top of page

Resultados da Busca

513 resultados encontrados com uma busca vazia

  • Greenwashing

    Por Juliana Leonel Você já deve ter visto diversos produtos (ou propagandas) usando os termos sustentabilidade, green , ecologicamente correto, eco-friendly  etc em embalagens na cor verde, com desenhos de folhas ou outras formas que remetem à natureza. O uso cada vez mais disseminado desses termos em produtos, propagandas, discursos, documentos etc, pode ser fruto do greenwashing . Mas o que é isso? Greenwashing  (ou lavagem verde) é a técnica de usar ideias ambientalistas para criar uma imagem pública responsável, vender mais produtos dando aos consumidores a impressão de melhor desempenho ambiental ou benefícios ambientais de um produto/serviço, ou mostrar uma responsabilidade ambiental que não corresponde às ações. Ela é aplicada por empresas, ONGs, pessoas, governos, instituições etc. A técnica não é novidade e é usada desde a década de 80. No entanto, ganhou muito mais espaço na última década e é identificado em milhares de produtos. Mas qual o problema do greenwashing ? Além de gerar confusão nos consumidores, o aumento no uso de técnicas de greenwashing  pode ter efeitos negativos sérios na confiança do consumidor e do investidor em produtos verdes.  Exemplos de greenwashing  relacionados ao oceano:  1. Calçados e roupas feitos de garrafas PETs retiradas do oceano. A iniciativa até parece interessante e vende bem. No entanto, representa uma percentagem tão - mas tão pequena - em relação aos demais produtos destas marcas que usam plástico virgem que fica a pergunta “Qual o real impacto dessa iniciativa?”. Além disso, depois que o PET é usado para produzir fibras (para tênis, camisetas etc), ele não pode ser mais reutilizado ou reciclado - como acontece com as garrafas -  e precisa ser descartado ou em aterros sanitários ou incinerado.  Também é importante citar que há empresas que dizem que alguns dos seus produtos são feitos de plásticos retirados do mar, mas nas entrelinhas explicam que apenas uma pequena percentagem (10-20%) do plástico usado naquele material veio da reciclagem e o restante é plástico virgem. Outras dizem que usam plásticos que “estavam indo para o mar”, mas o que isso significa? Eles tiraram plástico efetivamente do ambiente ou eles usaram plásticos que foram direcionados para a reciclagem?  E por fim, o que estas empresas têm feito para reduzir realmente o uso de plástico ou para tornar seus produtos mais duráveis e, consequentemente, diminuir a quantidade de produtos descartados?  2. Mineração do fundo do oceano.  Em nome da transição energética - e, consequentemente, de frear o aquecimento global - empresas (e governos) têm defendido que é necessário liberar a exploração de nódulos polimetálicos no fundo do oceano. Embora seja necessário diminuir o consumo de combustíveis fósseis, isso deve ser pensado não só no modo de substituir uma forma de energia por outra, mas mudando hábitos. Por exemplo, se trocarmos todos os carros movidos a gasolina por carros elétricos, estaremos criando outro problema ambiental grave. O que precisamos é investir em transporte público, repensar as cidades para que as pessoas não precisem se deslocar por grandes distâncias e possam usar meios de transporte alternativos (como bicicletas). Com relação à produção industrial, temos hoje um sistema que incentiva o consumo exacerbado que precisa ser repensado não só por questões climáticas, mas também para diminuir a exploração de recursos ambientais e dos trabalhadores.  3. Selos em pescados. Selos que atestam que determinado peixe foi retirado do oceano usando técnicas menos destrutivas e com menor  geração de descarte de pesca . No entanto, várias denúncias mostram que diversas organizações responsáveis por esses selos não estão realmente fiscalizando como está ocorrendo a pesca e manejo das espécies.  E se você quiser mais exemplos, sugiro a leitura deste texto sobre plásticos biodegradáveis .  Sobre a autora: Formada em oceanologia na FURG com doutorado em oceanografia química pela USP. Entre um trabalho, uma bolsa e um intercâmbio passou também pela Unimonte, UFPR e UFBA, Texas A&M University, Health Department of New York, Heriot-Watt University e da Stockholm University. Atualmente é professora adjunta na UFSC. ​Trabalha com poluição marinha, principalmente contaminantes sintéticos e resíduos sólidos. Mas também atua na geoquímica estudando o ciclo do carbono no ambiente marinho. Desde abril/20 tem se aventurado como mãe do Ian. Não abre mão de cozinhar e experimentar novos sabores, mas não sem antes estudar os processos/química que tornam um prato possível. Também gosta de viajar, ler, fazer trilha e tomar um banho de mar (ou cachoeira). Participa do BPCN desde 2018 como editora e é a chata dos "direitos autorais" e quer que todos usem/produzam material livre com licença creative commons . #JulianaLeonel #Descomplicando #Greenwashing #Oceano #Plástico

  • “Casa” pra quem precisa!

