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- Ciclo de conversas na UFPE: Mulheres na educação ambiental e divulgação das ciências do mar
No dia 23 de agosto de 2022, aconteceu a abertura do evento “ Ciclo de Conversas: Mulheres na Oceanografia ” (CCMO), organizado por discentes do curso de oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco. A primeira conversa do ciclo abordou a temática da atuação das mulheres na educação ambiental e divulgação das ciências do mar . Divulgação da conversa 1 do Ciclo de Conversas: Mulheres na Oceanografia. Fonte: Maria Luiza Rocha Coutinho (CC BY NC-ND) O evento tem como objetivo abordar diversos temas dentro da atuação das mulheres na oceanografia, além de divulgar os trabalhos e pesquisas realizadas por mulheres na área e trazer à tona suas trajetórias e experiências a fim de discutir e, também, de inspirar meninas e mulheres que estejam iniciando suas caminhadas nas ciências do mar. O Bate-Papo com Netuno foi apresentado pela nossa editora, a Dra. Carla Elliff, que apresentou sua trajetória enquanto mulher e cientista do mar. Também participaram da conversa Lia Soares ( Oceanocast ) e a MSc. Mariana Azevêdo ( Núcleo de Educação Ambiental Prof. Fábio Hazin ) . Infelizmente, não foi possível a participação da Profa. Dra. Monica Costa (LEGECE/DOCEAN/UFPE), que também integraria a roda de conversa. A moderação foi feita por Maria Luiza Coutinho, discente de oceanografia na UFPE. Durante a conversa, as convidadas apresentaram suas trajetórias nas ciências do mar e seus respectivos trabalhos na divulgação científica, abordada por Carla e Lia, e na educação ambiental, por Mariana, de maneira presencial e virtual. Participantes da conversa 1 do Ciclo de Conversas: Mulheres na Oceanografia. Fonte: Maria Luiza Rocha Coutinho (CC BY NC-ND) Para mais informações sobre o CCMO, acesse a página do Instagram do Diretório Acadêmico de Oceanografia da UFPE . #NetuniandoPorAí #CarlaElliff #CCMO #MulheresNaOceanografia #MulheresNaCiência #DivulgaçãoCientífica #EducaçãoAmbiental
- VII Semana de Oceanografia da UFPE
Entre os dias 21 e 25 de novembro de 2022, aconteceu a sétima edição da Semana de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (SOUFPE), com o tema “Mudanças Climáticas e Eventos Extremos: a culpa é realmente nossa?”. O evento é organizado todos os anos pela Mar Aberto - Empresa Júnior de Oceanografia da UFPE. Durante o evento, foram abordadas diversas perspectivas das mudanças climáticas ao longo do tempo geológico, na atualidade e as previsões para o futuro, a fim de que os participantes, ao final, pudessem responder à pergunta “a culpa é realmente nossa?”. No dia 24 de novembro, a Maria Luiza Coutinho, integrante da nossa equipe, apresentou na sessão de pôsteres o trabalho intitulado “Popularização da Cultura Oceânica através da plataforma de divulgação científica Bate-papo com Netuno” juntamente com as demais áreas da oceanografia. No pôster, destaca-se o histórico do Bate-Papo com Netuno, as seções temáticas de posts e a quantidade de textos já publicados, além da quantidade de seguidores nas diversas redes sociais onde a iniciativa se faz presente. Maria Luiza R Coutinho, colaboradora do Bate-papo com Netuno, apresentando na sessão pôster da VII Semana de Oceanografia da UFPE. Fonte: Maria Luiza R Coutinho com licença CC BY NC-ND #DivulgaçãoCientífica #CulturaOceânica #VIISOUFPE #MariaLuizaRCoutinho #NetuniandoPorAí
- Jovem cientista ou adolescência acadêmica?
Por Anônima Ilustração de Caia Colla Tecnicamente, sou uma “ jovem cientista ” para a maioria dos editais que aplicam essa categoria. Às vezes, me incomoda essa denominação “jovem”. Tenho quase 35 anos, me viro sozinha, tenho boletos de gente grande para pagar. Dizer que sou uma “jovem” anula tudo isso? Dizer que eu sou uma “jovem cientista” serve para eu me contentar e me conformar em minha posição na hierarquia acadêmica? Tenho graduação, mestrado, doutorado, 5 anos como pesquisadora de pós-doutorado (o famoso pós-doc). Dezenas de publicações, centenas de citações, participação em bancas de graduação e pós. E, mesmo assim, sou uma cientista em início de carreira? Quando é que essa carreira começa? Quando é que ela deslancha? Onde está a linha de chegada nessa corrida? Qual o lugar de uma “jovem cientista”? É um limbo de (i)maturidade? Uma adolescência acadêmica? Jovem demais para ocupar um cargo de chefia, para ter estabilidade na carreira, para ser levada a sério. Velha o suficiente para acumular responsabilidades e atribuições, servir como uma engrenagem na máquina produtivista, ser cobrada como uma profissional completa, mesmo que, numa reunião científica, você seja a única que não tem vínculo empregatício, não tem salário e, terminado o projeto atual, você sai de lá com uma mão na frente e outra atrás. A adolescência é marcada por questionamentos. Seria essa a vocação maior da etapa de “jovem cientista”? Questionar o sistema que nos impõem esse título e que nos passa a mão na cabeça dizendo “muito bem, parabéns por saber brincar de fazer ciência tão direitinho! Mas não vai achando que seu espaço de gente grande tá garantido, hein?” Mas uma “jovem cientista” de 35 anos, com anos de experiência na profissão-não-reconhecida de cientista, tem vontade de ser uma mulher adulta também. Como pensar em “adultezas”, como criar um espaço para chamar de seu (seja um aluguel que você decora a seu gosto ou uma casa própria), família (seja pela maternidade, cuidando de seus pais ou avós, ou qualquer outro papel familiar que você poderia exercer), aposentadoria etc., num sistema que te trata como uma adolescente? Espero que não me entenda mal, nada contra ser jovem. Aliás, ser jovem é exaltado em nossa sociedade. Quantas vezes você já não ouviu “nossa, você nem aparenta sua idade!” como um elogio? A pressão estética por uma juventude eterna está escancarada em qualquer propaganda de cosméticos. E, claro, com um viés maior para as mulheres. Às mulheres, não é dado o direito de envelhecer em paz. Simplesmente ter cabelos brancos, flacidez, rugas... Tudo isso precisa ser escondido, modificado. Pois bem. Cá estou, uma “jovem cientista” com alguns cabelos brancos e outros tantos sinais de que estou de fato tendo o privilégio de ver as primaveras passarem. Mas parece que sigo na balança jovem demais/velha o suficiente. O que acontece agora? #VidaDeCientista #MulheresNaCiencia #JovemCientista #Carreira #Produtivismo
- Afinal, o que tenho a ver com as mudanças climáticas?
