top of page

Resultados da Busca

528 resultados encontrados com uma busca vazia

  • Ugly animals need love too!

    Written by Jana M. del Favero Edited by Katyanne M. Shoemaker Illustration by: Joana Ho What do a dolphin, a sea turtle, and panda bear have in common? They are considered flag species, meaning they are charismatic species that can draw public attention to a conservationist cause. This concept emerged in the 1980s as a way to ensure conservation of biodiversity. Since it is not possible to finance protection projects for all species of an area, we raise the status of a charismatic species as a means of supporting its overall ecosystem. When I was an intern for the Tamar Project, I was used to receive tourists at the Ubatuba base to talk about sea turtles. While teaching them about sea turtles, I ended up also teaching them about the fish that they consumed and the damages garbage and automobile use in spawning areas caused, etc. The main message always went through several other messages. Whenever we talk about the importance of preserving the flag species, we also talk about the importance of preserving the entire ecosystem. Although it is an efficient concept (who does not think about the Panda Bear when thinking about WWF?), its application requires caution. By prioritizing flag species, you run the risk of not preserving those who really need to be preserved. It is important to remember that several species are threatened with extinction. Some scientists even argue that we are going through the sixth major extinction of the Earth (episodes in which large numbers of species go extinct in a short period of time). According to scientists all prior mass extinctions were caused by natural catastrophes, such as the fall of a meteorite. However, WE (human beings) are causing the sixth extinction! Paradoxically, although WE are causing the sixth extinction, WE are also the ones that can prevent it from being more tragic. So, it was in thinking about the protection of a group of endangered and "disadvantaged" animals that the biologist Simon Watt created the “Ugly Animal Preservation Society.” No, that is not a type, this idea was quite contrary to the use of traditional flag species. According to the creator, it is not fair that the panda gets all of the attention. The innovative idea of Simon Watt did not stop with the creation of the society. To raise funds and save aesthetically unprivileged species, he and a group of artists ventured into the United Kingdom, performing shows and stand up comedy, in which each artist featured an ugly animal. At the end of each evening, people could vote on what should be the mascot of society. Among some strong competition of the weirdest frogs, salamanders, snails and insects, the winning mascot was a fish, the Blobfish. Besides being ugly, this fish, scientifically called Psychrolutes marcidus, inhabits the deep waters (between 600 and 1200 meters deep) of South Australia, including Tasmania. They have no swim bladder, only the minimum number of bones needed for survival, and their body has a gelatinous consistency. But these characteristics all contribute to being able to live in their high-pressure environment, with the water around them as their main structural support. But I confess that I found the vote somewhat unfair. Knowing that every 10 meters that we dive to find the Blobfish, the pressure increases by 1 atm. We would meet the ugly creature in an environment with more than 60 atm of pressure pushing down on us, and our organs would crush and we would probably look like paste (actually we would have died long before!). Meanwhile the Blobfish would look like an "ordinary" fish and not the gelatinous creature we thought so ugly while we analyzed it on the Earth’s surface, at only 1 atm. Another marine fish that competed as the ugliest animal was the European eel (scientific name: Anguilla anguilla). Although it is critically endangered and it looks more like a snake than a fish, I believe that this species should not even be in this competition because they are wonderful! The European eel is a euryhaline fish, which withstands great variation of salinity, and is catdromic, meaning it grows in rivers and spawns at sea. In addition, it has leptocephalus larvae, which look beautiful, last about 3 years, and reach up to 8 cm in length! So, have I been able to convince you that the European eel and the Blobfish are not ugly, but that they do need our attention and protection? In your opinion, which endangered animal is ugly and should be preserved? About the “Ugly Animal Preservation Society” (Come in and laugh a lot watching the videos): http://uglyanimalsoc.com #chatjanamdelfavero #marinescience #biodiversity #blobfish #bubblefish #conservation #joanaho #chatkatyanneshoemaker

  • Furacão, tornado, tufão e ciclones

    Por Gabrielle Souza Hoje no descomplicando netuno falaremos sobre fenômenos assustadores, que tem recentemente causado sérios danos nos Estados Unidos. Falaremos de furacões, tornados, ciclones e tufões. Esses fenômenos climáticos naturais são todos originários dos deslocamento de massas de ar, o que chamamos popularmente de vento, e são ocasionados por mudanças fortes na pressão atmosférica. A única coisa que diferencia um furacão de um tufão e de um ciclone é o local onde ocorrem (veja a imagem abaixo). Imagem adaptada. Fonte Antes de começarmos a diferenciar estes fenômenos, é importante saber que ciclone tropical é um termo genérico usado pelos meteorologistas para descrever um sistema organizado de rotação das nuvens e trovoadas originado sobre águas tropicais e subtropicais. Quando o ciclone tropical atinge mais de aproximadamente 119 km/h, ele é então classificado em furacão, tufão ou ciclone, dependendo da localização, conforme já mostrado acima. Existem fatores que podem influenciar e contribuir para a ocorrência destes fenômenos, como: a presença de massas de água quentes nos oceanos, o rápido resfriamento da atmosfera e uma camada próxima a troposfera (camada atmosférica mais próxima da superfície terrestre) relativamente úmida, por exemplo. O furacão, mais popular nas mídias recentemente, é caracterizado por fortes ventos com velocidades que podem atingir até 300 km/h, girando em sentido horário (hemisfério sul) e anti-horário (hemisfério norte). Possuem entre 400 a 650 km de diâmetro e ocorrem geralmente no Oceano Atlântico. Os furacões são formados, quando o ar quente e úmido (seta vermelha da figura abaixo) sobe e se condensa formando chuvas fortes, criando uma zona de baixa pressão próximo a superfície da água. O ar quente estando sob uma pressão relativamente maior que o ar frio (seta azul), movimenta-se em direção ao "espaço" ocupado pelo ar mais frio, de menor pressão, que suga o ar do ambiente quente, e também sobe. Esse fluxo promove a criação de nuvens e chuva (veja a imagem abaixo). O ar que contorna a zona de baixa pressão cria uma espiral de velocidades muito altas que podem acabar atingindo a superfície terrestre e oceânica. Como se formam os furacões. Imagem adaptada. Fonte No centro do furacão está a parte denominada de “olho da tempestade” ou “olho do furacão”, onde o céu é praticamente limpo, os ventos são baixos e não existe precipitação. O tornado, outro termo que comumente escutamos, é caracterizado pelos meteorologistas como o fenômeno de menor duração. Ocorre geralmente nas zonas temperadas do Hemisfério norte, sendo os mais intensos observados no centro-oeste dos Estados Unidos e Austrália. Quando tocam o solo produzem grandes redemoinhos de poeira que possuem até 10 km de diâmetro, atingindo cerca de 500 km/h, durando entre 10 e 30 minutos. Quando acontecem no mar, o interior da coluna “vazia” é preenchida com a água sugada, formando-se a tromba d’água. De acordo com alguns cientistas o aumento recente da ocorrência e intensidade dos furacões está relacionado com o aquecimento dos oceanos. Isso ocorre porque, segundo o professor Gabriel Vecchi de geociências da Universidade de Princeton, “Um oceano mais quente faz uma atmosfera mais quente, uma atmosfera mais quente pode conter mais umidade”, ou seja, os furacões irão armazenar mais água. Por conta dessa elevação na temperatura, para cada aumento de 1 grau Celsius, aumenta também 7% de água no ar, justificando o aumento da quantidade de água quando essas tempestades atingem o solo. Para você fixar o assunto desse post nós elaboramos um Quiz.  Só clicar no link abaixo! Esperamos que goste ;) https://quiz.fbapp.io/quiz-descomplicando-netuno Referências: NOAA. What is the difference between a hurricane, a cyclone, and a typhoon?: The only difference between a hurricane, a cyclone, and a typhoon is the location where the storm occurs.. 2017. National Oceanic and atmospheric administration U.S department of commerce- NOAA. Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2017. INPE. Qual a diferença entre tornado, tufão e furacão? 2013. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais- INPE. Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2017. FIOCRUZ. Os ventos. Fundação Oswaldo Cruz- Fiocruz. Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2017. PAULO, Prefeitura de Santo André- São. Tornados, Furacões e Tufões. 2008. Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2017. THAN, Ker. Typhoon, Hurricane, Cyclone: What's the Difference?: Hurricanes, cyclones, and typhoons are all the same weather phenomenon.. 2013. National Geographic. Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2017. BBC, British Broadcasting Corporation-. How hurricanes form. 2014. Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2017. WORLAND, Justin. The One Number That Shows Why Climate Change Is Making Hurricane Season Worse. 2017. Disponível em: . Acesso em: 27 set. 2017. #descomplicando #gabriellesouza #furacão #tornado #tufão #ciclone