    Por Pedro Freitas de Carvalho       A Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) divulgou que em 2024, infelizmente, atingimos a marca de mais de 100 milhões de desabrigados no mundo e mais de 700 mil no Brasil. Vale a pena dizer que esse número tende a aumentar devido ao avanço dos oceanos e rios sobre as comunidades litorâneas e ribeirinhas, como consequência do aquecimento global, que promove o aumento de chuvas e o derretimento de geleiras. Esse é um assunto muito sério que deve ser tratado com a devida importância pelos governantes de todo o mundo. Lendo o título e este parágrafo, você pode ter pensado: Será que acessei o site errado!? Calma!!! Para além de nós, humanos, a moradia servindo de abrigo também é uma questão para diversos organismos marinhos. Alguns exemplos são o peixe conhecido como maria-da-toca ou gobião-de- pedra ( Bathygobius soporator – Figura 1a), que usa fendas de rocha do costão como refúgio, ou o caranguejo-uçá ( Ucides cordatus - Figura 1b), que constrói a sua moradia no solo do manguezal.  Até mesmo em animais pequeninos que vivem na coluna de água e são carregados pelas correntes marítimas, o zooplâncton, há um grupo de organismos que constroem suas “casas”. Mas, antes de falarmos desses organismos e a função dessas “casas” é necessário entender algumas coisas. Figura 1: a. Bathygobius soporator – nome vulgar, maria-da-toca ou gobião-de- pedra. Fonte: Wikimedia Commons/ Flickr upload bot / com licença CC-BY-2.0. b. Ucides cordatus – nome vulgar, caranguejo-uçá. Fonte: Wikimedia Commons/ Leoadec / com licença CC-BY-SA-3.0. Os principais e mais numerosos grupos do zooplâncton compõem um nível fundamental da cadeia alimentar marinha, como consumidores primários, onde esses organismos se alimentam principalmente de fitoplâncton. Desta forma, transferem a energia e a biomassa dos produtores primários (fotossintetizantes) para os níveis mais elevados da cadeia trófica , como peixes e crustáceos. A biomassa do fitoplâncton é muito disputada entre esses consumidores, o que promove diferentes estratégias na captura desse importante alimento. Mas, o que isso tem a ver com casa e moradia...? Aguenta aí! Parece que estamos meio perdidos, mas chegaremos lá! A alimentação é fundamental para a sobrevivência de uma espécie, pois nesse processo os organismos adquirem energia para manter o seu funcionamento e para realizar atividades essenciais, como reprodução e locomoção. Segundo a teoria de Darwin, o sucesso na sobrevivência possibilita uma maior capacidade reprodutiva da espécie, passando essa característica vantajosa aos seus descendentes, fazendo com que esses permaneçam no ambiente evitando assim o seu processo de extinção, através da seleção natural. Observando a figura 2, vale enxergar a relação do tamanho dos organismos e o seu aparato de filtração para captura de fitoplâncton. Fazendo uma breve análise, qual desses principais organismos do zooplâncton estaria mais suscetível à extinção, baseado na proporção entre o tamanho do indivíduo e a superfície do aparato de filtração de organismos fitoplanctônicos? Qual deles teria uma menor eficiência de captura?       Figura 2: A – Apendiculária ( Oikopleura longicauda ), A1 – Comprimento da espécie, A2 - aparato de filtração (Boca); B – Copépode ( Euchaeta  spp.), B1 - Comprimento da espécie, B2 - aparato de filtração (Antena); C – Doliolídeo ( Doliolum nationalis ), C1 - Comprimento da espécie, C2 - aparato de filtração (Sifão oral). Fonte:  Atlas de Zooplâncton da Bacia de Campos . Fotos do autor. Sem querer induzir uma resposta, mas já induzindo, você provavelmente observou que as apendiculárias teriam uma menor vantagem na captura de alimento do que os outros dois animais mostrados na figura 2. Será mesmo?  E se eu falar pra vocês que em um estudo recente publicado em uma excelente revista em 2023, a pesquisadora dinamarquesa Cornelia Jaspers e colaboradores, mostraram que as apendiculárias estão entre os organismos gelatinosos mais numerosos do zooplâncton , tanto em águas costeiras como oceânicas?! Esses animais possuem uma taxa de crescimento extraordinária, alimentando-se de organismos de diversos tamanhos e de diferentes grupos do fitoplâncton, levando uma vantagem competitiva entre os demais grupos zooplanctônicos. O estudo vai além, dizendo que as apendiculárias correspondem ao segundo grupo mais abundante e importante do zooplâncton, ficando somente atrás dos copépodes (crustáceos), e que a sua taxa de crescimento supera a de qualquer outro animal, sendo um dos maiores contribuintes na produção de carbono no ambiente marinho. O estudo ainda traz uma previsão: futuramente, com um aumento, já observado, na quantidade de animais gelatinosos, as apendiculárias se tornarão os organismos zooplanctônicos mais abundantes no ambiente marinho, substituindo os copépodes na transferência de energia na cadeia alimentar.  Então, como um organismo com a boca de um tamanho tão limitado, tem uma importância fundamental na biomassa e produtividade da comunidade planctônica? E, o mais intrigante, o que isso tem a ver com a “casa”? Observando a figura 3, talvez as coisas comecem a fazer algum sentido. As apendiculárias possuem uma estrutura secretada por elas mesmas chamada de oikoplasto , também conhecida como “casa” ou “ house ”, em inglês. Essa casa feita de muco serve como um filtro, onde o fitoplâncton, bactérias e outras partículas que servem de alimento ficam presos, assim como em uma rede de pesca. O seu tamanho interno é fundamental para a capacidade que esses organismos têm de se alimentar de diversas partículas, de grupos distintos de seres vivos (microalgas, protozoários, bactérias e vírus) muita das vezes inacessível para os outros filtradores do zooplâncton. Dessa maneira, a captura de presas de uma variada gama de tamanhos dá uma vantagem na obtenção de alimento para as apendiculárias sobre outros animais do plâncton.  Figura 3: Esquema e foto de uma Apendiculária, Oikopleura dioica com a casa ou oikoplasto. a = aparato de filtração, b = tamanho do organismo. Fonte: Modificado de Jaspers et al., 2023  com licença CC BY-NC-ND 4.0. Demorou, mas talvez agora você tenha entendido a relação da “casa” com capacidade de alimentação das apendiculárias no ambiente marinho. Ao contrário dos humanos, da maria-da-toca e do caranguejo-uçá, a “casa” para as apendiculárias nada tem a ver com moradia, e, sim, com o aumento da capacidade da alimentação, o que pode estar ligado também com a baixa probabilidade de extinção desses organismos do ambiente e com a alta importância dos mesmos no funcionamento da cadeia alimentar marinha. E você acha que acabou? Ainda não! De quebra, as casas já entupidas pelo excesso de partículas, perdem a sua eficiência de filtração e são constantemente liberadas pelas apendiculárias. Essas casas, que são sete vezes maiores que o tronco do animal, possuem uma natureza proteica que serve como uma das principais fontes alimentares para outros organismos zooplanctônicos que estão na superfície e em outras profundidades da coluna de água, sendo considerada um elemento bastante frequente na neve marinha (pequenas partículas de matéria orgânica que precipitam da superfície para o fundo do oceano, parecido com uma neve mesmo).  Agora, se algum dia você, caro leitor, tiver a oportunidade de observar um exemplar de apendiculária proveniente de uma coleção  biológica, em lupa ou microscópio, através de uma visita a um laboratório de zooplâncton ou a uma exposição, dificilmente vai encontrar esse organismo com uma “casa”, como a observada na figura 3. Isso porque, quando as apendiculárias se sentem ameaçadas por predadores, ou pelas redes de coleta, elas se livram das suas casas que são um peso para carregar na hora da fuga, apesar de úteis para a alimentação. Organismos com “casas” são observados vivos em cultivos, normalmente através de vídeos ou fotos. Ufa!!! Acho que depois de tudo isso fica evidente a importância de conhecer cada vez mais esses fascinantes organismos do Filo Tunicata, Classe Appendicularia. Se vocês quiserem mais informações, sugiro os sites: Vídeos: https://planktonchronicles.org/en/portfolio/larvaceans-their-houses-are-nets/ ; fotos e características das principais espécies do Atlântico Sul: http://www.intranet.biologia.ufrj.br/lizi/cat.zoo/index.html . Também sugiro leituras mais aprofundadas de artigos científicos recentes, abordando características das apendiculárias (Jaspers et al., 2023) e como está o conhecimento atual e a distribuição do grupo na costa brasileira (Rocha et al., 2024). Referências:  ACNUR, (2024). Dados sobre refugiados. Acessado em: https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugiados . Acesso em 06/05/2024 . Heneghan, R. F.; Everett, J. D.; Sykes, P.; Batten, S. D.; Edwards, M.; Takahashi, K., I.; Suthers, I. M.; Blanchard, J. L.; Richardson, A. J. (2020). A functional size-spectrum model of the global marine ecosystem that resolves zooplankton composition. Ecological Modelling, 435, 109265. Jaspers, C.; Hopcroft, R. R.; Kiørboe, T.; Lombard, F.; López-Urrutia, Á.; Everett, J. D.; Richardson, A. J. (2023). Gelatinous larvacean zooplankton can enhance trophic transfer and carbon sequestration. Trends in Ecology & Evolution. DOI: 10.1016/j.tree.2023.05.005. Rocha, R. M.; Lotufo, T. M. C.; Bonecker, S.; Oliveira, L. M.; Skinner, L. F.; Carvalho, P. F. C.; da Silva, P. C. A. (2024). A synopsis of Tunicata biodiversity in Brazil. Zoologia 41: e23042. DOI: 10.1590/S1984-4689.v41.e23042. Sobre o autor: Formado em ciências biológicas, mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é pesquisador do Laboratório de Zooplâncton e Ictioplâncton da UFRJ. Trabalha na identificação e ecologia de organismos zooplanctônicos marinhos, mais especificamente com organismos gelatinosos tunicados. Busca entender como as espécies do zooplâncton respondem a questões ecológicas e de qualidade de água. Além disso, se aventura como curioso fazendo registros fotográficos do zooplâncton nas horas vagas. O seu maior prazer é ser pai, em processo de aprendizado ainda. Gosta de música velha, insiste em praticar esporte e adora jogar conversa fora com os amigos. #CiênciasDoMar #Convidados #AnimaisMarinhos #Zooplâncton #Casa #Alimentação #Apendiculária #TeiaTrófica #BiologiaMarinha #OceanografiaBiológica #AnimaisFiltradores #Plâncton

  • Oxigênio negro: mais um segredo desvendado no fundo do mar

    Por Juliana Leonel Um dos assuntos mais comentados da semana passada foi a descoberta do processo de geração de oxigênio ( dark oxygem  = oxigênio negro) no fundo do oceano sem a intervenção de organismos .  Essa descoberta é muito importante, porque traz questionamentos sobre o início da vida aeróbica (aquela que depende de oxigênio) na Terra e também sobre a exploração de minerais do fundo marinho.  Antes de falar mais sobre o estudo em si, vamos revisar alguns conceitos já conhecidos.  Até o momento, sabíamos que a geração de oxigênio livre (O2, que é o oxigênio que respiramos) só era feita por reações mediadas por organismos, tanto os fotossintetizantes  (que utilizam a luz como energia)  como os quimiossintetizantes  (que usam a energia oriunda de reações químicas, como a oxidação de alguns substâncias inorgânicas, como nitrato e sulfato).  A maior parte da produção de oxigênio é feita por organismos fotossintetizantes, pois a quimiossíntese é realizada por um grupo pequeno de organismos que se encontram em locais específicos. Por isso, locais sem a presença de luz - como o fundo do oceano - costumam ter valores mais baixos de oxigênio (quem leva o oxigênio até lá são as massas de água ).    Sabendo disso, quando os equipamentos do grupo de pesquisadores liderado pelo Prof. Andrew Sweetman (da Associação Escocesa para Ciências Marinhas) detectou oxigênio sendo produzido na escuridão do fundo do mar, há 10 anos, eles achavam que o resultado era problema nos sensores que estavam utilizando. Depois de quase uma década e várias calibrações, revisões nos equipamentos, novas medições  e uma série de experimentos para assegurar que o oxigênio não vinha de outros locais (bolhas, água intersticial, organismos quimiossintetizantes etc), eles finalmente entenderam que era a presença de nódulos polimetálicos que estava produzindo oxigênio .  Mas com isso acontece? Primeiro vamos entender o que são os nódulos polimetálicos… Estes nódulos polimetálicos são produzidos por concreções (agrupamento) de minerais presentes na água do mar que se depositam ao longo do tempo de forma relativamente concêntrica em volta de um núcleo (que pode ser partículas de sedimento, por exemplo - similar ao que ocorre na formação de um pérola). Com o passar do tempo - e de forma muito lenta, mas muito lenta mesmo (= milhões de anos) - podem atingir algumas dezenas de centímetros de diâmetro. A composição dos nódulos varia dependendo da região de formação, mas os elementos mais abundantes costumam ser o manganês e o ferro (por isso, costumam ser chamados também de nódulos de ferro-manganês). No entanto, eles são ricos em outros elementos também, como cobalto, níquel, magnésio e elementos terras-raras (exemplos: neodímio, lantânio, samário) - elementos essenciais para baterias e eletrônicos em geral. Por isso, os nódulos polimetálicos são tão cobiçados pelas empresas de mineração que vêem neles uma importante fonte de minerais.  À esquerda temos a imagem de apenas um nódulo polimetálico, uma estrutura similar a uma rocha. À direita temos a imagem de diversos nódulos espalhados no fundo do oceano. Imagem à esquerda: Fonte: Wikipédia  com licença CC BY-SA 3.0. Imagem à direita: Fonte: Wikipédia  em Domínio Público Entre um dos usos desses minerais está a produção de baterias. E é exatamente esse “efeito de bateria” que é responsável por separar os componentes da água ( H2O ) e liberar oxigênio em sua forma livre (O2). Isso ocorre, porque os elementos presentes no nódulo (como cobalto, lítio, níquel) irão produzir uma corrente elétrica capaz de fazer eletrólise  (nome bonito para separação dos componentes da água). Para testar essa hipótese o grupo do Prof. Andrew Sweetman colocou os nódulos em câmaras fechadas e monitorou a quantidade de oxigênio. Após 2 dias, a quantidade de oxigênio nas câmaras havia triplicado! Estes experimentos foram feitos tanto in situ (no fundo do mar) como ex situ  (em laboratório). Eles também conseguiram detectar que a quantidade de oxigênio formada tem relação com a quantidade de nódulos presentes na região. Quanto mais nódulos, maior a corrente elétrica.  Com essa descoberta, algumas perguntas/reflexões começam a ser feitas: Quão importante é este oxigênio para as  comunidades bentônicas do fundo oceânico? Como a mineração dos nódulos  polimetálicos pode afetar a geração deste oxigênio e os organismos que dependem dele?  É crucial obter respostas para essas perguntas antes que a exploração de metais em mar profundo se intensifique.  A descoberta do oxigênio negro é mais um exemplo de como ainda sabemos pouco sobre o mar profundo e como há muita coisa incrível acontecendo  a milhares de metros abaixo da superfície do oceano. Sobre a autora: Formada em oceanologia na FURG com doutorado em oceanografia química pela USP. Entre um trabalho, uma bolsa e um intercâmbio passou também pela Unimonte, UFPR e UFBA, Texas A&M University, Health Department of New York, Heriot-Watt University e da Stockholm University. Atualmente é professora adjunta na UFSC. ​Trabalha com poluição marinha, principalmente contaminantes sintéticos e resíduos sólidos. Mas também atua na geoquímica estudando o ciclo do carbono no ambiente marinho. Desde abril de 2020 tem se aventurado como mãe do Ian. Não abre mão de cozinhar e experimentar novos sabores, mas não sem antes estudar os processos/química que tornam um prato possível. Também gosta de viajar, ler, fazer trilha e tomar um banho de mar (ou cachoeira). Participa do BPCN desde 2018 como editora. É a chata dos "direitos autorais" e quer que todos usem/produzam material livre com licença creative commons . #JulianaLeonel #OxigênioNegro #CiênciasDoMar #FundoOceânico #MarProfundo #Mineração

