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Descomplicando a Cultura Oceânica

Atualizado: 17 de set. de 2020

Por Mari Andrade e Jana del Favero

um menino está sentado e observa um aquário marinho, cheio de peixes e corais

Conhecer e entender a influência do oceano em nós e nossa influência no oceano: esta é a essência da Cultura Oceânica (Ocean Literacy). Parece em um primeiro momento uma combinação estranha de palavras, mas cultura e oceano tem tudo a ver. Cultura Oceânica é cativar as pessoas para que se reconectem com o oceano, em uma relação baseada em conhecimento de qualidade, na acessibilidade, na diversidade ecossistêmica e cultural e na mudança de comportamento.


Mas de onde veio isso?


O desejo de reunir elementos para embasar esse desejo de reconexão começou em 2002, quando profissionais da educação e cientistas do mar se uniram nos EUA para desenvolver recursos pedagógicos para o ensino das ciências do mar.


Os profissionais da educação identificaram essa lacuna no ensino e conseguiram mobilizar institutos de pesquisa para levar essa demanda para conferências e reuniões técnicas durante 2003 e 2004. Foi um passo importante para identificar a necessidade de aproximar “a próxima geração de cientistas, pescadores, agricultores, empresários e líderes políticos” do mar. Ou seja, a discussão da relação da humanidade com o oceano tinha um potencial muito grande e, portanto, precisaria vencer as ondas e navegar outros mares, com diversidade de atores. Foi assim que surgiu o termo Ocean Literacy e, em 2004 mesmo, houve um esforço para definir seus princípios e conceitos fundamentais, que passaram então a ser tratados em conferências a cada 2 anos nos EUA.

Alguns anos depois a Ocean Literacy atravessou o Atlântico e chegou na Europa, se unindo às discussões sobre educação e divulgação científica que aconteciam por lá. De 2011 para cá, projetos, eventos e acordos de cooperação internacional passaram a considerar a Ocean Literacy como um assunto crucial a ser trabalhado nas Ciências do Mar.


A urgência para tratar dele tornou a Ocean Literacy um assunto intergovernamental. Assim, a UNESCO e a Comissão Oceanográfica Intergovernamental assumiram a responsabilidade de estimular essa discussão global e desenvolver ferramentas para sua implementação. Com o Lançamento da Agenda 2030 em 2015 e o anúncio da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável em 2017, assumiu-se o desafio de incorporar esse conceito aqui no Brasil.


Ocean Literacy em mares brasileiros


A primeira tarefa que tivemos por aqui foi a própria tradução do termo Ocean Literacy. Literacy é um termo em inglês que surgiu no século 19 para definir a "habilidade de ler e escrever". Desde então, tem sido usado como "competência ou conhecimento de uma certa área" ou "alfabetização".

Esse termo até existe em português, a palavra literacia, e tem mais ou menos o mesmo significado. Em português de Portugal, falar em literacia é mais comum do que no Brasil. No português brasileiro, o termo pode passar uma ideia de que precisamos ser "letrados", especialistas no assunto. Mas isso contraria um propósito de reaproximação com o oceano, que é para ser democrático e livre para cada um.


capa do kit pedagógico “Cultura Ocênica para todos”. Nela aparecem crianças observando um áquario marinho
Capa do Kit Pedagógico

Então passamos por literacia do oceano, literacia azul, educação marinha, alfabetização dos mares, entre outras variações do termo para o português do Brasil. Foi só em 2019 que foi decidido usar o termo Cultura Oceânica, quando houve o lançamento de uma versão em português para o Kit pedagógico Cultura Oceânica para Todos da COI-Unesco, de onde vieram muitas inspirações para esse texto, em um evento organizado pelo projeto Maré de Ciência.


Cultura é um termo complexo, de muitas dimensões e significados. Mas de todas as maneiras traz um sentimento de conexão e responsabilidade que são importantes e fazem sentido com o Brasil.

Do que trata a cultura oceânica?


Mas como é que a gente conecta as pessoas com o oceano? Do que a gente pode falar? Por onde começar? Todas as discussões dos últimos anos aportaram alguns princípios fundamentais, que são assuntos básicos descritos no kit pedagógico, como pontos de início de conversas marinhas. São eles:

  • A Terra tem um Oceano global e muito diverso

  • O Oceano e a vida marinha têm uma forte ação na dinâmica da Terra

  • O Oceano exerce uma influência importante no clima

  • O Oceano permite que a Terra seja habitável

  • O Oceano suporta uma imensa diversidade de vida e de ecossistemas

  • O Oceano e a humanidade estão fortemente interligados

  • Há muito por descobrir e explorar no Oceano

O kit fornece ferramentas, métodos e recursos inovadores para entender esses complexos processos e funções do oceano para educadores e aprendizes em todo o mundo e, também, para alertá-los sobre as questões mais urgentes dentro do tema. Embora esses princípios sejam resultado do que a ciência oceânica se dedicou a estudar nos últimos tempos, para a comunicação e a conexão acontecer, é crucial que outros tipos de conhecimento sejam somados e despertem oportunidades para reconhecer regionalidades e pessoas, tão diversas por aqui no Brasil.


A cultura oceânica nos ajuda a situar a sociedade na presente relação com o mar e a guiá-la no caminho de tratar o oceano com respeito no presente para assegurar as mesmas oportunidades para as gerações futuras. Já está mais do que na hora do oceano estar nas nossas conversas, certo?


 

Sobre a autora:


Pesquisa e comunica processos participativos para a conservação do oceano. É membro do Comitê de Governança Nacional, Jovem Embaixadora do Oceano Atlântico no Brasil (@queridoatlantico / @AllAtlanticYouth) e co-fundadora da @bloom.ocean: agência de mudança para pessoas, projetos e negócios ligados ao oceano. É pesquisadora do Plano de Monitoramento e Avaliação do Lixo no Mar para o Estado de São Paulo, contribui com o Grupo de Trabalho de Empreendedorismo em Ciências do Mar (@gtecienciasdomar) e é conselheira da Liga das Mulheres pelos Oceanos (@ligadasmulherespelosoceanos). Instagram: @mari.m.andrade.


Este texto é baseado na série de posts sobre Cultura Oceânica que Mariana escreveu para o @queridoatlantico.



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