Por Juliana Leonel
Os manguezais são ecossistemas costeiros de transição entre os ambientes marinho e terrestre. Localizados nas regiões tropicais e subtropicais, abrigam um grande número de espécies e têm ampla importância ecológica, econômica, social, na manutenção do clima, na proteção costeira, como fonte de nutrientes para a zona costeira, na retenção de contaminantes etc.
Imagem de Lamiot via Wikimedia com licença CC BY-SA 3.0
Do ponto de vista ecológico é muito comum a frase “manguezais são berçários para diversas espécies”, mas o que isso significa? Isso quer dizer que muitas espécies dependem dos manguezais para sua reprodução e manutenção da população. Na verdade, o número de espécies que dependem dos manguezais, direta ou indiretamente e durante toda a vida ou apenas em um período dela, é muito grande. Somado a isso, nos manguezais há espécies que não ocorrem em outros ecossistemas, altamente adaptadas às características específicas deste local. Por exemplo, por serem zona de transição sofrem os efeitos da oscilação da maré com consequentes variações de temperatura, salinidade e quantidade de água, além da baixa quantidade de oxigênio no sedimento.
Os manguezais são ambientes com sedimento fino (lama) que tem pouca troca gasosa com a atmosfera e, consequentemente, limitada oxigenação. Por isso aquele cheiro de “ovo podre” forte é bem característico deste local. Mas não tem nada de errado com isso, pelo contrário! Com a baixa presença de oxigênio as bactérias passam a usar o enxofre para realizar a degradação da matéria orgânica (que é outra coisa que tem muito no sedimento dos manguezais), em um processo anaeróbico, que produz ácido sulfídrico (= cheiro de ovo podre). Essas características do sedimento permitem que haja uma diversidade microbiológica bastante específica nesse ambiente, inclusive algumas com potencial para biorremediação de alguns tipos de contaminação, como hidrocarbonetos de petróleo.
São poucas as espécies de árvores presentes no manguezal, mas elas têm diversas adaptações para sobreviverem em um ambiente com tantas limitações. Entre elas, a Rhizophora mangle (mangue vermelho), tem raízes aéreas longas que aumentam a fixação no sedimento com baixa compactação e auxiliam na troca de gases e água. Essas estruturas ajudam a conter os processos erosivos devido a ação de marés e ondas. Além disso, oferecem proteção adicional em casos de eventos extremos. Por exemplo, no tsunami que atingiu a costa tailandesa em 2004, observou-se que as áreas com densa floresta de mangues foram menos destruídas, por dissipar a energia das ondas, quando comparadas com as áreas onde não haviam manguezais. Ou seja, os manguezais são importantes também para a segurança das cidades costeiras.
Adaptações de Rhizophora mangle (via Wikimedia em Domínio Público) e da Avicennia marina (de Piripitus via Wikimedia com licença CC BY-SA 3.0)
Entre as muitas espécies de peixes, crustáceos e moluscos que vivem nos manguezais, encontram-se diversas de interesse comercial que são fonte de alimento e de renda para muitas comunidades de baixa renda. Dessa forma, a preservação desse ecossistema significa preservar uma fonte importante de proteína e também a sobrevivência financeira de muitas pessoas.
Caranguejo Uçá (Pancrat via Wikimedia com licença CC BY-SA 3.0) Caranguejo Aratu (Bob Peterson via Flickr com liceça CC BY 2.0)
Os manguezais são um dos ambientes costeiros mais importantes no armazenamento de carbono azul (blue carbon) que é o carbono atmosférico fixado por ecossistemas costeiros ao invés dos ecossistemas terrestres tradicionais. Nos manguezais o dióxido de carbono é retirado da atmosfera através do crescimento de plantas e acúmulo e soterramento de matéria orgânica no sedimento. O fato de ser um ambiente com pouca oxigenação no sedimento não favorece a degradação da matéria orgânica (que libera dióxido de carbono) e favorece seu acúmulo. Ou seja, no balanço final, eles retêm mais carbono do que liberam e isso tem um papel fundamental na manutenção do clima.
Apesar de todos os benefícios gerados pelos manguezais, eles estão em constante risco devido ao crescimento urbano, obras costeiras, expansão da maricultura, mineração e sobrepesca de algumas espécies. O Brasil sozinho possui em torno de 15% de toda a área de manguezal do mundo; segundo o Ministério do Meio Ambiente, em 2009, eram 1 225 444 hectares distribuídos desde o Oiapoque (AM) até Laguna (SC). No entanto, estima-se que houve uma perda de 20% em área só na última década e meia.
Para saber mais:
Recomendamos o material Desvendando os manguezais da Fundação Grupo o Boticários
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