Por Bruna Sanches e Jéssica Bonfim Apesar das mudanças climáticas parecerem algo muito distante e que, no fundo, preferimos acreditar que isso nunca irá nos afetar, ela está acontecendo há algum tempo e já faz parte da nossa realidade. Se não dermos a devida atenção a este problema, iremos sofrer cada vez mais as suas consequências. Você pode estar se perguntando, mas como as minhas atitudes podem causar impacto no planeta?”. Uma das respostas está mais próxima do que imaginávamos: o plástico! A poluição por plástico e os impactos das mudanças climáticas são dois temas que saem cada vez mais do ambiente acadêmico e se tornam presentes na mídia e em rodas de conversas do dia a dia. Porém, eles são normalmente tratados como problemas distintos, inclusive são poucos os estudos que trazem uma conexão entre os dois. Esses dois temas estão fundamentalmente ligados de três maneiras: 1) a produção de plástico depende fortemente da extração de combustíveis fósseis e do consumo de recursos finitos, diretamente relacionados com as emissões globais de gases de efeito estufa; 2) o clima influencia na distribuição da poluição por plásticos, que se espalha ainda mais com o aumento de eventos climáticos extremos e inundações; 3) o aquecimento global por si só é capaz de causar diversos impactos no ambiente (como aumento do nível do mar e derretimento das calotas polares), mas quando somado à poluição por plásticos, os efeitos sobre os organismos e ecossistemas marinhos podem ser catastróficos. Fonte: traduzido de Ford et al. (2022), com licença CC BY 4.0. Um exemplo de como plásticos e aquecimento global estão conectados: em 2015, a produção de plástico emitiu mais de um bilhão de toneladas métricas de dióxido de carbono (CO2). Isso representa mais de 3% das emissões globais de CO2 oriundas da queima de combustíveis fósseis. Em comparação, seria o equivalente a encher quase 200 trilhões de balões de aniversário apenas com CO2. Então, a solução seria substituirmos todo plástico de origem de combustíveis fósseis pelos feitos à base de biomassa?! Na prática, não é algo tão simples assim! Como esse material alternativo é derivado de biomassa, é preciso terra para cultivar e crescer as matérias-primas necessárias para a fabricação. Para substituir a demanda de plásticos usados globalmente, seriam necessários 61 milhões de hectares para o plantio de matérias-primas de plástico à base de biomassa, uma área maior que a da França. Sem contar o impacto à biodiversidade com o uso dessa terra para plantações em tamanha escala. Além disso, os plásticos à base de biomassa não são necessariamente biodegradáveis ; alguns são, mas outros apenas se degradam em condições industriais específicas ou, ainda, nem se degradam pois são feitos do mesmo polímero oriundo do petróleo (mas aqui com origem vegetal). Embora os plásticos biodegradáveis possam mitigar problemas relacionados à persistência no ambiente por meio da biodegradação, este processo deve ocorrer em condições controladas em um ambiente de compostagem para poder colher os benefícios do composto produzido. Esse é apenas um dos exemplos dos inúmeros estressores ambientais antrópicos, que, somados aos efeitos físicos das mudanças climáticas, podem intensificar ainda mais seus impactos, como o aquecimento global, aumento do nível do mar, aumento da ocorrência e intensidade de eventos climáticos extremos, derretimento de geleiras, entre tantos outros. Por isso, é importante estarmos cientes do nosso papel como indivíduo e sociedade, e sempre buscarmos informações confiáveis e atuais sobre o nosso planeta, que, afinal, é o nosso único lar! Pequenas mudanças no nosso dia a dia podem fazer a diferença, como a troca de plásticos de uso único ou limitado (como garrafas e garfos de plástico) para itens possíveis de serem utilizados diversas vezes como garrafas de vidro ou metal, utensílios de metal e até produtos menstruais reutilizáveis que estão disponíveis no mercado. Além de ser uma forma de economizar dinheiro, você ajuda o planeta evitando a produção e descarte excessivo de plástico no ambiente. Em 2019, houve um grande destaque na mídia para a implementação de leis em diversos estados do Brasil proibindo o fornecimento de canudos de plástico em estabelecimentos comerciais, sendo o objetivo desses projetos de lei contribuir na luta para diminuir a quantidade de plástico descartada no ambiente. Apesar dos canudos terem sido o centro dessa luta, plásticos feitos de polipropileno (incluindo os canudos) representam apenas 4% do plástico produzido no mundo, então por que esse foco apenas no canudo se há tantos outros itens feitos desse material? Eles são exemplos de como as pessoas podem, de alguma forma, participar dessa luta contra a poluição com escolhas simples do dia a dia. Afinal de contas, é necessário começar de algum jeito. Ademais dessas ações individuais, já existem ações criadas por grandes instituições como governos, empresas e ONGs sendo implementadas por todo o planeta para também diminuir o impacto dos plásticos no oceano, como: Eco Barreiras: estruturas flutuantes cujo objetivo é segurar itens próximos da superfície, dentre eles o plástico devido ao seu peso. Podemos encontrar esse método inclusive no Brasil, por exemplo, em um rio que passa por Porto Alegre – RS e outras cinco cidades importantes economicamente que, no ano em que foi implementada, em 2016, retirou 500 toneladas de plástico do canal; Foto do Projeto Eco Barreiras, com licença CC BY-SA 4.0. Projeto Ecoboat/Renove: desenvolvido no Rio de Janeiro, o barco já coletou 40 mil toneladas de resíduos sólidos da superfície do mar, sendo esse lixo trazido para o continente para ser triado e reciclado, dando um final adequado para os materiais; Seabin Project: criado por dois surfistas na Austrália, o equipamento consiste numa “lixeira” flutuante de baixa manutenção que, desde sua implementação, já capturou 4 mil toneladas de resíduos do oceano, sendo esse material coletado passível de ser utilizado para a fabricação de novos Seabins, criando um efeito dominó de reciclagem. É lógico que há também iniciativas que vão além de retirar o lixo que já chegou no oceano e que todo mundo pode ajudar. Podemos cobrar por políticas públicas, como por exemplo o Projeto de Lei Pare o Tsunami de Plástico , adquirir produtos de projetos inovadores, como os da Marulho , que além de retirar as redes fantasma das praias, atua diretamente com comunidades locais, e sempre repensar o próprio consumo: Meu shampoo não pode ser em barra para evitar o descarte de mais uma embalagem? Minha bucha para lavar louça não pode ser vegetal? E se eu testar utilizar calcinhas absorventes ou copinhos ao invés de usar um monte de absorvente todo mês? Essas são apenas algumas entre tantas outras mudanças que podemos realizar no nosso dia a dia. Todas essas ações são exemplos de atitudes que podem e estão sendo tomadas por diferentes atores da sociedade para manter o planeta habitável para nós e os demais seres vivos que nele vivem. Então, trago a pergunta para você, leitor, quais ações estão sendo feitas por instituições públicas ou governantes na sua cidade? E o que você pode fazer para ajudar com os problemas das mudanças climáticas? Referências BBC News Brasil. Mundo declara guerra ao canudo plástico, vilão do meio ambiente. [S. l.], 8 jun. 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-44419803 . Acesso em: 20 jun. 2024. Beegreen. Conheça algumas soluções inovadoras para retirar lixo dos oceanos. Meio Ambiente Notícias, 12 dez. 2019. Disponível em: https://beegreen.eco.br/solucoes-para-retirar-lixo-dos-oceanos/ . Acesso em: 20 jun. 2024. Helen V. Ford, Nia H. Jones, Andrew J. Davies, Brendan J. Godley, Jenna R. Jambeck, Imogen E. Napper, Coleen C. Suckling, Gareth J. Williams, Lucy C. Woodall, Heather J. Koldewey, The fundamental links between climate change and marine plastic pollution, Science of The Total Environment, Volume 806, Part 1, 2022, 150392, ISSN 0048-9697, https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2021.150392 . -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Sobre as autores Bruna Sanches é formada em Oceanografia pelo Instituto Oceanográfico da USP, onde trabalhou com poluição marinha por metais em organismos e sedimentos ao longo do litoral do Brasil, além de questões relacionadas à segurança alimentar e bioacumulação. No mestrado, continuará o trabalho analisando metais em organismos marinhos da Antártica. Jéssica Bonfim é Oceanógrafa pelo Instituto Oceanográfico da USP. Durante a graduação trabalhou com poluição por metais em sedimentos, e o uso de radioisótopos para análise de taxas de sedimentação e geocronologia. Atualmente, é mestranda em Geofísica pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, onde trabalha com o mapeamento de uma geleira na Antártica a partir de dados de anomalia de gravidade. Bruna e Jéssica elaboraram este texto como projeto da disciplina “Oceano e Criosfera em um clima em mudança”, ministrada pela Prof.ᵃ Dr.ᵃ Renata Nagai e o Prof. Dr. César Barbedo Rocha, do curso de Bacharelado em Oceanografia do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. #Plástico #MudançasClimáticas #LixoNoMar #BatePapoComNetuno #PoluiçãoMarinha #CiênciasDoMar #MeioAmbiente #Oceanografia #BrunaSanches #JéssicaBonfim
