade a água de degelo pode ter entrado no oceano. Tudo isso é estimado usando-se dados obtidos através da análise de registros geológicos (como por exemplo, bolhas de gases aprisionadas em camadas profundas de gelo na Antártica e na Groenlândia). É importante ressaltar que uma simulação numérica, por mais detalhada que seja, não é a representação exata do que aconteceu no passado. No entanto, simulações refletem leis físicas e condições conhecidas do passado – portanto não são, da mesma forma, “adivinhações ou “chutes”. Nesta simulação, em particular, a evolução da temperatura do ar assemelha-se bem àquela reconstruída à partir dos registros geológicos. Pode, assim, ser considerada uma boa aproximação do ocorrido. Neste cenário numérico, nós observamos que a introdução de água de degelo no norte do Atlântico Norte realmente enfraquece a CRM. Esse enfraquecimento está associado à períodos frios no Hemisfério Norte. Contrariamente, quando a entrada de água doce era abruptamente interrompida, a CRM se intensificava e períodos de aquecimento eram observados. Além disso, as massas de água do Atlântico eram bem diferentes há 21.000 anos atrás. As águas formadas no entorno Antártico eram consideravelmente mais salgadas (possivelmente devido à maior formação de gelo marinho, incentivada pelas baixas temperaturas daquela época). Essas águas ocupavam boa parte do Atlântico. Em compensação, as águas formadas no Atlântico Norte não atingiam grandes profundidades como hoje, e nem eram transportadas tão longe ao sul: o núcleo da massa de água originada no Atlântico Norte chegava a 1000-2000 m de profundidade e ficava essencialmente contida no Hemisfério Norte, enquanto hoje ela atinge 3500-4000 m de profundidade e alcança latitudes próximas a 40°S (Figura 2). Os efeitos da entrada da água de degelo no Atlântico Norte também foram observados longe dali, no Oceano Índico tropical: a descarga de água de degelo está associada a mudanças na circulação atmosférica, o que leva a variações na intensidade das monções típicas da região. Assim, nós concluímos que o derretimento de gelo continental provocado pelo aumento de temperatura do ar (e também do oceano em contato com as margens das geleiras) leva a mudanças na circulação oceânica e na distribuição das massas de água do Atlântico, o que eventualmente pode refletir na temperatura do ar, formando um ciclo. De fato, Rahmstorf e colaboradores publicaram um artigo na revista Nature Climate Change mostrando um enfraquecimento na CRM no século 20, especialmente após 1970. Eles apontam o derretimento acelerado do manto de gelo da Groenlândia como um dos responsáveis por esse enfraquecimento. (É importante salientar que essas relações de causa-e-efeito no sistema climático são muito complexas e estão longe de ser dadas como definitivas. Muitas relações ainda não são claras, e o que podemos fazer é inferir estas relações da maneira mais lógica de acordo com o que os dados nos mostram. Informações mais detalhadas sobre esse estudo pode ser encontradas em: Marson, J.M., Wainer, I., Mata, M.M., and Liu, Z. (2014). The impacts of deglacial meltwater forcing on the South Atlantic Ocean deep circulation since the Last Glacial Maximum. Climate of the Past, 10(5), 1723-1734. http://www.clim-past.net/10/1723/2014/ Marson, J.M., Mysak, L.A., Mata, M.M., and Wainer, I. Evolution of the deep Atlantic water masses since the Last Glacial Maximum based on a transient run of NCAR-CCSM3. Climate Dynamics, DOI: 10.1007/s00382-015-2876-7. http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs00382-015-2876-7 Stefan Rahmstorf, Jason E. Box, Georg Feulner, Michael E. Mann, Alexander Robinson, Scott Rutherford & Erik J. Schaffernicht, 2015. Exceptional twentieth-century slowdown in Atlantic Ocean overturning circulation. Nature Climate Change, DOI: 10.1038/NCLIMATE2554). Link para o artigo: http://www.nature.com/nclimate/journal/vaop/ncurrent/full/nclimate2554.html Sobre Juliana Marini Marson: Nascida numa cidade pequena, longe do litoral, apaixonei-me pelas ciências do mar aos 12 anos, após participar de um curso intensivo sobre os oceanos e conservação ambiental. Graduei-me como Bacharel em Oceanologia e Mestre em Oceanografia Física pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), e obtive meu título de Doutorado pela Universidade de São Paulo (USP). Meu foco sempre foi estudar a física dos oceanos polares e suas interações com o clima. Durante minha formação, a Antártica foi minha região de estudo principal. Atualmente, sou Pós-Doutoranda na Universidade de Alberta (Canadá), onde passei a conhecer mais a fundo o oceano do outro lado do mundo – o Ártico. #ciênciasdomar #julianamarinimarson #circulaçãooceânica #convidados #joanaho #mudançasclimáticas #oceano
- Empreendedoras ao Mar!