  • O ar que você respira

    Por Cláudia Namiki No dia 03 de setembro, recebi uma linda mensagem me parabenizando pelo Dia do Biólogo, que dizia assim: “Biologia: muito obrigado por você NÃO fazer parte da minha vida”. Depois de perceber o NÃO, achei essa frase um verdadeiro paradoxo, já que bio significa vida, e o ser humano que escreveu essa mensagem devia estar “vivinho da silva”, utilizando o oxigênio produzido por outros seres vivos através da fotossíntese, para a manutenção de suas células enquanto pensava que não tinha nada de biologia em sua vida... Ilustração: Joana Ho E se eu contasse que boa parte do oxigênio consumido por esse indivíduo foi produzido por microalgas e cianobactérias, organismos tão pequenos que a gente não consegue ver? Esses microrganismos formam o grupo que chamamos de fitoplâncton, que além de sustentar toda a teia trófica marinha, são responsáveis pela produção de aproximadamente 40% do oxigênio produzido anualmente no planeta (Falkowski, 1994). Assim, embora você não veja as microalgas e cianobactérias quando está em frente ao mar, saiba que elas podem afetar profundamente os ciclos de oxigênio e carbono na Terra tanto quanto as vistosas plantas terrestres (veja aqui Por que alga não é planta, por que planta não é alga). Mas a importância dessas pequenas criaturas não para por aí:  a vida no planeta como ela é hoje não existiria sem as cianobactérias. Os geólogos descobriram que durante a primeira metade dos 4,6 bilhões de anos de existência da Terra quase não existia oxigênio livre em sua atmosfera. O oxigênio começou a se acumular na atmosfera terrestre a apenas 2,4 bilhões de anos, graças à fotossíntese realizada pelas antepassadas das cianobactérias atuais. As plantas terrestres só apareceram 2 bilhões de anos após os níveis de oxigênio na atmosfera começarem a subir (Falkowski, 2012). Ou seja, todos os Homo sapiens sapiens, incluindo você, é claro, e todas as outras formas de vida dependentes de oxigênio devem, em grande parte, sua existência ao surgimento de uma única célula capaz de obter a energia do Sol para transformar a matéria inorgânica (carbono, água e outros nutrientes) em alimento. Deste modo, não pense que Biologia não faz parte da tua vida só porque não foi o curso que você resolveu estudar! Ela está em tudo, inclusive no ar que você respira! Para saber muito mais, assista ao vídeo na página http://www.sciencemag.org/news/2017/03/meet-obscure-microbe-influences-climate-ocean-ecosystems-and-perhaps-even-evolution Sugiro também que ouça a música do Spyro Gyro de Jorge Ben, para saber como as microalgas podem influenciar até a música popular brasileira. ;) Post relacionado: A fertilização dos oceanos e as mudanças climáticas Referências: Paul G. Falkowski. The role of phytoplankton photosynthesis in global biogeochemical Cycles. Photosynthesis Research 39: 235-258. 1994. Paul G. Falkowski. The power of plankton. Nature, 483: 17:20. 2012. #cianobactérias #ciênciasdomar #cláudianamiki #fitoplâncton #fotossíntese #joanaho #microalgas #microorganismos #oxigênio