  • Levando a Antártica para as ruas de São Paulo

    Por André Calloni Souza Ilustração: Joana Ho Minha história começou em 2016, quando entrei na graduação em Oceanografia. A princípio, eu não queria fazer faculdade. Tudo mudou quando um amigo do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, o IOUSP, me falou sobre uma faculdade que estudava praias, baleias e o mar profundo. Então, eu enfiei uma ideia bem fixa na cabeça: agora, eu preciso fazer USP, e comecei a trabalhar como bartender para pagar o cursinho. Consegui passar e, logo no primeiro ano, consegui uma bolsa de estágio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), no Laboratório de Bioluminescência Marinha, sob a orientação do Prof. Anderson de Oliveira. Foi ali que me apaixonei pela pesquisa. Durante esse período, senti uma vontade crescente de trabalhar com invertebrados marinhos. No terceiro ano, conversei com o Prof. Paulo Sumida, que me aceitou em seu laboratório. Trabalhei com ofiuróides (serpentes-do-mar) e escrevi meu trabalho de graduação (TG) sobre eles, além de participar de diversos projetos. Fora do laboratório, fiz vários trabalhos paralelos, como bartender , modelo, ator e professor particular. Quando estava próximo de concluir meu TG, surgiu uma oportunidade no projeto BECOOL (Conexões bentônicas em altas latitudes do hemisfério sul; em inglês, BEnthic COnnections Of high southern Latitudes ), que estuda os impactos das mudanças climáticas na fauna de fundo da Antártica. Foi uma mudança drástica, trocando a análise morfológica por horas de vídeo e processamento de dados com programação em R. Gostei tanto que participei da Operantar 42, uma expedição à Antártica para coletar imagens na enseada Martel, momento que transformou minha carreira. Coleta de imagens na enseada Martel, na Antártica, pelo projeto BECOOL, do Instituto Oceanográfico da USP. Fonte: André Calloni Souza com licença CC BY NC-ND Minha namorada Tamara, que trabalha no financeiro da maior agência de publicidade digital do país, sempre me incentivou a criar conteúdo digital de divulgação científica. Eu hesitava, mas decidi tentar quando pisei pela primeira vez em outro país através do meu trabalho como oceanógrafo.  Ao longo da viagem, os vídeos foram ganhando cada vez mais acessos, cada vez eu recebia mais mensagens de jovens curiosos, querendo saber desde como era a nossa comida na estação, até se realmente existiram pirâmides alienígenas enterradas no gelo. E assim, em dois meses, consegui alcançar a marca de 33 mil seguidores , unindo a Ciência e minhas práticas anteriores como modelo, editor de vídeo e produtor musical.  Quando a expedição acabou, enfrentei um novo desafio: continuar produzindo conteúdo sem a paisagem única da Antártica. E a resposta, novamente, veio da minha namorada Tamara. A cada curiosidade oceanográfica aleatória que eu contava pra ela no café da manhã, ela me respondia com um olhar provocativo: “Sabe quem não sabe disso? Seus seguidores”. Esses comentários fizeram minha ficha cair: às vezes, a gente fica tão acostumado a conviver com outros cientistas e falar de assuntos tão específicos, que esquecemos que, muitas vezes, a coisa mais simples e aparentemente óbvia para nós é extremamente interessante para o público leigo, seja lá de qual área da Oceanografia estamos falando. Além disso,  os jovens principalmente de periferia, já desestimulados pela realidade socioeconômica em que vivem, que muitas vezes levam horas e mais horas no transporte público para voltar de subempregos, e que possuem a curiosidade nata sobre assuntos relacionados ao oceano (existem muito mais jovens assim do que vocês imaginam), chegam em casa, abrem o YouTube ou o TikTok, e se deparam com diversas notícias falsas (as famosas Fake News ) sobre a Antártica, desinformações e lendas, escritas para lucrar com adsense  nas diversas plataformas e redes sociais, que é a exibição de anúncios nos conteúdos digitais. E aí um jovem que poderia, através de um sonho, se motivar a estudar, seguir a carreira acadêmica, e eventualmente se tornar um cientista, acaba se perdendo em vídeos sobre alienígenas escondidos, discos voadores e doenças antigas enterradas no gelo, os quais giram todos em torno de um único ponto: NINGUÉM PODE IR PRA ANTÁRTICA . Decidi, então, não só continuar com os vídeos, mas expandir. Divulgação científica presencial e em escolas, preferencialmente públicas. E, desde então, uma vez por semana eu vou no museu do Instituto Oceanográfico da USP, pego emprestadas algumas amostras de organismos marinhos e sigo para as escolas do bairro onde eu moro, na Vila Nova Cachoeirinha, para apresentar uma palestra sobre o que é a Oceanografia, o que estudamos, o que fazemos e como a questão do aquecimento global na Antártica afeta diretamente a vida de todos nós. Palestra em escola da Vila Nova Cachoeirinha (São Paulo - SP). Fonte: André Calloni Souza com licença CC BY NC-ND Acho importante destacar, a todos os cientistas que pensam em fazer o mesmo, a importância de saber conversar com os jovens, especialmente na periferia. Então, não adianta chegar com papo técnico de cientista, isso não vai despertar o interesse. Agora pergunta quem já virou o ano na Praia Grande ou já foi no baile da plataforma (em Mongaguá) pra você ver se pelo menos uns 10 não vão levantar a mão. Fala pra eles que se o gelo da Antártica derreter, todo o litoral paulista fica embaixo d’água. Abra sua palestra falando sobre o salário inicial de um Oceanógrafo num concurso da Petrobrás. Pode ter certeza que a atenção dos alunos será capturada imediatamente.  E para os colegas de profissão, será um prazer apresentar o laboratório de vocês e o que fazem no meu perfil do Instagram (@dehcalloni). Será um prazer auxiliar na produção de conteúdo digital de divulgação científica. Existe muita  gente interessada no nosso trabalho, só precisamos rever a forma com que apresentamos o mesmo, e assim, em breve, quem sabe não temos os cursos de oceanografia  cada vez mais cheios e diversos?! Sobre o autor: André Calloni Souza tem 27 anos, é Oceanógrafo, e trabalha com ecologia bentônica na Baía do Almirantado. Além disso, produz conteúdo digital no Instagram sobre Oceanografia, Antártica e questões ambientais em geral. #Antártica #VidaDeCientista #Cientistas #DivulgaçãoCientífica #CiênciasDoMar #Convidado #DehCalloni #Oceanografia