Por Adriana Lippi Talvez o termo empreender esteja mais em voga agora do que antes, talvez eu esteja mais atenta a ele recentemente. Quando se pensa em empreendedores e empresários o que te vem à cabeça? Um cara ricaço dono de várias empresas (Richard Brandson - Virgin)? Um cara que manja muito de tecnologia e cria coisas inovadoras (Steve Jobs - Apple)? Um cara desonesto que faz lobby com metade dos políticos para conseguir se dar melhor? Ilustração: Joana Ho. Sinto que existem ares de prestígio para empreendedores, como se fossem pessoas meio fora do padrão e que fazem algo extraordinário. Bom, alguns são, mas talvez haja mais empreendedores do que você pensa. O que tem em comum a dona da barraca de café da manhã, a moça da cesta de trufas que as vende na universidade no intervalo das aulas e a amiga que vende artesanatos que ela mesmo faz (ou não)? Elas também são empreendedoras! É capaz de você se deparar até com mais mulheres empreendedoras no seu círculo social do que com homens empreendedores. O estudo do SEBRAE de 2015 indica que 49% dos empreendedores brasileiros são mulheres. Os motivos para as mulheres começarem um negócio próprio podem ser dos mais variados: Ela pode já ter filhos e precisa de um negócio que permita que ela tenha horários flexíveis para participar da vida familiar; Ela não conseguiu ser contratada por alguma empresa; Ela já tem um emprego, mas quer/precisa aumentar seus rendimentos; Ela já esteve em empresas mas não se sentiu reconhecida, nem conseguiu subir de cargo e acredita que ela possa replicar aquele modelo de negócio quem sabe até com melhorias; Ela quer criar um negócio que não existe, mas que ela acredita ser possível. E por aí vai! O empreendedorismo não é a solução para todos os problemas, afinal, se todos forem empreendedores quem vai trabalhar nas empresas já existentes? Todos os tipos de atuação tem seu valor nesse universo econômico e social. Existem muitas teorias sobre o estado atual da economia global: haverá uma migração do capitalismo para outra forma de economia? Talvez, só o tempo dirá, mas cada vez mais pessoas querem desenvolver negócios inovadores e a internet está aí para conectar essas pessoas e divulgar para todos essas novas possibilidades. Estamos em uma crise global. Não só econômica, mas política, de representatividade, política, de gênero, de identidade, de classes, etc… E talvez os novos empreendimentos não sirvam só para gerar renda, mas talvez para ajudar o mundo a se reencontrar. Já pensou como você pode ser peça importante seja para sua família e/ou comunidade? Já pensou em algo que possa mudar o mundo? Ok, ok, mas o que isso tudo de empreendedorismo pode ter a ver com os mares e os oceanos? Existe um conceito recente chamado de “Economia Azul”, que seria uma evolução da “Economia Verde”. Vou tentar explicar bem simplificadamente: A Economia Verde busca reduzir impactos, se importa com a questão socioambiental buscando igualdade e inclusão social e uso eficiente dos recursos. Já a Economia Azul tem duas vertentes. Uma delas é a definição de Economia Azul por Gunter Pauli. Em seu livro ele diz que a Economia Azul deve buscar inspiração na natureza e seus processos além de valorizar as pessoas do local, tendo como alguns princípios: não existe lixo (tudo é aproveitável), os processos são não-lineares (ou seja, não existe um “fim”, um produto ou resíduo de um processo sempre pode ser o início de outro processo, podendo retornar de forma cíclica), um processo gera muitos benefícios, entre outros. A definição de Economia Azul feita na Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável de 2012) seria a aplicação da Economia Verde para regiões costeiras. Não sou especialista em empreendimentos de Economia Verde ou Azul, mas vou tentar dar alguns exemplos pra ilustrar: Como exemplos da Economia Verde, voltada para os oceanos, tem a Ocean Drop, uma empresa bem nova formado por oceanógrafos, que utiliza microalgas encontradas nos oceanos para criar suplementos nutricionais. Há também a Eco-Reef, que comercializa animais para aquários marinhos que são reproduzidos em cativeiro, ou seja, protegendo os ecossistemas já existentes de perderem espécies para atividades de aquarismo, como aconteceu com o peixe-palhaço após o filme da Disney “Procurando Nemo”, cuja a captura aumentou muito e levou ao colapso algumas populações da espécie. Quanto a