  • O que eu aprendi sobre saúde mental na pós-graduação

    Por Carolina Maciel Não é novidade existirem alunos reclamando sobre a pós-graduação. Os comentários são sempre os mesmos: “isso me deixa nervoso”, “não estou conseguindo fazer isso”, “não vou conseguir entregar a dissertação/tese no prazo”, além do clássico: “estou cansado(a)!”. Depois de 4 anos exaustivos e uma média de 140 provas sobre diversos assuntos , como num passe de mágica eu finalmente repousaria no “paraíso da pós-graduação”, mesmo sem a advertência sobre as seis horas diárias de dedicação aos estudos para conseguir o tão sonhado lugar na universidade pública. Os motivos para que alunos recém-formados procurem a pós-graduação são muitos: realização profissional, pessoal, pressão de terceiros, indecisão na carreira, oportunidade de renda, etc., e independente de qual seja o motivo, a maioria das pessoas procura fazer o seu melhor trabalho. Assim como eu, muitos sonham em se especializar na área que mais teve afinidade na graduação, vendo o mestrado (ou doutorado) como uma opção de aprofundar seu conhecimento. Até aí, nenhum problema em vista. O problema começa na forma em que a pós-graduação é encarada pelos alunos, pesquisadores e universidades. A regra da pós-graduação é levar os alunos até o seu limite: sono atrasado para cumprir prazos apertados, relatórios, matérias de especialização, progresso na pesquisa, cobranças do orientador... Cobranças, sono atrasado, estresse e vida social restrita: bons ingredientes, que misturados, dão uma boa porção de distúrbios psicológicos. Não foi diferente comigo. Eu sempre achava: “tenho que tomar cuidado, mas é LÓGICO que isso não vai acontecer porque estou no controle”. Ilustração: Caia Colla Num dia ensolarado, trocava a praia pelo computador para começar a analisar meus resultados, quando, de repente, um clarão invadiu meus olhos, esqueci completamente meu nome, os comandos do programa que utilizava de olho fechado, o que eu estava fazendo de frente para o computador... E então eu senti um vazio extremo, como se todo o esforço e conhecimento tivessem desaparecido. Me vi no fundo do poço. Hoje sei que o que tive foi apenas uma das muitas crises de ansiedade causadas pela pós-graduação, o que me levaram a procurar ajuda psicológica externa. A pós-graduação tinha se tornado um peso para mim e que se eu continuasse a carregá-lo, iria entrar em depressão. Com essas palavras, eu resolvi parar. A pós-graduação nunca me ensinou a parar, e sim a continuar exaustivamente até conseguir minha melhor performance na pesquisa. Mas o que não te ensinam é que o cansaço estraga tudo e pausas (como férias) são extremamente importantes para a produtividade e manutenção da saúde mental. As pausas dentro da pós-graduação não são bem vistas. Já que a gente “só estuda”, por que tirar férias? Pois é, se consultar o site do CNPq (principal órgão brasileiro financiador de pesquisas), não existe férias para alunos de pós-graduação. A dedicação deve ser exclusiva. Nesse processo de adoecimento pela pesquisa, passei por crises de choro, inseguranças sobre o que estava fazendo no laboratório, ilusão de perseguição pelos meus amigos de trabalho, sentimento de que não era boa o bastante e o mais extremo de todos: o sentimento de que se eu tirasse a própria vida, o sofrimento de me sentir inferior na pesquisa, pararia. E essa não é uma realidade distante. Há alguns dias infelizmente perdemos um aluno de pós-graduação do Instituto Biociências da Universidade de São Paulo, vítima de distúrbios psicológicos relacionados à pós-graduação. A universidade e a ciência no país são completamente ingratas. E desde o dia em que eu não via mais sentido em viver, ressignifiquei tudo na minha vida. O que incluiu a minha relação com a pós-graduação. Reclamamos dos nossos orientadores, mas eles também são cobrados tanto quanto nós, criados nesse sistema onde o seu sobrenome e ano de publicação valem mais e são treinados dentro das universidades para explorar o potencial de cada aluno. A universidade não está pronta para considerar a questão mental nos programas de pós-graduação. Não nos sentimos acolhidos, e sim num campo de batalha: “aos vencedores, os artigos científicos!”. Sustentar a própria pesquisa no ambiente hostil das universidades torna os alunos e pesquisadores exaustos, aumentando as chances de desenvolver distúrbios psicológicos sérios como a depressão. A insegurança sobre o financiamento de nossas pesquisas no país é um fantasma que nos assombra e contribui para que nossa saúde mental seja afetada; afinal, hoje fazemos pesquisa, mas amanhã, não sabemos como nos manter financeiramente fazendo o que amamos no laboratório. Então qual seria a solução? Garanto que pausas resolvem parte do problema. Se dedicar ao que gosta (por mais clichê que seja) também é importante. Eu por exemplo, comecei a meditar, virei vegetariana e estou começando a empreender em algo que gosto. Fazendo isso, treinei a minha mente para não sentir culpa de viver além da pós-graduação e passei a me ver também como “pessoa”, além de “pesquisadora”. Fazer ciência é uma viagem prazerosa, mesmo que às vezes existam pontos de stress (stress saudável existe, sabia?). Se procurarmos no dicionário, “ciência” não é sinônimo de “sofrimento”. Desde que entendi isso, passei a relaxar, curtir a viagem sem pensar tanto no destino. Dedicação exclusiva sem férias é a regra da pós-graduação no país, mas pela minha saúde mental, eu resolvi ser exceção. Os resultados só foram positivos: a minha produtividade aumentou, as minhas relações interpessoais melhoraram, me apaixonei novamente pela pesquisa e consegui reencontrar o motivo pelo qual comecei a pós-graduação. Não é normal nenhum tipo de sofrimento causado pela pesquisa na pós-graduação. Nem pequeno, nem grande. Por isso, se já está na pós-graduação ou ainda pretende ingressar, vai meu conselho: cuide muito bem da sua saúde mental. Sabemos o quão difícil foi o caminho até aqui e desistir do que se ama não deve ser uma opção. Sempre existe um jeito mais leve de se encarar a pesquisa. Que tal começar a experimentar? Sobre Carolina Maciel: Bióloga marinha pela Universidade Santa Cecília, atual aluna de mestrado do programa de pós-graduação em Oceanografia da USP. Ama o mar e seus mistérios. Educação é sua paixão e autoconhecimento é sua palavra. #convidados #depressão #posgraduação #vidadecientista #CarolinaMaciel #caiacolla