  • Far beyond our eyes: microplastics at the bottom of the sea

    By Gabriel Stefanelli Silva English edit by  Carla Elliff *post originally published in Portuguese on July 23, 2020 When I started reading about plastic in the ocean, in the distant year of 2011, I was still at the beginning of my degree in marine biology. At that time, we already knew that there were large amounts of litter – and not just plastic – floating around. The existence of these concentrations of garbage in places where marine currents form large gyres had strong media coverage, with the Great Pacific Garbage Patch (GPGP) being the largest concentration of marine garbage in the world. To give you an idea, the GPGP covers an area of ​​approximately 1.6 million km², the size of the state of Amazonas! Can you imagine? Although many people think that these concentrations are islands of trash, they are actually a “soup” made up of various types of debris. Most of it is made up of microplastic , plastic particles that measure between 5 mm and 1 µm – sometimes you can't even see them with the naked eye! Located between California and Hawaii, the GPGP is so heterogeneous in its waste distribution that along its length we can find everything from a lot of litter to little or no litter at all. But despite being famous, the GPGP is just one of the points where marine litter accumulates – so where does the rest go? Extent of the Great Pacific Garbage Patch (GPGP), between California and Hawaii. The figure shows that there are two “garbage gyres” in the Subtropical Convergence Zone. The western gyre is less extensive and is located near Japan. (Source: NOAA Marine Debris Program , public domain) Six years later, when I finished my master's degree on freshwater fish, I decided to return to my roots and delve deeper into marine litter in my doctoral project. I found an article published in 2016 about a group of British scientists led by Dr. Michelle Taylor (who continues to be a great reference in the field), about the first report of microplastic ingestion in deep-sea animals, and that made me very excited! I contacted Professor Paulo Sumida from the Oceanographic Institute of the University of São Paulo (IO - USP) and we started working on some ideas. Paulo's laboratory  is the only one specialized in the deep sea in Brazil, and it seemed ideal to me to carry out a project on garbage in these very remote regions of the ocean. The deep sea, since it began to be studied at the end of the 19th century, is still a great place for exploration research! And when it comes to plastic waste, we see a lot floating on the surface, but we have very little idea about where it all ends up... What we already know is that much of the material that floats on the surface ends up sinking due to the action of marine currents and the accumulation of microorganisms, which increase the density of particles. Eventually, this litter reaches the bottom sediment and becomes trapped between grains of mud and sand. This means that animals that feed on deposited material, such as sea cucumbers, and filter feeders, such as shellfish, are extremely susceptible to ingesting microplastics. Paulo and I then decided to carry out an analysis of the ingestion of this material along the deep-sea food web, checking whether a particle ingested by a given organism could be transferred to its predator, a phenomenon known as biomagnification. This means that animals at the base of the web (or at a lower trophic level), even though they are unable to ingest a large amount of microplastic, could cause an accumulation of waste in the digestive tracts of their predators when consumed in large numbers, and so on. When they die, top predator organisms could also return the microplastic to the environment and restart the process. Over time, these litter ingestion cycles become increasingly serious and more harmful to the ecosystem. Microfiber (indicated by white arrows) found in shellfish. (Source: photo by Paulo Ferraz, license CC 4.0 SA-BY) Example of biomagnification of plastic microfibers (in blue) from the consumption of contaminated organisms along a marine food chain. From bottom to top, there is an increase in the trophic level of organisms, starting with zooplankton microcrustaceans, passing through fish and ending with a predatory bird. (Source: Gabriel Stefanelli, license CC 4.0 SA-BY) Working with the deep sea – and ocean research as a whole – can be challenging. Part of my doctorate involves scientific cruises, and my first onboard expedition was to a location more than a thousand kilometers off the coast of São Paulo. At the end of five days of travel, with violent seas (and a lot of vomiting), we had a problem with the nets and it was not even possible to collect any samples. Fortunately, there is always a plan B and today I already have material from other expeditions, including animals collected since the 1980s and which are part of the Prof. Edmundo F. Nonato Biological Collection of the Oceanographic Institute of the University of São Paulo. Putting together all the material I have available, there is more than 30 years of information about pollution in the ocean. Tricky, but very interesting! Shelves of the Prof. Edmundo F. Nonato Biological Collection (ColBIO) from the Oceanographic Institute of the University of São Paulo  (Source: photo by Gabriel Monteiro, license CC 4.0 SA-BY)   I'm almost halfway through my PhD, and fittingly almost half of the organisms I analyzed had at least one microfiber inside them. And while we wait for the university's activities to resume to analyze these microfibers, we continue to see news about marine pollution. Last month a study was published showing that plastic that has been lying on the seabed for more than 20 years remains preserved as new and provides an environment that is conducive to microorganisms that would not normally be in that area, which can pose major threats to the functioning of the deep-sea environment. Also recently, a new species of amphipod – a type of crustacean – was discovered from the deep sea that was collected with microplastic in its stomach. The species even received a symbolic name, Eurythenes plasticus , and is just another example of how the litter we produce reaches remote locations in the ocean, from the poles to the deepest regions of the planet. It really surprises me how plastic, especially in the form of micro and nano particles, is permeated in the marine environment, and that even the fish on the table in so many homes can be contaminated by a pollutant that we can't even see clearly! The times we live in seem truly desperate; is it possible to get something positive out of this situation? Precisely because it is readily appealing, the topic of marine litter has promoted waves of mobilization for greater care for the environment. One of the recent pieces of evidence was the ban on plastic bags and straws here in São Paulo and in other states in Brazil. Among other initiatives, we also have a ban on single-use plastic items in Europe, projects to recover abandoned fishing nets in the USA, and strategies for youth participation in combating plastic pollution in Asia. This is the best time for discussions about the anthropogenic impact on nature, and we can’t leave this for later. It is now that we have the potential to change people's perception of how we are capable of altering – for worse or better – the environment, one microplastic at a time. Or, if we prefer, one less microplastic at a time! Litter on a beach in São Vicente, coast of São Paulo. (Source: photo by Fernando De Grande, license CC 4.0 SA-BY) Suggested complementary literature: https://science.sciencemag.org/content/368/6495/1140 https://www.nature.com/articles/s41598-020-66361-7 About the author: I've been interested in the ocean (and the deep sea) since I was a child. I graduated in biology, completed a Master’s degree in ecology, and I am halfway towards a PhD in oceanography. My primary area of ​​research is ecology, with a dash of pollution and ocean education and literacy activities. I'm a fan of Pokémon, I like to cook for my favorite environmentalist, and annoy Tapioca and Dominique, my cats. If you have any questions, comments or suggestions, you can send them to gabrielstefanelli@hotmail.com . #Microplastic #DeepSea #MarineLitter #Pollution #MarineScience #Guests

  • Como uma cientista deve se vestir?

    Por Juliana Leonel “Professora Juliana veio vestida de aluna hoje.” “Está indo à praia, Professora?” “Olha lá, ela vem para a universidade de bermuda.” Essas são apenas alguns dos comentários que já ouvi sobre como me visto. Na primeira, estava de calça jeans, camiseta e tênis; na segunda com uma saia longa e estampada; e na terceira com uma bermuda que ia até o joelho (e tenho certeza que se estivesse de saia - mesmo que fosse uma mini-saia - não teria causado tamanha surpresa no interlocutor). Apesar de serem frases que foram expressadas de forma passiva-agressiva com o intuito de diminuir minha competência profissional a partir de como me visto, não há nada de novo nelas. A "cobrança" silenciosa - ou nem tanto - por um código de vestimenta adequado (segundo quem?) a ser seguido pelas mulheres não é algo recente. Pelo contrário, talvez só recentemente começou a diminuir a demanda para as cientistas vestirem-se de forma austera (=  discreta e se assemelhando aos homens). Na década de 1950, para estudantes do ensino médio americano, a imagem de um cientista era de um homem, de meia idade (ou idoso) que usa óculos e trabalha de jaleco em um laboratório; com ou sem barba, mas sem muita atenção para sua aparência. Três décadas depois, as coisas não tinham mudado muito, e as crianças continuavam descrevendo os cientistas como homens (e brancos) e meio desleixados com a aparência. Todas essas descrições tiveram um papel importante no delineamento da imagem da mulher cientista; a começar pelo fato que a ciência não deveria ser exercida por mulheres. E, por isso, qualquer uma que quisesse traçar esse caminho tão "não-natural" para as mulheres, deveria fazer todo o possível para não ser reconhecida como tal. O irônico aqui é que, apesar do cientista ser descrito como alguém sem muita atenção a sua aparência, das mulheres era cobrado que houvesse tal atenção, mas com o objetivo da mesma se camuflar nesse universo dominado por homens. No seu livro “O Feminismo Mudou a Ciência”, Londa Schiebinger afirma que “as mulheres bem sucedidas em campos tradicionalmente masculinos geralmente assimilam ou são assimiladas a códigos masculinos de honra”. No século XIV, Novella d'Andrea dava aula atrás de uma cortina para "não distrair os estudantes com sua beleza"; no século XVIII, a matemática Sophie Germain só teve "acesso" à educação superior porque usou o nome de um homem. Mais recentemente, no século XX, a química Geri Richmond foi aos poucos abandonando seus vestidos, esmaltes, maquiagem e até mesmo sua loção para mãos com receio que o cheiro fizesse as pessoas a sua volta lembrar que ela era uma mulher. Da mesma forma, a astrônoma Anne Kinney deixou seus vestidos da moda de lado - pois estavam chamando muita atenção - e passou a usar apenas calça jeans e camisa xadrez. Professora de direito Novella d'Andrea Ao mesmo tempo em que ter uma “aparência feminina” poderia ser um problema, cientistas também foram criticadas por não exibirem os atrativos/características esperados em uma mulher: James Watson expressou que Rosalind Franklin poderia ser mais atraente caso se vestisse melhor; a matemática alemã Emmy Noether era chamada de “der Noether” (“der” é pronome masculino em alemão) porque era uma grande pesquisadora e isso não era “esperado” de uma mulher; logo, precisam transformá-la em um homem. Matemática Emmy Noether Ainda hoje, mesmo com códigos de vestimenta menos rígidos, muitas mulheres seguem certos padrões para evitar tanto serem desacreditadas como para evitar comentários/olhares de cunho sexual: há aquelas que preferem nunca usar roupas justas ou curtas; outras preferem cores mais sóbrias ou “terninhos”; algumas preferem estar sempre bem vestidas e maquiadas para não serem lidas como desleixadas. Os padrões mudam entre as diversas áreas da ciência, mas a verdade é que ainda existe julgamento sobre como mulheres se vestem ou se portam. É muito importante enfatizar que toda a reflexão até aqui foi do ponto de vista de mulheres cientistas brancas e com exemplos dos EUA e da Europa. No caso de pesquisadoras afrodescendentes, há ainda um outro código ao qual devem se enquadrar para serem aceitas: assimilar a imagem de mulher branca.  Da mesma forma, mulheres islâmicas também precisam se encaixar aos “padrões ocidentais”. Um exemplo disso são as leis francesas que proíbem o uso da burca e do lenço em locais públicos (incluindo instituições de ensino) e até mesmo nas escolas. Ainda que haja um movimento para mudar isso, não podemos negar que temos um longo caminho pela frente. Sobre a autora: Formada em oceanologia na FURG com doutorado em oceanografia química pela USP. Entre um trabalho, uma bolsa e um intercâmbio passou também pela Unimonte, UFPR e UFBA, Texas A&M University, Health Department of New York, Heriot-Watt University e da Stockholm University. Atualmente, é professora adjunta na UFSC. ​Trabalha com poluição marinha, principalmente contaminantes sintéticos e resíduos sólidos. Mas também atua na geoquímica estudando o ciclo do carbono no ambiente marinho. Desde abril/20 tem se aventurado como mãe do Ian. Não abre mão de cozinhar e experimentar novos sabores, mas não sem antes estudar os processos/química que tornam um prato possível. Também gosta de viajar, ler, fazer trilha e tomar um banho de mar (ou cachoeira). Participa do BPCN desde 2018 como editora e é uma das responsáveis pela página no twitter. É a chata dos "direitos autorais" e quer que todos usem/produzam material livre com licença creative commons. #JulianaLeonel #MulheresNaCiência #Feminismo #RosalindFranklin

