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Se for preciso, olhe além! Veja as possibilidades, crie a oportunidade

Por Jéssica Matos


Ilustração por Alexya Queiroz

Apesar de simpatizar com a matéria de biologia no ensino médio, nunca pensei que na faculdade cursaria ela. Eu acreditava que medicina veterinária seria o meu caminho. Veterinária, era o que eu falava desde criança que eu seria.

Em 2011, fui morar em Benevides, na região metropolitana de Belém/PA, e nesse período, eu me inscrevi no curso de medicina veterinária na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Uma semana antes da prova, lembro que houve um problema com a inscrição de várias pessoas e tivemos que ir até à UFRA resolver. Eu fui e, quando cheguei lá, minha paixão por aquele lugar só aumentou. Era aquilo que eu queria fazer.

Chegou o dia da prova. Me informei sobre como pegar o ônibus para o local indicado, e lá fui eu em busca do meu sonho. Já dentro do ônibus, comecei a perceber que estava demorando muito, as pessoas descendo, mas nada de chegar no local da prova, e o horário já estava ficando apertado. Levantei e finalmente perguntei ao cobrador sobre onde era aquele local, e ele me falou que eu estava indo na direção contrária. Eu tinha pegado o ônibus certo, mas na direção errada. Chegamos no final da linha do ônibus. Eu não conseguia parar de chorar. O cobrador se comoveu com a minha situação e me disse pra voltar no próximo ônibus com ele e que eu não precisava pagar. Agradeci muito e voltei o caminho todo bem triste.

2012, novo ano, nova oportunidade. Entrei no cursinho pra me preparar bem. Mas dessa vez não seguiria com a medicina veterinária, iria fazer biologia. Meu pai disse que não tinha como me manter em Belém, então tive que escolher um curso que tivesse na minha cidade, e entre as opções a que eu mais me identificava era a biologia. Deu tudo certo! Passei no vestibular, fiquei imensamente feliz e foi a melhor decisão que tomei. Conheci novas pessoas, fiz novas amizades, adentrei um mundo novo. Estava muito contente com tudo.

Meu tempo na faculdade foi maravilhoso até um certo momento. Entrei em um programa de mobilidade acadêmica e consegui ir para uma outra universidade pública, só que em Natal, no Rio Grande do Norte. Tive muitas experiências positivas lá, mas também tive algumas ruins, e essas me deixaram bem deprimida. Passei um ano em Natal e quando voltei no início de 2017, tive que adentrar uma turma diferente. Eu não me sentia mais a mesma. Muita coisa tinha mudado. Mas eu dei o melhor que eu podia naquela nova etapa.

Em 2018, me formei com excelência, mesmo com todos os percalços pós-viagem. Mas depois disso, eu me sentia perdida, não sabia o que iria fazer da vida. Na metade de 2018 até o final de 2019, eu passei a vender cosméticos, e isso me deu um novo brilho no olhar, um recomeço. Mas não era isso que eu realmente queria fazer. Não queria deixar para trás anos de dedicação a algo que eu passei a amar.

No início de 2019, fui para Salinas/PA passar um tempo com a minha mãe que mora lá. Ela mora bem em frente a uma escola de ensino fundamental e médio. Não demorou muito, falaram que eu era bióloga e que poderia somar com um projeto que eles tinham lá. Foram 3 meses intensos e felizes que vivi nesse projeto. Eu era instrutora de biologia e educação ambiental. Eu me sentia viva fazendo isso e comecei a perceber que aquilo me deixava muito feliz.

Aula sobre a vida marinha com uma parte da turma do projeto na praia do Maçarico - Salinas/PA (Foto de Jéssica Matos, licença CC BY-SA 4.0).


Eu estava vendo os resultados do meu trabalho e isso era melhor ainda. Minha mãe sempre disse que eu tenho jeito para ser professora. Eu também sentia isso. Mas era diferente. Eu não tinha vontade de ensinar dentro de uma sala de aula; tinha vontade de poder ensinar em qualquer lugar além de um espaço fechado. Passar pela experiência desse projeto me fez ver que haviam outras possibilidades dentro da biologia, que não era somente ser uma docente ou pesquisadora, mas que eu poderia levar meu conhecimento para além disso, de outras formas.