Economia Azul, eu não consegui levantar exemplos atuais de empresas que atuem no oceano, mas há alguns anos atrás o Prof. Jorge Costa da FURG estudava como utilizar o CO2 gerado por termoelétricas para produzir a microalga Spirulina para suplementação nutricional, dessa forma o “resíduo” da termoelétrica serviria para outro processo (produção de microalga). Como um exemplo não ligado aos oceanos, temos uma vinícola sul-africana que utiliza patos que fazem a função de adubagem pela fezes que eliminam e controle de pragas como caracóis, parasitas e outros insetos. Dessa forma produzem as uvas sem necessidade de uso intenso de agrotóxicos, fertilizante, pesticidas, etc… e os patos acabaram se tornando uma atração turística. Acredito que seja possível combinar as duas visões de Economia Azul (aplicar o conceito de Pauli para regiões costeiras), mas precisamos de empreendedoras e empreendedores dispostos a criar esses negócios. E ai, alguém se habilita? Extras: Videos sobre Economia Azul https://www.youtube.com/watch?v=1af08PSlaIs https://www.youtube.com/watch?v=flMvwi6jR8o Sobre Adriana: Oceanógrafa, programadora web, viciada em ler, aprender e questionar, com mania de controle de tarefas, equipes e finanças de projetos, diretora do Instituto Costa Brasilis. Me apaixonei pelas diatomáceas ainda no colégio, achava que passaria o resto da minha vida trabalhando com esses minúsculos e quase invisíveis seres, mas não podia ignorar as coisas visíveis do meu dia-a-dia que achava importante realizar. Participei da A.A.A Oceanográfica, do Centro Acadêmico Panthalassa, encabecei O Escafandro (periódico feito pelos alunos da graduação do IOUSP), participei da organização de eventos científicos (SNO2010, SBO2011, Oceanos & Sociedade 2013, ISBS2015), fui gerente de Tecnologia de Informação e Comunicação na SALT e agora to tentando descobrir como viver no mundo das ONG’s, mas com saudades das minhas diatomáceas! Leia também outros textos da Adriana. #carreira #convidados #adrianalippi #empreendedorismo #joanaho #mulheresnaciência
- A tour through the ocean: understanding the comings and goings of humpback whales
By Daniela Abras Edited by Katyanne M. Shoemaker It is immensely challenging to try to understand the mechanisms that move a 15 meter-long and 40 ton organism 9,000 km yearly. Humpback whales migrate every year from the feeding grounds of Antarctica to the mating grounds of Brazil. The route, which is about 4,500 km each way, is made twice a year and typically takes about 2 months going, and 2 months coming back. By including their 4 month stay in Brazil mating, these whales spend 8 months of the year without food. That’s a long fast! To accomplish this feat, they need to eat a lot during the 4 months in Antarctica, and they need to stock up on energy reserves, in the form of body fat. But what do these whales eat? As the adorable Dory, from Disney/Pixar’s Finding Nemo would say, whales don't eat fish, they eat krill. Krill are small crustaceans, similar to shrimp, that are about 5cm long and live in giant clusters (swarms). Krill are the base of the vertebrate food chain in Antarctica, where most species depend on it, directly or not. Many species of fish, seals, penguins, and whales prey almost exclusively on it. Some species, like Orca whales and Leopard seals, prey on fish or penguins. This is why the food chain in Antarctica has been called by scientists “krill-dependent.” Every year, whales arrive at the Brazilian coast in July and stay there until November. There are times when the population arrives slightly earlier in the year and stay longer, but they can also come later in the season and leave more quickly. In some years, there are more whales than in others. This started to raise some questions: When they stay in Abrolhos longer, is it because they fed better? When they leave the bank earlier than average, is it because of high water temperatures? Or do these things not influence their behavior at all, and they rely mostly on genetic programming? What initiates the migration process? My Master's research focused on these questions to try to understand the diverse environmental mechanisms influencing the migratory dynamics of humpback whales. I primarily focused on the availability of their main source of energy. To do that, I analyzed parameters such as photoperiod, water temperature in both Abrolhos