Resultados da Busca
513 resultados encontrados com uma busca vazia
- A vida não cabe no Lattes
Por Jana del Favero Ilustração: Natasha T. Hoff. Prazer, meu nome é Jana e eu sou uma mulher multifacetada. Em uma das minhas faces, sou autora da série de livros infantis que explora diferentes ambientes marinhos de forma lúdica, através do olhar do meu cachorro, o Suvaco (quem quiser saber mais pode acessar o instagram @suvaco_cao). Em setembro de 2023, eu fui convidada para montar uma contação de histórias dentro de um Projeto chamado Nave de Luz, que iria ocorrer nas Cidades das Artes, no Rio de Janeiro. Eu já havia contado as histórias do Suvaco em alguns eventos pequenos. Tenho a sorte de sempre poder levar o personagem real e ele roubar a cena e dar um show. Porém, estar em cartaz nas Cidades das Artes era diferente, era grandioso. Então, fui fazer algo que qualquer pesquisador sabe fazer muito bem – estudar! Comprei um curso online de uma contadora profissional que adoro e mergulhei de cabeça nessa nova experiência. Para os grandes dias me fantasiei de quem eu sou, CIENTISTA. Vestia um jaleco (agora com um adesivo do Suvaco colado no bolso), colocava uma presilha de conchinha de cultivo da Marulho, lembrava dos anos de teatro que fiz quando criança e subia no palco pronta para a contação de história, seguida de um animado bate-papo com as crianças. Foram apresentações incríveis, nas quais eu me diverti e aprendi muito com o público infantil. Jana del Favero contando a história “Suvaco em uma viagem submarina” na Nave de Luz, que estava montada na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. Foto cedida pelo Projeto Nave de Luz, CCBYSA4.0 Entretanto, no primeiro dia que fui para a Cidade das Artes eu escutei uma fala de um dos produtores que ainda ressoa dentro de mim: “Nossa, então você fez mestrado, doutorado. Tantos anos jogados fora, né?!”. Na hora eu respondi que NÃO! Não importa se você continuou na academia ou se a vida te levou por outro rumo, os anos de mestrado e doutorado nunca serão anos desperdiçados! Nem vou entrar no mérito de que, por mais que eu não esteja ligada a nenhuma universidade esse ano, eu ainda realizo pesquisas científicas, inclusive participando da coautoria de artigos de grupos internacionais. Também não vou entrar no mérito do fato de eu simplesmente ter amado o período em que estive realizando minhas pós-graduações. O que gostaria de lembrar nesse post é que os anos durante os quais você realizou seu mestrado e doutorado te moldaram a ser exatamente quem você é hoje! E não é assunto de coach não. Quero mesmo é relembrar um post que publicamos em 2015, que lista 10 habilidades profissionais que desenvolvemos fazendo ciência. Não vou listar novamente os 10 pontos levantados pela autora, como também não acho que essas sejam as únicas 10 habilidades. No fundo, quero apenas reforçar que aprendemos muito nos anos de pós-graduação e deveríamos nos valorizar e aprender a vender isso melhor ao mercado e o mercado, por sua vez, deveria entender essas habilidades para melhor absorver os pós-graduados que decidiram sair da academia. Com frequência escuto, por exemplo, alunos de doutorado que gerenciaram seu próprio projeto, realizaram prestação de contas, fizeram relatórios, orientaram alunos, organizaram campo e dias de laboratório, alegarem que não possuem experiência em gestão de projetos ou de pessoas. E assim deixam de aplicar para uma vaga quando essa habilidade é exigida. E os exemplos não param na gestão de projetos: tem quem crie novas oportunidades, quem use sua tese como inspiração para dança, e mais centenas de histórias do que é viver a vida de cientista. Não vou conseguir trazer uma receita mágica de como se apresentar melhor numa entrevista ou como responder melhor um comentário como o que eu escutei, a mensagem que eu gostaria de deixar mesmo, ainda mais sendo final de ano, é: valorize o seu caminhar e os seus aprendizados. Ninguém melhor do que você mesmo para saber do que é capaz de fazer e quais rumos sua vida pode tomar. Se cobre menos e seja feliz! #VidaDeCientista #janamdelfavero #Lattes #Carreira #suvaco_cao Sobre a autora: Formada em ciências biológicas pela UFLA, mestre e doutora em oceanografia pela USP, com dupla-titulação com a UMassD. Especializou-se em Gestão Ambiental pelo SENAC e realizou dois pós-doutorados, um no INPE e outro na UFRJ. É sócia e diretora científica na Infinito Mare, fundadora e editora-chefe do Bate-Papo com Netuno e membra convidada do Comitê de Assessoramento da Década do Oceano no Brasil.
