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- “E o que eu tenho a ver com o oceano?” perguntou a menina que morava a 700 km do mar
Por Maria Luiza R Coutinho Ilustração de Joana Dias Ho . Nasci a 700 km do mar, no interior de Pernambuco e, frequentemente, me perguntava o que eu, ali distante, tinha a ver com o oceano (e o oceano comigo). Mesmo assim, como sou apaixonada pela multidisciplinaridade, resolvi cursar oceanografia. Então, esse post é para você que ainda não entendeu que o oceano influencia a vida de todas as pessoas, independentemente da distância que você esteja dele. Comecemos pelo mais simples: o ciclo da água. Esse ciclo se caracteriza como a troca contínua de água entre a atmosfera, as águas subterrâneas (aquíferos), águas superficiais (rios, lagos, açudes, o oceano ) e as plantas. Dessa maneira, as águas que caem das chuvas no interior dos continentes são transportadas pelos rios até o oceano. E sabe o que mais vai parar no oceano? Tudo (ou quase tudo) que tem na água do rio. Desde nutrientes importantes para a produtividade marinha, até contaminantes, que podem pôr em risco a vida dos organismos. Esquema do ciclo hidrológico. Fonte: Maria Luiza R Coutinho/CC BY 4.0 Assim, entendendo essa conexão, fica mais claro que ao poluir as águas no interior do continente, elas chegarão em algum momento no litoral, poluindo o oceano. Da mesma forma, a evaporação constante de água do oceano é a principal causa das chuvas em todo o planeta, inclusive das chuvas no sertão. Sabia que a principal origem das chuvas que caem no sertão nordestino é formada nas chamadas “piscinas quentes do Atlântico Norte”? Esse fenômeno acontece a partir da água do oceano que evapora e viaja pela atmosfera. Quando chega no hemisfério sul, este “rio voador” se encontra com nuvens de poeira vindas do Deserto do Saara e, então, formam nuvens que precipitam no final do verão lá no sertão. Quem diria que o Deserto do Saara teria esse papel fundamental nas chuvas do nosso país?! Mas você pode se perguntar "Por que a água da chuva não é salgada se vem do mar?”. Vamos lá... Durante a evaporação somente a molécula da água (H2O) participa do processo, e os sais (como o cloreto de sódio - NaCl e os muitos outros tipos de sais presentes na água do mar), não. Uma das razões principais para isso é que o ponto de ebulição da água é 100°C, já o do cloreto de sódio é aproximadamente, 1000°C, ou seja, 10x maior!!! Juntando essa propriedade físico-química da água e dos sais a outros fatores como velocidade das moléculas, pressão, vento, superfície de contato, concentração de substâncias etc. , temos nosso mar de água salgada e nossa chuva de água doce! Outro fato importante é que o oceano é um grande reservatório de calor do planeta Terra. Isso se dá por uma característica física da molécula de água: o calor específico, que é a quantidade de calor necessária para que um grama de uma substância sofra a variação de temperatura de 1°C. Como exemplo, vamos pensar de novo no Deserto do Saara, que possui altas temperaturas durante o dia e baixíssimas, durante a noite. Tal fenômeno faz com que a vida no Saara seja escassa. Mas sabe qual o motivo disso? O Saara possui 9 milhões de m2 de extensão e são, aproximadamente, 150 m de profundidade de areia. A areia é caracterizada por ter baixo calor específico (0,2 cal/g.°C), o que lhe atribui a característica de baixa capacidade de armazenar calor e faz com que ela sofra drásticas mudanças de temperatura rapidamente (saindo de 60°C para -40°C em algumas horas, como acontece lá no nosso exemplo). Já a água, devido ao alto calor específico (1 cal/g.°C), limita as mudanças severas de temperatura. Um exemplo disso, seria a comparação entre o clima típico de um mês de maio na cidade do Recife e a de Caruaru, ambas cidades de Pernambuco e que ficam a 133 km de distância. Entre o dia (29ºC) e a noite (27°C) em Recife, não há grandes variações na temperatura, isso se dá porque a cidade é litorânea, e o oceano age como um armazenador de calor. Já Caruaru, que está distante do oceano, tem muito mais superfície de areia (que possui baixo calor específico), fazendo com que haja mudanças significativas na temperatura entre dia (29°C) e noite (21°C). Além disso, não podemos esquecer que quase metade do oxigênio do planeta é produzida por microalgas e cianobactérias que vivem no oceano. Confira na imagem abaixo os pequenos organismos responsáveis pelo ar que respiramos! Microalgas produtoras de oxigênio. Fonte: Alexander Klepnev/CC BY 4.0 Com isso, podemos afirmar que o oceano auxilia a regular o clima da Terra, absorvendo calor nas regiões próximas ao Equador e transportando para as altas latitudes (se quiser saber mais sobre este processo, veja o post sobre Circulação Termohalina ), e fornece oxigênio ao planeta, tornando possível diferentes formas de vida como nos exemplos citados acima. Imagine que, sem o oceano, a Terra seria um imenso deserto… Esses são apenas alguns exemplos de como o oceano aparece nas nossas vidas, mesmo se estamos distantes do litoral. Você consegue pensar em mais alguma forma sobre como o oceano influencia você? Conta pra gente e aproveite muito esse Dia Mundial do Oceano para entender e disseminar a importância dele! E sempre lembrando: o oceano é responsabilidade de todos nós! #CiênciasDoMar #MariaLuizaRCoutinho #CulturaOceânica #ImportânciaDoOceano #RegulaçãoDoClima #CicloDaÁgua #InteraçãoOceanoAtmosfera
- XXXIII Semana Nacional de Oceanografia
Entre os dias 08 a 14 de outubro de 2023 aconteceu a XXXIII Semana Nacional de Oceanografia (SNO) no campus Recife da Universidade Federal de Pernambuco. O evento é tradicionalmente organizado por discentes de cursos de oceanografia, sendo o maior de caráter anual das ciências do mar e ocorreu pela primeira vez em Pernambuco, abordando a temática “DA LAMA AO CORAL: desafios socioambientais dos ecossistemas marinhos tropicais”. Durante o evento, foram discutidos diversos assuntos acerca da oceanografia enfatizando a Oceanografia Socioambiental, sub-área ainda em discussão e consolidação. No dia 11 de outubro de 2023, aconteceu o Encontro de Divulgadores das Ciências do Mar , o qual o Bate-Papo com Netuno organizou juntamente com a comissão do evento. A Maria Luiza Coutinho, integrante da equipe, além de mediar a mesa, também apresentou o BPCN. A mesa foi formada por Maria Luiza Coutinho, Bárbara Pinheiro, Cláudia Cunha e Marcela Cintra e discutiu sobre a atuação e horizontalidade da divulgação das ciências do mar. Mesa do Encontro de Divulgadores das Ciências do Mar na XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Fonte: Acervo fotográfico da XXXIII SNO com licença CC BY NC-ND. Mesa do Encontro de Divulgadores das Ciências do Mar na XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Fonte: Acervo fotográfico da XXXIII SNO com licença CC BY NC-ND. Além disso, no dia 12 de outubro de 2023, Maria Luiza Coutinho também apresentou na versão banner o trabalho intitulado “Bate-Papo com Netuno: uma plataforma de divulgação das ciências do mar com oito anos de sucesso” na seção Ensino e Extensão das Ciências do Mar. No trabalho, destacamos as principais metodologias aplicadas para o gerenciamento e organização da equipe do BPCN para que se mantivesse durante tantos anos. Maria Luiza R Coutinho, colaboradora do Bate-papo com Netuno, apresentando na sessão pôster Ensino e Extensão das Ciências do Mar da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Fonte: Maria Luiza R Coutinho com licença CC BY NC-ND. #SemanaNacionalDeOceanografia #MariaLuizaRCoutinho #DivugaçãoDasCiênciasDoMar #NetuniandoPorAí
- Pesca Fantasma e Empreendedorismo Feminino: de grave problema do mar à oportunidade
Por Malu Abieri e Debora Camacho Ilustração de Maria Luiza Abieri Pesca fantasma parece algo bastante assustador, não é mesmo? E é! Não envolve nada de sobrenatural, mas diversos seres marinhos acabam mutilados, presos e até afogados por objetos que, na maioria das vezes, não estão vendo. A Pesca Fantasma envolve petrechos de pesca (instrumentos como redes, anzóis e espinhéis), que foram abandonados ou perdidos pelos pescadores, e que continuam capturando os animais marinhos mesmo sem a intenção, por isso “fantasma”. Anualmente, estima-se que 25 milhões de animais são afetados pela pesca fantasma na costa do Brasil (clique aqui para saber mais do estudo Maré Fantasma ). Além da pesca acidental, este problema também afeta economicamente as comunidades pesqueiras e termina por liberar microplásticos no oceano (quer saber mais sobre a pesca fantasma e suas consequências clique aqui ). Mas e o que a Pesca Fantasma e o Empreendedorismo Feminino têm a ver entre si? Como aconteceu essa “captura”? Empreender, palavra com origem no francês “entreprendre”, significa “assumir empreitada que exige esforço e muito empenho”¹. Palavras como empreendedor e empreendedorismo estão na moda, sobretudo após a pandemia de COVID-19, onde muitas pessoas precisaram se reinventar para sobreviver ou simplesmente encontraram uma oportunidade de gerar uma renda extra em tempos de tantas incertezas. O empreendedorismo feminino estimula o protagonismo de mulheres na idealização, criação e liderança nos negócios. O que contribui para uma maior participação de mulheres no mercado de trabalho, estimuladas também pelo sentimento de sororidade (cooperação e acolhimento entre mulheres) e redução da desigualdade de gênero. E foi neste cenário que o casal de oceanógrafos, Bia Mattiuzzo e o seu companheiro, Lucas Gonçalves, idealizaram a empresa Marulho na Ilha Grande, em Angra dos Reis/RJ. Conversamos com a Bia para entender quais os caminhos percorridos, quais os desafios enfrentados, dicas para mulheres que querem apostar em um novo empreendimento e, principalmente, dificuldades pessoais encontradas por ela, por ser uma mulher jovem em um meio dominado pelos homens, como o mar e a pesca. Bia e Lucas, fundadores da Marulho na Ilha Grande - Angra dos Reis/RJ. Imagem cedida por: Bia Mattiuzzo. Bia nos