- Encontro Brasileiro de Divulgadores de Ciência
Entre os dias 27 e 28 de agosto, ocorreu o Encontro Brasileiro de Divulgadores de Ciência no Instituto Principia (São Paulo, SP). Organizado pela RedeComCiência , Blogs de Ciência da UNICAMP e pelo próprio Instituto Principia , o evento contou com mesas de discussão relacionando divulgação científica com as Universidades, redes e o próprio jornalismo; além de grupos de trabalho nos quais se discutiu sobre financiamento e profissionalização, a busca de espaço para novas iniciativas, acessibilidade e como lidar com tópicos polêmicos e desinformação. Vale destacar a presença feminina no evento, compondo 70% entre palestrantes e moderadoras. Imagem 1: Mesa de discussão composta apenas por mulheres no Encontro Brasileiro de Divulgadores de Ciência. Fonte: Natasha Travenisk Hoff com licença CC BY NC-ND As Ciências do Mar estiveram ali representadas não apenas pelo Bate-Papo com Netuno, mas também pela Adriana Lippi ( Liga das Mulheres pelo Oceano ), Gustavo Shintate ( ICRS Student and Early Research Chapter) e pelo Gabriel Leandro Gomes, o Gabu ( Projeto Cachalote Peregrino ). Imagem 2: Nossa editora Natasha T. Hoff na sessão de pôsteres do Encontro Brasileiro de Divulgadores de Ciência. Fonte: Natasha Travenisk Hoff com licença CC BY NC-ND Nossa editora Natasha T. Hoff representou o Bate-Papo na sessão de pôsteres no dia 27 (Imagem 2), juntamente com divulgadores de diversas outras iniciativas de divulgação científica das diversas áreas do conhecimento. Ela também participou do grupo de trabalho cuja pergunta central era: Como tornar o conteúdo da divulgação científica mais acessível para pessoas com deficiência? Esta foi uma oportunidade muito enriquecedora e que se espera contribuir para tornar o Bate-Papo com Netuno mais acessível. Que tenha sido o primeiro de muitos encontros de divulgadores de Ciência e que novas propostas de mudanças venham por aí! # NetuniandoPorAí #NatashaTHoff #EBDC #DivulgaçãoCientífica
- O oceano e o ENEM
Por Maria Luiza Coutinho O oceano é importante para a manutenção da vida no planeta Terra, como na regulação do clima e produção de oxigênio, sendo o verdadeiro “pulmão do mundo". Muitos de nós sabemos disso - ou pelo menos a nossa comunidade Netuniana sabe! Mas a questão é: por que a temática do oceano é tão negligenciada nas questões do ENEM? Assuntos como a composição da Terra são explorados rotineiramente, mas por que o oceano, que representa cerca de 70% do planeta, não? Me dei conta disso quando ingressei no curso de Oceanografia da UFPE e, ainda no primeiro semestre, na disciplina de “Introdução à Oceanografia”, a professora Monica da Costa passou um trabalho no qual eu e a Anna Carolina Felipe, deveríamos quantificar as questões do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em que a temática do oceano era abordada. O resultado foi surpreendente e isso nos intrigou. Desde então, levamos essa informação a eventos nacionais de Oceanografia para ampliar o debate. O ENEM existe desde 1998 e surgiu com o propósito de avaliar o conhecimento dos concluintes do ensino médio no Brasil. Com a reestruturação ocorrida em 2009, o ENEM passou a ser uma das principais vias de acesso ao ensino superior no país. As questões da prova, principalmente a redação, abordam temas da atualidade dentro de um contexto aplicado, integrando todas as áreas do saber científico e do cotidiano, a fim de estimular o desenvolvimento de soluções para os problemas do mundo contemporâneo. Apesar do novo rearranjo da prova do ENEM, percebe-se que questões que abordam assuntos relacionados ao oceano apresentam-se de maneira escassa. Basta ter feito a prova, pelo menos uma vez na vida, que isso fica perceptível. Podemos contar nos dedos de uma única mão quantas questões caíram. Assim, começamos a nos questionar se isso estaria relacionado com a inexistência da abordagem do assunto nas escolas do Brasil, pois nota-se que, quando discutido, é geralmente nos grandes centros urbanos litorâneos. Fizemos uma revisão de 1800 questões que formam 20 cadernos de provas do ENEM dos anos de 2014 a 2021, incluindo os formatos digitais do exame que aconteceram em 2020 e 2021. Os temas das redações desde a criação da prova também foram analisados a fim de quantificar quantos abordavam o oceano de maneira direta ou indireta. As questões, após identificadas, foram separadas em 5 categorias: oceanografia biológica, oceanografia física, oceanografia química, oceanografia socioambiental e oceanografia geológica. E adivinhem… O resultado foi chocante! Apenas 46 questões, dentre 1800, abordavam a temática do oceano, representando um valor de 2,6%. Dentre elas, a área mais abordada é a oceanografia biológica, seguida pela oceanografia socioambiental, oceanografia química e física. A menos abordada foi a oceanografia geológica, com somente 2 questões. Total de questões (N=1800) das edições do ENEM 2014-2021 que abordavam a temática do oceano (N=46). Fonte: Maria Luiza R Coutinho com licença CC-BY-NC-ND. Gráfico com o número de questões sobre a temática do oceano por ano do ENEM. 2020 (D) e 2021 (D) representam a versão da aplicação digital do exame. Fonte: Maria Luiza R Coutinho com licença CC-BY-NC-ND. Mas o que esses dados querem nos dizer? O óbvio! O oceano está sendo negligenciado através de práticas humanas que tem gerado inúmeros danos como a poluição ou a extinção de espécies. Grande parte destes problemas estão associados à falta de conhecimento da população sobre a influência dos oceanos em todo o sistema Terra e devido a isso, a importância de que todos o conheçam, pois conhecendo podemos começar a ter boas práticas para preservá-lo. Estudos mostram que o tema Impactos Ambientais sempre foi abordado nas provas do ENEM, mas de maneira escassa e desintegrada. Esse cenário não é diferente quando se observa o ensino do mesmo nas escolas brasileiras. Muitas vezes, o assunto não possui abordagem ampla, tornando-o de difícil entendimento e mecânico para os alunos, que findam não formando uma visão crítica sobre o assunto. Isto faz com que os espaços de manifestações se tornam restritos a apenas uma parte privilegiada da sociedade. Uma vez que as escolas brasileiras possuem uma falsa noção de sucesso diante ao quantitativo de aprovações nos vestibulares, as práticas pedagógicas e os professores têm sua autonomia limitada aos conteúdos mais explorados na prova. Com isso, assuntos como o funcionamento do oceano, de extrema importância para a população, são abordados superficialmente quando convém. O próprio termo “ Cultura Oceânica ” surgiu no início dos anos 2000 nos Estados Unidos quando pesquisadores perceberam que a temática do oceano não era abordada na grade curricular das escolas do país. O cerne do termo é a influência que o oceano tem nos humanos e, também, a influência que os humanos têm no oceano, realizando uma abordagem holística não só das relações naturais, mas compreendendo as relações humanas sociais, históricas, culturais e econômicas. A perspectiva que se tem é que com a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável essa realidade mude, mas para isso é necessário que haja uma maior difusão da cultura oceânica, não só no litoral, mas também, no interior do país. Para isso, é necessário um maior fortalecimento entre a universidade e a comunidade através da atuação e criação de projetos extensionistas, formações de professores para que possam repassar o conhecimento para seus alunos de forma íntegra e, claro, que a temática do oceano seja integrada não só a disciplinas de ciências exatas da natureza, mas de forma multidisciplinar. E nós, cientistas e amantes do mar, precisamos nos mobilizar para isso! Os dados apresentados foram publicados por mim e pela Ana Carolina Felipe da Siva na Tropical Oceanography, Recife, v. 49, n. ESPECIAL, p. 5-8, 2022 (acesse aqui ) #CiênciasDoMar #ENEM #CulturaOceânica #EducaçãoOceânica #EnsinoBrasileiro #Oceano #BatePapoComNetuno #MariaLuizaRCoutinho