- Fish fart prevents war in the Baltic SeaOr... the power of science diplomacy in the ocean
By Andrei Polejack English edit by Lidia Paes Leme and Carla Elliff *post originally published in Portuguese on August 5, 2021 Illustration: Alexya Queiroz I love this story. During the Cold War, back in the 1980s when many of my generation thought the world was going to end at the push of a red button, a Soviet military submarine ran aground on the reefs off the coast of Sweden in the Baltic Sea. The Swedes were in a panic, feeling monitored, threatened and dredged up for war. They increased underwater monitoring by hydrophones, activated diplomatic channels and became paranoid about unauthorized military activities. The Soviet Union denied any activity and exempted itself from providing further clarification. Baltic Sea. Source: Wikimedia com licença CC SA BY 3.0 Years passed, the Cold War came to an end, and there was no atomic hecatomb initiated by a red button. However, hydrophones continued to pick up sound signals from active submarine engines in the region. Paranoia grew and no one felt safe yet. The Soviets swore that they were not conducting unauthorized activities in the Baltic. With no clear answer and very suspicious of what was happening, the Swedish military asked researchers for a helping hand, all in the strategic secrecy of national defense. Two Swedish researchers, Wahlberg & Westerberg, then analyzed the sound patterns observed and came up with several hypotheses to test. One of them involved some kind of natural noise, not described before and possibly produced by local organisms. That's how they discovered, in 1996, that herring, a very common fish in the Baltic region, which gather in schools of thousands of individuals, have a connection between their swim bladder (an organ that helps bony fish stay afloat) and their anus that is capable of producing bubbles that would be very similar to the noise picked up by hydrophones. And that's how a scientific study on fish farts prevented a war between Sweden and the Soviet Union. Illustrative image of Herring. Source: NY Public Library in public domain This fantastic anecdote always helps me think outside the box about the influence of science on international relations. For me, it has always been easy to recognize that science was necessary to elucidate essential aspects of international negotiation processes over our ocean, but this is not always clear to everyone involved. Public domain There are many examples of this relationship: it was science that informed us about the loss of habitats and ecosystem services as a result of human actions, as well as showing us why corals have been bleached as a result of marine acidification, and so on. It is also easy to recognize that it is through science that many countries come closer together in joint projects, opening up a fluid dialogue even when they are experiencing conflicts in other areas, such as the scientific cooperation between the US and Cuba, in Cyprus, and the polar regions. Finally, while I was in charge of the coordination of Ocean, Antarctica and Geosciences at the Ministry of Science, Technology and Innovation in Brazil, I saw a lot of investment in research being directed towards topics that diplomats were crying out for information on. As an example, I can cite the current regime under negotiation on biodiversity beyond national jurisdictions, the BBNJ, which made diplomats understand the difference between in vivo, in situ, and in silico. These three aspects that I illustrated earlier, i.e. science supporting international decision-making, research projects bringing countries closer together despite existing conflicts, and diplomacy bringing investment to science, are, according to a 2010 report by the Royal Society of London and the AAAS, the three categories of Science Diplomacy: science in diplomacy, science for diplomacy and diplomacy in science. The "fish fart" also takes me out of these boxes because, although it's not a classic case of scientific diplomacy, it makes me think that reality is much more complex than any category we create. That's how I decided to step back from my job as a bureaucrat to return to academia (momentarily, of course!) and understand what this political and scientific movement called Science Diplomacy meant for ocean governance. I'm still in the process of understanding it all and it's only getting more complicated, but I recently published an article in the scientific journal Frontiers in Marine Science contextualizing and exemplifying how Science Diplomacy is, in fact, a fundamental process for ocean governance. I went straight to the United Nations’ Convention on the Law of the Sea, the constitution of the ocean. The Convention establishes the rights and duties of signatory countries in relation to the use, conservation and exploitation of the ocean and, more importantly, it establishes marine spaces of different jurisdictions to which these rights and duties fall. The negotiation of the Convention, which took longer than the Cold War to be approved, had a huge technical-scientific basis, with research results informing the agenda items and impacting on the positions adopted by the countries. For example, Sam Robinson, a British researcher, argues that it was the fear of developing countries about the possible use of technologies to exploit seabed minerals (technologies that we still don't have today) that led to the discussion about the regime for the Area (seabed, soil and subsoil beyond the jurisdiction of countries) in the Convention. The inequality between developed and developing countries has also led the Convention to adopt mechanisms for technology exchange and capacity building, which I and Luciana Coelho, my dear Brazilian doctoral partner here in Sweden, explored in another article, published in the another Frontiers journal, but with a contemporary look and focused on Latin America and the Caribbean. Brazil is a giant in ocean research in the South Atlantic, and we're still a long way from having the minimum necessary to play on the same team as developed countries. However, we do have capabilities in terms of personnel and infrastructure that few others in the region have. That's why we are involved in a process of ocean science diplomacy with Europeans, South Africans, Americans, Canadians, Argentinians and Cape Verdeans: the All Atlantic Ocean Research Alliance. I say "ocean science diplomacy" because it involved many researchers and governments, but also private initiative and other social sectors, applying science to diplomacy and diplomacy to science. The Alliance is based on three successive diplomatic processes, informed by science and with the objectives of raising understanding of the ocean and the well-being of our citizens. In another recent article, I and my dear co-authors, Sigi Gruber and Mary Wisz, described this step-by-step process and analyzed something essential to understanding science diplomacy: the national interests (political, economic, social, and power) that drive the use of science in diplomacy. We discuss the soft power (Joseph Nye's concept) that science exerts in attracting and seducing other countries to its national values, a bit like a carrot in front of a donkey. The Alliance and the UN Decade of Ocean Science for Sustainable Development