contou que não teve um “clique” para criação da Marulho, mas sim que foi um processo. Formada em oceanografia pela USP e mestre em Práticas de Desenvolvimento Sustentável, Bia trabalhou como voluntária fora do Brasil e acabou na Ilha Grande no Rio de Janeiro como instrutora de mergulho em um trabalho temporário, onde foi cativada pela comunidade local e viu que ali seus conhecimentos científicos poderiam ser mais úteis. Ao se aproximar das comunidades caiçaras (tradicionais) da Ilha, percebeu a dimensão da realidade paradoxal, de um lado um local paradisíaco com forte turismo náutico de luxo e do outro uma comunidade caiçara vulnerabilizada com grandes problemas sociais e ambientais, como resíduos gerados pela pesca e prejuízos da pesca fantasma. Ela nos conta que durante os meses que passou por lá, via se acumular redes de pesca deixadas por grandes barcos. Acompanhando essa realidade, Bia e Lucas, desejavam viajar pela costa brasileira conhecendo mais de perto as realidades das comunidades costeiras, buscando por informações e soluções para esse acúmulo de plástico da pesca e outras questões socioambientais. Porém seus planos foram interrompidos em 2020 pelo início da pandemia de covid-19 que não só prejudicaram sua viagem, como agravaram problemas econômicos de comunidades em locais tão dependentes do turismo, como a Ilha Grande. Bia e Lucas viram então a OPORTUNIDADE. Criada em uma comunidade de pescadores artesanais na Ilha Grande, a Marulho viu nas redes de pesca abandonadas e no conhecimento dos pescadores locais uma oportunidade de gerar lucro, resolver um problema ambiental grave e ainda gerar impacto positivo para a comunidade, fosse através da geração de renda ou da divulgação do conhecimento. Em seu início, a empresa contou com a ajuda e apoio do Seu Filinho, pescador e redeiro caiçara de 83 anos, que usava seu conhecimento tradicional para entrelaçar as redes de pesca descartadas, confeccionando saquinhos para serem vendidos nas pousadas da Ilha. Dona Edemeia e Seu Filinho, figuras tão importantes para o sucesso da Marulho. Imagem cedida por: Bia Mattiuzzo. No começo a empreendedora conta que teve muita dificuldade para conseguir acessar novos parceiros, muito disso pelo fato de ser mulher, uma vez que a costura das redes nas comunidades pesqueiras é tradicionalmente realizada por homens. Buscando um empoderamento feminino na comunidade, há tanto tempo marcada por um sistema machista, o casal optou por tornar Bia líder nas questões de parcerias da Marulho, enquanto o Lucas seria responsável pelas questões administrativas e contábeis. A “cara” da Marulho se tornou a Bia, que passou a ir às reuniões sozinha e fazer as negociações, conquistando a confiança da comunidade. Ao deixar os materiais para produção nas casas dos pescadores, permitia que os mesmos produzissem em seu tempo e espaço. Assim, também pode conhecer mais de perto a realidade das famílias, passaram a relatar que em algumas as mulheres passaram a ajudar na produção.. Aos poucos as mulheres da comunidade passaram a ter mais espaço na confecção dos produtos, estimuladas cada vez mais pela própria Bia (olha aí a tal da sororidade). Criaram então mais produtos que envolvessem a produção feita por mãos de mulheres, como os saquinhos de algodão e as sacolas de algodão e rede de pesca. Esse último sendo uma parceria entre as costureiras e os redeiros. Atualmente, a Marulho conta com 17 colaboradores(as) na confecção de produtos, sendo a metade mulheres. Bom, se “Marulho” quer dizer, tecnicamente, barulho do mar, Bia e Luca estão conseguindo gerar muitos marulhos: “Transformando redes de pesca em novos produtos, evitando a pesca fantasma, JUNTO às comunidades costeiras”. É através dessa pegada, atrelado a um outro lado da Marulho que é a divulgação científica, que eles têm aproximado pessoas do Oceano. “É uma coisa que eu prezo muito dentro da Marulho, unir o saber das comunidades tradicionais e o saber mais acadêmico e científico. E levar, nem que seja por meio das telas, para pessoas que estejam em outros cantos”. A empresa já realizou diversas oficinas lúdicas para costura da rede de pesca e desenvolvimento de novos produtos, além da valorização do saber e dos conhecimentos caiçaras e conscientização sobre a pesca fantasma. Para impulsionar a empresa, o casal realizou cursos e “acelerações” como o Sebrae Impacta e a Ago Social , ambos voltados para negócios de impacto. Além de muitos vídeos em plataformas gratuitas, como o youtube. O empreendedorismo não é romântico, porém esse processo é importante para crescer. Um grande conselho que a Bia dá para quem está começando essa empreitada é: nada se faz sozinha! Busque conhecimento! E defina papéis, sem tentar dominar o espaço do outro. Seja por cursos (gratuitos ou pagos), plataformas gratuitas e/ou redes de contato ( Networking ). As empresas de impacto positivo costumam ser muito colaborativas e têm grande retorno para ajudar. Ser empreendedor ------------por si só já é um desafio, mas empreendedorismo feminino e com impacto é algo muito maior. “A maré enchente ergue todos os barcos” (“ The rising tide lift all boats ”), o sucesso da Marulho trouxe benefícios e sucesso para muitas pessoas da comunidade envolvida além de ganhos ambientais (redução da pesca fantasma e devido descarte do plástico). Esse texto foi produzido em parceria com o projeto Rede Ressoa Oceano, Liga das Mulheres pelo Oceano e Bate-Papo com Netuno. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Sobre a entrevistada Bia Mattiuzzo ou Bia “da Marulho” é a Fundadora e faz-tudo da empresa Marulho. Formada em Oceanografia na Universidade de São Paulo - USP trabalhando com bioacústica de cetáceos e mestre em Práticas de Desenvolvimento Sustentável pela UFRRJ onde avaliou o impacto socioambiental da Marulho, além de instrutora de mergulho autônomo NAUI. Sobre as autoras Débora Camacho Luz é Bióloga, formada pela Universidade Federal de Rio Grande (FURG), membro da Liga das Mulheres Pelo Oceano e bolsista CNPq DTI na Rede Ressoa Oceano. A Ressoa Oceano é uma rede formada pela Liga das Mulheres Pelo Oceano, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da UNICAMP (LabJor), a Cátedra da Unesco pela Sustentabilidade do Oceano e a Ilha do Conhecimento. Essa rede tem como objetivo promover a ciência e a cultura oceânica para além do litoral e centros de pesquisa, conectando cientistas e jornalistas para a abordagem do tema nos meios de comunicação e investindo em projetos e iniciativas de comunicação sobre o oceano. Maria Luiza Abieri é Bióloga e Mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, atua como colaboradora do Bate-Papo com Netuno e bolsista CNPq na Rede Ressoa Oceano. A inserção do Bate-Papo com Netuno à Ressoa Oceano amplia ainda mais a rede, promovendo a divulgação científica e a visibilidade das ciências do mar e cultura oceânica através de informações científicas de qualidade, baseadas em uma linguagem acessível e lúdica. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Referências | Para saber mais: Estudo Maré Fantasma: https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2018/12/animais-marinhos-impactados-pesca-fantasma-brasil-peixe-plastico Pesca Fantasma: https://www.batepapocomnetuno.com/post/pesca-fantasma-um-monstro-marinho-de-verdade Sororidade: https://institucional.ufrrj.br/casst/files/2021/02/Sororidade-e-Combate-%C3%A0-Viol%C3%AAncia-contra-a-mulher.pdf Empresa Marulho, sobre a empresa e seus produtos: https://fazermarulho.com.br Cursos Sebrae Impacta: https://sites.rj.sebrae.com.br/inscricao/projeto-impacta-pre-aceleracaogclid=Cj0KCQjw9rSoBhCiARIsAFOipllsbCjS3neMDed19uSlshdp5srcihEKfUEKWY8u2Pa1Hp73CHTVlpsaAtoVEALw_wcB Cursos Ago Social: https://agosocial.com.br/ #Empreendedorismofeminino #Mulherlider #Empreendedora #EmpreendedorismoSocial #Marulho #BatePapocomNetuno #LigadasMulherespeloOceano #RessoaOceano
- Protagonismo feminino na XXXIII Semana Nacional de Oceanografia: tecendo realidades mais acolhedoras
Por Maria Luiza R Coutinho A Semana Nacional de Oceanografia (SNO) é o maior evento de caráter anual das Ciências do Mar no Brasil e é tradicionalmente organizada por discentes dos cursos de Oceanografia. O evento tem como objetivo a integração dos 14 cursos de bacharelado em Oceanografia e Oceanologia do Brasil, promovendo encontros acadêmicos-científicos como palestras, minicursos, apresentação de trabalhos, além de atividades culturais e desportivas. A cada ano, há um rodízio de sedes entre as regiões Norte/Nordeste e Sul/Sudeste para que haja maior acessibilidade. Em outubro de 2023, ocorreu a sua 33a edição, sediada pela Universidade Federal de Pernambuco, que abordou a temática “DA LAMA AO CORAL: desafios socioambientais dos ecossistemas marinhos tropicais”. A comissão organizadora do evento contou com 59 discentes de Oceanografia, sendo 37 mulheres incluindo a mim, Maria Luiza, como presidente. Além disso, organizamo-nos em 11 comissões, sendo nove delas lideradas por mulheres. Contamos, também, com a orientação de três docentes, dentre eles, uma mulher, a Profª Monica da Costa. Desde a primeira reunião da comissão organizadora, a pauta “acolhimento e diversidade” sempre foi colocada em questão. A nossa meta era transformar a SNO, um evento que ainda é elitizado, quando se analisa a realidade brasileira, em um modelo de como devem ser os eventos científicos: inclusivos, diversos e representativos. Confesso que não foi nada fácil convencer algumas pessoas do porquê deveríamos ter fraldários nos banheiros ou uma mesa de abertura diversa (saindo daquela tradicional onde só há homens cis, brancos e héteros). Essa parte da mesa de abertura foi super difícil, pois tradicionalmente convidam-se os representantes das instituições para compor a mesa, e como sabemos, estes são todos homens brancos. Mas ao mesmo tempo, muitos vestiram a camisa e apoiaram a causa, o que foi fundamental para a realização de tudo isso. Mesa de abertura da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Fonte: Acervo da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia com licença CC BY NC-ND. O nosso ponto de partida para planejar esse acolhimento e diversidade foi o Guia da Diversidade e o Guia de Acolhimento elaborado pela Associação Brasileira de Mulheres nas Geociências (ABMGeo). Montamos uma comissão destinada a lidar somente com essa pauta e, dentro de nossas possibilidades, fomos traçando algumas metas. Além do apoio material, as Geomamas (grupo de trabalho da AMBGeo) foram fundamentais na orientação. Gratidão à Marion Freitas! Eu havia participado do XXVII Congresso Brasileiro de Paleontologia e conheci uma integrante das Geomamas que estava atuando no evento com o espaço destinado ao cuidado dos filhos de mães/pais congressistas e trabalhadores do evento. Achei aquilo incrível, pois nunca havia ouvido falar na temática, o que leva a não discuti-la também. Durante o evento tive vários insights e o mais forte deles foi perceber que, enquanto um pai ministrava uma palestra sobre dinossauros e colocava a foto dos filhos no final da apresentação (eles estavam em casa sob cuidados da mães #RisosNervosos), congressistas mães precisavam organizar e participar de mesas para discutir sobre SER mãe na Academia além de estarem, em sua maioria, acompanhadas de suas crias (sem mencionar aquelas que não estavam lá pois não tinha com quem deixar seus filhos ou não tinham condições financeiras de trazê-los). Logo no formulário de inscrição para o evento, incluímos perguntas como “Trarei minha família para o evento?”; “Possuo alguma restrição alimentar?”; “Possuo alguma deficiência física?” para podermos sondar o nosso público e nos preparar para recebê-los da melhor maneira possível. Após alguns meses de inscrições abertas, entramos em contato via e-mail com essas pessoas para que pudéssemos conhecer melhor quais as suas necessidades. Preparamos um evento acolhedor e isso foi o que mais me motivou a continuar. Contamos com a estrutura de um espaço kids totalmente gratuito tanto para congressistas quanto para prestadores de serviços para o evento (chamado carinhosamente de Espaço Alevinos), que dispunha de 2 pedagogos, 2 integrantes da comissão organizadora, atividades educacionais infantis voltadas para a Oceanografia e funcionava das 8h às 17h30 durante todos os dias do evento. Além de um espaço de amamentação com geladeira e fogão à disposição, intérprete de libras e toda uma estrutura de espaços físicos pensada para recepcionar todas as realidades (felizmente, a UFPE dispõe muito bem de tais). Atividades educativas desenvolvidas no Espaço Alevinos da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Fonte: Acervo da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia com licença CC BY NC-ND. Atividades educativas desenvolvidas no Espaço Alevinos da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Fonte: Acervo da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia com licença CC BY NC-ND. Nos surpreendemos com a representatividade de mulheres no protagonismo não só à frente da organização do evento, mas também, ministrando palestras, minicursos e mesas redondas. Em todas as atividades, o maior número foi de mulheres como ilustra o gráfico abaixo: Gráfico com a quantidade de mulheres (N=32) e homens (N=13) como ministrantes de palestras, minicursos e integrantes de mesas redondas ocorridas na XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Fonte: Acervo da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. E como o foco do evento foi discutir a subárea socioambiental, tivemos a oportunidade de dar espaço para que marisqueiras(os), pescadores e líderes sociais integrassem o nosso evento na posição de palestrantes e participantes de mesas redondas. Comissão organizadora e integrantes da mesa redonda “Oceano que Inspira” na XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Da esquerda para a direita temos: Jaqueline Cassimiro (comissão organizadora da XXXIII SNO), Chef Negralinda (Instituo Negralinda), Lígia Levy (Todas para o Mar-TPM), Edna Dantas ( Projeto Casa de Sal ), Maria Coutinho (comissão organizadora da XXXIII SNO), Nuala Costa ( Todas para o Mar-TPM ) e Gabrielly Dantas (Projeto Casa de Sal). Fonte: Acervo da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia com licença CC BY NC-ND. Contamos com uma mesa redonda dentro da programação principal abordando a temática “Acolhimento e inclusão: equidade no cenário da Oceanografia” com a participação de 4 mulheres, sendo 2 mães cientistas e 3 mulheres negras. Mesa redonda “Acolhimento e inclusão: equidade no cenário da oceanografia”. Da esquerda para direita temos: Mariana Azevedo, Renata Camelo, Gabriela Figueiredo e Bárbara Pinheiro. Fonte: Acervo da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia com licença CC BY NC-ND. Apresentação de Bárbara Pinheiro durante a mesa redonda “Acolhimento e inclusão: equidade no cenário da Oceanografia”. Fonte: Acervo da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia com licença CC BY NC-ND. Além disso, tradicionalmente as edições da SNO contam com uma comissão especial chamada "Comissão das Minas" a qual é formada por mulheres de todo o país com intuito único de garantir a segurança e bem estar das minorias durante toda a programação do evento. Na edição deste ano, contamos com 13 mulheres que atuaram da seguinte maneira: em cada espaço que estava acontecendo alguma atividade do evento, haviam sempre, no mínimo, duas representantes da comissão presente prontas para atuar em quaisquer situação. Logo na abertura do evento, anunciamos a existência da comissão e que as representantes estariam identificadas com uma faixa roxa no braço. A SNO tem como público alvo discentes de graduação e esse tipo de discussão precisa começar a ocupar todos os espaços. E quanto mais cedo, melhor! A ocupação de mulheres em cargos de liderança é fundamental para a inclusão dessas pautas. O apoio a essas mulheres, também, é imprescindível pois, como já relatado em texto aqui do Bate-Papo com Netuno , cargos de lideranças são máquinas de moer mulheres. Além disso, a presença de discentes de graduação na organização de eventos é uma imensa oportunidade e experiência para suas carreiras acadêmicas, encorajando-os a enfrentar temáticas tão delicadas e importantes, como as abordadas nesta última SNO. Sobre a autora Malu está na reta final do bacharelado em Oceanografia pela UFPE. Trabalha com paleoceanografia aplicada à Bacia do Araripe no Laboratório de Paleontologia da UFPE. O que mais gosta é da multidisciplinaridade da vida, incluindo a própria Oceanografia. Já trabalhou com coleções biológicas de museus e de exposições, comunidades pesqueiras, educação ambiental e extensão universitária. Atualmente seu maior interesse é na divulgação horizontal e democrática da educação. #MulheresNaCiência #Diversidade #Acolhimento #Equidade #Maternidade #MariaLuizaRCoutinho
- 2023: o ano em que me tornei bolsista da FAPESP
Por Natasha Travenisk Hoff Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi… e consegui me tornar uma bolsista da FAPESP! Ilustração: Natasha T. Hoff Para quem não conhece, a FAPESP é a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, uma das principais agências de fomento à pesquisa científica e tecnológica do país. Apesar de estar ligada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, sua autonomia é garantida por lei. A FAPESP possui um orçamento anual que corresponde a 1% do total da receita tributária do estado de São Paulo, apoiando e financiando a pesquisa, o intercâmbio e a divulgação da ciência e da tecnologia produzida no estado. Desde quando entrei na graduação, em fevereiro de 2008 (sim, faz um tempinho!), ouvia falar sobre as famosas bolsas da FAPESP, que, desde sempre, eram consideradas uma remuneração mais adequada aos pesquisadores, mas muuuuito difícil de conseguir. Ou seja, a impressão que tínhamos era que, se piscássemos torto, isso já seria motivo para não termos uma bolsa aprovada por esta famosa agência de fomento… Logo no meu primeiro ano de graduação, não gostava do modo desrespeitoso como uma determinada professora agia e isso ficava bem claro na hora de estudar ou fazer quaisquer atividades da disciplina, e acabei sendo reprovada. Pronto: nunca vou conseguir uma bolsa da FAPESP! Na minha cabeça de pessoa ansiosa, a partir deste momento, basicamente, ter um projeto aprovado pela FAPESP era simplesmente algo inatingível. Foram cinco anos de graduação (com uma reprovação), dois anos e meio de mestrado e quase seis de doutorado (Longo? Pois é! Mais um motivo para não conseguir bolsa… Culpa da COVID também, mas, dos males, o menor: eu e minha família estivemos seguros no período crítico da pandemia!). Quando estava finalizando o doutorado, nem pensei em submeter um projeto para a FAPESP, mas tive um projeto aprovado em um edital de Pós-Doutorado Júnior do CNPq! Dentre os cinco aprovados na nossa área, eu era a única pessoa que não havia feito nenhum Pós-Doutorado (Pós-Doc, para os mais íntimos) antes, a única recém-saída da Pós-Graduação. Seria esse um primeiro sinal? Só que a bolsa de Pós-Doc do CNPq dura apenas um ano! Um mísero ano… é tanto trabalho para escrever, submeter, esperar aprovação, enviar mais documentos (se quiser saber mais sobre a vida de Pós-Doc, clique aqui )… E um ano passa voando! E precisamos já pensar em pedido de prorrogação, escrever outro projeto - sufoco novamente! Consegui dois meses de prorrogação: mais um respiro! E depois? Depois, a minha vida teve uma reviravolta e alguns problemas familiares me desestabilizaram de uma tal forma no segundo semestre de 2022, que 2023 foi um ano de reconstrução, para juntar os caquinhos que me formam e voltar a seguir… para qualquer rumo que fosse! Apesar de o primeiro projeto não ter dado muito certo (dizem que, apesar da frustração, o não-resultado também é um resultado), consegui desenvolver, além de atividades de extensão e ensino, outras atividades nessa mesma linha de pesquisa e um treinamento, que