  • FROM THE SEA TO THE AIR: microplastics in marine and coastal birds

    By Júlia Jacoby de Souza English edit by Lidia Paes Leme and Katyanne Shoemaker *post originally published in Portuguese on December 10, 2020 Everyone has seen the consequences of plastic in the sea. From litter on the beach to interactions with marine animals. But what about microplastics, which can be hard to see? How do they affect marine fauna? Microplastics are small particles (< 5mm), which can either be manufactured in this size, such as pellets and cosmetic microbeads, or can originate from the degradation of larger plastics (packaging, various plastic objects, synthetic fabrics). The final destination of plastic waste, through transport by wind and various bodies of water, is usually the ocean. Microplastics found in beach sand on the North Coast of Rio Grande do Sul. (Photo: Derek Blaese de Amorim with CC BY 4.0 license) These particles, which can reach sizes invisible to the naked eye, are available to a wide variety of organisms, from microscopic zooplankton to large fish, to birds and mammals, for example. But why do these animals interact with microplastic? Well, the simple reason is because microplastics are everywhere in the sea: from the surface water to the depths, in beach sediment and on the seabed. In addition, they can be ingested by organisms that serve as food for others, creating somewhat of a snowball, or rather, plastic ball effect. So it's hard not to come into contact with something that is practically omnipresent! Diagram of microplastic accumulation through direct ingestion of this material, or indirect ingestion through prey. (Image by Júlia Jacoby de Souza with CC BY 4.0 license) I started studying this subject about two years ago, when I was halfway through my degree in Marine Biology. It was at this time that I became interested in birds. So I got in touch with the professor who became my advisor, Dr. Guilherme Tavares Nunes from the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS), and he proposed that we study the issue of plastic contamination in marine and coastal birds in southern Brazil. Seabirds are organisms that depend entirely on the oceans for at least part of their lives[1] and generally breed on islands. This group has been shown to be especially susceptible to the presence of plastics in the environment: of all the bird species ever recorded with some interaction with this material, almost 80% of them are marine[2]! Although high, this percentage is not surprising, since there is plastic everywhere in the sea. Another contributing factor is that these species identify feeding areas by detecting dimethyl sulfide (DMS), a substance released by the consumption of phytoplankton by zooplankton. In the marine environment, DMS acts as a "restaurant smell," indicating that food is available there. However, phytoplankton that adhere to floating pieces of plastic also release DMS, so that areas with a high concentration of plastic are also identified as "restaurants," creating a trap for these birds[3]. One of the first records of seabirds ingesting plastic dates back to the 1960s, when researchers found pieces of plastic in the stomachs of Laysan albatrosses[4] that breed on Midway Atoll in the Pacific Ocean. This location is more than 3,000 kilometers away from the American continent, but receives huge amounts of garbage carried by ocean currents. The fact that this species of albatross is dying on this atoll from ingesting plastic material was portrayed in Chris Jordan's documentary "Albatross''. However, this species is just one of a group (Procellariiformes) whose interaction with plastic has been widely studied, including in Brazil. Dead Laysan albatross chick with ingested pieces of plastic (Photo by Lindsay C. Young, Cynthia Vanderlip, David C. Duffy, Vsevolod Afanasyev, Scott A. Shaffer, CC BY 2.5 license) However, for our research, we chose to move away from the most studied groups and focus on others whose contamination is little known, both in Brazil and worldwide: coastal birds. Have you ever paid attention to the birds you see when you go to the beach? Well, that's exactly what we're trying to study! Our study group includes birds that use the coastal environment, whether resident or migratory, which feed on the coast of Rio Grande do Sul during non-reproductive periods. Among these, there are organisms with different body shapes, diets and behaviors. There are species that eat fish (piscivores), such as terns and black skimmers, others that eat invertebrates buried in the sediment (benthivores), such as sandpipers and stilts, and there are also species, such as gulls, that eat practically any food available (generalists). This means that, among the birds that use the coastal environment, there are different functional trophic groups, i.e. groups of species that feed on similar forms and foods. Functional trophic groups: 1- Common Tern / 2- Black Skimmer / 3- White-rumped Sandpiper / 4- White-backed Stilt / 5 - Brown-hooded Gull / 6 - Kelp Gull. (Images by Daniela Martins with CC BY 4.0 license) So, assuming that there is microplastic practically everywhere in marine and coastal environments, including in beach sediment and potentially in the food of these birds, are these species also being contaminated? Do different diets and forms of feeding alter this contamination? Are shorebirds, or any specific trophic group, good indicators for detecting the presence of plastic in the environment? Well, these are some of the questions we're trying to answer! Using shorebirds as a model has been challenging, as we are working with groups that have been poorly studied and very small particles. Therefore, there is no "recipe" that shows "how to find and identify microplastics in shorebirds." So we had to test what other researchers had already done, with different methodologies and animal groups (fish, mollusks, other bird species) in order to adapt the "recipes" already developed to our study group. We are working with samples of both live birds (feces) and birds that have died at the Center for the Rehabilitation of Wild and Marine Animals at the Center for Coastal, Limnological and Marine Studies (CECLIMAR/UFRGS). In our preliminary tests, it was possible to see colored fibers in some samples. Subsequently, we intend to carry out the chemical identification of this material through a partnership with the Laboratory of Environmental Processes of Emerging Contaminants (LAPACE) at the UFRGS Chemistry Institute. With this analysis, it will be possible to know from what type of plastic the microplastic originated, whether from fabrics, bags, or packaging, for example. Unfortunately, due to the COVID-19 pandemic, we have had to pause our activities, but we intend to resume them as soon as possible. Blue fiber found in the feces sample of a tern (Photo by Júlia Jacoby de Souza, CC BY SA 4.0) Plastics comprise a group of incredible materials and it is practically impossible not to depend on them for our daily activities, as they are everywhere, including in the device you are reading this post on! But the research that has been and is being carried out shows just how much the mismanagement of this material, from the individual to the global level, has impacted all organisms, including us humans. Science is key to exposing and understanding its consequences in order to develop solutions and alternatives. Small changes in our day-to-day actions are essential; rethinking and avoiding the use of one plastic a day could mean millions of microplastics less! Our research is funded by the Rio Grande do Sul Research Foundation (FAPERGS). References: 1]Votier, S. C; Sherley, R. B. 2017. Seabirds. Current Biology, v. 27, n. 11, p. R448–R450. https://doi.org/10.1016/j.cub.2017.01.042 [2]Battisti, C; Staffieri, E; Poeta, G; Sorace, A; Luiselli, L; Amori, G. 2019. Interactions between anthropogenic litter and birds: A global review with ‘black-list’ of species. Marine Pollution Bulletin, vol 138. https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2018.11.017 [3]Savoca, M. S; Wohlfeil, M. E; Ebeler, S. E; Nevitt, G. A. 2016. Marine plastic debris emits a keystone infochemical for olfactory foraging seabirds. Science Advances, vol 2, n.11. DOI: 10.1126/sciadv.1600395 [4]Kanyon, KW; Kidler, E. 1969. Laysan albatrosses swallow indigestible matter. The Auk. Suggested content: - Article from UFRGS Ciência about our research and that of LAPACE.(in portuguese) - Video "Microplastic: where it comes from and where it goes" produced by the author and colleagues (in portuguese): About the author: I'm a Marine Biology student and I'm part of the team behind the Aves da Praia Extension Project, which seeks to publicize bird biodiversity and address the issue of plastic pollution for the community of the North Coast of Rio Grande do Sul. I love going out on field trips, they are incredible opportunities to get to know new places and have lots of stories to tell afterwards. I love to draw and ride my bike with my dog Galgo. Contact email: julia.jacoby.s@gmail.com Instagram: @juliajacobys @avesdapraia #MarineSciences #Microplastics #Seabirds #Shorebirds #MarineBiology #Guests

  • Prezado Reitor, não se faz Oceanografia sem embarcação!