  • A "razão de ser" da Oceanografia por Satélites

    Por Gustavo Prouvot Ortiz Originalmente publicado em: https://www.linkedin.com/pulse/razão-de-ser-da-oceanografia-por-satélites-gustavo-prouvot-ortiz Assim como o pioneiro Iuri Gagarin ficou extasiado ao observar nosso lindo planeta e exclamar que "A Terra é azul", atualmente os satélites científicos permitem que nós tenhamos momentos de êxtase diariamente. Isto é possível pois sensores em órbita na Terra são capazes de observar e medir diferentes variáveis e processos ambientais. O Sensoriamento Remoto por satélites permite a observação de grandes regiões praticamente no mesmo instante, sendo possível avaliar a extensão espacial de fenômenos normalmente pesquisados localmente, com auxílio de equipamentos de campo. A Oceanografia beneficiou-se com o advento dos satélites a partir do final da década de 70, permitindo uma visão e entendimento sem precedentes dos processos oceanográficos existentes. Diversas variáveis primárias medidas pelos satélites, como radiância, temperatura de brilho, rugosidade superficial e topografia dinâmica são utilizadas na Oceanografia por Satélites para a estimativa de variáveis importantes como temperatura superficial, concentração de clorofila-a, velocidade geostrófica, altura de ondas, campo de ventos superficiais, entre outros. Desta forma, o Sensoriamento Remoto tornou-se essencial para a Oceanografia moderna, provendo uma grande extensão espacial das observações às variáveis oceanográficas tradicionalmente estudadas por navios, bóias e sensores isolados. Atualmente, além da utilização dos sensores de campo para calibração e validação dos dados de satélites, há a tendência de sinergia dos dados de diferentes fontes, aproveitando o que cada tipo de sensor pode prover de melhor. Os crescentes avanços na capacidade computacional e gráfica dos grandes centros de Observação da Terra permitem, cada vez mais, que nós tenhamos momentos de êxtase como Iuri Gagarin, porém dizendo que "A Terra é Azul - e tem um monte de coisa acontecendo nela!". Este texto foi motivado por um post feito pelo Ocean Biology Distributed Active Archive Center (OB.DAAC) da NASA, que indica de forma simples "a razão de ser da Oceanografia por Satélite" “The patchiness exhibited by phytoplankton communities around New Zealand in the image provides the raison d'être for satellite remote sensing of ocean color; a whole fleet of ships, drifters, gliders, and buoys could not capture this variability before it morphed into a new pattern.” Saudações oceanográficas! Gustavo já publicou outro post no Bate-papo com Netuno, leia aqui Sobre Gustavo Prouvot Ortiz: Sou oceanógrafo com experiência em sensoriamento remoto, geologia marinha, Lei do Mar e geopolítica. Vejo o oceanógrafo (bem formado) como um "naturalista moderno", capaz de observar e descrever processos com abordagem multidisciplinar e desempenhar papel relevante em diversos setores da sociedade. Tenho paixão pela divulgação científica e, como pai, creio que somos responsáveis por desenvolver o senso crítico nos pequenos e fazê-los perceber seu papel em nosso complexo planeta. #oceanografia #oceanografiaoporsatélites #ciênciasdomar #gustavoprouvotortiz #convidados

  • O que é Maricultura?

    Por Gabrielle Souza Você já ouviu o termo “Maricultura”? Sabe qual a importância dessa prática? No Descomplicando Netuno de hoje vamos falar sobre isso! Você já deve ter escutado falar sobre a criação de algas e animais aquáticos em viveiros, não é mesmo?! Esta prática é conhecida como aquicultura, que nada mais é do que criar condições parcial ou totalmente controladas para cultivar esses organismos. Para ser considerada uma atividade de aquicultura, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), são necessários três requisitos: Que o organismo possua habitat predominantemente aquático em algum estágio de seu desenvolvimento; A existência de manejo e produção; A existência de um proprietário da criação (não é um bem coletivo). A aquicultura é um termo muito amplo e engloba todos os organismos que vivem em ambiente aquático. Por isso, para o cultivo e criação dos organismos marinhos ou estuarinos foi criado o termo maricultura. A maricultura pode ser subdividida de acordo com o tipo de organismo cultivado, como por exemplo: peixes (piscicultura), crustáceos (carcinicultura - que se restringe somente a camarões no Brasil), moluscos (malacocultura) e algas (algicultura). Você deve estar se perguntando, “como estes organismos são criados e obtidos?” Geralmente os organismos são obtidos no ambiente natural em seu estágio jovem, porém também podem ser produzidos em laboratório, incluindo a reprodução e criação de larvas, conhecida como larvicultura. Depois da obtenção da forma jovem, os organismos são cultivados em viveiros escavados, tanques ou no mar, comumente em ambientes costeiros abrigados como baías, golfos, entre outros. Os viveiros mais utilizadas para criar este animais no mar são: gaiolas, longlines, balsas e tanques-rede. Figura A: Longlines (ou longa linha). Fonte Figura B: Lanterna com cinco andares, utilizados para criação de moluscos. Fonte Figura C: Gaiola utilizada para criação de peixes. Fonte Para cada tipo de cultivo utiliza-se condições físico-químicas da água adequadas e controladas, como por exemplo temperatura, iluminação, salinidade, concentração de oxigênio dissolvido, amônia e nitrito. Na tabela abaixo observa-se a produção em toneladas da maricultura brasileira entre os anos de 2008 a 2010, onde as práticas mais comuns são carcinicultura e malacocultura. No país a maricultura é praticada em todos os estados costeiros e está, a cada dia mais, se estabelecendo como atividade produtora do pescado, sendo uma fonte de renda para diversas famílias, que garantem o sustento com essa prática. São destaques a região sul, em Santa Catarina, com a produção de mexilhões, ostras e vieiras. Tabela Adaptada de Castello & Krug, 2015 A maricultura é vista com grande importância na produção de alimentos e para outros ramos da indústria. É uma atividade de potencial crescimento, podendo atender o déficit entre demanda e oferta dos produtos pesqueiros. Porém, como qualquer outra intervenção humana na natureza, a maricultura tem seus pontos negativos e positivos. Ao mesmo tempo que é uma atividade que não sobrecarrega os estoques pesqueiros naturais, que gera fonte a comunidades tradicionais, pode causar desmatamento em áreas costeiras, a contaminação das águas, a introdução de espécies exóticas (que não são nativas) entre outros problemas. Assim sendo, faz-se necessário buscar uma maricultura cada vez mais sustentável, que minimize os impactos ambientais, e beneficie a sociedade e a economia local. Falaremos mais sobre isso em outro post, aguardem! Para saber mais: http://www.fao.org/3/a-i5555e.pdf Um documentário sobre salmões e mulheres cientistas Referências: CASTELLO, Jorge Pablo; KRUG, Luíz Carlos. Introdução às Ciências do Mar. Pelotas: Textos, 2015. 602 p. #algas #crustáceos #descomplicando #gabriellesouza #maricultura #moluscos #peixes #viveiros

  • Para onde foi a água do mar?