me renderam novas ideias! Demorei sete longos meses entre juntar cacos e finalizar o novo projeto! Perdi o prazo de dois editais por conta disso, estava sem bolsa há nove meses… Minha única opção naquele momento? Tentar submeter o novo projeto para a FAPESP. Eu não achava que ele fosse bom o suficiente para a FAPESP. E quando seria? Feito! Submetido! Foram três meses até receber uma resposta. Ansiedade lá em cima, saldo bancário lá embaixo, e pensando “ninguém é aprovado de primeira, será que até 2024 sai?” Desespero… Até que no dia 06 de outubro, eu estava no aeroporto, correndo de um terminal para o outro, sozinha, indo para um congresso científico no Chile, cujos custos foram financiados coletivamente (Obrigada, amigos!), e recebi um e-mail com o título “Divulgação de resultado de despacho”. Por que fazer isso com o coração da ansiosa? Aprovada? De primeira? Sem eu precisar chorar? Eu não acreditava… Chorei sozinha num corredor… Chorei quando liguei para a minha irmã… Chorei em um misto de emoções: alegria, alívio, incredulidade… Depois de 13 anos achando que eu não era boa suficiente, me tornei bolsista de Pós-Doc da FAPESP! Mas esse texto não é apenas para dizer o quão aliviada eu poderei respirar ao longo dos próximos dois anos e o quanto foi difícil tomar coragem e me submeter ao julgo da FAPESP… Chamou minha atenção que os dois assessores evidenciaram minha participação em atividades de extensão, como é o caso da minha atuação como editora voluntária no Bate-Papo com Netuno: “As diferentes atividades de extensão que participa revela um trabalho bastante interessante e necessário junto à população.” “A candidata tem uma ótima experiência embarcada e foi bastante ativa em atividades de extensão.” Legal, não? Talvez, isso represente uma mudança, ou o início de uma mudança… o início de uma maior valorização das atividades voltadas à transmissão do conhecimento para a população e não apenas da superprodução de artigos científicos. Quem sabe! Assim, finalizo meu post agradecendo ao Bate-Papo com Netuno pela oportunidade de crescimento e aprendizado, e a todos que me ajudaram e incentivaram a tentar e não desistir de um sonho (inclusive àqueles que colaboraram com o financiamento coletivo para que pudesse participar do congresso no Chile)! Sigo em 2024 me reconstruindo financeiramente e mentalmente, ainda juntando alguns caquinhos, mas uma coisa é certa: eu fui capaz de me tornar uma bolsista da FAPESP! --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Sobre a autora Natasha T. Hoff f é oceanógrafa, mestre e doutora em Oceanografia, na área de concentração Oceanografia Biológica, pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), com período sanduíche em Portugal, no CIIMAR (Universidade do Porto). Atualmente, é pesquisadora de Pós-Doutorado no IOUSP. A Oceanografia entrou em sua vida muito cedo, quando tinha apenas 12 anos. Desde então, sua curiosidade a leva para novos e diferentes caminhos a cada nova empreitada. Acredita que o diferencial da Oceanografia é justamente a multidisciplinaridade. Assim, tem experiência com análises climatológicas, química inorgânica de sedimentos, unidades de conservação, integridade biótica da ictiofauna, estoques pesqueiros, análises morfométricas, otólitos e, desde 2021, entrou no mundo da paleoecologia. Ama sua família acima de tudo e a música em todas as suas formas. Sendo oceanógrafa, é apaixonada pelo mar: desfruta, aprende e respeita! Sempre gostou de escrever e já adorava preparar posts para o Bate-Papo com Netuno antes mesmo de compor a equipe de editoras! #VidaDeCientista #Bolsistas #PósDoutorado #MulheresNaCiência
- Ecopsicologia: conectando a ecologia com a psicologia
Uma experiência de transição profissional Por Maria Cláudia Grillo Ilustração de Joana Ho Cresci numa casa com árvores no quintal e sempre me senti próxima da natureza, uma ligação que permaneceu forte ao longo da vida. Meu programa preferido era ir à praia. O mar era aquele lugar belo e amplo que, para mim, representava duas palavras – alegria e liberdade - e que, ao mesmo tempo, instigava minha curiosidade investigativa. Lá pelos 9 anos, comecei a sentir o chamado para estudar biologia. E assim foi. Aos 16, entrei na faculdade de biologia da UFRJ, e escolhi me aprofundar em ecologia marinha costeira. Fiz o mestrado e o doutorado nessa área e, paralelamente, dei aulas de ecologia geral e marinha em universidades por 10 anos. Como professora e orientadora acadêmica, meu interesse pelas relações humanas foi crescendo, pois, a interação com os alunos e o apoio às suas escolhas era algo bem motivante. No entanto, sentia necessidade de uma aproximação maior entre o conhecimento científico, com sua objetividade, e a compreensão da dinâmica psíquica do ser humano, inclusive com a natureza, o que me levou a me aproximar da psicologia. Comecei, então, a buscar livros de psicologia junguiana e a me encantar com o universo simbólico de Jung (analista e psiquiatra suíço, 1875 - 1961). Segui meu percurso atuando como analista ambiental por vários anos. Trabalhei em ambiente corporativo com biodiversidade, mudanças climáticas e sustentabilidade. Contudo, ao longo dos anos, foi crescendo minha insatisfação profissional diante do que eu chamaria de “pragmatismo econômico” frente à importância do meio ambiente em si, e foi se aprofundando em mim o desejo por uma transição profissional. Passei, então, a imaginar um novo caminho mais integrativo. Fiz pós-graduação em psicologia junguiana e formações em arteterapia e ecoarteterapia (que utiliza materiais da natureza) e, enfim, me desliguei do ambiente corporativo. O desejo de seguir integrando conhecimentos entre meio ambiente e psicologia me levou, nos últimos anos, a conhecer a ecopsicologia - área de estudos relativamente nova no Brasil e que busca compreender o psiquismo humano na sua relação com as demais espécies e com o ambiente. Trata-se de uma abordagem proposta inicialmente por psicólogos da Universidade de Berkeley, EUA, na década de 1990, e que procura integrar saberes das ciências naturais e humanas, incluindo a ciência, a psicologia, a filosofia, as artes e os conhecimentos dos povos originários, numa perspectiva transdisciplinar e ecocêntrica. Em 1992, o historiador Theodore Roszak publicou a obra A Voz da Terra, uma importante referência no tema, onde foram lançadas as bases do movimento ecopsicológico. De forma resumida, pode-se dizer que a ecopsicologia é uma ciência que busca a investigação da dinâmica psíquica das interrelações entre o ser humano e o ambiente natural, reconhecendo seus efeitos recíprocos (positivos e negativos) e questionando, ainda, modelos culturais de felicidade baseados no consumismo e no produtivismo que, em última análise, impactam e destroem os ecossistemas. Assim, a ecopsicologia busca plantar as sementes de uma maior compreensão e de uma nova concepção das relações do ser humano com o meio ambiente. A realização de vivências de reconexão com a natureza é prática essencial de sua abordagem na conscientização sobre a importância das demais espécies e da preservação dos ecossistemas como um todo, da qual depende também a saúde mental e a própria sobrevivência humana. No momento, trabalho como terapeuta, numa perspectiva integrativa, e faço a Formação em Ecopsicologia e Ecologia Profunda oferecida pelo Instituto Brasileiro de Ecopsicologia (IBE), com sede em Brasília e a UNIPAZ-DF. Minha experiência na área ambiental segue apoiando minha curiosidade e meus novos caminhos e, assim, me sinto inspirada para um próximo projeto - o de construir pontes entre os conteúdos da ecologia marinha costeira com os da ecopsicologia. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Para informações adicionais sobre formações, imersões e vivências em ecopsicologia e ecologia profunda, buscar o Instituto Brasileiro de Ecopsicologia (IBE) - @ecopsicologiabrasil --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Referências básicas no tema KURIANSKY, Judy; NEMETH, Darlyne G. (Orgs). Ecopsychology: advances from the intersection of psychology and environmental protection . Denver, Colorado: ABC-CLIO, 2016. V. I-II. MACY, Joanna & Johstone, Chris. Active Hope. New World Library. Novato, California.2012. MACY, Joanna & Molly Young Brow. Nossa Vida como Gaia. Editora Gaia. 2004. MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 8a. Ed. Rio de Janeiro. Editora Bertrand Brasil. 2005. MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 3a. Ed. Porto Alegre. Editora Sulina. 2007. ROSZAK, Theodore. The Voice of the earth: an exploration of ecopsychology. Grand Rapids, Wyoming: Phanes Press, 2011. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Sobre a autora Maria Cláudia Grillo é bacharel e licenciada em Ciências biológicas (UFRJ), mestre e doutora em ecologia (UFRJ). Trabalhou como professora universitária por 10 anos e na área de gestão ambiental corporativa com biodiversidade, mudanças climáticas e responsabilidade social. Iniciou uma transição profissional (que também chama de ampliação profissional) há 5 anos quando fez o curso Leadership for Transition, no Schumacher College, na Inglaterra. Fez pós-graduação em psicologia junguiana e outras formações terapêuticas, como arteterapia e aromaterapia. Atualmente, trabalha como terapeuta, oferece cursos em ecologia, incluindo a abordagem terapêutica, e cursa formação em ecopsicologia e ecologia profunda pelo Instituto Brasileiro de Ecopsicologia e a UNIPAZ DF. Adora fotografia, praias, vivências e viagens na natureza, além de arte e cultura. #VideDeCientista #DescomplicandoNetuno #EcologiaMarinha #Natureza #PsicologiaJunguiana #tTerapiasIntegrativas #Ecopsicologia #TransiçãoProfissional Contatos: Instagram @telos_terapia e e-mail: claudiagrilloterapeuta@gmail.com As informações e opiniões dos textos postados são de responsabilidade única e exclusivamente do autor de cada texto e não necessariamente refletem a opinião de Bate-papo com Netuno.
- No fundo do mar e além...