    Por Natasha Travenisk Hoff Não existe Oceanografia sem práticas embarcadas... o que a Reitoria da USP e o governo brasileiro estão fazendo sobre isso? O Brasil conta, hoje, com 14 cursos de Bacharelado em Oceanografia e Oceanologia. Mas, vamos combinar uma coisa? Não se forma uma/um Oceanógrafa/o sem contato com o mar! De acordo, ainda, com as diretrizes do MEC, para se formar um aluno de graduação, é necessário que o mesmo tenha cumprido, ao menos, 100 horas de embarque (um equivalente ao “estágio obrigatório” de outros cursos de graduação). Então, precisamos de bases de pesquisa e/ou embarcações para aprendermos e vivenciarmos a Oceanografia! Com isso em mente, digo que gerir uma instituição com essas necessidades não é o mesmo que gerir um curso de administração, economia e matemática, ou mesmo outros cursos que possuem trabalhos de campo, como geologia e biologia. E, por isso, esse é um texto de dor e revolta pela situação que vivemos hoje... Nós precisamos navegar! Assim, ouso dizer que gerir o curso de Oceanografia da Universidade de São Paulo (USP) não está entre os objetivos da atual gestão da Reitoria da USP... e sabe quem são os principais prejudicados pelos absurdos que vêm ocorrendo? Os alunos de graduação e pós-graduação, que chegam de diversos estados do Brasil em busca de um dos melhores cursos de Bacharelado e Pós-Graduação em Oceanografia do país, e os professores e pesquisadores, que lutam muito para conseguir financiamento para seus projetos de pesquisa e organizar os inúmeros trabalhos de campo para que alunos possam ter a melhor formação nessa área. Mas o que vem acontecendo vai além, afetando e desrespeitando um grupo importantíssimo de funcionários, que tornam todo esse trabalho possível: as tripulações das embarcações! Pois bem... vou explicar. Há um ano, a Reitoria da USP iniciou uma batalha contra as tripulações das embarcações do Instituto Oceanográfico (IOUSP), em especial o B/Pq Alpha Delphini e o N/Oc Alpha Crucis, em função de contratações ditas irregulares realizadas há mais de três décadas. Ou seja, os funcionários recebiam seus salários, impostos e FGTS pela USP, mas a universidade alegou que eles não eram funcionários. Entendo que existem burocracias que não foram atendidas durante todo este período, provavelmente por falta de conhecimento de uma área tão específica por parte da universidade, que tornariam essa transição mais respeitosa e menos prejudicial a todos os envolvidos. Mas não buscar esse conhecimento antes resultou em imposições e prejuízos muito significativos para todos (desde funcionários até estudantes de graduação). Recentemente, foi decidido e homologado que a USP terá que liberar os valores referentes ao Fundo de Garantia, além de pagar danos morais aos tripulantes demitidos de forma desrespeitosa. Mas faltam ainda as verbas rescisórias. Após todo o absurdo, a Reitoria da USP resolveu abrir licitação para um contrato emergencial de seis meses. Para quê? Manter os navios parados no Porto de Santos... Acho que eles não conhecem a expressão "navio parado é só prejuízo"! E o pior: o representante da empresa vencedora para o contrato emergencial chegou a dizer em reunião no IOUSP que veganos e "meninas delicadas" não poderiam embarcar! Oi? Será esse o futuro retrógrado que viveremos? E a coisa não fica melhor: discute-se a possibilidade de doação do B/Pq Alpha Delphini! Um total descaso com o nosso patrimônio, o dinheiro público do estado de São Paulo investido e com todos aqueles que lutaram para que o IOUSP se tornasse referência em Oceanografia no mundo! Precisamos de nossas embarcações, nas quais não é necessário, por exemplo, fazer "gambiarras" para lançar uma garrafa para coleta de água ou um pegador de fundo pois uma traineira não tem guinchos que não sejam voltados à pesca; tripulações treinadas e capacitadas para a pesquisa oceanográfica, comandadas também por profissionais que entendam, e estejam dispostos a aprender que, para fazer um arrasto de pesca, a velocidade da embarcação é diferente de quando se trabalha com um sonar de varredura lateral. Precisamos de um ambiente seguro para pesquisadores e, principalmente, alunos, seja em termos de espaço físico para acomodá-los durante uma demonstração e/ou atividade ou um kit de primeiros socorros para casos de emergência. Precisamos de segurança a bordo, em função do perigo de um assédio, como vemos ocorrer frequentemente, e com grande tristeza, em embarcações da Marinha do Brasil. Está mais do que clara a importância de nossas embarcações, aptas a receberem alunos e realizarem pesquisa de ponta! Vejo tudo isso com muito pesar... embarcar no N/Oc Prof. W. Besnard era o sonho de todos que iniciavam a graduação nos anos 2000. Afinal ele tinha o nome do pioneiro da Oceanografia no Brasil e tinha tornado possível a pesquisa brasileira na Antártica, mas eu estava só em meu primeiro ano quando vimos as cenas dele pegando fogo. Eu vi e vivi este luto e o quanto isso abalava as nossas estruturas... e ele fez muita falta! Até que a luz de Alpha Crucis (a estrela mais brilhante da constelação do Cruzeiro do Sul) reacendeu nossas esperanças e, em 2012, chegou nosso novo navio, para alçar grandes voos para além da zona costeira! Logo em seguida, veio nosso querido Alpha Delphini, que muito tem auxiliado na pesquisa na região costeira e também nas disciplinas de graduação, somando-se ao trabalho intensivo dos barcos Albacora e Veliger II. São muitas as pessoas que tiveram suas vidas alteradas ao embarcarem pela primeira vez e se apaixonarem de vez pela profissão que escolheram. Eu fui uma delas... e acho que todos se apaixonariam pelo famoso "azul da cor do mar" além da isóbata de 200 m... São muitas as pessoas que se dedicaram para que essas embarcações chegassem até nós (sejam da diretoria, funcionários técnicos e administrativos, tripulações, entre outros) e servissem com tanta presteza ao ensino e à pesquisa. E já se somam duas turmas que iniciaram a graduação e não tiveram a oportunidade de embarcar, fora os que já estavam na graduação e estão enfrentando dificuldades para cumprir suas horas de embarque obrigatórias... Não falo aqui apenas das enormes estruturas metálicas paradas, falo também de pessoas... pessoas prejudicadas em todas as instâncias por uma Reitoria que rema sem saber como remar! Infelizmente, esse não é um caso isolado: no dia 29 de abril, a Associação Brasileira de Oceanografia (AOCEANO) tornou pública uma "Carta aberta à comunidade acadêmica das Ciências do Mar", escrita pelos integrantes do Conselho Gestor Nacional dos Laboratórios de Ensino Flutuantes (CGN/LEF), que denuncia o descaso do governo federal com a manutenção dos quatro LEFs, denominados Ciências do Mar e mantidos pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), um projeto de construção que levou mais de uma década. O governo suspendeu os embarques, achando que isso o exime de outros cuidados com as embarcações. Foram mais de R$ 100 milhões de reais investidos até 2023 para que os navios estejam, hoje, diante de uma rápida deterioração de equipamentos, cascos e motores, por conta da falta de manutenção, comprometendo a formação de recursos humanos nas Ciências do Mar e a capacitação de profissionais em início de carreira, algo em torno de 2.500 estudantes de 47 instituições de ensino do Brasil. Deveríamos estar vivenciando a Década do Oceano, mostrando a importância do Oceano para a sobrevivência humana na Terra, seja como recurso, na manutenção climática do sistema terrestre, para os meios de transporte de longa distância e alimentação, gerando dados e informações importantes na compreensão dos processos que ocorrem no Oceano, e formando mão de obra qualificada para atuar no ensino, na pesquisa ou em empresas. Mas, ao invés disso, o que estamos fazendo? Passando vergonha... até quando seremos um país que não conhece nem valoriza os serviços prestados pelo Oceano? Obs.: Esse texto é também uma homenagem e mensagem de gratidão às tripulações dos barcos Albacora, Veliger II, Alpha Delphini e Alpha Crucis, que, juntamente com o trabalho dos docentes e técnicos, tornaram possível um aprendizado enorme de vida e me tornaram a profissional que sou hoje! Sobre a autora: Oceanógrafa, mestre e doutora em Oceanografia, na área de concentração Oceanografia Biológica, pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), com período sanduíche em Portugal, no CIIMAR (Universidade do Porto). Atualmente, é pesquisadora de Pós-Doutorado no IOUSP e editora voluntária do Bate-Papo com Netuno. A Oceanografia entrou em sua vida muito cedo, quando tinha apenas 12 anos. Desde então, sua curiosidade a leva para novos e diferentes caminhos a cada nova empreitada. Acredita que o diferencial da Oceanografia é justamente a multidisciplinaridade. Assim, tem experiência com análises climatológicas, química inorgânica de sedimentos, unidades de conservação, integridade biótica da ictiofauna, estoques pesqueiros, análises morfométricas, otólitos e, desde 2021, entrou no mundo da paleoecologia! #Embarcações #Oceanografia #Oceanologia #Denúncia #Descaso #Assédio #MulheresEmbarcadas #DécadaDoOceano *Todas as imagens deste post são de autoria de Natasha Travenisk Hoff

  • Smile, you’re on camera, reef!