    Por Gustavo Prouvot Ortiz Originalmente publicado em: https://www.linkedin.com/pulse/vigia-remoto-2-para-onde-foi-água-do-mar-gustavo-prouvot-ortiz Recentemente foi muito comentado na imprensa e redes sociais o acentuado recuo do mar observado nos estados do Sul e Sudeste, nos dias 12 e 13 de agosto. Muitas dúvidas surgiram a respeito: Qual será o motivo desse fenômeno? Será que é um tsunami? Já aconteceu outras vezes? Para entender: o nível do mar é influenciado basicamente por: Nível Eustático + Maré Astronômica + Efeitos Meteorológicos Nível Eustático: nível regional, associado a longos ciclos climáticos maiores que 1.000 anos Maré Astronômica: forçada pela dinâmica gravitacional da Terra e outros corpos celestes (Sol, Lua...) - ciclos entre 12h e 24h (saiba mais aqui) Efeitos Meteorológicos: também chamados de "maré meteorológica", são efeitos forçados por incidência de vento local ou instabilidades na atmosfera - duram até poucos dias Explicação : O recente caso chamou a atenção pelo baixíssimo nível do mar, que resultou no recuo da linha d'água de mais de 50m em alguns locais mais planos. Dentre as três opções anteriores, podemos, é claro, descartar a (1) pela escala temporal. A opção (2) também pode ser descartada como principal forçante, pois nos dias 12 e 13 a Lua estava indo para a fase minguante, que está relacionada às marés de quadratura (baixa amplitude). Sobra, então, a opção (3) Efeitos Meteorológicos. Mas como eles poderiam gerar tal fenômeno? Vejamos: O escaterômetro é um sensor a bordo de satélites capaz de medir a velocidade e direção do vento na superfície do oceano. Na manhã do dia 12 o sensor a bordo do MetOp-A registrou fortes ventos vindos de NE ao largo dos estados do Sul e Sudeste. Este padrão de ventos já vinha sendo observado há alguns dias na região. Esta configuração de vento paralelo à costa gera o processo oceanográfico chamado de transporte de Ekman: Através de um complexo equilíbrio de forças, há um deslocamento da superfície do mar à esquerda da direção do vento Foi este então o fenômeno observado. Matamos a charada! Respostas ao restante das perguntas iniciais: Será que é um tsunami? Não é um tsunami! Vimos que foi um efeito meteorológico o causador deste baixo nível do mar anômalo. Já aconteceu outras vezes? Felizmente há uma série histórica de dados globais de escaterômetros desde 1999, o que permite realizar análise dos períodos em que o campo de vento apresentou características semelhantes nesta região. Alguém habilita-se a colaborar em um estudo? Outra forma de encontrar períodos anômalos do nível do mar é analisando os dados de marégrafo. Os registros em Ubatuba-SP indicam sim que houve ao menos outros 04 período anômalos desde 2014: É interessante notar que no dia 05-out-2014 o nível esteve até mais baixo que o do recente fenômeno. Estes registros indicam que é um fenômeno anômalo, mas ocorreu entre os meses de junho e outubro. Será que há alguma regularidade? Uma análise temporal mais longa pode elucidar isto. Há algo em comum nos processos atmosféricos destes dois períodos? Sim! O campo de vento medido pelo escaterômetro registrou fortes ventos de NE e havia a mesma configuração sinóptica, como podemos ver nas cartas geradas pelo CPTEC: Em ambos os períodos havia um dipolo (Alta e Baixa pressão) com características estacionárias atuando na região. Será que esta configuração somente ocorreu entre os meses de junho e outubro, no mesmo período da anomalia de maré baixa? Para saber mais: https://www.youtube.com/watch?v=lnaEmcLE0nA Sobre Gustavo Prouvot Ortiz: Sou oceanógrafo com experiência em sensoriamento remoto, geologia marinha, Lei do Mar e geopolítica. Vejo o oceanógrafo (bem formado) como um "naturalista moderno", capaz de observar e descrever processos com abordagem multidisciplinar e desempenhar papel relevante em diversos setores da sociedade. Tenho paixão pela divulgação científica e, como pai, creio que somos responsáveis por desenvolver o senso crítico nos pequenos e fazê-los perceber seu papel em nosso complexo planeta. #gustavoprovoutortiz #convidados #ciênciasdomar #efeitosmeteorológicos #maré #níveldomar #oceanografia #transportedeekman #tsunami