Eu ainda não tinha muito claro o que faria. Mas a primeira coisa que pensei foi em oferecer cursos práticos que levassem as pessoas para os ambientes que estaríamos estudando. Elas aprenderiam sobre a importância de tal ecossistema e, ao mesmo tempo, estariam inseridas nele, vivenciando tudo de perto. Coloquei tudo no papel e planejei como seria. Pesquisei um provável nome que não tivesse registro ainda e me encontrei com a EcoSolux (http://www.instagram.com/eco.solux/). Chamei duas amigas que eram bem engajadas com cursos e em janeiro de 2020 começamos a empreender. Nossa primeira parada: um curso oferecido pelo próprio projeto onde tive aquela experiência que me marcou de forma positiva. Em março de 2020, fomos ministrar nosso primeiro curso em Salinas. Após a primeira aula, a pandemia chegou. A cidade parou e interditou os acessos. Minha amiga conseguiu voltar para Bragança (PA). Eu não consegui. Fiquei em Salinas por quase 4 meses. Não sabia o que seria da EcoSolux. Parecia que tinha acabado. As meninas não deixaram eu desistir. Elas me falaram que aquilo era um sonho meu, era algo que me fazia feliz. Pelo resto do ano, agora o que seria uma empresa, parou completamente.

Início de 2021 - pensamos em novas estratégias, então começamos a vender produtos reutilizáveis com o intuito de minimizar o uso de plásticos descartáveis, que mal são usados e logo descartados. O foco passou a ser então a busca por soluções sustentáveis para a redução da geração de resíduos, já que há um problema imenso com a falta de gestão de resíduos no nosso município. Passamos por uma mentoria de negócios e esse foi um momento de clareza diante do negócio que estávamos colocando para funcionar. A partir dos produtos, fomos alcançando instituições de ensino, hospitais e outros projetos. Fomos estabelecendo parcerias e, hoje, estamos com vários projetos em andamento, que estão trazendo impactos socioambientais positivos para a nossa cidade. Em breve ofereceremos um serviço de assinatura de compostagem.

Momento descontraído da gravação de matéria para o Festival do Rio Ouricuri (Foto de Jéssica Matos, licença CC BY-SA 4.0).

Quando olho para trás, percebo que tudo que aconteceu até o dia de hoje, foi realmente necessário para que a EcoSolux existisse como é agora. Hoje eu me sinto muito feliz empreendendo dentro da área que eu não escolhi a princípio, mas que foi se tornando essencial na realização de sonhos maiores. A biologia, assim como outras áreas, podem perfeitamente entrar no mundo do empreendedorismo social, de negócios de impacto, porque elas visam buscar soluções para problemáticas socioambientais que vivenciamos no nosso cotidiano. Às vezes é necessário que a gente se permita vivenciar coisas novas, para que surjam novas oportunidades. Hoje, eu vejo que o empreendedorismo de impacto social se encaixa em qualquer lugar: dentro de uma universidade, dentro de uma escola, dentro de uma comunidade, realmente em qualquer lugar. Se existe um problema, existe uma solução a ser criada. E aí, precisamos de pessoas dispostas e com condições de correr atrás dessa resposta, e não só encontrá-la, mas transformá-la em um negócio que impacte a vida das pessoas e do ambiente em que vivemos.

 

Sobre a autora:


Formada em Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Pará (UFPA), especialista na área de Gestão e Docência do Ensino Superior (Estácio), Fundadora e Gestora da empresa EcoSolux, associada fundadora da Associação Brasileira de Compostagem (ABCompostagem), membro do Movimento dos Focolares, membro da EcoOne, rede mundial de profissionais das ciências ambientais.


Em 2021, teve seu primeiro contato com ecossistemas de inovação e empreendedorismo sustentável, participando do Programa Inova Up, iniciativa da Fundação Vale com implementação pelo Centro de Empreendedorismo da Amazônia.

Atualmente, participa do Inova Amazônia, primeiro programa do Sebrae lançado com foco no desenvolvimento de negócios que visam a Bioeconomia na Amazônia.


Amante das águas, sejam do rio ou do mar. Desde criança sempre gostou desse contato com a natureza. Hoje, não só valoriza as águas, como também busca proteger ela através da educação ambiental.

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