- Environmental Protection Areas: without management they are just "paper parks”
By Jana M. del Favero English edit b y Lidia Paes Leme and Katyanne Shoemaker *post originally published in Portuguese on October 9, 201 5 Illustration adapted from Greenpeace . Unidades de Conservação (UCs), or Conservation Units in English, are the Brazilian denomination for what is widely known as protected areas . They are legally-protected natural areas essential for the conservation of biodiversity. While these regions protect diverse and fragile ecosystems, they also play an important role for society's well-being; controlled activities for public use can be developed in their space, be they of a scientific, educational or recreational nature. However, the creation of protected areas alone is not enough to ensure their preservation. It is necessary to manage them effectively in order to conserve the resources therein (see references below for more information on this), which is more or less equivalent to keeping your house in order. Creating conservation units without the foresight of managing them causes countless regional problems. For example, poor implementation can damage the relationship between the local communities and the maintaining institutions (such as the Chico Mendes Institute for Biodiversity Conservation - ICMBio and the Forestry Foundation - FF), resulting in regional dissatisfaction and the wearing away of the institutional name and image (see references). According to a study from 2002, listed below, a large fraction of the conservation units in the world are so-called " paper parks ", that is, despite the designation of protected area, no steps were ever actually implemented to properly manage them. In order to eliminate the risks of creating "paper parks" in Brazil, the Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (National System of Conservation Units) was created. SNUC is an established set of official guidelines and procedures specific to different management categories (details of those categories can be found here ). According to the Panorama of Conservation of Coastal and Marine Ecosystems in Brazil (available here ), in 2010 there were 222 UCs created in coastal and marine areas, 102 federally managed and 120 state managed. Only 1.57% of the 3.5 million square kilometers of ocean under Brazilian jurisdiction is protected in conservation units. If you include the estimated area included in coastal zones, that percentage rises to 3.14%, or less than a third of the target set by the National Biodiversity Commission (Conabio), which is a commission created with the objective of protecting at least 10% of its marine and coastal area. Among the entire Brazilian coast, the region of the State of São Paulo is the one that suffers most from anthropogenic actions (changes made by humans), mainly due to real estate pressure. Additionally, the coast of São Paulo is increasingly targeted due to its strategic location in relation to the major industrial centers in the country and the connection with port systems for imports and exports. Oil discoveries in the pre-salt region of the Santos Basin also attract the oil and gas industry and road and railroad enterprises. Within the State of São Paulo, the municipality of Bertioga is one of the few areas still preserved, even though it is located near urban centers and on the busy Rio - São Paulo axis. This region constitutes an important biological corridor between marine-coastal environments, represented by the restinga and the Serra do Mar, thus forming a continuous area whose protection is fundamental to guarantee the preservation of ecological processes and gene flow. Thus, based on the biological relevance of the area the State Council of Environment - Consema sought to preserve the area in October 2010. After years of discussion and analysis of different proposals submitted by different agencies, a region consisting mostly of the Restinga de Bertioga State Park (PERB) was designated an Area of Relevant Ecological Interest (ARIE). The PERB was officially created by State Decree No. 56,500, December 9, 2010 (more information about the PERB here ). Location of the Restinga de Bertioga State Park. PESM = Parque Estadual da Serra do Mar (Source: Banzato et al., 2012 ). In this same year, 2010, I was taking a specialization course in Environmental Management at Senac and needed to do the final paper for my course (TCC). I got together with a group of 3 people from different areas: Barbara Banzato - oceanographer, José Augusto Auroca - sociologist, and Juliana Carbonari - tourism expert, and we had no doubts about which area to study, PERB! At the time it was necessary to urgently implement integrated environmental management programs that would guarantee the prompt establishment of the PERB and active popular participation in environmental issues, thus avoiding the creation of yet another paper park. Thus, to contribute to the elaboration of the management plan for the UC in question, we conducted an environmental diagnosis of the PERB area and its surroundings through a critical analysis of the current park conditions, identifying the strengths and weaknesses of the area and possible threats and opportunities for the park. We used two methods, SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats) and GUT (Gravity, Urgency and Tendency), to analyze 18 questionnaires obtained through interviews with key people linked to the creation of the PERB. The main advantages of the park as pointed out by the methods were: abundance of natural resources, strategic location of the PERB, mosaic with different UCs, good conservation status of different ecosystems, preservation of the area, research development and ecotourism potential. The most important threats were: proximity to urban centers, lack of infrastructure, influence of a federal highway, hunting, fishing, irregular occupation and uncontrolled tourism. Left: Itaguaré River mouth - Right: Aerial view of the region. Photos: Adriana Mattoso. Source Left: Itaguaré River mouth - Right: Spoonbills in the region's mangrove Photos: Adriana Mattoso. Source The work was relevant in two aspects: by representing the first initiative to analyze PERB - pointing out its most critical restrictions and driving forces that can help in the effective management of the park, and by using easy-to-use methodologies to analyze UCs, showing that they can help in effective management (the published work can be obtained here ). Today, doing a quick search on PERB, I saw that they opened earlier this year (2015) two new trails, developing ecotourism practices for recreation and environmental education (information here ). I was glad to see that, it seems to me, PERB will not be just another "paper park" . References: ARTAZA-BARRIOS, O.H. Análise da Efetividade do Manejo de duas Áreas de Proteção Ambiental do Litoral Sul da Bahia. Revista de Gestão Costeira Integrada, v. 7, n.2, p. 117-128. 2007. BANZATO, B. M. ; FAVERO, J. M. ; AROUCA, J. A. C. ; CARBONARI, J. H. B. . Análise ambiental de unidades de conservação através dos métodos SWOT e GUT: O caso do Parque Estadual Restinga de Bertioga. Revista Brasileira de Gestão Ambiental, v. 6, p. 38-49, 2012. FARIA, H.H. Eficácia de gestão de unidades de conservação gerenciadas pelo Instituto Florestal de São Paulo, Brasil. 2004. 401f. Dissertação (Doutorado em Geografia) – Universidade Estadual de São Paulo, 2004. TERBORGH, J.; SCHAIK, C. V. Por que o mundo necessita de parques? In: Tornando os parques eficientes: estratégias para conservação da natureza nos trópicos. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2002. #MarineScience #CoastalEcosystems #MarineEcosystems #PaperParks #ConservationUnits #ProtectedAreas #JanaMDelFavero
- “E o que eu tenho a ver com o oceano?” perguntou a menina que morava a 700 km do mar