are my case studies. The Decade, a diplomatic process within the UN, is based on promoting science and using it to make decisions in favor of environmental sustainability, a case in point for ocean science diplomacy. I hope that my work, in addition to being personally an enormous thrill in unraveling the subject, will help Brazil to improve its position in fairer and more equal international negotiations, as well as improve the national process of influencing science in decision-making about the ocean, considering the ten years that the Decade has ahead of us. References or reading suggestions: Nye, J. S. (2017). Soft power: the origins and political progress of a concept. Palgrave Communications, 3(1), 17008. https://doi.org/10.1057/palcomms.2017.8 Polejack, A. (2021). The Importance of Ocean Science Diplomacy for Ocean Affairs, Global Sustainability, and the UN Decade of Ocean Science. Frontiers in Marine Science, 8(March). https://doi.org/10.3389/fmars.2021.664066 Polejack, A., & Coelho, L. F. (2021). Ocean Science Diplomacy can Be a Game Changer to Promote the Access to Marine Technology in Latin America and the Caribbean. Frontiers in Research Metrics and Analytics, 6(April), 34–36. https://doi.org/10.3389/frma.2021.637127 Polejack, A., Gruber, S., & Wisz, M. S. (2021). Atlantic Ocean science diplomacy in action: the pole-to-pole All Atlantic Ocean Research Alliance. Humanities and Social Sciences Communications, 8(1), 52. https://doi.org/10.1057/s41599-021-00729-6 Robinson, S. (2020). Scientific Imaginaries and Science Diplomacy: The Case of Ocean Exploitation. Centaurus, 1–21. https://doi.org/https://doi.org/10.1111/1600-0498.12342 Wahlberg, M., & Westerberg, H. (2003). Sounds produced by herring (Clupea harengus) bubble release. Aquatic Living Resources, 16(3), 271–275. https://doi.org/10.1016/S0990-7440(03)00017-2 About the Author: Andrei Polejack is a biologist with a master's degree in Ecology from UnB and is now studying for a doctorate in social sciences at the World Maritime University in Sweden. He is a senior analyst at the Ministry of Science, Technology and Innovation, where he held the position of General Coordinator for Oceans, Antarctica and Geosciences for many years. @AndreiPolejack #ScienceDiplomacy #AllAtlantic #SciDip #SciComm #Guests #ScienceAtSea #ScientificDiplomacy #InternationalRelations #Politics #OceanDecade
- Spam acadêmico
Por Carla Elliff Considero que seja praticamente um rito de passagem na carreira acadêmica receber um email como o seguinte: Prezado(a) Dr. Carla Ellif [te chamam de Dr., mesmo que não seja, e costumam errar a digitação do seu nome/sobrenome], Cumprimentos! A [Nome de uma Editora ou Revista] está com um processo de submissão aberto para a composição do e-book INTERNACIONAL em formato digital intitulado "Uniting Knowledge Integrated Scientific Research for Global Development" [ou algum outro título genérico que pode ter ou não a ver com sua área de pesquisa]. Após avaliar cuidadosamente o seu trabalho [mencionam o título de algum resumo de congresso de sua autoria], temos o prazer de informar que seu artigo está alinhado com nossos critérios e está apto a ser incluído em nosso livro. Gostaríamos de ressaltar que o prazo para aceitar este convite é até [prazo bem curtinho]. Atualmente, nossa taxa de publicação é de [algumas centenas de reais] POR CAPÍTULO ACEITO. Caso decida aceitar este convite, basta responder a este e-mail e enviaremos mais informações para dar continuidade ao processo. Atenciosamente, [Fulano] [Nome da Editora ou Revista] À primeira vista, você pode se sentir lisonjeado por ter tido um trabalho seu selecionado para virar um artigo ou capítulo de livro! Afinal, no meio acadêmico, as publicações são basicamente nossa moeda corrente. Porém, sinto por jogar um balde de água fria no seu entusiasmo, mas isso é provavelmente o caso de Spam Acadêmico. No concorrido mundo de publicações, editoras e revistas predatórias encontram um solo fértil para se alastrar. No geral, estas revistas cobram pela publicação de artigos e não contam com o processo de revisão criteriosa por pares, necessário para garantir ciência de qualidade. São máquinas de produção acadêmica vazia, que atraem pesquisadores desavisados e outros que estão dispostos a ignorar os limites éticos para benefício próprio. Os riscos de se cair em um golpe desses incluem gastar dinheiro para uma publicação que nunca vai sair, gastar dinheiro para uma publicação que de fato sai, mas que não tem valor científico algum, desgastes à sua reputação, entre outros. E como seu email entra numa lista dessas? Bom, nossos dados estão em todos os cantos da internet. Um livro de resumos de um congresso legítimo pode virar a fonte de informação sobre autores, seus e-mails e seus resumos apresentados. Pronto! Infelizmente, não tenho dicas de como evitar a chegada desses e-mails maliciosos (que inclusive podem conter links perigosos – NUNCA clique em nada num email de remetente desconhecido!), porém posso dar umas dicas de como identificar um convite real de um golpe: Primeiro é importante entender que ser convidado para publicar algo ou ser palestrante em um congresso (sim, o spam acadêmico também pode ser sobre isso) é algo que simplesmente não acontece quando se está no início da sua carreira. Até para pesquisadores com muitos anos de experiência é raro receber um convite direto, direcionado a você com esse pedido. Muito mais comum é você receber divulgações para chamada de artigos em edições especiais de revistas, que não irão massagear seu ego. Você já ouviu falar da editora/revista que está te fazendo esse convite? Jogue no Google o nome dela para ver quais os resultados que aparecem. Também existem sites de verificação próprios para identificar revistas predatórias. Nesta matéria aqui você encontra uma lista bem legal! Observe se há erros na grafia ou frases que soam estranhas no contexto acadêmico. Por exemplo, uso de muitos pontos de exclamação, palavras rebuscadas incomuns ou gírias informais (às vezes as duas coisas ao mesmo tempo), entre outros. Converse com seus colegas sobre o convite recebido. Já vi casos de gente bem experiente caindo em golpes desse tipo, então compartilhar a informação é essencial para todos se prevenirem. Uma dica extra é guardar os melhores spams acadêmicos recebidos, só para dar risada depois! Aliás, se você é do tipo que adora um TED Talk, precisa assistir este sobre o que acontece quando se responde um email de spam! Se você está cansado de se deparar com tanto spam acadêmico e quer ajudar outros pesquisadores a evitarem esse tipo de revista, você pode ajudar a identificar esses periódicos. O Ibict e o MCTI acabaram de lançar uma pesquisa para fazer um mapeamento de revistas predatórias. É só acessar o link para o formulário. Aqui embaixo estão alguns dos spams acadêmicos que recebi e guardei, com anotações minhas apontando as melhores partes. Divirtam-se e tenham cuidado com os golpes!! Sobre a autora Carla é oceanógrafa pela Unimonte com mestrado e doutorado em geologia pela UFBA. Pelas andanças da pós-graduação passou pela Universidad da Cantabria na Espanha, UFSC e FURG. Atualmente é pesquisadora pós-doc no Instituto Oceanográfico da USP. O que mais gosta é a interdisciplinaridade dos oceanos. Já trabalhou com biologia pesqueira, recifes de coral, serviços ecossistêmicos, modelagem hidrodinâmica, gestão costeira, mudanças climáticas, geodiversidade, lixo no mar... e acredita que tudo está conectado! #VidaDeCientista #Spam #Convite #Golpe #CarlaElliff