Por Juliana Leonel O mundo oceanográfico é cheio de histórias de descobertas, muitas delas que mudaram completamente a forma como vemos a vida (e sua evolução). Ao longo dos séculos, descobriu-se que a vida não se restringe apenas às camadas superiores do oceano e que processos biogeoquímicos e adaptações específicas contribuem para permitir que organismos se desenvolvam em zonas abissais (profundidades maiores que 4.000 m), nos poros de rochas abaixo do assoalho oceânico e em locais com elementos tóxicos para a maioria dos demais seres vivos. Na década de 1970, cientistas descobriram, próximo das Ilhas Galápagos a quase 3.000 m de profundidade, um ecossistema até então desconhecido: aglomerados densos de organismos que crescem no entorno de jatos de água quente (de até 350° C) oriundas de fontes hidrotermais. As fontes hidrotermais são aberturas do fundo oceânico, em regiões de alta atividade tectônica, onde a água do mar percola a crosta oceânica recém-formada. Durante esse processo, a água é aquecida pelo magma e alguns elementos são removidos enquanto outros são incorporados a ela. Com o aquecimento, a água emerge no assoalho oceânico na forma de fontes. A composição desta água e a sua temperatura vai depender da composição basáltica da crosta oceânica que ela teve contato e da proximidade com a cordilheira oceânica , respectivamente. Enquanto algumas fontes atingem temperaturas maiores que 300°C, outras não ultrapassam algumas dezenas de graus. Fonte: NOAA Photo Library em domínio público. Devido a ausência de luz, bactérias e arqueas usam os elementos presentes na água do mar - ao invés da luz do sol, como fazem os fotossintetizantes - como fonte de energia para produzir matéria orgânica, processo chamado de quimiossíntese . Esta é a base da teia alimentar para camarões, vermes tubícolas , bivalves, caranguejos, anêmonas, polvos, entre outros, que compõem o ecossistema no entorno das fontes hidrotermais. Entre os organismos deste ecossistema, um grupo de vermes tubícolas, chama a atenção: com um comprimento de 2 m, diâmetro de um braço humano e tufos de tentáculos projetados a partir de um tubo (o pogonóforo), estes vermes não possuem boca, nem trato digestório ou ânus. Então, como eles se alimentam? Ao longo do seu corpo, há trofossomas: tecidos que hospedam bactérias simbiontes que usam o sulfato de hidrogênio expelido pelas fontes hidrotermais e absorvido pelos tentáculos do verme hospedeiro como energia para produzir a matéria orgânica que servirá de alimento a ele. Não são apenas as fontes hidrotermais que abrigam descobertas incríveis. Em outras regiões profundas do oceano, as vezes chegando a 10.000 m de profundidade, na região chamada zona hadal , é encontrado um grupo de organismos muito curioso: os xenofióforos; organismos eucariontes formados por apenas uma célula em fita e com comprimento de até 20 cm. Estes pequenos grandes protistas são muitas vezes os dominantes em algumas regiões e auxiliam na diversidade local, pois servem como habitat para outros organismos (equinodermas, bivalves, crustáceos, etc). Suas estruturas auxiliam a “prender” partículas orgânicas que servem de alimento para diversas espécies. Os xenofióforos secretam uma substância adesiva ao longo do seu corpo na qual aderem conchas e grãos de sedimento que formam uma “cápsula” em torno do organismo. Fonte: NOAA's Ocean Explorer em domínio público. Se formos um pouco mais fundo… espera, mais fundo que o assoalho oceânico a 10 km de profundidade? Sim! Porque vamos agora para a região abaixo do assoalho oceânico, no sedimento e rochas que ali se encontram. Quanto mais aumenta a profundidade - e, consequentemente, a pressão - mais diminui o interstício (espaço) entre os grãos dos minerais. Por isso, até a década de 1970, acreditava-se que não haveria vida abaixo dos primeiros centímetros de sedimento do leito oceânico. Hoje, sabe-se que há vida - bactérias e arqueas - entre os minerais de rochas a 3.200 m de profundidade abaixo do fundo do oceano. Estes organismos realizam quimiossíntese e são a base da teia trófica de consumidores primários também muito pequenos que têm uma taxa metabólica muito baixa, em que a divisão ocorre apenas uma vez entre 100 a 2000 anos. Juntos, estes produtores primários e consumidores, constituem o ecossistema microbiano litoautotrófico de sub-superfície (SLIMES, sigla em inglês), onde destaca-se um grupo de bactérias muito menores que as demais, as ultramicrobactérias (± 0,3 μm). Alguns estudos indicam que essas bactérias podem nos auxiliar a entender as primeiras formas de vida na Terra. E aí, você tinha ideia de tudo que acontece e vive lá no fundo (bem fundo) do mar? --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Sobre a autora Juliana Leonel é f ormada em oceanologia na FURG com doutorado em oceanografia química pela USP. Entre um trabalho, uma bolsa e um intercâmbio passou também pela Unimonte, UFPR e UFBA, Texas A&M University, Health Department of New York, Heriot-Watt University e da Stockholm University. Atualmente é professora adjunta na UFSC. Trabalha com poluição marinha, principalmente contaminantes sintéticos e resíduos sólidos. Mas também atua na geoquímica estudando o ciclo do carbono no ambiente marinho. Desde abril/20 tem se aventurado como mãe do Ian. Não abre mão de cozinhar e experimentar novos sabores, mas não sem antes estudar os processos/química que tornam um prato possível. Também gosta de viajar, ler, fazer trilha e tomar um banho de mar (ou cachoeira). Participa do BPCN desde 2018 como editora e é uma das responsáveis pela página no twitter. É a chata dos "direitos autorais" e quer que todos usem/produzam material livre com licença creative commons. #ZonaAbissal #ZonaHadal #Quimissíntese #FontesHidrotermais #Xenofióforos #Ultramicrobactérias #Descomplicando #JulianaLeonel
- When your hypothesis is rejected, breathe in and out: you still have a result!
My experience with turtle physiology. By Tábata Cordeiro English edit by Lidia Paes Leme and Carla Elliff *post originally published in Portuguese on August 6, 2020 My passion for sea turtles began in 2003, when my family moved from Rio de Janeiro to Salvador and I got to know the Tamar Project. Years later, I started my degree, in biology, of course! Now I had to find a way to study these charming and intriguing animals. I started an internship at the Animal Physiology Laboratory (LAFISA/UFBA) in 2008. The day I went to talk to my future supervisor, Prof. Dr. Wilfried Klein, I told him that I was interested in working with turtles. That's how I started working with the morphology and physiology of breathing in these animals. This topic was my advisor's line of research and I was very interested in it. I remember that, in a conversation with another professor at the university, when I mentioned that I had started this internship, he joked that he had nothing new to know about chelonians. I felt challenged. And since I like being challenged, I decided to persist! During my undergraduate studies, I learned that sea turtles are part of a group of animals known as Testudines, Testudinata or Chelonia, which also includes turtles (terrestrial animals) and terrapins (animals that inhabit freshwater environments). This is why we often see the name chelonians used to refer to them. Chelonians, animals that belong to the reptile class, are easy to recognize due to the group's slightly different anatomy. Testudines have a body surrounded by a shell, dorsally called a carapace (fused to the ribs and spine) and ventrally called a plastron (fused to the clavicles and interclavicle). However, I had to postpone my dream of working with sea turtles. The species that occur in Brazil are considered vulnerable or endangered and, for this reason, are not allowed to be manipulated in the laboratory and this would be my working environment. I began my studies on the respiration of chelonians during my master's degree, investigating general aspects of ventilation and the metabolic rate in two freshwater species. Bimodal breathing Let me just provide a brief explanation of the subject of my work! Ventilation can be described as the movement of air or water in and out of structures specialized in the transport and exchange of oxygen and carbon dioxide between the animal and the external environment, such as the lungs. The amount of oxygen absorbed by each organism will determine its metabolic rate, i.e. the amount of energy consumed. Chelonians are animals that perform intermittent ventilation, i.e. they alternate ventilatory moments, an expiration followed by an inspiration, with non-ventilatory moments, apnea. This characteristic has implications for the metabolic rate of this group of animals. Chelonians have been shown to have a metabolic rate that can be much lower when compared to mammals of a corresponding size. Ok, brief explanation done! Returning to my work, I noticed that one of the species I investigated, Phrynops geoffroanus , had a very low metabolic rate compared to other reptiles, due to the low level of oxygen it consumes. Based on this result, I proposed a PhD project to investigate behavioral, morphological and physiological issues associated with bimodal respiration in P. geoffroanus . Bimodal respiration can be defined as the ability of an animal to carry out gas exchange through both air and water. The cute P. geoffroanus (Source: Tábata Cordeiro with CC SA-BY 4.0 license ). Assuming that P. geoffroanus has one of the lowest metabolic rates among chelonians, what are the behavioral, morphological and physiological implications of this observed parameter? Thus, the central question of the study was "Does P. geoffroanus carry out gas exchange through structures other than lungs? In other words, does it perform bimodal respiration? If so, which structures are responsible for these exchanges?" Spoiler: the interesting thing, at the end of this process, is that my working hypothesis was rejected. The results of my doctorate did not indicate that the species performs bimodal respiration! Or, alternatively, these exchanges are not proportionally adequate to maintain the species' basic metabolic needs. Thus, P. geoffroanus obtains oxygen primarily through its lungs. But let's see how I got there. Changes Working with chelonians involved overcoming MANY challenges. The first was how to get access to these animals: do field collections and organize the whole structure around this work, or get access to these animals through partnerships with a zoo and chase down all the possible and impossible documentation? I chose the second option and I can say that I learned a lot in terms of interpersonal relationships and dealing with bureaucratic issues. The second challenge concerns keeping the animals in an artificial environment. When the animals are in our care, we need to know how to keep them healthy: housing, feeding, air and water temperature, keeping an eye out for any changes in behavior. It is essential to have the contact details of a wildlife veterinarian to answer any questions. In addition to the challenges of working with chelonians, there are the difficulties of working as a researcher (and in Brazil). I've had to give up being close to people I love because I've moved cities to do my master's and doctorate, and the adaptation phase of these changes involves issues that go beyond studying and doing experiments. It's very difficult to reconcile professional and private life when you're immersed in a project in which you put so much energy. Almost everything changed between writing the project and carrying out the work! I made and broke partnerships, added and removed proposals from the project, I had to learn new techniques, such as handling different drugs to achieve analgesia and anesthesia in chelonians, surgical practices for cannulating blood vessels to collect material for blood analysis, biochemical and morphological analysis techniques, among others. I made some adaptations due to lack of equipment or time. To come to the conclusion that P. geoffroanus does not have bimodal breathing, I carried out behavioral, morphological and physiological analyses, testing the hypothesis that structures such as the skin, the buccopharyngeal cavity (popularly known simply as the mouth) and/or the cloacal pouches (structures attached to the cloaca, present only in some aquatic species of chelonians) would be responsible for gas exchange between the aquatic environment and the animals. In the end, contrary to what was expected, I observed that there were no behavioral changes when different areas of the animals' bodies were isolated from the aquatic environment; the morphological analyses were not very indicative of the presence of characteristics that could classify these structures as gas exchange sites (such as the small diffusion distance) and the biochemical results of the physiological experiments showed no differences when the animals were exposed to aquatic environments with either a higher or a lower oxygen concentration. Based on these results, some hypotheses were raised: 1) P. geoffroanus may show tolerance to hypoxia and anoxia. This hypothesis was raised by Hsia and collaborators (2013), who argue that tolerance to hypoxia and anoxia is a characteristic that dates back to the Triassic and Jurassic, when aquatic chelonian lineages of that time were exposed to hypoxic and anoxic aquatic environments, due to the high density of vegetation and high biological oxidative demand, and the low atmospheric oxygen content, which was supposedly around 15%; 2) P. geoffroanus would be able to decrease energy consumption, hypometabolism . The researchers Hochachka and Lutz (2001) pointed out that this characteristic may be an important mechanism for maintaining the life of these animals, without the need to travel to the surface to perform aerial gas exchange so frequently. All this experience and learning has made me realize what places I want to occupy in my professional career. I want to continue working in research and teaching, bringing science closer to society. I want to share knowledge and values, and tell children and young people, regardless of gender, race or class, that they can study, choose what they want to be, produce and share knowledge. Tábata discusses the results of her work at a scientific event (Source: Tábata Cordeiro with CC SA-BY 4.0 license). —----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- References Hsia C. C.; Schmitz, A.; Lambertz, M.; Perry, S. F.; Maina, J. N. (2013). Evolution of air breathing: Oxygen homeostasis and the transitions from water to land and sky. Comprehensive Physiology, 3, 849–915. DOI: 10.1002/cphy.c120003 Hochachka, P. W.; Lutz, P. L. (2001). Mechanism, origin, and evolution of anoxia tolerance in animals. Comparative Biochemistry and Physiology Part B: Biochemistry and Molecular Biology, 130, 435–459. DOI: https://doi.org/10.1016/S1096-4959(01)00408-0 --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- #Quelonians #Turtles #Respiration #Metabolism #Physiology #MarineScience #TabataCordeiro
- Mas afinal de contas o que é ser produtiva na academia?