  • Seagrass: canaries of the sea

    By Juliana Imenis, Juliana Nascimento, Larissa de Araujo, Natalia Pirani, Otto Muller and Paula Keshia Edited by Katyanne M. Shoemaker In the early 20th century, coal miners frequently carried caged canaries to work. The little birds saved many miners' lives because their sudden death or sickness indicated a possible gas leak. An alarm would sound and the mine would be evacuated. We could say the canaries were bioindicators, or organisms that indicate a possible environmental problem through their behavior or health status. Today, we no longer have a need to sacrifice the canaries because we have electronic indicators that can tell us about possible mine disasters. Like the canary, some organisms are extremely sensitive to pollution and habitat alterations; their populations tend to diminish or even vanish quickly after environmental modifications take place. Other organisms may be very tolerant to poor environmental conditions and can sometimes have a population boom in areas where the conditions would be inadequate to the majority of other species. One of these bioindicators is the marine phanerogam, also known as marine seagrass. Image by Joana Ho This particular group of plants grow on the sea floor, have elongated straight leaves, and subterraneous stalks, called rhizomes. Seagrass may live completely immersed in water, and they are found in coastal waters of nearly every continent. Despite being known as “seagrass”, this group is closer to the lily and ginger families than grass (Figure 1). They are an important part of the diet of manatees and sea turtles, and they are used as habitat by many other sea animals (Figure 2), including commercially important fish and crustaceans. Although difficult to quantify, seagrasses have a large aggregated commercial value, estimated to be up to 2 million dollars a year. They also play an important role in sequestering carbon into their biomass and sediment, thus decreasing the carbon dioxide (CO2) concentrations in the atmosphere. This helps promote nutrient recycling, coastal protection, and improve overall water quality. In Brazil, despite controversial information and the necessity of more genetic studies to differentiate the species correctly, there are so far, five known species of seagrass (Figure 3): Halodule wrightii Ascherson; Halodule emarginata Hartog; Halophila baillonii Ascherson; Halophila decipiens Ostenfeld and Rupia maritima Linnaeus. Seagrass are considered to be great environmental quality indicators, because they are very sensitive to light and nutrient availability variations. Global climate change has many impacts on the marine environment, including the rise of global average sea surface temperatures, variations in pH (ocean acidification), and alterations of ocean currents. These are some of the rapid changes in marine environment that have been seen by researchers, and their consequences are still little known. There are many factors involved in the interactions between environmental variables and biological communities, making overall consequences hard to forecast (Figure 4). Seagrass need specific environmental conditions, like low turbidity and high incidence of light. They are suffering local reduction and in some places completely vanishing, indicating that the anthropegenic environmental changes are happening fast, not giving the organisms enough time to respond to the new conditions. The capacity of ecosystems to respond to impact and return/maintain their original conditions is called resilience. Although the degree and type of impact on seagrass may vary with geography, some hypothesis were generated by the Benthic Habitat Monitoring Network (ReBentos) about how climate change may affect them: (1) the increased concentration of nutrients, given the increased quantity of rain, may cause changes in the community composition, favoring the occurrence of opportunistic species, which can be damaging for the local species; (2) changes in sea surface temperature can affect tropical species, favoring the extension and displacement of their occurrence limits towards higher latitudes; (3) extreme events, like floods and storms, may cause reduction or disappearance of seagrass in a quick and abrupt way; (4) the increased quantity of continental matter in estuaries may affect the abundance and composition of the communities, due to the increased turbidity and salinity changes. On the other hand, the reduction of rain and/or increased penetration of seawater into continental waters could increase or alter the estuarine seagrass' area of occupation; and finally (5) days or week-long heat waves, derived from external events, may reduce or extinguish fields in shallow areas. As an example of evidences that support these hypothesis, we can mention a study published by the Journal of Experimental Marine Biology and Ecology by Ricardo Coutinho and Ulrich Seeliger, that, in 1984, observed that the species R. maritima, although tolerant with eutrophicated conditions, was shadowed by epiphytes and macroalgae that grew due to an excess of nutrients in the water. Those organisms tangle in this seagrass species, causing reduction on its photosynthetic rates and increasing their drag, facilitating their detachment when subjected to waves and currents. Another example is the study published in the Marine Ecology by Frederick T. Short and collaborators, that in 2006 observed the reduction of H. hrightii through the movement of sediment, caused by stronger and more frequent storms, which buried the fields of seagrass. Therefore, as mentioned by other authors, we can consider seagrass as the canaries of the sea, important in diagnosing the environment's health in response to global climate change. Certainly, the loss of these ecosystems will bring not only economic loss, but also the loss of biodiversity, a factor that is much more valuable and difficult to measure. To know more: COPERTINO, M.S.; CREED, J.C.; MAGALHÃES, K.M.; BARROS, K.V.S.; LANARI, M.O.; ARÉVALO, P.R.; HORTA, P.A. (2015). Monitoramento dos fundos vegetados submersos (pradarias submersas). IN: TURRA, A.; DENADAI, M. R.. Protocolos de campo para o monitoramento de habitats bentônicos costeiros - ReBentos, cap. 2, p. 17-47. São Paulo: Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. Disponível em: . Acesso em: 04 nov. 2015. MARQUES, L. V.; CREED, J. C.(2008). Biologia e ecologia das fanerógamas marinhas do Brasil. Oecologia Brasiliensis, v. 12, n. 2, p. 315 - 331. MCKENZIE, L.(2008). Seagrass Educators Handbook. Cairns: Seagrass Watch-HQ. Disponível em: . Acesso em: 30 out. 2015. MCKENZIE, L (2009). Coastal Canaries. Seagrass Watch, v.39, p. 2-4. Disponível em: . Acesso em: 03 nov. 2015. About the authors: Juliana Imenis Barradas, CCNH-UFABC, PhD student in the postgraduate program in Evolution and Diversity, biologist, Master in Zoology (UFPB). juliana.imenis@ufabc.edu.br, http://lattes.cnpq.br/4843331968538355 Larissa de Araujo Kawabe, CCNH-UFABC, master graduate student of in the postgraduate program in Evolution and Diversity, biologist. http://lattes.cnpq.br/7133427266626274 Juliana Nascimento Silva, CECS-UFABC, undergrad in Environmental and Urban Engineering (UFABC). http://lattes.cnpq.br/5975285955317582 Paula Keshia Rosa Silva, CCNH-UFABC, master graduate student of in the postgraduate program in Evolution and Diversity. http://lattes.cnpq.br/9557245804556650 Natalia Pirani Ghilardi-Lopes, CCNH-UFABC, Adjunct Professor, Biologist, Assistant Professor, Biologist, holds a doctorate in Botanic (USP). http://lattes.cnpq.br/8457066927181345 Otto Müller Patrão de Oliveira, CCNH-UFABC, Adjunct Professor, Biologist, holds a doctorate in Zoology (USP), http://lattes.cnpq.br/7304237172635774 #julianaimenis #juliananascimento #larissadearaujo #nataliapirani #ottomuller #paulakeshia #invited #joanaho #marinescience #seagrass #chat #chatkatyannemshoemaker

  • O mundo empresarial e acadêmico – como os dois estão relacionados na Oceanografia?