- Bitucas de Cigarro nas Praias: Perigos Invisíveis à Vista de Todos
Por Victor V. Ribeiro e Yonara Garcia Ilustração: Alexya Queiroz Você sabia que aproximadamente uma em cada cinco pessoas ao redor do mundo é fumante? Isso representa um grande número de cigarros consumidos diariamente, chegando a impressionantes 16 milhões de unidades. O que poucos de nós percebemos é que mais de 90% desses cigarros são descartados de maneira inadequada, e o resultado desse descarte irresponsável é preocupante. Bitucas de cigarro se tornou o item mais comum encontrado dentre o lixo nas praias, representando uma ameaça invisível ao nosso ambiente costeiro. Você consegue imaginar quais são os principais problemas gerados por essa grande quantidade de bitucas invadindo nossas praias? De fato, filtros de cigarro foram criados para capturar alguns elementos químicos gerados no ato de fumar. Assim, as bitucas de cigarro podem parecer inofensivas à primeira vista, mas são compostas por mais de 7.000 elementos, com pelo menos 150 deles sendo tóxicos, como metais tóxicos, BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos), hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, aminas aromáticas, entre outros. Elas são verdadeiras "bombas químicas" que liberam substâncias nocivas ao ambiente, incluindo solo, habitats aquáticos e organismos aquáticos, à medida que se decompõem. Sabe-se que uma bituca de cigarro pode contaminar mais de 1000 litros de água. Além da poluição química, as bitucas de cigarro representam um resíduo sintético não biodegradável. Os filtros de cigarro são feitos de acetato de celulose, um polímero plástico que demora muito para se degradar no ambiente. Como resultado, esses filtros acabam se quebrando em inúmeras partículas minúsculas chamadas microplásticos, que são liberadas no meio ambiente. Além disso, a contaminação por bitucas de cigarro prejudica a qualidade da água e da areia das praias, representando um risco para a saúde das pessoas que frequentam esses locais. Foto: Tony Wills/ WikimediaCommons/ CC-BY-SA-3.0 A difícil tarefa de retirar um grande número de bitucas de cigarro das praias representa um desafio constante para as equipes de limpeza costeira em todo o mundo. Mesmo com a utilização de equipamentos especializados para a limpeza pública de praias, muitas bitucas conseguem escapar da captura. Além disso, a própria areia pode esconder esses pequenos resíduos de forma eficaz. Embora vários países e cidades estejam adotando proibições de fumar em praias como parte de seus esforços para reduzir a contaminação por bitucas, é fundamental compreender que essa medida, embora importante, não é capaz de erradicar completamente a presença desses resíduos nas praias. Afinal, sabemos que muitas bitucas que são descartadas nos ambientes urbanos das cidades são carregadas pela chuva e acabam nas praias. Existem estudos, como os realizados pelo Laboratório de Ecotoxicologia e Contaminação Marinha (LECMAR) do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo, Campus Baixada Santista, que coletam bitucas em ambientes urbanos e costeiros. Até agora mais de 10.000 bitucas foram coletadas e catalogadas. Em cada uma, os pesquisadores e pesquisadoras checam qual a marca do cigarro. Esse é um passo importante para se fazer valer a logística reversa. Ou seja, precisamos saber quais as marcas que mais contaminam o ambiente para demandar que as empresas da indústria do tabaco sejam responsáveis pelos gastos com limpeza urbana e costeira, além de oportunizar que tais empresas possam elaborar projetos de redução de tais bitucas no ambiente e dos impactos gerados pela sua contaminação. A reciclagem de bitucas de cigarro apresenta um desafio singular por causa da complexa composição desses resíduos. Ao contrário de outros tipos de plásticos, não é uma tarefa trivial reciclá-las. No entanto, essa complexidade não torna a reciclagem de bitucas insuperável. Surgiram várias iniciativas e projetos voltados para a reciclagem de bitucas, inclusive no Brasil. Um exemplo notável é a Poiato Recicla, localizada em São Paulo, que se destaca como a primeira usina de reciclagem de bitucas do país, com mais de 12 anos de operação bem-sucedida. Além disso, a empresa Coletor Ambiental, em parceria com a usina Conspizza, se dedica a reaproveitar os compostos orgânicos das bitucas. À medida que a conscientização sobre a importância da reciclagem de bitucas cresce, espera-se que mais iniciativas como essas se estabeleçam e se fortaleçam, visto que são essenciais para reduzir o impacto ambiental associado a esses resíduos persistentes. Ao refletirmos sobre a presença e os efeitos das bitucas de cigarro em nossas praias, somos confrontados com uma realidade que demanda nossa atenção e ação imediata. Nesse texto, vimos que o cenário é mais complexo do que aparenta à primeira vista. As estatísticas impressionantes que revelam a extensão do problema e a composição química desses resíduos, nos alertam para uma ameaça ambiental invisível, mas significativa. Esse problema não afeta apenas nossas praias e ecossistemas costeiros, mas também representa uma ameaça à qualidade da água e à saúde das pessoas que desfrutam desses ambientes naturais. As iniciativas de proibição do fumo em praias e os esforços de reciclagem são passos importantes na direção certa. No entanto, para erradicar completamente esse problema, precisamos ir além. Estudos que identificam as principais marcas responsáveis pela contaminação ambiental abrem uma porta para a responsabilização das empresas da indústria do tabaco. A logística reversa e a demanda por contribuições para a limpeza urbana e costeira podem catalisar mudanças significativas na forma como lidamos com as bitucas de cigarro. Da mesma forma, as iniciativas de reciclagem sinalizam um caminho promissor em direção a soluções mais sustentáveis. À medida que essas ações se multiplicam e se consolidam, podemos vislumbrar um futuro em que as bitucas de cigarro não mais representem uma ameaça aos nossos ambientes naturais. Mas, além de criar medidas que contribuam para reduzir o problema, começar a diminuir o consumo no mundo seria um importante passo no combate desse impacto ambiental. Referência: RIBEIRO, Victor Vasques et al. Cigarette butts in two urban areas from Brazil: links among environmental impacts, demography and market. Environmental Research, v. 213, p. 113730, 2022. Sobre o autor: Victor V. Ribeiro Engenheiro Ambiental, Especialista em Direito Ambiental, Mestre em Biodiversidade e Ecologia Marinha e Costeira e Doutorando em Bioprodutos e Bioprocessos. Se dedica a pesquisa sobre poluição e contaminação marinha por resíduos sólidos, transitando entre plásticos, microplásticos, bitucas de cigarro e resíduos perigosos. Link para o currículo: clique aqui. #BitucasDeCigarro #LimpezaDePraia #LixoNoMar #Convidado #YonaraGarcia #CiênciasDoMar #AlexyaQueiroz
- “Quando eu era criança…”
