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Algas flutuantes: o meio de transporte dos invertebrados marinhos

Atualizado: 5 de jun. de 2020


Um caso na Patagônia Chilena...


Durante a faculdade, fui fazer um estágio de férias no Chile com um professor da Ecologia Marinha. Lembram do post de sexta-feira (acesse aqui)? Pois é, internacionalizar é preciso!!!


A minha sorte é que um mês antes da viagem eu encontrei este professor em um congresso aqui no Brasil, onde pudemos planejar o meu projeto que seria com as “algas flutuantes”. Oi? Ele queria que eu entrasse em um barco e caçasse as algas que estavam flutuando no meio do mar para analisar a fauna acompanhante. - Hummm, OK. E?


Aí o professor me explicou que essas algas se desprendiam por causa das fortes correntes marinhas, tempestades ou ventos, e iam flutuando à deriva, termo em inglês chamado de rafting. E junto a elas acompanhava uma fauna que se abrigava entre suas folhas, principalmente de invertebrados marinhos que não tinham fase larval e, sim, desenvolvimento direto. Ou seja, as algas seriam um mecanismo de dispersão e conectividade das espécies marinhas!


Macrocystis pyrifera flutuante. Por Ivan Hinojosa.

Foto: Esquema das algas bentônicas, flutuantes e os animais mais comuns encontrados em ambas as algas. Por Ivan Hinojosa.

Este professor e sua equipe já haviam reportado o aparecimento de espécies nativas em diferentes regiões do país, principalmente de animais que não tinham fase larval. Portanto, não tinha como esses animais se dispersarem livremente. Isso só seria explicado através de um “carregamento” dessas espécies para novas regiões...ou seja, pelas algas: o novo meio de transporte da comunidade marinha! Interessante, não?


E foi! Como eu só fiquei três meses lá, não pude participar das coletas das minhas amostras (da parte mais legal), porque quando eu chegasse já teria que começar a identificação da fauna. Mas meu chefe foi muito legal e me levou em uma expedição de outro projeto! Pensem em um lugar paradisíaco, ondas gigantes, barco pequeno, muito frio e sol ao mesmo tempo, GPS na mão, binóculos na outra, papel e lápis para anotações e somente três pessoas a bordo para fazer tudo. Não podíamos tirar a atenção do mar à busca das frondes de algas. Ah, se eu passei mal de tanto olhar pra baixo para a água? Imagina! Nestas horas, é só contrair o abdome e lembrar do amor à ciência que dá tudo certo!

À esquerda eu no barco em Punta Choros antes da coleta; e à direita, o pessoal coletando a fronde de macroalga flutuante com peneira para não escapar nenhum animal. Por: Ivan Hinojosa.

O meu projeto tinha como um dos objetivos comparar a fauna acompanhante de algas flutuantes com a de algas que ainda não se desprenderam, que chamamos de bentônicas, ou seja, que estão fixas ao fundo ou a algum substrato, pedra, por exemplo. E neste caso, elas foram coletadas através de mergulho autônomo. As algas que trabalhei eram da espécie Macrocystis pyrifera, que formam grandes kelps (florestas) no Oceano Pacífico.


Fronde de algas bentônicas à esquerda, os famosos kelps marinhos; e à direita detalhe da Macrocystis pyrifera, com suas folhas e aerocistos. Segunda foto por: Ivan Hinojosa.


No laboratório, estas algas foram lavadas sobre peneiras para reter os animais que queríamos identificar. Depois disso, pesamos as algas, medimos o tamanho das folhas e outras estruturas importantes. Na lupa, fizemos a identificação dos animais.


Então vamos ao que interessa: os resultados! As algas bentônicas, que estavam fixas, tinham uma abundante fauna acompanhante, diferentemente das flutuantes. Além disso, certos grupos nunca apareciam nas algas flutuantes, como os ouriços-do-mar e alguns tipos de crustáceos (que na biologia são chamados de decápodas), provavelmente pelo fato de não conseguirem se agarrar às algas e não ficarem fixos durante a “viagem” à deriva.

Gráfico de porcentagem de ocorrência dos táxons em cada tipo de alga, flutuante e bentônica. Por Izadora Mattiello e Ivan Hinojosa.

Outro fato interessante é que apesar da menor abundância de espécies, as algas flutuantes apresentaram, em sua maioria, espécies com desenvolvimento direto, sem fase larval, o que reforça ainda mais a nossa hipótese inicial de que as algas flutuantes contribuem na dispersão das espécies. Um caso bem conhecido na costa chilena é do molusco bivalve Gaimardia trapesina.


Infelizmente, quase tudo tem seu lado negativo. Neste caso é o carregamento do lixo! Com tanto lixo marinho, que nós humanos porcamente poluímos, as algas acabam por fazer esse tipo de transporte também. Durante minhas análises, cansei de jogar fora plásticos, tampinhas de garrafas, pedacinhos de corda, que acabaram grudando nas algas. Nestas horas fica bem nítido o quanto a gente já abusou desse ecossistema.


Você gosta de lixo no seu carro, no metrô, no avião? Quando estiver na praia lembre-se do meio de transporte dos animais marinhos, pelo menos...

Foto: Ivan Hinojosa.

Saiba mais em: Lab BEDIM


Até a próxima!


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