    By Carolina D. Teixeira English edit by Carla Elliff *post originally published in Portuguese on March 18, 2021 Many here may have already heard that reefs are ecosystems with rich biodiversity and that they provide highly relevant ecosystem services, such as the mineralization of calcium carbonate, the provision of fishing resources and the protection of coastlines. Not to mention their immense tourist potential! The largest and richest reefs in the South Atlantic, the Abrolhos reefs, are located in southern Bahia and northern Espírito Santo. They are the only ones, in the whole world, that form the so-called “chapeirões”, which consist of mushroom-shaped reef structures with steep shaded walls and laterally expanded and well-lit tops. These huge reef columns are built by coralline algae, bryozoans and corals, reaching more than 20 meters deep and 50 meters in diameter. Aiming to conserve part of this unique ecosystem, the Abrolhos National Marine Park was created in 1983, and was the first of its kind in Brazil. However, the region as a whole constantly suffers from misuse of the coastal zone, including dredging near reefs, deforestation and uncontrolled urbanization. The Abrolhos reefs have also been deeply impacted by climate change, as I showed in my scientific initiation work, and suffer from poor fishing management. The National Park, despite being very important, is not enough to control this flood of threats! Given this context, long-term studies are essential to guide managers and other actors responsible for managing sea resources. Since 2006, scientists from different universities in Brazil, gathered in a network called Rede Abrolhos and have been monitoring the region through sampling inside and outside the National Park, and in places more or less impacted by activities in the coastal zone. My master's work involved analyzing data from the effort undertaken between 2006 and 2018, as part of CNPq's Long-Term Ecological Research Program. Using this database, I sought to answer three central questions: 1) how has benthic cover changed over the years?; 2) was there a change in dominance in any specific site and/or habitat?; 3) how do the life histories of the most abundant species influence community dynamics? To answer these questions, we chose five reefs, three of them close to the coast (coastal reefs) and two further away (external reefs). The coastal sites included the Pedra de Leste and Sebastião Gomes reefs, where the waters are naturally more turbid, with Sebastião Gomes also receiving sediment from a dredging operation from a navigation channel used to transport logs. Recife das Timbebas, also coastal, occurs in a coastal area less subjected to sedimentation and partially protected by the National Park. The two reefs monitored in Parcel dos Abrolhos, more than 60 km away from the coast (see the map below to locate the area), are located in the least turbid and most emblematic and protected area of the National Park. A: Map of the study area and the sampling points located on the different reefs (TIMB = Timbebas, PLES = Pedra de Leste, SGOM = Sebastião Gomes, PAB = Parcel dos Abrolhos). Turbidity values (Kd490) refer to 2018 winter averages; B and C: aerial view of the outer and coastal reefs, respectively. The boat present in B and C measures 15 meters. Source: Rede Abrolhos, CC BY SA 4.0 license. In the first year of the project (2006) - when I was still in the 6th year of elementary school and my advisor was a young PhD - metal pins were placed in the reefs, in order to allow the exact same plots to be re-sampled throughout time. And, 15 years later, they are still there! PVC structures with 15 subdivisions are fitted to these pins, which are photographed individually. This method is known as photo-square, and each reef has 20 fixed points that allow us to generate 300 standardized photos each year. At the end of the work, I analyzed around 16 thousand images! Photo-square divided into subplots (A); quantification of benthos using the photo-square method at the top (B); quantification of benthos using the photo-square method on the wall (C). Source: Rede Abrolhos, CC BY SA 4.0 license. In general, the Abrolhos reefs maintained a relatively stable coral cover, without a regional decline that could characterize the process known as “phase shift”, that is, without the massive replacement of corals by other organisms that do not build reefs, such as macroalgae. Fluctuations in coral cover were mainly linked to positive thermal anomaly events, when the measured temperature is higher than the region's average temperature over the years. However, in Sebastião Gomes, the site closest to the dredging disposal area, fast-growing non-building organisms overcame the corals, with emphasis on the zoanthid Palythoa caribaeorum, popularly known as “baba-de-boi” in Brazil. The smallest temporal variation was observed on the tops of the National Park's chapeirões and on the walls of the coastal reefs, a trend that may be related to the life history of the dominant organisms in these locations, which include corals known to be more tolerant to environmental fluctuations, such as the Montastraea cavernosa. Montastrea cavernosa, the most abundant coral on the Abrolhos reefs. Source: Rede Abrolhos, CC BY SA 4.0 license. Although we have not identified a decline in coral cover on a regional scale, we have enough evidence to assume that reef cover will not remain stable for much longer. Stressors continue to intensify and thermal anomalies are becoming increasingly frequent. Our work, carried out by many hands (there are 14 co-authors from 5 different universities), clearly shows that controlling local stressors that contribute to reef deterioration must be prioritized, especially since reversal and restoration tend to become increasingly difficult and expensive as degradation increases. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- About the author Carolina D’Ornellas Teixeira is from Rio, with a degree in Marine Biology from UFRJ and a master’s degree in Ecology, also from UFRJ. She became interested in the world of corals as an undergraduate when she studied the mass bleaching caused by thermal anomalies from 2015-2017. She currently works at the Biodiversity Assessment and Monitoring Laboratory (SAGE-COPPE), at UFRJ, where she works within the scope of PELD Abrolhos. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Suggested reading Our research has already been published and can be accessed at: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0247111. The history of degradation in the Abrolhos region can be found at: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0247111.s002. To learn about the other work of the Abrolhos Network, follow us on social media or visit our website: http://abrolhos.org/. #BatePapoComNetuno #RedeAbrolhos #MarineScience #Reefs #Coral #Abrolhos #EnvironmentalMonitoring #Oceanography #MarineBiology

  • Glocal Experience - Rio

    No dia 23/11/2023 nossa editora Jana del Favero participou do painel “Educação Azul” que ocorreu durante o Glocal Experience na Marina da Glória, no Rio de Janeiro. O painel foi mediado pelo Ricardo Gomes, do Instituto Mar Urbano e contou com a presença da Prof. Dra Carmem Pazoto apresentando os resultados da sua tese de doutorado que comprovou que a temática do oceano não está presente nas escolas do Brasil (nós temos um post dela sobre o assunto aqui), e também da Prof. Dra Andrezza Gozzo (UNIFESP) que apresentou o Programa Maré de Ciência e o Selo Escola Azul da UNESCO, iniciativas que buscam inserir conhecimentos oceânicos nos espaços formais de educação.  Nossa editora falou sobre a importância das iniciativas não formais de educação, como o próprio Bate-papo com Netuno, na disseminação da cultura oceânica. Jana del Favero e Andrezza Gozzo durante suas apresentações no Painel "Educação Azul". Fotos cedidas por Jana com licença CC BY NC-ND #NetuniandoPorAí #JanaMdelFavero

  • Então é Natal, vamos celebrar a vida sem plástico?