and in Scotia Sea (where they stay in Antarctica), and the availability of krill during summer. I compared this to 7 years of sighting data collected at a fixed location around the Abrolhos Archipelago. To observe the whales, a piece of topography equipment with 30X zoom, called a theodolite, was used. For the 5 months the whales were in Abrolhos, we observed the whales daily, and found that the population's abundance fluctuates throughout the reproductive season with a gradual increase in July, followed by the peak in August/September, and then a gradual decrease, until no more whales were present by the end of November. Watching whales with the theodolite, from Abrolhos Archipelago. The results were more than expected. In years when there were more krill available, the whales fed more and had greater energy stores. This allowed them to invest a longer period of time on reproduction and more whales were seen in Abrolhos. The opposite was also true. In years with less krill, fewer whales were seen in Abrolhos and their time at Abrolhos was shortened. The water temperature didn't seem to have significant influence on their migration, however it assisted in indicating the starting moment for the migration – the migratory timing. The most surprising result was related to the photoperiod (length of daylight in a day). No other research had related the migratory dynamics with photoperiod, perhaps because scientists thought it was too obvious. But, sometimes, it's important to understand the obvious! The photoperiod in Antarctica has a huge difference between summer (18 hours of light) and winter (6 hours), while in Abrolhos, the difference from summer (13 h) and winter (11h) is far smaller. Therefore, as my dissertation's conclusion, I discovered that the humpback whale's migration starts and is influenced by the sharp lowering of photoperiod when they are in Antarctica. When in Abrolhos, migration is impacted by the sum of 3 factors: the photoperiod (which is more steady than in Antarctica), the sea surface temperature (this slightly increases gradually during the reproductive season) and krill availability while in Antarctica. It was difficult to analyze such a high volume of data, linking different environmental parameters in order to answer all of my research questions. With these results, we have started to understand complex migratory dynamics and the importance of krill in the maintenance of the humpback's population. If you want to know more about my Master's dissertation, contact me via email at daniabras@gmail.com The humpback whale population was almost driven to extinction in the early 20th century from intensive commercial hunting. Before commercial whaling, the estimated population was around 25,000 individuals, but it dropped to about 800 individuals while at the peak of whaling. After the whale-hunting moratorium in 1986, the population recovered and is now around 15,000 individuals today! In 2015, humpback whales were officially removed from the endangered species list in Brazil. This is a victory for the whales as well as for those of us that have the privilege of watching them arrive annually, in bigger numbers every time, performing their aquatic ballet. Go meet them! Between July and November, they are concentrated on the Abrolhos region, but they can also be seen from the states of Rio Grande do Norte state to Rio de Janeiro. Want to know more about humpback whales? Visit the Brazilian Humpback Whale Institute website: www.baleiajubarte.org.br About: Daniela Abras is from Belo Horizonte, has a bachelor’s degree in Marine Biology from UFRJ, and has a Masters degree in Oceanography from USP. She has loved cetaceans since she was 8 years old, when she did a school project about them. When she was a teenager, she would say that she wanted to work with whales, but was never taken seriously. In the early 90s, she heard the famous National Geographic “Whale Songs” vinyl record and discovered the “Save the whales” project. From all of this obstinacy, her dream to study and protect whales came to life. She is now a researcher for the Brazilian Humpback Whale Institute, dedicating herself daily to studying these magnificent animals. #danielaabras #marinescience #behavior #conservation #invited #ocean #whale #chat
- Atuar em oceanografia implica obrigatoriamente em ter uma carreira acadêmica?