Por Juliana Leonel Ilustração de Alexya Queiroz Preparar aula. Lecionar. Tirar dúvidas. Escrever projeto de pesquisa. Executar o projeto de pesquisa. Prestar contas do projeto de pesquisa. Escrever relatório do projeto de pesquisa. Revisar projeto de pesquisa de outros colegas. Analisar dados. Escrever artigo. Revisar artigo de outros colegas. Orientar IC, TCC, dissertação, tese. Revisar relatório de IC, TCC, dissertação, tese. Supervisionar monitoria. Supervisionar pós-doutorado. Participar de banca de TCC, mestrado, doutorado, concurso. Escrever projeto de extensão. Executar projeto de extensão. Prestar contas do projeto de extensão. Escrever relatório do projeto de extensão. Participar de reunião de departamento, de colegiado de graduação, de pós-graduação, de conselho universitário, de grupos de pesquisa, de grupos de extensão, de comitês, de grupos de trabalho e outras tantas. Ter cargos de chefia de departamento, coordenação de curso de graduação e de programa de pós-graduação, chefe de instituto/centro etc . Ufa… Se ler esta lista já cansa, imagina fazer tudo isso? Tudo que foi citado na lista acima (e mais um tanto de coisa) faz parte das atividades cotidianas de qualquer professora de uma das muitas universidades federais brasileiras (e também de muitas estaduais e privadas). No entanto, na hora de concorrer a um edital para financiar sua pesquisa ou a uma bolsa de produtividade, só um item entre todos será realmente levado em consideração: o número de artigos publicados . Isso mesmo, para o sistema acadêmico, produtividade se resume a “número” de artigos científicos publicados e a quantas vezes esses artigos foram citados. Isso mesmo, tudo se resume a NÚ-ME-ROS . A qualidade, a relevância, o (verdadeiro) impacto da pesquisa e sua aplicação na sociedade tem uma importância menor ou nem são avaliados. Não à toa este método de apenas “olhar para números” é chamado de produtivismo . Mas pior do que avaliar uma pessoa em função do número de artigos publicados, é avaliar como se essa fosse a sua única função como profissional e como se todos tivessem exatamente o mesmo tempo e condições financeiras de fazer pesquisa. Desconsiderando, dessa forma, todas as diferenças - muitas vezes gritantes - de realidades e de demandas de cada pessoa. Ou você realmente acredita que uma mulher que, além do trabalho citado acima, tem que cuidar dos filhos, de outros familiares e da casa tem as mesmas condições de produzir que um homem que chega em casa e encontra sua roupa limpa e a janta pronta? Ou que, quem faz pesquisa em locais afastados de grandes centros urbanos ou com fundações de amparo a pesquisa com menos recursos, tem condições de produzir o mesmo tanto de quem está em grandes centros de pesquisa no sudeste do país? Será que a pessoa que dá 8 horas-aula por semana tem as mesmas condições de escrever artigo que alguém que dá 15, 18, 20 horas-aula por semana? As diferenças na carreira acadêmica são imensas e ignorar a sua existência na avaliação de diferentes profissionais ou na hora de distribuir recursos para pesquisa é olhar de forma reducionista e com vista a favorecer apenas os mesmos grupos que sempre se destacam. E dessa forma, deixar de lado a contribuição de “uma galera” que faz ciência de qualidade, mas nem sempre em quantidade. Além da falta de equidade nas condições de trabalho, é difícil não encontrar nesses grupos “altamente produtivos” estudantes e pesquisadores sobrecarregados, que trabalham incansavelmente finais de semana e feriados, que não tem vida social, que sofrem abusos/assédios, que sofrem de diversos distúrbios e descobrem o que é burn out muito antes de saberem o que é ter emprego - sim, aqui vale lembrar que mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos recebem bolsa e isso não constitui vínculo empregatício, ou seja, não tem direitos trabalhistas garantidos como férias ou 13º e nem contribuição para sua aposentadoria. Outro problema dessa cobrança pela produtividade exacerbada está na qualidade dos trabalhos produzidos e, infelizmente, também no uso de meios espúrios - que envolvem fraudes e plágios (vide o número cada vez maior de artigos retirados de circulação) - para inflar quantidade de publicações. Um exemplo bem conhecido é a da “ciência salame”, quando pesquisadores fatiam uma única descoberta no maior número possível de artigos científicos para aumentar a sua produção. Revistas científicas com qualidade questionável também se aproveitam dessa incessante “rodinha de hamster” da produtividade para oferecer oportunidades de publicação rápida, sem seguir o rigor científico, por um valor monetário (veja mais sobre isso em nosso post sobre spam acadêmico ). A supervalorização do volume de artigos publicados não é prejudicial apenas para quem está no meio acadêmico, mas principalmente para o desenvolvimento da ciência. Quando a qualidade deixa de ser o objetivo, também deixam de ocorrer descobertas e avanços que podem melhorar a vida de todos. Neste contexto, o movimento pela desaceleração da ciência tem se destacado. Segundo a filósofa belga Isabelle Stengers, uma das defensoras do movimento e autora do livro "Uma Outra Ciência É Possível", no modelo produtivista atual não é possível atender às reais necessidades da sociedade; o que gera também exclusão e desigualdade - não só para quem faz ciência - mas também para aqueles que deveriam se beneficiar dela. Muita gente - infelizmente - acha que tudo isso é um grande bobagem e só um “mimimi” de quem não “dá conta do tranco” da academia. Outras, felizmente enxergam os problemas gerados pelo produtivismo e questionam isso; entre elas está o físico Peter Higgs (aquele mesmo do Bóson de Higgs): quando ganhou o Nobel de Física em 2013, ele disse que pelos padrões atuais nunca seria contratado por nenhuma universidade, justamente por não ser “produtivo” o suficiente . Na mesma linha, te convido a fazer uma reflexão sobre tudo isso e responder: você acha mesmo que Marie Curie teria tempo para desenvolver a teoria da radioatividade se fosse obrigada a publicar 10, 15, 20 artigos por ano? Sobre a autora: Juliana Leonel é f ormada em oceanologia na FURG com doutorado em oceanografia química pela USP. Entre um trabalho, uma bolsa e um intercâmbio passou também pela Unimonte, UFPR e UFBA, Texas A&M University, Health Department of New York, Heriot-Watt University e da Stockholm University. Atualmente é professora adjunta na UFSC. Trabalha com poluição marinha, principalmente contaminantes sintéticos e resíduos sólidos. Mas também atua na geoquímica estudando o ciclo do carbono no ambiente marinho. Desde abril/20 tem se aventurado como mãe do Ian. Não abre mão de cozinhar e experimentar novos sabores, mas não sem antes estudar os processos/química que tornam um prato possível. Também gosta de viajar, ler, fazer trilha e tomar um banho de mar (ou cachoeira). Participa do BPCN desde 2018 como editora e é uma das responsáveis pela página no twitter. É a chata dos "direitos autorais" e quer que todos usem/produzam material livre com licença creative commons. #JulianaLeonel #Produtividade #VidaCientista #DesaceleraçãoDaCiência #AlexyaQueiroz
- Esportes ao ar livre e Conservação ambiental: Uma onda boa de se pegar
Por Malu Abieri e Débora Camacho Ilustração de Malu Abieri O esporte é, há muito tempo, considerado uma eficiente ferramenta de transformação social. Espalham-se pelo Brasil exemplos de projetos que utilizam o esporte para mudar a realidade de crianças e jovens em diferentes situações sócio-econômicas. Mas será que o esporte também pode ser uma ferramenta de transformação ambiental e auxiliar na conservação do oceano? Para falar desse assunto conversamos com a Letícia Parada, Educadora Física e idealizadora de um projeto que “envolve a aplicação de tecnologia para o reaproveitamento de resíduos plásticos encontrados em praias, ao mesmo tempo em que a prática de esportes é fomentada lançando mão da educação ambiental” (se quiser conhecer mais sobre o andamento do projeto da Letícia, clique aqui ) “Movida pelo oceano”, definida pela própria Letícia em sua página pessoal no Linkedin, a Educadora Física conta que sua relação com o esporte, através da prática ou consumo de conteúdos, começou muito cedo e aos 14 anos não tinha dúvidas da profissão que iria seguir. Apesar das práticas de esportes ao ar livre, como o surf, a sua relação profissional com a área de ecologia no entanto só surgiu mais tarde, levando-a realizar o mestrado em ecologia. Sua primeira linha de pesquisa, no entanto, estava voltada a entender o impacto da poluição atmosférica na saúde humana durante a prática de exercícios físicos. De fato há estudos que mostram que a prática de exercício em ambientes poluídos trazem riscos à saúde e redução do desempenho¹,² e entender cada vez mais essa relação é essencial para adoção de medidas de prevenção e elaboração de políticas públicas voltadas ao tema. No entanto, como muitas leitoras acadêmicas aqui irão entender, o projeto de Letícia não saiu como o esperado, e ela teve que “se reinventar” para cumprir com as obrigações de uma bolsista, ela precisava entregar algum resultado. Foi assim que Letícia caiu na face oposta dessa moeda. Se de um lado a prática de esporte em um meio ambiente saudável é essencial para a saúde humana, do outro lado pergunta-se: A atividade física pode ser usada como um ferramenta de educação ambiental para a conservação do meio ambiente? E essa pergunta teve que esperar um pouquinho mais até o seu projeto de doutorado. Surfista da Praia Grande em São Paulo, Letícia percebia no curto caminhar até o mar uma grande quantidade de lixo, sendo ainda pior nas segundas-feiras, ou seja, após o final de semana (ou após feriados) quando as praias estavam ainda mais cheias. E, assim como muitos frequentadores assíduos da praia, começou