    Por Davi Mignac Ilustração: Joana Ho Desde que comecei a graduação em Oceanografia, sempre tive um desejo imenso de desenvolver tecnologias e produtos voltados para atender demandas da sociedade. Entender a motivação do meu trabalho e a contribuição que ele poderia fornecer para setores específicos da sociedade foi a força motriz para me especializar em uma área chamada Oceanografia Operacional, focando particularmente na produção de previsões oceânicas na costa do Brasil e na sua importância para os setores de navegação e exploração offshore. Quando era criança, brincava que eu era o homem do tempo, e apenas olhando para o céu, dizia se iria chover nos próximos dias. Na universidade, relembrando esses tempos, dava risada sobre tamanha ingenuidade, mas começava a me perguntar: como produzir previsões de tempo mais precisas? Por que a previsão oceânica não é tão difundida como a previsão de tempo, e qual a importância dela para setores de navegação e para a indústria? Naquele momento, a universidade era minha “casa” e comecei a criar o espírito empreendedor ali mesmo, ao propor desenvolver um código de computador que melhorava a qualidade das previsões oceânicas geradas para a Petrobras, a qual financia o projeto da Rede de Modelagem e Observação Oceanográfica (REMO). A REMO é um grupo de pesquisa existente na Marinha do Brasil e em algumas universidades, incluindo a Universidade Federal da Bahia (UFBA), na qual me graduei. No meu mestrado na UFBA, continuei a aperfeiçoar esse código, fiz diversas viagens à trabalho para Marinha do Brasil e para fora do país, incluindo EUA, Europa e até mesmo para China. A REMO abriu minha cabeça para algo chamado inovação, que sim, está presente na universidade e é obrigação no mundo empreendedor. Comecei a circular em um ambiente empresarial, quando durante o mestrado, me tornei consultor da empresa Advanced Subsea, pois eles queriam desenvolver um sistema de visualização de previsões do estado da mar nas bacias petrolíferas brasileiras. Opa, naquele momento percebia que tinha empresas interessadas naquele universo da Oceanografia Operacional. Isso significa que então existia mercado para aquilo, e que pessoas estavam dispostas a pagar por um produto como esse. Então pensei “que maravilha, eu entendo disso, agora só falta abrir uma empresa”. Terminei meu mestrado, comecei a trabalhar na REMO por um tempo, e surfando uma tarde com amigos do curso, inclusive com dois que já tinham uma empresa de oceanografia,a Preamar Gestão Costeira, começamos a maturar um sistema de risco das operações portuárias com base em previsões hiperlocais das condições de mar e tempo. Não deu outra, abrimos uma empresa, agora a Preamar Soluções em Modelagem. Ficamos todos empolgados com a ideia, e então entramos nesse universo da start-up,  um verdadeiro gatilho nas nossas vidas empreendedoras. A start-up respira inovação no seu dia a dia, e para ter sucesso, é preciso acreditar, ser criativo, ter ideias e saber moldar seu produto ao mercado. É preciso validar sua ideia com os clientes, é preciso saber se relacionar com pessoas, é preciso saber negociar, é preciso saber precificar, é preciso se acostumar com a resposta “não”, é preciso saber montar uma equipe de profissionais e zelar por ela, é preciso ter estratégia e frieza, é preciso criar uma cultura sólida e transmitir isso ao seu redor, é preciso ser fanático, um verdadeiro “workaholic” - no meu caso mesclado com doses de surf e diversão, claro. Começar a respirar esse mundo foi e ainda é uma experiência sensacional, quanto aprendizado! “Nunca teria enxergado esse mundo se tivesse me fechado completamente na academia”, penso eu agora. Então penso novamente, “deixe de ser ingrato Davi, pois não foi a academia que ajudou a abrir sua cabeça para a inovação? Que fomentou sua busca por coisas novas? Por conhecimento?” Esses dois mundos tem suas peculiaridades, mas são unidos por algo que move o universo das tecnologias: a busca pelo novo, o ritmo de constante aprendizado e o desejo de estar na fronteira do conhecimento. Para inovar, é preciso conhecer primeiro. E com essa mentalidade, aqui estou eu fazendo meu doutorado na Universidade de Reading na Inglaterra, longe fisicamente da minha terrinha, mas virtualmente conectado com a minha empresa, oras. Reuniões quase todos os dias, planejamento, desenvolvimento, programação, código. Numa start-up, o sócio faz tudo, o famoso “severino quebra-galho”, mas cada um tem suas prioridades, pois para a engrenagem girar, alguém tem que ficar responsável pela área de desenvolvimento, outro pela área administrativa e financeira, outro pela área de prospecção e relacionamento com clientes, e por aí vai. Vim para o doutorado porque acho que posso aprender mais e com isso contribuir para a empresa da qual faço parte. Posso conhecer o mercado aqui fora também, posso estabelecer contato e parcerias com universidades/instituições de fora. Porque eu acredito que universidades e empresas podem caminhar juntas. E no momento que eu terminar o meu doutorado (mais 1 ano e meio pela frente), devo me afastar da academia no meu dia a dia, mas minha filosofia irá continuar, de que deve existir uma parceria saudável entre universidade e empresa, com ambos se beneficiando dessa simbiose, e girando em torno de um objetivo comum: inovar e revolucionar as maneiras de enxergar processos e conceitos atualmente existentes. E rapaz, como você segura essa onda de doutorado e empresa? Porque como eu falei acima, eu sou fanático pelo que eu faço, e o sacrifício de hoje é a recompensa que virá no amanhã. Com calma, focado no dia a dia, mas pensando longe. E foi através da minha vivência na academia e na empresa que construí essa visão de trabalho, e do que quero para o meu futuro! Sobre Davi Mignac: Oceanógrafo, doutorando em Meteorologia pela Universidade de Reading e COO da Preamar Soluções em Modelagem. Fanático pela inovação e pelo mundo das tecnologias. Acredita que a Oceanografia e Meteorologia são áreas de empreendedorismo bem promissoras, e aposta todas suas fichas por aí. A inspiração vem do surf, que como seu trabalho, tem ligação com o oceano. Sempre disposto a aprender, vive seu sonho de um dia se tornar um empreendedor bem sucedido, mas sem nunca esquecer suas raízes acadêmicas. #oceanografia #oceanografiaoperacional #preamar #remo #startup #vidadecientista #DaviMignac #convidados #joanaho

  • Um documentário sobre salmões e mulheres cientistas

    Por Jana M. del Favero Em um dos meus primeiros posts aqui no blog, escrevi sobre o documentário “Mission Blue”, que conta a história da incrível bióloga marinha Sylvia Early, e suas ações pró oceano (releia aqui). Recentemente assisti outro documentário que me tirou o fôlego e resolvi compartilhar com vocês, pois ele abrange todas as sessões desse blog: “ciências do mar”, “vida de cientista” e “mulheres nas ciências”. O documentário “Salmon Confidential” (Salmão Confidencial) relata a luta da bióloga Alexandra Morton para salvar os salmões selvagens da Colúmbia Britânica, Canadá. A bióloga mudou para a região para estudar as orcas, mas após relatos do aumento da mortalidade de salmões selvagens, decidiu investigar o que estaria causando essas mortes. Analisando os salmões selvagens encontrados mortos, ela encontra uma doença originária da Noruega e que já devastou fazendas de salmão em outros países, como o Chile. Como a região onde os salmões selvagens estavam morrendo possui diversas fazendas de criação do peixe, a pesquisadora tenta dialogar com os fazendeiros e pedir salmões para estudar... A partir daí começa uma batalha: os fazendeiros não liberam espécimes para estudo e lançam relatórios alegando que eles mesmos analisaram e que os salmões de cultivo da região estavam saudáveis. Mas a pesquisadora não desiste, analisa os salmões cultivados na região encontrados em supermercados e passa a observar, mesmo de longe, as fazendas dos peixes. O caso vai parar na justiça e a batalha continua, envolvendo os pesquisadores e os pescadores de salmão selvagens (prejudicados com a alta mortalidade) contra os fazendeiros e o governo (que fica do lado de quem lhe dá maior retorno financeiro!). E é exatamente por isso que esse documentário é de tirar o fôlego, ele aborda diversas questões polêmicas: cultivo versus pesca; o preconceito que a bióloga Alexandra Morton sofre por ser mulher em um ambiente dominado por homens, os entraves burocráticos, a dificuldade de fazer uma pesquisa sem apoio e o fato do governo escutar e apoiar o lado que lhe dá maior retorno financeiro sem analisar os fatos! Fazenda de salmão na Colúmbia Britânica, Canadá. Fonte A bióloga Alexandra Morton. Fonte Portanto, estoure sua pipoca, assista esse documentário que está disponível online e deixe sua opinião nos comentários. Adoraria escutar vocês! Para assistir o documentário (infelizmente só consegui em inglês e sem legenda): http://www.salmonconfidential.ca Para acompanhar as notícias via Facebook: https://www.facebook.com/SalmonConfidential/ Para saber mais sobre Alexandra Morton e sua luta: http://www.alexandramorton.ca #documentário #janamdelfavero #mulheresnaciência #salmonconfidential