O desafio de levar o oceano para as crianças e construir adultos que conheçam e protejam o mar. Por Débora Camacho Luz e Maria Luiza Abieri Ilustração de Débora Camacho Luz e Maria Luiza Abieri Quando eu pergunto para algum adulto “quando você descobriu seu amor pelo mar?”, as respostas começam, quase sempre, da mesma forma: “Quando eu era criança…”, e as fontes de inspiração variam. No dia 12 de outubro comemoramos no Brasil o Dia das Crianças e, por uma bela coincidência, também o dia nacional do mar¹. Aproveitamos a passagem destas celebrações para refletir sobre os desafios de levar o oceano para mais crianças e garantir que ambos tenham um futuro saudável e sustentável. Para falar sobre esse assunto conversamos com uma bióloga e escritora, engajada na divulgação da ciência oceânica e criadora de conteúdo sobre o oceano para crianças. ¹Gostaria de lembrar ou informar você leitor que por definição o Brasil não tem mar (entenda a diferença entre Mar e Oceano, leia aqui), mas com licença do uso da linguagem corriqueira e popular, usaremos aqui ambos como sinônimos. Jana Del Favero é criadora do personagem Suvaco, um cãozinho que mergulha no Oceano e conta de forma lúdica e educativa suas aventuras com a biodiversidade e os ecossistemas marinhos. Jana nos conta que a ideia de publicar as histórias do Suvaco começou após buscas frustradas, em livrarias, por livros infantis que falassem sobre o oceano para crianças. Ela viu nas histórias para dormir contadas para a sobrinha a oportunidade de ocupar esse nicho ainda pouco explorado e que, muitas vezes, fica apenas no clichê dos bichinhos “carismáticos”, como tartarugas, golfinhos, pinguins e baleias. Suvaco, o cão, e os livros estreados pelo seu personagem. Imagem cedida por: Jana Del Favero. A bióloga também percebeu que faltavam livros com conteúdos mais aprofundados, que tivessem um enredo para falar sobre o oceano e não simplesmente apresentassem um determinado animal e suas características de forma superficial. Se a saúde do Oceano no futuro dependerá das nossas crianças e a saúde de nossas crianças dependerá do Oceano é certo que precisamos ir além da superfície para educá-las e sensibilizá-las para conhecê-lo. Assim, Jana juntamente com o ilustrador Gilberto Júnior, buscam explorar outros ecossistemas e levar o cãozinho Suvaco para interagir com outros organismos, nada convencionais, da nossa biodiversidade marinha. “É importante apresentar para as crianças outro universo pois, se não, fica muito limitado. O Oceano é tão amplo, tão gigante, cheio de curiosidades, de informação, para ficar preso só nos bichos carismáticos” Mas a escassez de materiais de qualidade disponíveis nos meios convencionais, como as livrarias, não é o único desafio de levar conteúdo sobre o oceano para crianças. Em uma época onde cada vez mais cedo nos conectamos com o mundo digital, usar esse espaço parece inevitável. E isso tem haver também com o fato de que, para que livros e conteúdos específicos e educativos cheguem até as crianças, antes precisam chegar aos pais, e a não ser que eles sejam “peixes”, os apaixonados pelo oceano, dificilmente irão procurar educar filhos “peixinhos”. A autora Jana e seu grande amigo Suvaco durante o evento de contação de histórias realizado na Cidade das Artes – RJ durante o mês de setembro. Imagens cedidas por: Jana Del Favero. Criar um perfil nas redes sociais para o Suvaco foi uma das alternativas que a Jana encontrou de atender a demanda do público infantil em conhecer o Suvaco e ao mesmo tempo engajar pais a consumirem conteúdos de oceano para seus filhos. Aliás, você sabia que o Suvaco existe de verdade? Esse simpático cãozinho mergulhador é, na verdade, o cachorrinho de estimação da Jana. Nas redes sociais ela produz conteúdos com o dia a dia do Suvaco, traz curiosidades e interage com o público. Outra alternativa que tem permitido ampliar a distribuição dos livros é a parceria com projetos ambientais, ONGs e até iniciativas privadas. Os livros do Suvaco, por exemplo, já foram distribuídos gratuitamente por uma rede de shoppings, com direito a contação de histórias feita pela autora. E possuem duas versões digitais para download gratuito, um em parceria com a Rede Abrolhos e outro em parceria com a Década do Oceano através do projeto Maré de Ciência da UNIFESP. Uma coletânea de 4 novos livros, e com novo personagem principal, também está saindo do forno em parceria com uma ONG. Uma informação importante que Jana nos traz, é que nos últimos anos grandes projetos e agências de fomento têm colocado como exigência em editais e atividades o envolvimento do público infantil. Há, inclusive, projetos criados exclusivamente com o intuito de envolver as crianças na ciências do mar, como por exemplo o Instituto Monitoramento Mirim Costeiro, criado pela oceanógrafa Carolina Schio e sediado em Santa Catarina, ou a Escola do Mar, uma iniciativa socioambiental com foco na juventude feminina e que visa potencializar o turismo de natureza em conjunto com a conservação da sociobiodiversidade e o desenvolvimento socioeconômico na região de Caravelas, na Bahia. Mas se por um lado levar o oceano para crianças é um desafio, também pode ser uma oportunidade. Jana nos conta que demorou a se enxergar como empreendedora, e que a “ficha” só caiu quando foi convidada para participar de uma feira de empreendedorismo feminino. O que Jana faz pode ser incluído no nicho do empreendedorismo de impacto, tema do nosso conteúdo para o mês de dezembro. Mas o fato é, seja através de projetos ou com a criação de produtos, levar o oceano para crianças pode trazer muitos retornos, além dos financeiros. Para Jana, por exemplo, a melhor parte de contar histórias para crianças é a interação com os pequenos e o despertar da curiosidade para o oceano. Se você quer aproveitar a oportunidade e começar nesse nicho, a dica da autora é: “busque inspiração”, e isso é bem fácil no mundo conectado de hoje. Jana conta que para escrever os livros infantis não foi preciso fazer cursos específicos, aliou o seu conhecimento como oceanógrafa à busca, nas redes sociais mesmo, por conteúdos que a inspiram. Criar mais um “Eu amo o mar porque quando eu era CRIANÇA…” talvez não seja tão difícil assim, mas com certeza ajudará a mudar a relação dos adultos do futuro com o oceano. Esse texto foi produzido em parceria com o projeto Rede Ressoa Oceano, Liga das Mulheres pelo Oceano e Bate-Papo com Netuno. Autoras: Débora Camacho Luz Débora Camacho Luz é Bióloga, formada pela Universidade Federal de Rio Grande (FURG), membro da Liga das Mulheres Pelo Oceano e bolsista CNPq DTI na Rede Ressoa Oceano. A Ressoa Oceano é uma rede formada pela Liga das Mulheres Pelo Oceano, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da UNICAMP (LabJor), a Cátedra da Unesco pela Sustentabilidade do Oceano e a Ilha do Conhecimento. Essa rede tem como objetivo promover a ciência e a cultura oceânica para além do litoral e centros de pesquisa, conectando cientistas e jornalistas para a abordagem do tema nos meios de comunicação e investindo em projetos e iniciativas de comunicação sobre o oceano. Maria Luiza Abieri (Malu Abieri) Maria Luiza Abieri é Bióloga e Mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, atua como colaboradora do Bate-Papo com Netuno e bolsista CNPq na Rede Ressoa Oceano. A inserção do Bate-Papo com Netuno à Ressoa Oceano amplia ainda mais a rede, promovendo a divulgação científica e a visibilidade das ciências do mar e cultura oceânica através de informações científicas de qualidade, baseadas em uma linguagem acessível e lúdica Entrevistada: Jana Del Favero Jana del Favero é bióloga, mestre e doutora em oceanografia. Empreendedora, consultora, contadora de histórias e divulgadora científica na plataforma Bate-papo com Netuno. É membro do Comitê de Assessoramento da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Referências | Para saber mais: Download gratuito do Livro Suvaco: o Oceano e uma Viagem no Tempo - https://maredeciencia.eco.br/materiais/suvaco/?_ga=2.40679266.1152509167.1666219388-129051752.1666219388 Download gratuito do Livro Suvaco no Mundo dos Corais - https://abrolhos.org/downloads/ Perfil do Suvaco no Instagram: https://www.instagram.com/suvaco_cao/ Instituo Monitoramento Mirim Costeiro - https://www.monitoramentomirimcosteiro.com.br/sobre-o-projeto-monitoramento-mirim-costeiro/sobre-nos Escola do Mar - https://www.escoladomar.org/ #diadascrianças #diadomar #criançaseoceano #educaçãoinfatil #ligadasmulherespelooceano #batepapocomnetuno #ressoaoceano #suvaco_cao #livroinfantil #janadelfavero #marialuizaabieri