a catar esse lixo para jogar fora, e percebia que muitas pessoas se interessavam e se sentiam estimuladas a participar dessas “coletas” junto a ela. No início era algo pontual, até participou de alguns “desafios” de um “Instagrammer” internacional onde o perfil que coletasse maior número de lixo ganhava pequenos prêmios, como camisetas. Mas ainda assim, algo a incomodava muito: o destino desse lixo. “Não tem um ciclo … Que retorna de alguma forma e traz um benefício maior do que só a retirada do lixo. Que é um benefício a retirada do lixo… Mas quando ele é retirado dali, ele vai para um aterro, vai se misturar com areia e dificilmente será separado para ganhar uma nova vida”. Com o fim do mestrado, Letícia embarcou em diversas aventuras e percebia que a questão do lixo era grave em todos os lugares que visitava, e o “desejo de transformar esse resíduo de praia, independente de onde estivesse, …, e se tornar algo útil e que fosse relacionado ao esporte, foi crescendo”. E assim teve mais um “click” para o seu projeto de doutorado. O lixo plástico sujando as praias e a Letícia fazendo a diferença, coletando esse material e reconectando as pessoas. Imagem 1: licença Canva, Imagem 2 cedida por: Letícia Parada. No início, Letícia tentou fazer a reciclagem de forma bem “caseira”, cortando à mão os plásticos e usando “forninho” elétrico. Nesses primeiros testes ela percebeu diversas questões a serem aperfeiçoadas para melhor reciclagem e moldagem dos produtos. Atualmente, está concretizando a sua própria usina de reciclagem, montada em parceria, onde consegue realizar todas as etapas da reciclagem, desde a separação do material por tipo e cor, até a moldagem de diferentes objetos, como as tão famosas pranchinhas de mão. A surfista percebeu que o engajamento seria ainda maior quando as pessoas se sentissem mais conectadas ao ambiente e até mesmo ao lixo transformado que fora retirado daquele mesmo lugar. Ao ver uma raquete de frescobol ou até mesmo um raspador de parafina feito a partir da reciclagem de materiais encontrados na praia, os frequentadores se sentiam ainda mais envolvidos em não apenas dar o destino correto ao lixo, mas também coletar o que já estava na praia. Leticia e sua prancha de mão de tampinhas recicladas. Imagem cedida por: Letícia Parada Além disso, Letícia também se questionou se os esportistas ao livre tinham maior engajamento e conscientização ambiental, não apenas vendo a natureza como um objeto de uso mas sim como parte dela. Alerta de “spoiler”!! Os resultados preliminares mostram que sim! Pessoas que praticam esportes ao ar livre se sentem mais responsáveis em manter aquele ambiente limpo, livre de resíduos. Desde esportes aquáticos, como surfistas que trazem lixos das águas em seus bolsos, até os esportistas de areia, como jogadores de vôlei e “beach tennis”, que se preocupam em se ferir com as tampinhas e palitos, o engajamento é ainda maior quando estamos conectados àquele ambiente. Cada vez mais estudos mostram os benefícios das atividades físicas, principalmente praticadas ao ar livre, em contato com a natureza. Agora é a nossa vez de trazer os benefícios à natureza da nossa presença, nos conectando e tirando dela a nossa bagunça. #ParadaNoMar #Upcycling #ElaNoMar #Menos1Lixo #Esporte #EsporteEConservacao #BatePapocomNetuno #LigadasMulherespeloOceano #RessoaOceano Esse texto foi produzido em parceria com o projeto Rede Ressoa Oceano, Liga das Mulheres pelo Oceano e Bate-Papo com Netuno. Sobre a Entrevistada Profissional de Educação Física e Esporte, mestre em Ecologia e doutoranda em Ciência e Tecnologia Ambiental. Apaixonada pelo mar e pelas ondas, fundou o “Ela No Mar”, primeiro e único canal de bodysurf do mundo no YouTube ( clique aqui para conhecer mais do canal). Minha vida é pautada na natureza e sou movida especificamente pelo oceano. É ele quem me encoraja a aceitar desafios e superar meus limites, desempenhando o papel de uma bússola tanto no âmbito pessoal quanto profissional. Meu propósito é educar pessoas para que reconheçam o oceano como elemento essencial à vida humana e assim possam tornar-se agentes da transformação positiva da natureza. Sobre as autoras Maria Luiza Abieri é Bióloga e Mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, atua como colaboradora do Bate-Papo com Netuno e bolsista CNPq na Rede Ressoa Oceano. A inserção do Bate-Papo com Netuno à Ressoa Oceano amplia ainda mais a rede, promovendo a divulgação científica e a visibilidade das ciências do mar e cultura oceânica através de informações científicas de qualidade, baseadas em uma linguagem acessível e lúdica. Débora Camacho Luz é Bióloga, formada pela Universidade Federal de Rio Grande (FURG), membro da Liga das Mulheres Pelo Oceano e bolsista CNPq DTI na Rede Ressoa Oceano. A Ressoa Oceano é uma rede formada pela Liga das Mulheres Pelo Oceano, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da UNICAMP (LabJor), a Cátedra da Unesco pela Sustentabilidade do Oceano e a Ilha do Conhecimento. Essa rede tem como objetivo promover a ciência e a cultura oceânica para além do litoral e centros de pesquisa, conectando cientistas e jornalistas para a abordagem do tema nos meios de comunicação e investindo em projetos e iniciativas de comunicação sobre o oceano. Referências | Para saber mais: Canal “Ela no Mar” https://www.youtube.com/c/elanomar #VidaDeCientista #MaluAbieri #ParadaNoMar #Upcycling #ElaNoMar #Menos1Lixo #Esporte #EsporteEConservacao #LigadasMulherespeloOceano #RessoaOceano
- A storyteller called otolith and fisheries biology
By Natasha Travenisk Hoff English edit by Carla Elliff *post originally published in Portuguese on October 8, 2020 In addition to being time tellers, how can otoliths help in fisheries biology? Illustration by Joana Ho. In the world of bony fish, otoliths can be considered true storytellers: these calcified structures , present in the form of three pairs ( sagitta, lapillus and asteriscus ) in the fish's head and responsible for balance and sound perception, they grow in layers of carbonate and protein with daily deposition (like an onion, you know?). These structures allow us, scientists, to make inferences about their eating habits, what type of environment they were born in, whether they migrate, among many other possibilities. The most common and well-known use is in fish growth studies. In the post “ How to know the age of a fish and other things... ”, Chat with Neptune editor, Claudia Namiki, talks about what otoliths are and how much information these small structures carry. Side view of the inner ear of a teleost fish, including the position of the three pairs of otoliths (sagitta, asteriscos and lapillus), and their location in the head. (Illustration by Natasha Travenisk Hoff, license CC-AS-BY 4.0). Generally, those who start working with otoliths begin their studies by analyzing the growth of their rings during their undergraduate or master's degrees, moving on to other types of analysis later... I only started my work with otoliths during my doctorate, in 2015, analyzing their shape and chemical composition applied to fisheries oceanography! Everything was effectively new to me, which represented a great personal and professional challenge! And the most interesting thing is that these little structures always bring me new curiosities, applications, questions... and that makes me want to know more about them every day! What I bring to you today was a chapter from my doctorate, recently published in the Journal of Applied Ichthyology, in which we sought to evaluate, through the shape of the otolith, the population structure of the bigtooth corvina ( Isopisthus parvipinnis , a cousin of the weakfish that is widely caught even though it is not a target species or having much commercial value), from the northern coast of the state of São Paulo to Santa Catarina, divided into five sub-regions, at two very different times: in 1975 and 2018/2019. In other words, we wanted to know if the species has different population units (or fishery stocks) and if these varied over these 43 years, speculating about the causes of these variations. But “how important is this?”, you ask. When we talk about fisheries management, knowledge about different stocks helps us organize fishing and assess the possibility of recovering a species in the face of very intense exploitation ( overexploitation ), whether or not this species is the targeted species, or changes to the natural environment or due to human action. For example, if the population of a species is restricted to the Santos region, it would be much more vulnerable than if it were distributed across the coast of São Paulo. This is the bigtooth corvina (Isopisthus parvipinnis, Sciaenidae) and a map containing the locations where the individuals I analyzed were captured in 1975 and 2018/2019 in the coastal region of the states of São Paulo, Paraná and Santa Catarina. Photo and map: Natasha Travenisk Hoff, license CC-AS-BY 4.0. The shape of the otoliths of each species is unique and, therefore, very useful in studies on the feeding habits of organisms that feed on fish, but the factors that determine this shape have not yet been completely understood. What is known is that there is a strong genetic component, which determines the general shape, but that there is also variability related to sex, age, diet, environmental conditions, and other factors such as water temperature, depth, type of substrate (mud, sand, gravel, etc.). Due to all these influences, population units were found to be recognizable and distinguishable through the variations in otoliths of the same species! Example of different shapes of otoliths. Source: COSS – Brasil ( http://usp.br/cossbrasil/glossario.php ), license CC-BY 3.0. And these variations were observed by