Por Adriana Lippi Ilustração: Joana Ho. Desde que ingressei na graduação de oceanografia sempre ouvi questionamentos relacionados ao "o que você vai fazer": O que o oceanógrafo faz? Trabalha com pesquisa, né? Vai trabalhar no TAMAR, certo? entre outros. Eu também não tinha muita certeza de como iria ser depois de formada, mas considerava a carreira na ciência. Ao começar o meu curso também me engajei em diferentes atividades durante a graduação: participei de entidades estudantis, empresa júnior, me lancei a editar um informativo impresso para os alunos, resolvi que queria fazer um site primeiro para a atlética e depois para o centro acadêmico, organizei alguns eventos… e tentei me formar nesse meio tempo. Quando me deparei com a parte "científica-acadêmica": iniciação científica e trabalho de graduação, senti uma imensa dificuldade. Óbvio que bateu a maior crise existencial: "Poxa, mas eu fiz tanta coisa nesses anos e não consigo escrever essa monografia! Não consigo ter uma bolsa de iniciação? Posso montar um site inteiro, mas não consigo entender o que estou fazendo nessa pesquisa...". Entreguei a monografia mesmo assim, fazendo como foi possível, levei várias puxadas de orelha de relator e orientador. Acabei optando por não ingressar num mestrado logo após a graduação, ao contrário da maioria dos meus colegas que seguiram na área, consegui uma bolsa de desenvolvimento tecnológico em um projeto no INPE e lá fiquei por 6 meses. Nesse período tive oportunidade de (re-)ingressar na vida acadêmica, possibilidades de mestrado, tempo para estudar, poucas responsabilidades. Até tentava, mas não me animei. Ler artigos científicos e bolar um projeto com hipótese, metodologia e selecionar e citar referências me deixava ansiosa só de pensar. Demorei até aceitar que era possível que a ciência não encaixasse com as minhas habilidades e ambições, pelo menos nessa altura da minha vida. No final do último ano de graduação e nesse período no interior consegui fazer uma graninha fazendo sites, habilidade que consegui desenvolver durante a graduação, depois de fazer a disciplina de introdução à lógica de programação. Na disciplina descobri que programar era algo que gostava muito e isso me levou a programar sites. Fazia isso por gosto, às vezes para tapar algum buraco, quando precisava de um site para um evento. Demorei muito até ver que poderia usar essa habilidade para pagar umas contas. Tive um grande amigo, que até hoje é meu parceiro no trabalho e na vida, que insistiu muito comigo até que pudesse enxergar que poderia fazer isso como profissional. Tinha um lado de mim que me incomodou por muito tempo: “Estou fazendo oceanografia, não quero desperdiçar a graduação fazendo sites, que todo mundo pode fazer. Quero ser oceanógrafa!”. Porém, volta e meia aparecia alguém precisando dos “meus serviços”: fazer um site ali, organizar um evento aqui, ajudar com uma diagramação acolá… Na grande maioria todos essas pessoas eram do meio científico: professores universitários, pesquisadores, entre outros. Demorou mais um tanto para que pudesse ver que fazendo isso não estava desviando da minha área de oceanografia. Foi um professor que me mostrou: “Atividades-meio importam”, ou seja, posso não estar fazendo a atividade-fim: pesquisa, publicações, livros, porém minha atuação (atividades-meio) ajudava que essas atividades-fim fossem desenvolvidas de uma forma melhor. Aí perdi a vergonha do meu trabalho! A partir dessa conclusão, consegui me ver de uma forma mais definida como profissional, investir mais na minha capacitação, divulgar um pouco melhor o que fazia, etc. Desde então consegui uma colocação dentro de uma empresa onde aprendi muito, e recentemente optei por mudar meus caminhos indo para o terceiro setor. Sobre Adriana: Oceanógrafa, programadora web, viciada em ler, aprender e questionar, com mania de controle de tarefas, equipes e finanças de projetos, diretora do Instituto Costa Brasilis. Me apaixonei pelas diatomáceas ainda no colégio, achava que passaria o resto da minha vida trabalhando com esses minúsculos e quase invisíveis seres, mas não podia ignorar as coisas visíveis do meu dia-a-dia que achava importante realizar. Participei da A.A.A Oceanográfica, do Centro Acadêmico Panthalassa, encabecei O Escafandro (periódico feito pelos alunos da graduação do IOUSP), participei da organização de eventos científicos (SNO2010, SBO2011, Oceanos & Sociedade 2013, ISBS2015), fui gerente de Tecnologia de Informação e Comunicação na SALT e agora to tentando descobrir como viver no mundo das ONG’s, mas com saudades das minhas diatomáceas! #vidadecientista #ciênciaetecnologia #convidados #adrianalippi #interdisciplinaridade #joanaho #programação