- The silent work of the Ocean
By Aline S. Martinez English edit by Malu Abieri and Carla Elliff Have you ever heard about the ecological functions of marine organisms and ecosystems? What about the services they provide to society? Illustration by Joana Ho You may have already heard that phytoplankton, the tiny photosynthetic organisms in the ocean, are what allow us to breathe on the planet (take a look at the post “The air that you breathe”). That is an example of an ecosystem service. The ecological functioning of these microalgae, which happens while they carry out their normal activities to stay alive, offers several benefits for the environment and also for humans. Through photosynthesis, microalgae produce the oxygen that we humans depend on and breathe. Likewise, there are other marine organisms and ecosystems that produce various services on which we depend for our survival. In addition to the intrinsic value of biodiversity, ecosystems are part of our natural capital, representing the basis on which we develop all our activities and draw all our resources for life as we know it. Coastal environments, for example, provide services to society worth approximately $52 trillion per year. This estimate is based either on the profits generated by each ecosystem or the cost to build something that performs the same function as a natural ecosystem, such as the economic value of lobster in seafood markets, tourism packages in coral reefs or the cost of building coastal storm surge barriers. The conservation of biodiversity and health of the seas is key to maintaining the proper functioning of ecosystems and, consequently, maintaining the provision of these valuable services. But, to better understand what makes them so valuable to us, let's explain what they are and how these services benefit us. Ecosystem services are usually divided into four main categories, these being supporting, cultural, provisioning, and regulating services. Supporting services are primarily related to habitat-forming organisms, known as founder species. Among these, corals, macroalgae, mussels and salt marshes stand out. The physical structure of these organisms provides housing for several species, refuge from predators, and climate protection. In addition, the habitat provided by these organisms works as feeding grounds and a nursery area for many species, including some of economic interest, such as lobsters, which live in shallow water reef environments, and fish, which live in mangroves and sea grasses. Cultural services refer to non-material benefits of ecosystems obtained by human beings through cognitive development, aesthetic and recreational experiences and “spiritual” enrichment. This includes the pleasure obtained from resting on the beach to the sound of the waves, the admiration and joy resulting from observing animals moving among the corals or even the spiritual comfort in offering and praying activities associated with gods or spiritual guides of the sea (such as Iemanjá). Religious people performing a ritual of worship and offering to Iemanjá, the Queen of the Sea in Candomblé, at Praia do Rio Vermelho in Salvador, BA (Photo: Carla Elliff). Provisioning services, or goods, include everything we can extract from the ocean, such as the fish we eat, energy and mineral resources, algae extracts and sponges to produce medicines, and even beach sand for use in civil constructions. Diverse types of seafood that are consumed by us, humans (Photo by Chait Goli, Pexels). Regulation services, in turn, include all functions or activities that marine beings perform, regulating physical and chemical processes in the ecosystem. For example, mangrove plants and salt marshes store large amounts of carbon in their tissues and in the sediments that are trapped between their roots. That is an extremely important role in Earth's climate regulation. Without carbon storage in ocean soils, the greenhouse effect on Earth would greatly increase, intensifying global warming. In addition to storing carbon, these ecosystems are important for coastal protection, as mangroves and salt marshes have the ability to dampen the energy of waves that reach the coast, functioning as natural breakwaters. Mangrove during low tide, exposing the supporting roots typical of this vegetation (Photo by Alice Reis). Other organisms that also have the ability to provide this ecosystem service of shoreline protection and erosion regulation are coral reefs. Oysters and mussels, in addition to protecting the coast, by firmly adhering to the substrate forming a rigid natural structure, are also sources of human food, habitat builders and play an important role in water purification. As they feed by filtering particles that are in the water column, they end up removing impurities from the water. Through filtration, these organisms contribute to good water quality, preventing eutrophication and providing clean beaches for us to enjoy. As you can see, the same ecosystem or group of organisms can provide several different services at the same time! Oysters attached to the mangrove roots (Photo by Alice Reis). The work I have been developing seeks to understand how anthropogenic stressors (i.e., physical, chemical or biological changes to the environment caused by human activities) are altering the functioning of ecosystems. We have a good idea of the importance of these systems for our benefit, but we still do not know the consequences of so many changes that have been occurring associated with the rapid growth of coastal cities. Recently, we discovered that mussel filtration is affected by metal contamination, indicating that these organisms are stressed but still maintaining their biological functions. The increase in this contamination was directly related to the increase in urbanized areas on the coast, which indicates that the expansion of coastal cities will increase the amount of pollution on the coast. What we don't yet know is the contamination threshold that mussels can withstand. Therefore, my work seeks to better understand how we are affecting coastal systems to seek solutions that prevent the collapse of ecosystems. This would be an irreparable loss for human beings. Well, I hope to have clarified here the relationship between ecological functioning and the services provided by ecosystems, which shows us the importance of taking good care of the environment. The examples I described