    Por Débora Camacho Luz e Malu Abieri Ilustração de Maria Luiza Abieri Então é Natal e uma “tsunami de plástico” vem aí, é o que apontou a ONU em 2018¹, e apesar de não termos dados específicos para o Brasil, é o que podemos esperar nas festas de final de ano. Desde a embalagem da lembrancinha do amigo oculto, até aos enfeites de natal, passando pela ceia, tudo aponta que o consumo e descarte de resíduos nessa época do ano tende a aumentar. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados, um dos setores que mais consome plástico no Brasil², em 2021, o aumento no consumo das famílias brasileiras no mês de dezembro foi de 20%. Uma coisa é certa, reduzir o consumo é a forma mais eficaz de evitar que toneladas de resíduos plásticos parem no oceano e consumir conscientemente reduz o desperdício. No entanto, conscientizar 8 bilhões de pessoas, com diferentes culturas e em diferentes lugares do planeta não é uma tarefa simples, há toda uma estrutura econômica e cultural a ser modificada. É necessário, portanto, que movimentos sejam realizados em termos de regulamentações e acordos internacionais. O Tratado Global Contra a Poluição Plástica, por exemplo, que foi nosso tema no mês de junho, tem como objetivo transformar a economia global do plástico em um período bastante rápido. Além disso, no Brasil, um projeto de lei  (PL 2524/2022) está em votação para regulamentar a Economia Circular do Plástico³. Estas regulamentações, por mais ambiciosas que sejam, no entanto, levarão certo tempo até mostrarem resultados efetivos. Segundo a Natalia Grilli, membro da Liga das Mulheres pelo Oceano e que esteve acompanhando as negociações do Tratado Global desde o começo, um dos maiores desafios atualmente é justamente cumprir o prazo estipulado para finalização do tratado. Além disso, conflitos de interesse de diversos países podem tornar o tratado pouco eficiente na redução da produção de plástico, medida que daria um retorno mais rápido para a solução do problema. Esperar que apenas projetos de leis e regulamentações tratem somente do resíduos plástico, no entanto, não será viável. Diante destes desafios e do eminente aumento no descarte de lixo plástico que se aproxima com as festas de final de ano, vale a reflexão: Será que é possível promover uma mudança positiva desde já? Eu pessoalmente acredito muito no trabalho de formiguinha e que as grandes mudanças começam em pequenas escalas. Então, diria que sim, que pequenas mudanças de hábitos iniciados no núcleo familiar, na roda de amigos ou na comunidade, tendem a tomar grandes proporções que geram também grandes impactos positivos. Diante disso listo abaixo algumas dicas para que façamos das festas de final de ano uma verdadeira celebração da vida: Sabe aquela velha tradição, que é amada e odiada por muitos, e está sempre presente nas festas de final de ano da firma? Sim, ele mesmo, o Amigo Oculto! Que tal inovar na lembrancinha buscando marcas de impacto positivo, de trabalhos artesanais e feito por mulheres, com matéria prima sustentável? Um produtinho de beleza em barra e/ou zero plástico, uma ecobag estilosa, uma garrafinha reutilizável prática,  por exemplo. Como consequência você ainda pode apresentar um produto legal e promover uma mudança de hábito de longo prazo de seu amigo, eu diria que isso seria o maior presente! Ainda na onda dos presentes, vamos às crianças e seus olhinhos brilhando ao receber um pacote com um objeto ainda desconhecido dentro. Se por um lado essas datas são bastante criticadas por incentivar um consumismo insalubre nos pequenos, por outro, podemos resignificar e aproveitar a “magia” para promover a descoberta de novos mundos. Então que tal investir em presentes criativos, que promovam experiências sensoriais e convidem as crianças a interagir com a natureza, e claro, sem plástico? Mas não é só de presentes que se vive as “tradições de final de ano”, reunir a família e os amigos numa mesa cheia de comidinhas gostosas é, para muitos, a parte mais prazerosa das festas. E é justamente na mesa que a geração de plástico está mais presente, em especial os maiores vilões, o plástico de uso único. Nesse sentido é essencial fugir dos copinhos, pratinhos e talheres descartáveis, e isso não for possível buscar aqueles feitos de papel (compostável), madeira ou bambu. Aliás, um kit festa reutilizável, com pratinho, copo, talheres e canudos parece uma ótima opção de presente. Não? O exagero na quantidade de comida também é um problema comum, especialmente em nossa cultura, isso no entanto além de gerar o desperdício de alimento, também é uma fonte real na produção de plástico. Saber dosar as quantidades é essencial, mas além disso também vale evitar o consumo de processados e embalados e optar por alimentos naturais. E os enfeites? Essa fonte de plástico quase passa despercebida! Mas a  dica aqui é usar mesmo a criatividade, procurar enfeites reutilizáveis, de materiais naturais e feitos de forma artesanal é uma ótima alternativa para quem gosta de ter a casa decorada para receber o pessoal. Quem sabe não pode se tornar uma atividade pré festividades reunir a família para produzir os enfeites em casa? Por último, uma dica para quem está buscando novas fontes de renda ou simplesmente quer ajudar a resolver questões como essa. Que tal olhar para tudo isso como oportunidade de criar produtos e oferecer serviços que tragam soluções a estes problemas e impactem positivamente na sociedade? As dicas são simples e mostram que, de forma criativa e com muito cuidado, é possível mudar o hábitos e impactar nossa rede. De pouco em pouco podemos espalhar essas sementinhas e fazer muito. Então aproveitem suas festas sem plásticos e celebrem todas as formas de vida! Esse post foi produzido por uma parceria entre: Liga das Mulheres pelo Oceano, Bate-papo com Netuno e Rede Ressoa Oceano. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Autoras: Débora Camacho Luz Débora Camacho Luz é Bióloga, formada pela Universidade Federal de Rio Grande (FURG), membro da Liga das Mulheres Pelo Oceano e bolsista CNPq DTI na Rede Ressoa Oceano. A Ressoa Oceano é uma rede formada pela Liga das Mulheres Pelo Oceano, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da UNICAMP (LabJor), a Cátedra da Unesco pela Sustentabilidade do Oceano e a Ilha do Conhecimento. Essa rede tem como objetivo promover a ciência e a cultura oceânica para além do litoral e centros de pesquisa, conectando cientistas e jornalistas para a abordagem do tema nos meios de comunicação e investindo em projetos e iniciativas de comunicação sobre o oceano. Maria Luiza Abieri Maria Luiza Abieri é Bióloga e Mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, atua como colaboradora do Bate-Papo com Netuno e bolsista CNPq na Rede Ressoa Oceano. A inserção do Bate-Papo com Netuno à Ressoa Oceano amplia ainda mais a rede, promovendo a divulgação científica e a visibilidade das ciências do mar e cultura oceânica através de informações científicas de qualidade, baseadas em uma linguagem acessível e lúdica. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Referências | Para saber mais ¹https://brasil.un.org/pt-br/81942-onu-alerta-para-ressaca-de-pl%C3%A1stico-descart%C3%A1vel-no-natal-e-ano-novo ² https://www.abras.com.br/economia-e-pesquisa/consumo-nos-lares/historico ³https://brasil.oceana.org/comunicados/campanha-pare-o-tsunami-de-plastico-impulsiona-projeto-de-lei-que-reduzira-poluicao/ https://oeco.org.br/colunas/por-dentro-dos-bastidores-do-tratado-global-contra-poluicao-plastica-estamos-mesmo-no-meio-do-caminho/ https://www.mulherespelosoceanos.com.br/post/polui%C3%A7%C3%A3o-por-pl%C3%A1sticos-os-desafios-para-fechar-essa-torneira #natalsemplastico #entaoenatal #menosplastico #mundosemplastico #ressoaoceano #ligadasmulherespelooceano #batepapocomnetuno

  • Produção científica traz visibilidade aos assédios em embarcações

    Quem acompanha o Bate-Papo com Netuno já deve ter visto posts e materiais que produzimos sobre assédio nas ciências do mar. Hoje, temos o maior orgulho de compartilhar nosso artigo, co-autorado por diversas integrantes da equipe, com dados científicos do primeiro levantamento sobre assédio em embarcações no Brasil: "Harassment and bullying aboard: Impacts of gender inequality on ocean professionals" Confira abaixo o press release produzido pela Agência Bori e, ao final, links para outros materiais no nosso site! Boas leituras e bora transformar essa realidade! Quatro em cada cinco mulheres sofrem assédio ao estudar ou trabalhar em embarcações, revela pesquisa Highlights ● Pesquisa sobre assédio sexual ou moral aplicou questionário online em 2021 a 260 trabalhadores de embarcações no Brasil ● Assédio sexual é mais frequente entre mulheres: são 35% casos contra 6% casos relatados por homens ● Denúncias de abuso a autoridades aconteceram em 18% dos casos sofridos por mulheres e em 12% dos casos sofridos por homens Três em cada quatro trabalhadores (75%) de embarcações no Brasil já sofreram assédio moral ou sexual no ambiente de trabalho. Os casos mais frequentes — quatro em cada cinco — ocorrem com mulheres de 25 a 40 anos de idade em início de carreira e envolvem piadas sexistas e discriminatórias, segundo revelam depoimentos reunidos por pesquisadoras da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e instituições parceiras. A análise das práticas de assédio está descrita em artigo publicado na segunda (4) na revista científica “Marine Policy”. Por meio de questionário online aplicado em 2021, as pesquisadoras tiveram acesso a relatos de 260 participantes, 197 mulheres e duas pessoas não-binárias. Os resultados indicam que 82% (161) das mulheres respondentes já sofreram assédio nas embarcações. Entre elas, houve 56 relatos de abuso sexual. De 60 homens participantes, 32 relataram terem sido vítimas de assédio, com somente 2 casos de abuso sexual. Um dado relevante é o perfil típico do agressor: homens em posição hierárquica superior à da vítima, independentemente de seu gênero. Os dados mostram, ainda, que boa parte das vítimas não denuncia os abusos sofridos. Somente 18% das mulheres e 12% dos homens assediados relataram o abuso às autoridades. Para Catarina Marcolin, pesquisadora da UFSB e autora do artigo, os resultados do estudo mostram que o assédio a mulheres tem contornos de natureza sexual, enquanto os homens vivenciam mais o assédio moral. Os números da pesquisa, produzida exclusivamente por mulheres, surpreenderam a equipe de cientistas. “Nós já imaginávamos que as mulheres deveriam sofrer mais assédio do que os homens, pois vivemos em uma sociedade estruturalmente machista, mas não pensávamos que os números seriam tão altos”, explica Marcolin. Entre os vários impactos do assédio, os participantes listaram sintomas físicos, como falta de energia, insônia, tensão muscular e dores de cabeça. Psicologicamente, destacaram raiva, insegurança, sentimento de impotência e falta de motivação. “Um ponto que vale ser ressaltado é que faltam canais de comunicação eficazes para denúncias e equacionamento de problemas”, revela a autora. A situação de violência se agrava por conta do confinamento próprio ao trabalho em embarcações, em que os indivíduos passam dias sem acesso à internet ou outras formas de contato com o mundo exterior. “Se acontece alguma situação naquele ambiente, você não tem para onde fugir, não tem como voltar para casa, a não ser que seja um episódio extremo”, explica Marcolin. Para a pesquisadora este cenário transforma a pesquisa das ciências ambientais e marítimas em um ambiente hostil às mulheres, o que requer ações urgentes de conscientização sobre a violência para que ela não seja naturalizada. “Precisamos falar sobre o assunto e definir muito bem o que é assédio, em primeiro lugar, para que as pessoas reconheçam que estão assediando ou que estão sendo assediadas”, conclui. Coleção: Ressoa Oceano Fonte: Agência Bori Para saber mais do assunto, acesse nossa área temática no site: https://www.batepapocomnetuno.com/assedio #EmbarqueSemAssédio #MulheresNaCiência #Assédio #Dados

bottom of page