  • Termoclina

    Por Gabrielle Souza Você já ouviu falar em termoclina? O Descomplicando Netuno de hoje vai explicar pra você! Os corpos d’água são separados por camadas que são determinadas por suas características físico-químicas, como temperatura e salinidade. A camada mais superficial do oceano tem contato com ondas superficiais e ventos, o que facilita a mistura das águas e, consequentemente, a distribuição de calor. Abaixo desta camada superficial (ou de mistura) encontra-se uma camada de transição entre as águas superficiais, mais quentes, e as  águas profundas, mais frias.  Essa camada de transição recebe o nome de termoclina, e é facilmente reconhecida por ser a camada em que ocorre uma queda brusca de temperatura (veja a ilustração abaixo). A  profundidade e a intensidade da termoclina não é exatamente igual para todas as latitudes e áreas. Ela é um fenômeno semi-permanente em  baixas e médias latitudes (equador e trópicos), zonas com maior incidência de energia solar. As águas polares, por outro lado, possuem pouca incidência solar, não formando termoclina, visto que as águas superficiais destas regiões são tão frias quanto as águas mais profundas. A termoclina pode também variar sazonalmente:  em zonas temperadas uma termoclina sazonal  é formada na camada superficial durante o verão, pois com o aumento da temperatura e com a diminuição do vento há pouca mistura para distribuição do calor, instalando assim uma estratificação térmica; ela então  persiste até o outono, quando a temperatura diminui e os ventos aumentam, provocando a mistura das águas e desfazendo a termoclina sazonal (veja a ilustração acima). A termoclina geralmente coincide com a picnoclina, pois a salinidade e temperatura influenciam na densidade da água. Águas mais quentes e menos salinas são menos densas, e águas mais frias e mais salinas são mais densas. A região de rápida mudança na densidade é conhecida como picnoclina, e exerce papel de barreira da circulação vertical da água, afetando a distribuição dos nutrientes nas camadas do oceano, tornando-os, por exemplo, indisponíveis para o fitoplâncton na zona eufótica (Veja aqui o post sobre as divisões no oceano e relembre o que é zona eufótica). Referências: What is a thermocline?: A thermocline is the transition layer between warmer mixed water at the ocean's surface and cooler deep water below.. 2015. NOAA- National Oceanic and Atmospheric Administration U.S Department of Commerce. Disponível em: . Acesso em: 04 jun. 2017. GARRISON, Tom. Fundamento da Oceanografia. 4. ed. Norte-americana: Cengace Learning, 2010. Tradução: por Cintia Miaiji, et al. 422 p. LALLI, Carol M.; PARSONS, Timothy R.. Biological Oceanography An Introdution. 2. ed. Vancouver, Canadá: The Open University- Set Book, 1998. 337 p. Elsevier Butterworth-Heinemann. #descomplicando #gabriellesouza #termoclina

  • Microrganismos antárticos: entre o fogo e o gelo

    Por Júnia Schultz Originalmente publicado em: http://curtamicro.com.br/termofilicos.html Os microrganismos são incrivelmente adaptados e conseguem habitar todos os ambientes da Terra. Bactérias termofílicas, por exemplo, gostam do calor e precisam de estar sob temperaturas superiores à 50 ºC para se desenvolver bem. No entanto, essas bactérias sobrevivem na Antártica, um dos ambientes mais severos do planeta, conhecido por ser um ambiente gelado e inóspito ao homem. Você deve estar se perguntando: como pode existir microrganismos que necessitam de altas temperaturas na Antártica? Há fogo e calor em meio à neve? Sim, em locais específicos, que sofrem a influência da atividade vulcânica, e proporcionam condições ideais para o desenvolvimento destes microrganismos. A Ilha Deception é um exemplo. Esta ilha é a cratera de um vulcão bastante ativo, localizado na Antártica, e apresenta emissões fumarólicas (vapor e gases) com temperaturas que variam de 90 a 110ºC, águas termais e solos quentes com temperaturas entre 40 e 100ºC. Há relatos na literatura que indicam que esses ambientes quentes na Antártica são muito diversos, apresentando espécies variadas de microrganismos, como os pertencentes aos gêneros Geobacillus, Bacillus e Thermus. Obviamente, os microrganismos adaptados a esses locais são diferentes daqueles adaptados às regiões frias. As diferentes condições climáticas em uma micro-escala são muito importantes para a seleção e manutenção de uma biodiversidade elevada. O mais interessante de tudo isso é o potencial biotecnológico que bactérias desses ambientes possuem. Por estarem adaptadas a condições extremas, podem diferir metabolicamente dos microrganismos de outras regiões, e portanto são excelente alvos para a procura substâncias importantes para a indústria química, alimentícia e farmacêutica, ou seja, podem fornecer produtos e prestar serviços para você! Com base nesse conhecimento, pesquisadores do Chile foram à Antártica buscar lipases, que são enzimas amplamente utilizadas na indústria de alimentos. A produção industrial normalmente envolve altas temperaturas, que destroem as enzimas encontradas em ambientes comuns. Na antártica os pesquisadores encontraram uma bactéria do gênero Geobacillus produtora de lipases resistente à altas temperaturas, e atualmente estudam a otimização da atividade dessa enzima, pelas mudanças nas condições de reações. O universo microbiano é mesmo fascinante, e mesmo nos ambientes mais extremos podemos encontrar microrganismos capazes de melhorar a vida do homem. Referência: MUÑOZ, P.; CORREA-LLANTÉN, D.; BLAMEY, J. Ionic Liquids Increase the Catalytic Efficiency of a Lipase (Lip1) From an Antarctic Thermophilic Bacterium. Lipids, v. 50, p. 49-55, 2015. Sobre Júnia Schultz: Bióloga e doutoranda do Programa de Pós-graduação em Biotecnologia Vegetal e Bioprocessos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Desenvolve pesquisa com bactérias termofílicas da Antártica e biorremediação de ambientes extremos. #antártica #ciênciasdomar #convidados #microbiologiaambiental #termofilicos #juniaschults

bottom of page