above are just some of the many goods and services that nature provides us. Unfortunately, we are looking out for the health of marine ecosystems, and we already have evidence that our actions cause damage to these ecosystems. If we do not manage our actions in a sustainable way, we run the risk of not enjoying the many benefits that the sea so generously gives us. It is important to rethink our attitudes towards the environment and our consumption choices so that we can seek a balance between nature and society. Now that you know more about some of the benefits we obtain from healthy and balanced ecosystems, I'm sure you'll look at the sea with different eyes on your next visit to the beach! Enjoy and spread these ideas around... our ocean will thank you! References Barbier, E.B., 2017. Marine ecosystem services. Current Biology 27, R507-R510. Austen, M., Hattam, C., Borger, T., 2015. Ecosystem services and benefits from marine ecosystems, in: Crowe, T.P., Frid, C.L.J. (Eds.), Marine Ecosystems: Human Impacts on Biodiversity, Functioning and Services. Cambridge University Press, United Kingdom, pp. 21-41. Costanza, R., de Groot, R., Sutton, P., van der Ploeg, S., Anderson, S.J., Kubiszewski, I., Farber, S., Turner, R.K., 2014. Changes in the global value of ecosystem services. Global Environmental Change 26, 152-158. Martinez, A.S., Mayer-Pinto, M., Christofoletti, R.A., 2019. Functional responses of filter feeders increase with elevated metal contamination: Are these good or bad signs of environmental health? Marine Pollution Bulletin 149, 110571. About the author: I am an oceanographer with a degree from the Federal University of Rio Grande (FURG) and a PhD in ecology from the University of Sydney (USYD). Born in Minas, the sea was love at first sight. Since I was little, I have been passionate about nature and have been enchanted by the mysteries of the bottom of the sea. I work with benthic ecology, where I investigate the effect of human activities on the structure and functioning of benthic communities in coastal ecosystems. Throughout my career I have worked on environmental management, education and conservation projects, and environmental consultancy work, in addition to developing the aforementioned line of research. Through my scientific work, I aim to seek solutions so that we can live in harmony with nature. But the sea is not just my object of study. I have a very strong connection with him. In my leisure time, I love diving, surfing and photographing marine life. #MarineScience #EcosystemServices #OceanHealth #LivingNature #NaturalCapital #Guests
- A academia me fez dura, mas a docência me devolveu a humanidade…
Por Ju Leonel Ilustração de Joana Ho Entrei na faculdade e, no segundo dia, já sabia que queria seguir a área acadêmica - anos depois, descobri na terapia que na verdade desde a infância queria ser pesquisadora, só nunca tinha visto uma e não sabia nomear essa carreira. Fiz iniciação científica, adorei fazer meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso, para os menos íntimos), fiz doutorado e fui pós-doutoranda duas vezes. Sabia "tudo" sobre fazer pesquisa - ênfase nas aspas, porque se tem uma coisa que aprendemos na ciência é que nunca, jamais sabemos tudo…. Mas tinha pouca experiência na docência. Nos pós-doutorados, tive a oportunidade de ministrar minhas primeiras disciplinas sozinha (na pós-graduação) e algumas experiências compartilhadas na graduação. Mas tudo que eu sabia sobre "dar aula" era a partir da minha experiência como aluna, ou seja, nunca aprendi nada sobre didática de ensino, não sabia nem que precisava (ou como) fazer um plano de ensino - na minha época, professores davam aula sem nos mostrar um cronograma ou objetivos das disciplinas e, algumas semanas antes, avisavam quando seria a prova (geralmente de bastante decoreba e nem um pouco de pensar). Mais do que isso, a ideia que construí ao longo da minha formação é de que precisava ser exigente e cobrar muito. Não podia dar moleza, mudar os combinados ou abrir exceções. Afinal de contas, "se você não dá conta, aqui não é o seu lugar". Como fui ingênua e cega… a vida é tão mais que apenas dois extremos, há tantas nuances, e com elas tantas possibilidades. Apesar disso, posso dizer que sempre tive um bom relacionamento com os estudantes, ou a maioria deles. Apesar de não ter tato para as relações interpessoais, dava uma boa aula, com conteúdos atualizados e nunca me recusava a explicar de novo e de novo a matéria. No entanto, a docência é muito mais do que isso. E foram os estudantes que - felizmente - me ensinaram isso. E o fizeram sem nem eu mesma perceber direito, fizeram mostrando que cada um é único, que as histórias de vida são individuais, que o que carregam juntos de si quando entram na sala de aula é muito mais que apenas o lápis e o caderno e que é impossível - para eles e para mim - ignorar isso. As preocupações, aflições, e até mesmo as alegrias, não ficam do lado de fora da sala esperando a aula acabar: elas vão junto e moldam cada um deles. É isso que os faz tão especiais, tão únicos. E eu, como docente, não posso querer colocar todos na mesma caixa e esperar os mesmos resultados. Além de aprender a respeitar a individualidade de cada um - sem precisar necessariamente saber sobre ela -, eu aprendi que não preciso ser como os professores que tive ou que podia me inspirar naqueles que foram exceção a regra e que saíam da caixinha de "aula - prova". Aprendi que podia mudar também o formato das aulas e das avaliações para que cada um pudesse dar o seu melhor. Aprendi que podia dar liberdade para eles me mostrarem o que aprenderam (ou não aprenderam). Aprendi a ouvir e a observar mais. Não, isso não foi um processo fácil. Precisei encarar que "aquilo tudo" em que acreditava podia não ser a melhor forma de encarar o ensino. Depois de aceitar que uma mudança era necessária, precisei estudar e fui aos poucos aplicando, testando novas formas. Mas mais importante que os novos métodos de ensino, foi me abrir para entender os estudantes para além daquele indivíduo sentado na minha frente segurando um lápis. E a partir daí, novos laços se formaram e a sala de aula - que já era um local em que me sentia bem - fez muito mais sentido. Hoje, a cada semestre, aprendo mais e levo comigo a certeza de que ensinar, além de um processo de duas vias, é também um processo dinâmico e em constante mudança. E como tal, está longe de ser um processo finalizado. Ainda há muito o que aprender. Esse aprendizado foi além da sala de aula, porque me ajudou nos relacionamentos com meus orientandos também. Aliás, eles também tiveram papel importante nessa mudança. Ao me permitir essa aproximação e ao ouvir suas experiências, dores e aflições eu me dei conta que essa relação nunca é somente de sala de aula, de bancada ou de escrever um trabalho em conjunto. Todos deixamos um pouco de nós por onde passamos e levamos um pouco de quem passou pelo nosso caminho. #VidaDeCientista #Docência #JulianaLeonel #Aprendizado
- Gramas Marinhas: Os canários do mar