us, not only spatially, but also between the two periods studied. Look what we found: In 1975, the bigtooth corvina formed a single population unit. Even living in environments with different oceanographic characteristics, whether under the influence of large estuaries in the south of São Paulo and Paraná (Cananéia and Paranaguá, respectively), or due to the resurgence phenomenon, which affects the north of São Paulo and the region of Santa Catarina. In 2018/2019, a new condition was observed, with the formation of four population units: one in the north of SP, another in the center of SP, a third between the south of São Paulo and Paraná, and a fourth in Santa Catarina. And what could be the causes for such changes? We attribute this differentiation between locations and years to the different ecosystems and oceanographic processes found in the study area, and to changes in the coastline, which have altered the contribution of river waters to the coastal environment in the last 40-50 years, as we can see in the figure below. Evolutionary scheme of the mouth of the Guaraú River (near the collection site in Peruíbe, SP) in the years 1966, 1973, 1981 (Tessler et al., 2006, available at www.mma.gov.br/publicacoes-mma ) and 2020 (Google Maps). Fish, like all living beings, are capable of adapting to natural environmental changes or those induced by human action through modifications in their physiology and behavior, which are not necessarily related to genetic changes, but which directly affect reproduction, morphology or survival. For this reason, it is important to emphasize that our results are not necessarily evidence of genetic differentiation. The use of otoliths to evaluate fish stocks in Brazil is still in its infancy and no other Brazilian species had been approached in the way we did, comparing samples so old with current ones. As this was the first analysis with this species, it is also important that other methods are tested to support and/or challenge the results obtained. Spoiler alert: the analysis of the chemical composition of these same otoliths presented very similar results, but with more confidence in the distinction of population units and also distinguished Santa Catarina from the other locations studied in 1975. In itself, this study raises many other questions, such as: 1. Did this same process happen with other species? 2. Can we see any impact on fishing, given that stocks can behave in different ways in the face of fishing pressure? 3. Could the decrease in the number of bigtooth corvina captured recently be a reflection of this process? It could be, since the species occurs as an accidental capture and little attention is directed to it and so many other species in the same situation. 4. Knowing that changes in the coastal zone due to human action can directly and indirectly impact fish populations, what can we, as a society, do in the face of these changes? Be a critical citizen: seek to know the origin of the fish you consume (why does meat need seals to be sold while fish does not?); whether they are threatened species; support local fisheries; if the sewage of the coastal city you like to visit is treated or the condominium/building/house you are staying in by the sea has a license... Anyway, it is clear that there are natural variations occurring in the ocean that could lead to this distinction between populations, but we have to be aware of the influence that our society exerts (and more so every day!) on different ecosystems, and take responsibility for changes that improve these relationships between human beings and the environment, especially the marine environment! --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- References or reading suggestion Coleção de Otólitos de Peixes Teleósteos da Região Sudeste-Sul do Brasil (COSS – Brasil). Site: www.usp.br/cossbrasil/ Hoff, N.T., Dias, J.F., Zani-Teixeira, M.L., Correia, A.T. 2020. Spatio-temporal evaluation of the population structure of the bigtooth corvina Isopisthus parvipinnis from Southwest Atlantic Ocean using otolith shape signatures. Journal of Applied Ichthyology, 36: 439-450. doi.org/10.1111/jai.14044 Tessler, M.G., Goya, S.C., Yoshikawa, P.S., Hurtado, S.N. 2006. São Paulo , in Muehe, D. (org.), Erosão e progradação no litoral brasileiro. Brasília: MMA. pp. 297-346. www.mma.gov.br/publicacoes-mma Vignon, M. 2012. Ontogenetic trajectories of otolith shape during shift in habitat use: Interaction between otolith growth and environment. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, 420-421(2012):26-32. doi:10.1016/j.jembe.2012.03.021 Volpedo, A.V., Vaz-dos-Santos, A.M. 2015. Métodos de estudos com otólitos: princípios e aplicações. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: PIESCE - SPU. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- About the author Passionate about the sea, music (playing or dancing, I've even given ballroom dancing classes!), and family. I am an oceanographer with a degree from the University of São Paulo, and a master's degree in Science (Oceanography, area of concentration in Biological Oceanography) from the Oceanographic Institute of the University of São Paulo. Currently, I am in the final phase of my doctorate at the same institute, with inorganic chemistry, fish ecology, otoliths, and biotic integrity of fish communities being my main lines of research. Contato: tashahoff@gmail.com #FisheryStocks #Otoliths #IsopisthusParvipinnis #MarineScience #Oceanography #FisheryBiology #MarineBiology #Fisheries #NatashaHoffChat
- 20º COLACMAR e 8º CBO: novos rumos para eventos sobre Ciências do Mar. Será mesmo?
Por Natasha Travenisk Hoff Entre os dias 13 e 16 de agosto, oceanógrafos, biólogos marinhos e todos os apaixonados pelas Ciências do Mar se reuniram em Itajaí (Santa Catarina - Brasil) para a realização do 20º Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar e 8º Congresso Brasileiro de Oceanografia . Foram mais de 2.400 inscritos e, é claro, que o Bate-Papo com Netuno não poderia ficar de fora: tivemos um pôster intitulado “ O papel da Divulgação Científica no incentivo às oportunidades de trabalho nas Ciências do Mar ”, no qual fui autora em parceria com a nossa editora Juliana Leonel. Neste trabalho, mostramos como a atuação do Bate-Papo com Netuno, enquanto plataforma de Divulgação Científica das Ciências do Mar, pode ir além da difusão do conhecimento científico, influenciando e acolhendo, principalmente as mulheres, nas suas escolhas profissionais. Como a vida acadêmica também é a escolha de muitas/os estudiosos do mar, ressaltamos a importância da Rede de Compartilhamento de Experiências na Pós-Graduação . Nossa editora, Natasha T. Hoff, na apresentação do pôster "O papel da divulgação científica no incentivo às oportunidades de trabalho nas Ciências do Mar". Foto cedida por Natasha T. Hoff com licença CC BY NC-ND. Aproveitamos o evento, ainda, para reunir nossas integrantes Carla Elliff, Luiza Soares e eu, Natasha Hoff! Pode parecer simples, mas a equipe do Bate-papo com Netuno divide-se entre cinco estados brasileiros e um encontro entre os membros da equipe é raro. Luiza Soares, Natasha T. Hoff e Carla Elliff, editoras do BPCN, no evento. Foto cedida por Natasha T. Hoff com licença CC BY NC-ND. O evento contou com uma parte cultural muito bacana, com a presença de artesãos e apresentações, como a do grupo “ Tartaruga-de-mamão ”, projeto de extensão do IFSC campus Itajaí que trabalha o tema da preservação marinha usando personagem da cultura catarinense (como o Boi de Mamão ), e que encantou o público de todas as idades! Mas duas coisas chamaram atenção no evento… A primeira diz respeito à participação das mulheres . Logo na cerimônia de abertura, ficou clara a falta de representatividade feminina: uma mesa composta por nove homens e apenas UMA mulher. Um detalhe é que a maioria das pessoas presentes, participantes do evento, eram mulheres. Irônico, não?! Quando questionado no instagram do evento, eles disseram que “tinha uma mulher”. Como se não bastasse a baixa diversidade na mesa de abertura, ao chamar a única mulher ali presente para fazer sua fala, trocaram seu nome pelo nome de um homem na mesma instituição. Ela, com todo jogo de cintura possível para manter o decoro, respondeu ao ocorrido com algo próximo a “é tão incomum chamar mulheres para compor essas mesas que até trocam os nomes na hora, né?!”. Ovacionada pelo público presente! Confesso que isso ficou martelando em minha cabeça e decidi fazer uma estatística básica sobre os convidados (palestrantes e ministrantes) e pasmem: mais de 70% deles eram homens ! E isso sem considerar os simpósios temáticos… Esse desequilíbrio fala muito sobre a invisibilização de mulheres nas ciências , a dificuldade de mulheres alcançarem (e se manterem) em cargos de liderança , a necessidade de superar essa deficiência nos nossos eventos científicos e de combater o machismo estrutural no ambiente de trabalho . O segundo ponto que me chamou a atenção foi a quantidade de famílias com crianças andando pelo evento. Achei muito legal de ver, mas o fato é que, se havia os dois responsáveis presentes, é mais provável que se revezaram para assistir alguma palestra enquanto o outro cuidava da cria. Triste realidade para eventos de tamanha relevância, mas que que ainda não entenderam a necessidade de oferecer “Espaço Kids”, como foi feito na Semana Nacional de Oceanografia de 2023 . Há alguns anos, isso talvez não fosse notado ou questionado, mas, queridos organizadores, o mundo está mudando! Demorou, mas esse momento chegou… esperamos ver maior equidade nos próximos eventos oceanográficos, que também considerem as necessidades das famílias e cuidadores solo! #NetuniandoPorAí #MulheresNaCiência #CiênciasDoMar #COLACMAR2024 #CBO2024