Por Maria Luiza R Coutinho Ilustração de Joana Dias Ho . Nasci a 700 km do mar, no interior de Pernambuco e, frequentemente, me perguntava o que eu, ali distante, tinha a ver com o oceano (e o oceano comigo). Mesmo assim, como sou apaixonada pela multidisciplinaridade, resolvi cursar oceanografia. Então, esse post é para você que ainda não entendeu que o oceano influencia a vida de todas as pessoas, independentemente da distância que você esteja dele. Comecemos pelo mais simples: o ciclo da água. Esse ciclo se caracteriza como a troca contínua de água entre a atmosfera, as águas subterrâneas (aquíferos), águas superficiais (rios, lagos, açudes, o oceano ) e as plantas. Dessa maneira, as águas que caem das chuvas no interior dos continentes são transportadas pelos rios até o oceano. E sabe o que mais vai parar no oceano? Tudo (ou quase tudo) que tem na água do rio. Desde nutrientes importantes para a produtividade marinha, até contaminantes, que podem pôr em risco a vida dos organismos. Esquema do ciclo hidrológico. Fonte: Maria Luiza R Coutinho/CC BY 4.0 Assim, entendendo essa conexão, fica mais claro que ao poluir as águas no interior do continente, elas chegarão em algum momento no litoral, poluindo o oceano. Da mesma forma, a evaporação constante de água do oceano é a principal causa das chuvas em todo o planeta, inclusive das chuvas no sertão. Sabia que a principal origem das chuvas que caem no sertão nordestino é formada nas chamadas “piscinas quentes do Atlântico Norte”? Esse fenômeno acontece a partir da água do oceano que evapora e viaja pela atmosfera. Quando chega no hemisfério sul, este “rio voador” se encontra com nuvens de poeira vindas do Deserto do Saara e, então, formam nuvens que precipitam no final do verão lá no sertão. Quem diria que o Deserto do Saara teria esse papel fundamental nas chuvas do nosso país?! Mas você pode se perguntar "Por que a água da chuva não é salgada se vem do mar?”. Vamos lá... Durante a evaporação somente a molécula da água (H2O) participa do processo, e os sais (como o cloreto de sódio - NaCl e os muitos outros tipos de sais presentes na água do mar), não. Uma das razões principais para isso é que o ponto de ebulição da água é 100°C, já o do cloreto de sódio é aproximadamente, 1000°C, ou seja, 10x maior!!! Juntando essa propriedade físico-química da água e dos sais a outros fatores como velocidade das moléculas, pressão, vento, superfície de contato, concentração de substâncias etc. , temos nosso mar de água salgada e nossa chuva de água doce! Outro fato importante é que o oceano é um grande reservatório de calor do planeta Terra. Isso se dá por uma característica física da molécula de água: o calor específico, que é a quantidade de calor necessária para que um grama de uma substância sofra a variação de temperatura de 1°C. Como exemplo, vamos pensar de novo no Deserto do Saara, que possui altas temperaturas durante o dia e baixíssimas, durante a noite. Tal fenômeno faz com que a vida no Saara seja escassa. Mas sabe qual o motivo disso? O Saara possui 9 milhões de m2 de extensão e são, aproximadamente, 150 m de profundidade de areia. A areia é caracterizada por ter baixo calor específico (0,2 cal/g.°C), o que lhe atribui a característica de baixa capacidade de armazenar calor e faz com que ela sofra drásticas mudanças de temperatura rapidamente (saindo de 60°C para -40°C em algumas horas, como acontece lá no nosso exemplo). Já a água, devido ao alto calor específico (1 cal/g.°C), limita as mudanças severas de temperatura. Um exemplo disso, seria a comparação entre o clima típico de um mês de maio na cidade do Recife e a de Caruaru, ambas cidades de Pernambuco e que ficam a 133 km de distância. Entre o dia (29ºC) e a noite (27°C) em Recife, não há grandes variações na temperatura, isso se dá porque a cidade é litorânea, e o oceano age como um armazenador de calor. Já Caruaru, que está distante do oceano, tem muito mais superfície de areia (que possui baixo calor específico), fazendo com que haja mudanças significativas na temperatura entre dia (29°C) e noite (21°C). Além disso, não podemos esquecer que quase metade do oxigênio do planeta é produzida por microalgas e cianobactérias que vivem no oceano. Confira na imagem abaixo os pequenos organismos responsáveis pelo ar que respiramos! Microalgas produtoras de oxigênio. Fonte: Alexander Klepnev/CC BY 4.0 Com isso, podemos afirmar que o oceano auxilia a regular o clima da Terra, absorvendo calor nas regiões próximas ao Equador e transportando para as altas latitudes (se quiser saber mais sobre este processo, veja o post sobre Circulação Termohalina ), e fornece oxigênio ao planeta, tornando possível diferentes formas de vida como nos exemplos citados acima. Imagine que, sem o oceano, a Terra seria um imenso deserto… Esses são apenas alguns exemplos de como o oceano aparece nas nossas vidas, mesmo se estamos distantes do litoral. Você consegue pensar em mais alguma forma sobre como o oceano influencia você? Conta pra gente e aproveite muito esse Dia Mundial do Oceano para entender e disseminar a importância dele! E sempre lembrando: o oceano é responsabilidade de todos nós! #CiênciasDoMar #MariaLuizaRCoutinho #CulturaOceânica #ImportânciaDoOceano #RegulaçãoDoClima #CicloDaÁgua #InteraçãoOceanoAtmosfera
- XXXIII Semana Nacional de Oceanografia
Entre os dias 08 a 14 de outubro de 2023 aconteceu a XXXIII Semana Nacional de Oceanografia (SNO) no campus Recife da Universidade Federal de Pernambuco. O evento é tradicionalmente organizado por discentes de cursos de oceanografia, sendo o maior de caráter anual das ciências do mar e ocorreu pela primeira vez em Pernambuco, abordando a temática “DA LAMA AO CORAL: desafios socioambientais dos ecossistemas marinhos tropicais”. Durante o evento, foram discutidos diversos assuntos acerca da oceanografia enfatizando a Oceanografia Socioambiental, sub-área ainda em discussão e consolidação. No dia 11 de outubro de 2023, aconteceu o Encontro de Divulgadores das Ciências do Mar , o qual o Bate-Papo com Netuno organizou juntamente com a comissão do evento. A Maria Luiza Coutinho, integrante da equipe, além de mediar a mesa, também apresentou o BPCN. A mesa foi formada por Maria Luiza Coutinho, Bárbara Pinheiro, Cláudia Cunha e Marcela Cintra e discutiu sobre a atuação e horizontalidade da divulgação das ciências do mar. Mesa do Encontro de Divulgadores das Ciências do Mar na XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Fonte: Acervo fotográfico da XXXIII SNO com licença CC BY NC-ND. Mesa do Encontro de Divulgadores das Ciências do Mar na XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Fonte: Acervo fotográfico da XXXIII SNO com licença CC BY NC-ND. Além disso, no dia 12 de outubro de 2023, Maria Luiza Coutinho também apresentou na versão banner o trabalho intitulado “Bate-Papo com Netuno: uma plataforma de divulgação das ciências do mar com oito anos de sucesso” na seção Ensino e Extensão das Ciências do Mar. No trabalho, destacamos as principais metodologias aplicadas para o gerenciamento e organização da equipe do BPCN para que se mantivesse durante tantos anos. Maria Luiza R Coutinho, colaboradora do Bate-papo com Netuno, apresentando na sessão pôster Ensino e Extensão das Ciências do Mar da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Fonte: Maria Luiza R Coutinho com licença CC BY NC-ND. #SemanaNacionalDeOceanografia #MariaLuizaRCoutinho #DivugaçãoDasCiênciasDoMar #NetuniandoPorAí
- Pesca Fantasma e Empreendedorismo Feminino: de grave problema do mar à oportunidade