- Ocean fertilization and climate change
By Yonara Garcia Edited by Katyanne M. Shoemaker Have you heard of geoengineering? It’s a tool becoming increasingly used, but is often controversial because, in some cases, the result can be completely unexpected! Today we’ll talk about a polemic experiment carried out in July 2012 by Russ George, an American businessman who dumped approximately 100 tons of iron sulphate in the Pacific Ocean as part of a geoengineering project off the west coast of Canada. Ocean fertilization by iron sulfate. Source Iron is considered an essential element, often limiting, for phytoplankton growth. Phytoplankton perform photosynthesis, a process in which sunlight is used as an energy source and absorbs carbon dioxide (CO2) and water to produce organic matter in the form of carbohydrates. Phytoplankton cells are formed from these carbohydrates with the addition of other substances such as proteins, amino acids, and other molecules. In 1980, oceanographer John Martin proposed that certain regions of the ocean (the areas called HNLC - High Nutrient, Low Chlorophyll), although rich in nutrients, would be poor in primary production due to lack of iron. Thus, the addition of iron should increase the production of phytoplankton and hence affect the carbon cycle, reducing CO2 levels in the atmosphere. His famous phrase “Give me half a tanker full of iron and I’ll give you an Ice Age” caused great excitement because he believed that if certain areas of the ocean were fertilized, the effects of global warming could be reversed, cooling the Earth. Thus arose the idea that the American businessman put into practice. Russ and his team released a certain amount of iron into the sea, believing it would promote photosynthetic activity and thus increase the efficiency of the carbon sequestration processes in the ocean. Just like the process to fertilize a crop for it to go grow faster! This issue has generated much controversy because it conflicts with ethical and political questions about the effects that an intervention like this would bring to a complex ecosystem. We still know relatively little about the ocean. To better understand why the idea of this project is so controversial, let’s first talk about some important processes in the “wonderful world ocean.” Have you ever heard of “physical pump”? Or a “biological pump”? No, it’s not a kind of weapon of war to decimate an enemy population. The physical pump is the process related to the solubility of CO2 in the ocean (solubility = maximum amount of a substance that can be dissolved in a liquid). The biological pump takes into account what happens to the CO2 after it is dissolved in the ocean, when a fraction of dissolved carbon is absorbed through photosynthesis, in the surface layers of the ocean, and transported to the bottom. The diagram below explains how carbon is transported in the ocean. CO2 is a gas capable of dissolving in the surface of the oceans. This solubility mechanism is related to the concentration of this gas in the atmosphere and the water temperature: the more CO2 in the atmosphere and the lower the temperature, the greater the amount of gas dissolved in the ocean surface. Once dissolved in water, the CO2 passes to a further stage of the cycle, where it can be absorbed by photosynthetic marine organisms. Part of the organic matter formed during photosynthesis is used in cellular respiration and released back into the seawater as CO2. The other fraction, which was used in the formation of the cell, is consumed by zooplankton (primary consumers in marine food webs - read more here) and/or transported by gravity to the bottom of the ocean through “marine