Por Malu Abieri e Debora Camacho Ilustração de Maria Luiza Abieri Pesca fantasma parece algo bastante assustador, não é mesmo? E é! Não envolve nada de sobrenatural, mas diversos seres marinhos acabam mutilados, presos e até afogados por objetos que, na maioria das vezes, não estão vendo. A Pesca Fantasma envolve petrechos de pesca (instrumentos como redes, anzóis e espinhéis), que foram abandonados ou perdidos pelos pescadores, e que continuam capturando os animais marinhos mesmo sem a intenção, por isso “fantasma”. Anualmente, estima-se que 25 milhões de animais são afetados pela pesca fantasma na costa do Brasil (clique aqui para saber mais do estudo Maré Fantasma ). Além da pesca acidental, este problema também afeta economicamente as comunidades pesqueiras e termina por liberar microplásticos no oceano (quer saber mais sobre a pesca fantasma e suas consequências clique aqui ). Mas e o que a Pesca Fantasma e o Empreendedorismo Feminino têm a ver entre si? Como aconteceu essa “captura”? Empreender, palavra com origem no francês “entreprendre”, significa “assumir empreitada que exige esforço e muito empenho”¹. Palavras como empreendedor e empreendedorismo estão na moda, sobretudo após a pandemia de COVID-19, onde muitas pessoas precisaram se reinventar para sobreviver ou simplesmente encontraram uma oportunidade de gerar uma renda extra em tempos de tantas incertezas. O empreendedorismo feminino estimula o protagonismo de mulheres na idealização, criação e liderança nos negócios. O que contribui para uma maior participação de mulheres no mercado de trabalho, estimuladas também pelo sentimento de sororidade (cooperação e acolhimento entre mulheres) e redução da desigualdade de gênero. E foi neste cenário que o casal de oceanógrafos, Bia Mattiuzzo e o seu companheiro, Lucas Gonçalves, idealizaram a empresa Marulho na Ilha Grande, em Angra dos Reis/RJ. Conversamos com a Bia para entender quais os caminhos percorridos, quais os desafios enfrentados, dicas para mulheres que querem apostar em um novo empreendimento e, principalmente, dificuldades pessoais encontradas por ela, por ser uma mulher jovem em um meio dominado pelos homens, como o mar e a pesca. Bia e Lucas, fundadores da Marulho na Ilha Grande - Angra dos Reis/RJ. Imagem cedida por: Bia Mattiuzzo. Bia nos contou que não teve um “clique” para criação da Marulho, mas sim que foi um processo. Formada em oceanografia pela USP e mestre em Práticas de Desenvolvimento Sustentável, Bia trabalhou como voluntária fora do Brasil e acabou na Ilha Grande no Rio de Janeiro como instrutora de mergulho em um trabalho temporário, onde foi cativada pela comunidade local e viu que ali seus conhecimentos científicos poderiam ser mais úteis. Ao se aproximar das comunidades caiçaras (tradicionais) da Ilha, percebeu a dimensão da realidade paradoxal, de um lado um local paradisíaco com forte turismo náutico de luxo e do outro uma comunidade caiçara vulnerabilizada com grandes problemas sociais e ambientais, como resíduos gerados pela pesca e prejuízos da pesca fantasma. Ela nos conta que durante os meses que passou por lá, via se acumular redes de pesca deixadas por grandes barcos. Acompanhando essa realidade, Bia e Lucas, desejavam viajar pela costa brasileira conhecendo mais de perto as realidades das comunidades costeiras, buscando por informações e soluções para esse acúmulo de plástico da pesca e outras questões socioambientais. Porém seus planos foram interrompidos em 2020 pelo início da pandemia de covid-19 que não só prejudicaram sua viagem, como agravaram problemas econômicos de comunidades em locais tão dependentes do turismo, como a Ilha Grande. Bia e Lucas viram então a OPORTUNIDADE. Criada em uma comunidade de pescadores artesanais na Ilha Grande, a Marulho viu nas redes de pesca abandonadas e no conhecimento dos pescadores locais uma oportunidade de gerar lucro, resolver um problema ambiental grave e ainda gerar impacto positivo para a comunidade, fosse através da geração de renda ou da divulgação do conhecimento. Em seu início, a empresa contou com a ajuda e apoio do Seu Filinho, pescador e redeiro caiçara de 83 anos, que usava seu conhecimento tradicional para entrelaçar as redes de pesca descartadas, confeccionando saquinhos para serem vendidos nas pousadas da Ilha. Dona Edemeia e Seu Filinho, figuras tão importantes para o sucesso da Marulho. Imagem cedida por: Bia Mattiuzzo. No começo a empreendedora conta que teve muita dificuldade para conseguir acessar novos parceiros, muito disso pelo fato de ser mulher, uma vez que a costura das redes nas comunidades pesqueiras é tradicionalmente realizada por homens. Buscando um empoderamento feminino na comunidade, há tanto tempo marcada por um sistema machista, o casal optou por tornar Bia líder nas questões de parcerias da Marulho, enquanto o Lucas seria responsável pelas questões administrativas e contábeis. A “cara” da Marulho se tornou a Bia, que passou a ir às reuniões sozinha e fazer as negociações, conquistando a confiança da comunidade. Ao deixar os materiais para produção nas casas dos pescadores, permitia que os mesmos produzissem em seu tempo e espaço. Assim, também pode conhecer mais de perto a realidade das famílias, passaram a relatar que em algumas as mulheres passaram a ajudar na produção.. Aos poucos as mulheres da comunidade passaram a ter mais espaço na confecção dos produtos, estimuladas cada vez mais pela própria Bia (olha aí a tal da sororidade). Criaram então mais produtos que envolvessem a produção feita por mãos de mulheres, como os saquinhos de algodão e as sacolas de algodão e rede de pesca. Esse último sendo uma parceria entre as costureiras e os redeiros. Atualmente, a Marulho conta com 17 colaboradores(as) na confecção de produtos, sendo a metade mulheres. Bom, se “Marulho” quer dizer, tecnicamente, barulho do mar, Bia e Luca estão conseguindo gerar muitos marulhos: “Transformando redes de pesca em novos produtos, evitando a pesca fantasma, JUNTO às comunidades costeiras”. É através dessa pegada, atrelado a um outro lado da Marulho que é a divulgação científica, que eles têm aproximado pessoas do Oceano. “É uma coisa que eu prezo muito dentro da Marulho, unir o saber das comunidades tradicionais e o saber mais acadêmico e científico. E levar, nem que seja por meio das telas, para pessoas que estejam em outros cantos”. A empresa já realizou diversas oficinas lúdicas para costura da rede de pesca e desenvolvimento de novos produtos, além da valorização do saber e dos conhecimentos caiçaras e conscientização sobre a pesca fantasma. Para impulsionar a empresa, o casal realizou cursos e “acelerações” como o Sebrae Impacta e a Ago Social , ambos voltados para negócios de impacto. Além de muitos vídeos em plataformas gratuitas, como o youtube. O empreendedorismo não é romântico, porém esse processo é importante para crescer. Um grande conselho que a Bia dá para quem está começando essa empreitada é: nada se faz sozinha! Busque conhecimento! E defina papéis, sem tentar dominar o espaço do outro. Seja por cursos (gratuitos ou pagos), plataformas gratuitas e/ou redes de contato ( Networking ). As empresas de impacto positivo costumam ser muito colaborativas e têm grande retorno para ajudar. Ser empreendedor ------------por si só já é um desafio, mas empreendedorismo feminino e com impacto é algo muito maior. “A maré enchente ergue todos os barcos” (“ The rising tide lift all boats ”), o sucesso da Marulho trouxe benefícios e sucesso para muitas pessoas da comunidade envolvida além de ganhos ambientais (redução da pesca fantasma e devido descarte do plástico). Esse texto foi produzido em parceria com o projeto Rede Ressoa Oceano, Liga das Mulheres pelo Oceano e Bate-Papo com Netuno. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Sobre a entrevistada Bia Mattiuzzo ou Bia “da Marulho” é a Fundadora e faz-tudo da empresa Marulho. Formada em Oceanografia na Universidade de São Paulo - USP trabalhando com bioacústica de cetáceos e mestre em Práticas de Desenvolvimento Sustentável pela UFRRJ onde avaliou o impacto socioambiental da Marulho, além de instrutora de mergulho autônomo NAUI. Sobre as autoras Débora Camacho Luz é Bióloga, formada pela Universidade Federal de Rio Grande (FURG), membro da Liga das Mulheres Pelo Oceano e bolsista CNPq DTI na Rede Ressoa Oceano. A Ressoa Oceano é uma rede formada pela Liga das Mulheres Pelo Oceano, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da UNICAMP (LabJor), a Cátedra da Unesco pela Sustentabilidade do Oceano e a Ilha do Conhecimento. Essa rede tem como objetivo promover a ciência e a cultura oceânica para além do litoral e centros de pesquisa, conectando cientistas e jornalistas para a abordagem do tema nos meios de comunicação e investindo em projetos e iniciativas de comunicação sobre o oceano. Maria Luiza Abieri é Bióloga e Mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, atua como colaboradora do Bate-Papo com Netuno e bolsista CNPq na Rede Ressoa Oceano. A inserção do Bate-Papo com Netuno à Ressoa Oceano amplia ainda mais a rede, promovendo a divulgação científica e a visibilidade das ciências do mar e cultura oceânica através de informações científicas de qualidade, baseadas em uma linguagem acessível e lúdica. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Referências | Para saber mais: Estudo Maré Fantasma: https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2018/12/animais-marinhos-impactados-pesca-fantasma-brasil-peixe-plastico Pesca Fantasma: https://www.batepapocomnetuno.com/post/pesca-fantasma-um-monstro-marinho-de-verdade Sororidade: https://institucional.ufrrj.br/casst/files/2021/02/Sororidade-e-Combate-%C3%A0-Viol%C3%AAncia-contra-a-mulher.pdf Empresa Marulho, sobre a empresa e seus produtos: https://fazermarulho.com.br Cursos Sebrae Impacta: https://sites.rj.sebrae.com.br/inscricao/projeto-impacta-pre-aceleracaogclid=Cj0KCQjw9rSoBhCiARIsAFOipllsbCjS3neMDed19uSlshdp5srcihEKfUEKWY8u2Pa1Hp73CHTVlpsaAtoVEALw_wcB Cursos Ago Social: https://agosocial.com.br/ #Empreendedorismofeminino #Mulherlider #Empreendedora #EmpreendedorismoSocial #Marulho #BatePapocomNetuno #LigadasMulherespeloOceano #RessoaOceano
- Protagonismo feminino na XXXIII Semana Nacional de Oceanografia: tecendo realidades mais acolhedoras
Por Maria Luiza R Coutinho A Semana Nacional de Oceanografia (SNO) é o maior evento de caráter anual das Ciências do Mar no Brasil e é tradicionalmente organizada por discentes dos cursos de Oceanografia. O evento tem como objetivo a integração dos 14 cursos de bacharelado em Oceanografia e Oceanologia do Brasil, promovendo encontros acadêmicos-científicos como palestras, minicursos, apresentação de trabalhos, além de atividades culturais e desportivas. A cada ano, há um rodízio de sedes entre as regiões Norte/Nordeste e Sul/Sudeste para que haja maior acessibilidade. Em outubro de 2023, ocorreu a sua 33a edição, sediada pela Universidade Federal de Pernambuco, que abordou a temática “DA LAMA AO CORAL: desafios socioambientais dos ecossistemas marinhos tropicais”. A comissão organizadora do evento contou com 59 discentes de Oceanografia, sendo 37 mulheres incluindo a mim, Maria Luiza, como presidente. Além disso, organizamo-nos em 11 comissões, sendo nove delas lideradas por mulheres. Contamos, também, com a orientação de três docentes, dentre eles, uma mulher, a Profª Monica da Costa. Desde a primeira reunião da comissão organizadora, a pauta “acolhimento e diversidade” sempre foi colocada em questão. A nossa meta era transformar a SNO, um evento que ainda é elitizado, quando se analisa a realidade brasileira, em um modelo de como devem ser os eventos científicos: inclusivos, diversos e representativos. Confesso que não foi nada fácil convencer algumas pessoas do porquê deveríamos ter fraldários nos banheiros ou uma mesa de abertura diversa (saindo daquela tradicional onde só há homens cis, brancos e héteros). Essa parte da mesa de abertura foi super difícil, pois tradicionalmente convidam-se os representantes das instituições para compor a mesa, e como sabemos, estes são todos homens brancos. Mas ao mesmo tempo, muitos vestiram a camisa e apoiaram a causa, o que foi fundamental para a realização de tudo isso. Mesa de abertura da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Fonte: Acervo da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia com licença CC BY NC-ND. O nosso ponto de partida para planejar esse acolhimento e diversidade foi o Guia da Diversidade e o Guia de Acolhimento elaborado pela Associação Brasileira de Mulheres nas Geociências (ABMGeo). Montamos uma comissão destinada a lidar somente com essa pauta e, dentro de nossas possibilidades, fomos traçando algumas metas. Além do apoio material, as Geomamas (grupo de trabalho da AMBGeo) foram fundamentais na orientação. Gratidão à Marion Freitas! Eu havia participado do XXVII Congresso Brasileiro de Paleontologia e conheci uma integrante das Geomamas que estava atuando no evento com o espaço destinado ao cuidado dos filhos de mães/pais congressistas e trabalhadores do evento. Achei aquilo incrível, pois nunca havia ouvido falar na temática, o que leva a não discuti-la também. Durante o evento tive vários insights e o mais forte deles foi perceber que, enquanto um pai ministrava uma palestra sobre dinossauros e colocava a foto dos filhos no final da apresentação (eles estavam em casa sob cuidados da mães #RisosNervosos), congressistas mães precisavam organizar e participar de mesas para discutir sobre SER mãe na Academia além de estarem, em sua maioria, acompanhadas de suas crias (sem mencionar aquelas que não estavam lá pois não tinha com quem deixar seus filhos ou não tinham condições financeiras de trazê-los). Logo no formulário de inscrição para o evento, incluímos perguntas como “Trarei minha família para o evento?”; “Possuo alguma restrição alimentar?”; “Possuo alguma deficiência física?” para podermos sondar o nosso público e nos preparar para recebê-los da melhor maneira possível. Após alguns meses de inscrições abertas, entramos em contato via e-mail com essas pessoas para que pudéssemos conhecer melhor quais as suas necessidades. Preparamos um evento acolhedor e isso foi o que mais me motivou a continuar. Contamos com a estrutura de um espaço kids totalmente gratuito tanto para congressistas quanto para prestadores de serviços para o evento (chamado carinhosamente de Espaço Alevinos), que dispunha de 2 pedagogos, 2 integrantes da comissão organizadora, atividades educacionais infantis voltadas para a Oceanografia e funcionava das 8h às 17h30 durante todos os dias do evento. Além de um espaço de amamentação com geladeira e fogão à disposição, intérprete de libras e toda uma estrutura de espaços físicos pensada para recepcionar todas as realidades (felizmente, a UFPE dispõe muito bem de tais). Atividades educativas desenvolvidas no Espaço Alevinos da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Fonte: Acervo da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia com licença CC BY NC-ND. Atividades educativas desenvolvidas no Espaço Alevinos da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Fonte: Acervo da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia com licença CC BY NC-ND. Nos surpreendemos com a representatividade de mulheres no protagonismo não só à frente da organização do evento, mas também, ministrando palestras, minicursos e mesas redondas. Em todas as atividades, o maior número foi de mulheres como ilustra o gráfico abaixo: Gráfico com a quantidade de mulheres (N=32) e homens (N=13) como ministrantes de palestras, minicursos e integrantes de mesas redondas ocorridas na XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Fonte: Acervo da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. E como o foco do evento foi discutir a subárea socioambiental, tivemos a oportunidade de dar espaço para que marisqueiras(os), pescadores e líderes sociais integrassem o nosso evento na posição de palestrantes e participantes de mesas redondas. Comissão organizadora e integrantes da mesa redonda “Oceano que Inspira” na XXXIII Semana Nacional de Oceanografia. Da esquerda para a direita temos: Jaqueline Cassimiro (comissão organizadora da XXXIII SNO), Chef Negralinda (Instituo Negralinda), Lígia Levy (Todas para o Mar-TPM), Edna Dantas ( Projeto Casa de Sal ), Maria Coutinho (comissão organizadora da XXXIII SNO), Nuala Costa ( Todas para o Mar-TPM ) e Gabrielly Dantas (Projeto Casa de Sal). Fonte: Acervo da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia com licença CC BY NC-ND. Contamos com uma mesa redonda dentro da programação principal abordando a temática “Acolhimento e inclusão: equidade no cenário da Oceanografia” com a participação de 4 mulheres, sendo 2 mães cientistas e 3 mulheres negras. Mesa redonda “Acolhimento e inclusão: equidade no cenário da oceanografia”. Da esquerda para direita temos: Mariana Azevedo, Renata Camelo, Gabriela Figueiredo e Bárbara Pinheiro. Fonte: Acervo da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia com licença CC BY NC-ND. Apresentação de Bárbara Pinheiro durante a mesa redonda “Acolhimento e inclusão: equidade no cenário da Oceanografia”. Fonte: Acervo da XXXIII Semana Nacional de Oceanografia com licença CC BY NC-ND. Além disso, tradicionalmente as edições da SNO contam com uma comissão especial chamada "Comissão das Minas" a qual é formada por mulheres de todo o país com intuito único de garantir a segurança e bem estar das minorias durante toda a programação do