snow,” particles made up of food debris and fecal pellets coming from feeding zooplankton, shells, and dead microorganisms. This carbon transfer process to the deep ocean decreases the amount of carbon in the photic zone (zone that receives enough sunlight for photosynthesis to occur), sequestering (removing) billions of tons of carbon from the atmosphere each year. Some studies have estimated that the biological pump is responsible for removing about 5-15 gigatons of carbon per year (Henson et al., 2011). Marine Phytoplankton. Source You can probably imagine how important this removal is when looking at the large amount of carbon that our industrial activities, cars, and planes have emitted into the atmosphere over the last few years. It is important to remember that the much discussed global warming, among other issues, is largely caused by an excess of carbon in the atmosphere. According to the IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) 2014, in 2010 alone, 49 gigatons of carbon were released into the atmosphere by human activities. And that is precisely why these experiments with iron have gained so much popularity. Sounds simple, right? Okay, solved the problem of global warming! Let's fertilize the oceans! But it is not so simple. Interfering in natural ecosystems is an extremely sensitive subject, which can cause incalculable and irreparable damage. Some researchers performed similar experiments as the American businessman and concluded that despite the fertilization increasing the rate of photosynthesis, it can trigger changes in ocean chemistry by changing the operation of the entire system. For example, increased photosynthetic rates by phytoplankton are directly proportional to the amount of dimethylsulfide (DMS - volatile sulfur in reduced form) secreted by these microalgae in water, which is vaporized and form condensation particles in the air (i.e. more photosynthesis by the phytoplankton = more dimethylsufide into the air). In the atmosphere, these particles facilitate the formation of clouds, which would be great, because with the increased formation of clouds there is increased reflection of solar radiation and thus greater cooling of the planet. However, not all types of clouds have the property to cool the planet. Recent studies suggest that other climatic factors may also affect the distribution and properties of clouds, which could increase the temperature of the planet. Furthermore, it was observed that fertilization also increases the production of nitrous oxide (N2O), a molecule that heats 320 times more than CO2. Another study, published in April 2014 in Geophysical Research Letters, showed that more than 66% of the carbon sequestered by the ocean returns to the atmosphere in 100 years. That is, the biological pump may lessen the temperature of the Earth, sequestering carbon from the atmosphere, but we do not know what will happen when this carbon returns. Controversial enough for you? Thus, although the processes that occur in the ocean are responsible for reducing the concentration of CO2 in the atmosphere, altering the system may not be the best solution because there are many chemical, physical, and biological processes that are not fully understood. While we did not reach a more integrated understanding of these processes, the reduction of CO2 emissions would be much more efficient and safer than trying to remedy a problem by manipulating a process so complex and poorly understood. Literature: http://www.nature.com/ngeo/journal/v6/n9/full/ngeo1921.html http://www.nature.com/nature/journal/v446/n7139/full/nature05700.html https://www.ipcc.ch/publications_and_data/ar4/wg1/en/ch7s7-3.html http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/2013GL058799/full https://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar5/syr/AR5_SYR_FINAL_SPM.pdf Henson, S. A., R. Sanders, E. Madsen, P. J. Morris, F. Le Moigne, and G. D. Quartly (2011), A reduced estimate of the strength of the ocean's biological carbon pump, Geophysical Research Letters, 38 #chatyonaragarcia #marinescience #biologicalpump #climatechange #microalgae #oceanfertilization #phytoplankton #plankton #chat