evento. Na edição deste ano, contamos com 13 mulheres que atuaram da seguinte maneira: em cada espaço que estava acontecendo alguma atividade do evento, haviam sempre, no mínimo, duas representantes da comissão presente prontas para atuar em quaisquer situação. Logo na abertura do evento, anunciamos a existência da comissão e que as representantes estariam identificadas com uma faixa roxa no braço. A SNO tem como público alvo discentes de graduação e esse tipo de discussão precisa começar a ocupar todos os espaços. E quanto mais cedo, melhor! A ocupação de mulheres em cargos de liderança é fundamental para a inclusão dessas pautas. O apoio a essas mulheres, também, é imprescindível pois, como já relatado em texto aqui do Bate-Papo com Netuno , cargos de lideranças são máquinas de moer mulheres. Além disso, a presença de discentes de graduação na organização de eventos é uma imensa oportunidade e experiência para suas carreiras acadêmicas, encorajando-os a enfrentar temáticas tão delicadas e importantes, como as abordadas nesta última SNO. Sobre a autora Malu está na reta final do bacharelado em Oceanografia pela UFPE. Trabalha com paleoceanografia aplicada à Bacia do Araripe no Laboratório de Paleontologia da UFPE. O que mais gosta é da multidisciplinaridade da vida, incluindo a própria Oceanografia. Já trabalhou com coleções biológicas de museus e de exposições, comunidades pesqueiras, educação ambiental e extensão universitária. Atualmente seu maior interesse é na divulgação horizontal e democrática da educação. #MulheresNaCiência #Diversidade #Acolhimento #Equidade #Maternidade #MariaLuizaRCoutinho
- 2023: o ano em que me tornei bolsista da FAPESP
Por Natasha Travenisk Hoff Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi… e consegui me tornar uma bolsista da FAPESP! Ilustração: Natasha T. Hoff Para quem não conhece, a FAPESP é a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, uma das principais agências de fomento à pesquisa científica e tecnológica do país. Apesar de estar ligada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, sua autonomia é garantida por lei. A FAPESP possui um orçamento anual que corresponde a 1% do total da receita tributária do estado de São Paulo, apoiando e financiando a pesquisa, o intercâmbio e a divulgação da ciência e da tecnologia produzida no estado. Desde quando entrei na graduação, em fevereiro de 2008 (sim, faz um tempinho!), ouvia falar sobre as famosas bolsas da FAPESP, que, desde sempre, eram consideradas uma remuneração mais adequada aos pesquisadores, mas muuuuito difícil de conseguir. Ou seja, a impressão que tínhamos era que, se piscássemos torto, isso já seria motivo para não termos uma bolsa aprovada por esta famosa agência de fomento… Logo no meu primeiro ano de graduação, não gostava do modo desrespeitoso como uma determinada professora agia e isso ficava bem claro na hora de estudar ou fazer quaisquer atividades da disciplina, e acabei sendo reprovada. Pronto: nunca vou conseguir uma bolsa da FAPESP! Na minha cabeça de pessoa ansiosa, a partir deste momento, basicamente, ter um projeto aprovado pela FAPESP era simplesmente algo inatingível. Foram cinco anos de graduação (com uma reprovação), dois anos e meio de mestrado e quase seis de doutorado (Longo? Pois é! Mais um motivo para não conseguir bolsa… Culpa da COVID também, mas, dos males, o menor: eu e minha família estivemos seguros no período crítico da pandemia!). Quando estava finalizando o doutorado, nem pensei em submeter um projeto para a FAPESP, mas tive um projeto aprovado em um edital de Pós-Doutorado Júnior do CNPq! Dentre os cinco aprovados na nossa área, eu era a única pessoa que não havia feito nenhum Pós-Doutorado (Pós-Doc, para os mais íntimos) antes, a única recém-saída da Pós-Graduação. Seria esse um primeiro sinal? Só que a bolsa de Pós-Doc do CNPq dura apenas um ano! Um mísero ano… é tanto trabalho para escrever, submeter, esperar aprovação, enviar mais documentos (se quiser saber mais sobre a vida de Pós-Doc, clique aqui )… E um ano passa voando! E precisamos já pensar em pedido de prorrogação, escrever outro projeto - sufoco novamente! Consegui dois meses de prorrogação: mais um respiro! E depois? Depois, a minha vida teve uma reviravolta e alguns problemas familiares me desestabilizaram de uma tal forma no segundo semestre de 2022, que 2023 foi um ano de reconstrução, para juntar os caquinhos que me formam e voltar a seguir… para qualquer rumo que fosse! Apesar de o primeiro projeto não ter dado muito certo (dizem que, apesar da frustração, o não-resultado também é um resultado), consegui desenvolver, além de atividades de extensão e ensino, outras atividades nessa mesma linha de pesquisa e um treinamento, que me renderam novas ideias! Demorei sete longos meses entre juntar cacos e finalizar o novo projeto! Perdi o prazo de dois editais por conta disso, estava sem bolsa há nove meses… Minha única opção naquele momento? Tentar submeter o novo projeto para a FAPESP. Eu não achava que ele fosse bom o suficiente para a FAPESP. E quando seria? Feito! Submetido! Foram três meses até receber uma resposta. Ansiedade lá em cima, saldo bancário lá embaixo, e pensando “ninguém é aprovado de primeira, será que até 2024 sai?” Desespero… Até que no dia 06 de outubro, eu estava no aeroporto, correndo de um terminal para o outro, sozinha, indo para um congresso científico no Chile, cujos custos foram financiados coletivamente (Obrigada, amigos!), e recebi um e-mail com o título “Divulgação de resultado de despacho”. Por que fazer isso com o coração da ansiosa? Aprovada? De primeira? Sem eu precisar chorar? Eu não acreditava… Chorei sozinha num corredor… Chorei quando liguei para a minha irmã… Chorei em um misto de emoções: alegria, alívio, incredulidade… Depois de 13 anos achando que eu não era boa suficiente, me tornei bolsista de Pós-Doc da FAPESP! Mas esse texto não é apenas para dizer o quão aliviada eu poderei respirar ao longo dos próximos dois anos e o quanto foi difícil tomar coragem e me submeter ao julgo da FAPESP… Chamou minha atenção que os dois assessores evidenciaram minha participação em atividades de extensão, como é o caso da minha atuação como editora voluntária no Bate-Papo com Netuno: “As diferentes atividades de extensão que participa revela um trabalho bastante interessante e necessário junto à população.” “A candidata tem uma ótima experiência embarcada e foi bastante ativa em atividades de extensão.” Legal, não? Talvez, isso represente uma mudança, ou o início de uma mudança… o início de uma maior valorização das atividades voltadas à transmissão do conhecimento para a população e não apenas da superprodução de artigos científicos. Quem sabe! Assim, finalizo meu post agradecendo ao Bate-Papo com Netuno pela oportunidade de crescimento e aprendizado, e a todos que me ajudaram e incentivaram a tentar e não desistir de um sonho (inclusive àqueles que colaboraram com o financiamento coletivo para que pudesse participar do congresso no Chile)! Sigo em 2024 me reconstruindo financeiramente e mentalmente, ainda juntando alguns caquinhos, mas uma coisa é certa: eu fui capaz de me tornar uma bolsista da FAPESP! --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Sobre a autora Natasha T. Hoff f é oceanógrafa, mestre e doutora em Oceanografia, na área de concentração Oceanografia Biológica, pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), com período sanduíche em Portugal, no CIIMAR (Universidade do Porto). Atualmente, é pesquisadora de Pós-Doutorado no IOUSP. A Oceanografia entrou em sua vida muito cedo, quando tinha apenas 12 anos. Desde então, sua curiosidade a leva para novos e diferentes caminhos a cada nova empreitada. Acredita que o diferencial da Oceanografia é justamente a multidisciplinaridade. Assim, tem experiência com análises climatológicas, química inorgânica de sedimentos, unidades de conservação, integridade biótica da ictiofauna, estoques pesqueiros, análises morfométricas, otólitos e, desde 2021, entrou no mundo da paleoecologia. Ama sua família acima de tudo e a música em todas as suas formas. Sendo oceanógrafa, é apaixonada pelo mar: desfruta, aprende e respeita! Sempre gostou de escrever e já adorava preparar posts para o Bate-Papo com Netuno antes mesmo de compor a equipe de editoras! #VidaDeCientista #Bolsistas #PósDoutorado #MulheresNaCiência