Por Juliana Imenis, Juliana Nascimento, Larissa de Araujo, Natalia Pirani, Otto Muller and Paula Keshia No início do século XX, era comum encontrar trabalhadores de minas de carvão carregando uma gaiola com um canário para o trabalho. Esta cena era tão frequente que acabou se tornando um clichê. Estas pequenas aves salvaram a vida de muitos mineiros, pois quando silenciavam era um sinal de alerta de um possível vazamento de gás. Um alarme soava e a mina era evacuada. Podemos denominar esses canários levados às minas como bioindicadores, ou seja, organismos que nos indicam um possível problema ambiental, através de seu comportamento ou estado de saúde. O sacrifício dos canários felizmente ficou para trás, e hoje existem muitos outros bioindicadores que não precisam ser sacrificados para nos avisar sobre possíveis desastres. Alguns organismos são extremamente sensíveis à poluição e às alterações do hábitat, e suas populações tendem a diminuir ou mesmo desaparecer assim que ocorrem modificações no ambiente. Outros, no entanto, são bastante tolerantes às más condições ambientais e muitas vezes apresentam um grande crescimento de sua população em locais onde a qualidade ambiental seria inadequada para a maioria das espécies. Um desses indicadores são as fanerógamas marinhas, também conhecidas como gramas marinhas (do inglês seagrass). Ilustração de Joana Ho Este grupo bem particular de plantas cresce no fundo do mar, possui folhas alongadas e eretas e caules subterrâneos denominados rizomas, podendo viver inteiramente imerso na água, e está presente nas águas costeiras de praticamente todos os continentes. Apesar de serem conhecidas como “gramas marinhas”, este grupo está mais próximo dos lírios e gengibres do que das gramíneas (Figura 1). Compõe a dieta de peixes-bois e tartarugas e fornecem habitat para uma grande variedade de animais marinhos (Figura 2), alguns dos quais comercialmente importantes como peixes e crustáceos. Embora seja difícil quantificar, as gramas marinhas possuem um grande valor econômico agregado, estimado em até 2 milhões de doláres por ano. Também possuem a importante função de estocar carbono na sua biomassa e nos sedimentos, contribuindo como depósito de dióxido de carbono (CO2) do planeta, além de promoverem a reciclagem de nutrientes, proteção da costa e a melhoria da qualidade da água. No Brasil, apesar das informações serem controversas e da necessidade de estudos genéticos para se diferenciar corretamente as espécies, são reconhecidas, até o momento, cinco espécies de gramas marinhas (Figura 3): Halodule wrightii Ascherson; Halodule emarginata Hartog; Halophila baillonii Ascherson; Halophila decipiens Ostenfeld e Rupia maritima Linnaeus. As gramas marinhas são consideradas ótimas indicadoras da qualidade ambiental, pois são extremamente sensíveis às variações de luminosidade e disponibilidade de nutrientes. No cenário atual de mudanças climáticas, vários impactos vem ocorrendo sobre o ambiente marinho, como o aumento das temperaturas médias globais da superfície oceânica, o aumento do nível médio do mar, a alteração do pH dos oceanos (acidificação da água) e alterações na circulação de correntes oceânicas. Essas são algumas das rápidas mudanças no ambiente marinho que têm sido evidenciadas pelos cientistas e suas consequências são ainda pouco compreendidas, pois muitos são os fatores envolvidos na interação entre o ambiente, as comunidades biológicas e os organismos que as compõem, sendo difícil a elaboração de previsões (Figura 4). Como as gramas marinhas exigem condições ambientais específicas, como baixa turbidez e alta incidência de luz, estão sofrendo uma redução local ou até mesmo o desaparecimento total em algumas regiões, indicando que as mudanças ambientais globais e os impactos antropogênicos locais estão ocorrendo muito rapidamente e simultaneamente, não havendo tempo hábil para os organismos responderem às novas condições. A essa capacidade dos ecossistemas responderem aos impactos e retornarem as suas condições originais os cientistas denominam de resiliência. Alterações na biodiversidade dos ecossistemas podem reduzir a resiliência dos mesmos. Embora o tipo e o grau do impacto possam variar de acordo com a localização geográfica das gramas marinhas, algumas hipóteses foram levantadas pela Rede de Monitoramento de Habitats Bentônicos Costeiros (ReBentos), sobre como as mudanças climáticas podem afetá-las: (1) o aumento da concentração de nutrientes, devido ao aumento da quantidade de chuvas, pode causar mudanças na composição da comunidade, favorecendo o aparecimento de espécies oportunistas, o que pode ser danoso para as espécies locais; (2) mudanças na temperatura superficial do mar podem afetar espécies tropicais, favorecendo a extensão e o deslocamento de seus limites de ocorrência em direção a latitudes mais elevadas; (3) eventos extremos, como cheias e tempestades, podem causar a redução e o desaparecimento das gramas marinhas de maneira brusca e rápida; (4) o aumento da quantidade de material de origem continental nos estuários pode afetar a abundância e a composição das comunidades, devido ao aumento da turbidez e mudanças na salinidade. Por outro lado, a redução de chuvas e/ou o aumento da penetração da água do mar em direção ao continente pode aumentar ou alterar a área de ocupação das gramas marinhas localizadas em área estuarinas; e finalmente (5) ondas de calor derivadas de eventos extremos por dias ou semanas podem reduzir ou mesmo dizimar bancos em áreas rasas. Como exemplo de evidências que embasam estas hipóteses, podemos citar o estudo publicado na revista científica Journal of Experimental Marine Biology and Ecology pelos biólogos Ricardo Coutinho (Brasileiro) e Ulrich Seeliger, que em 1984 observaram que a espécie R. maritima, embora tolerante a condições eutrofizadas, foi sombreada por epífitas e macroalgas que cresceram devido ao excesso de nutrientes na água. Estes organismos se emaranham nesta espécie de grama marinha, causando redução de sua taxa fotossintética e aumentando o arrasto das mesmas, facilitando seu desprendimento quando sujeitas à ação de ondas e correntes. Outro exemplo, foi o estudo publicado na revista científica Marine Ecology por Frederick T. Short e colaboradores, que em 2006 observaram a redução de H. wrightii por conta do movimento do sedimento, resultado de tempestades mais fortes e frequentes, que provocam o soterramento do banco e o desaparecimento da grama marinha. Assim, como já mencionado por outros autores, podemos considerar as gramas marinhas como os “canários do mar”, em alusão aos canários das minas e à sua importância no diagnóstico da saúde do ambiente em que vivem e também como indicadores das mudanças climáticas que o planeta vem sofrendo. Certamente, a perda destes ecossistemas trará não apenas prejuízos econômicos, mas também a perda de um valor difícil de ser mensurado, que é o da biodiversidade no planeta. Para saber mais: COPERTINO, M.S.; CREED, J.C.; MAGALHÃES, K.M.; BARROS, K.V.S.; LANARI, M.O.; ARÉVALO, P.R.; HORTA, P.A. (2015). Monitoramento dos fundos vegetados submersos (pradarias submersas). IN: TURRA, A.; DENADAI, M. R.. Protocolos de campo para o monitoramento de habitats bentônicos costeiros - ReBentos, cap. 2, p. 17-47. São Paulo: Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. Disponível em: . Acesso em: 04 nov. 2015. MARQUES, L. V.; CREED, J. C.(2008). Biologia e ecologia das fanerógamas marinhas do Brasil. Oecologia Brasiliensis, v. 12, n. 2, p. 315 - 331. MCKENZIE, L.(2008). Seagrass Educators Handbook. Cairns: Seagrass Watch-HQ. Disponível em: . Acesso em: 30 out. 2015. MCKENZIE, L (2009). Coastal Canaries. Seagrass Watch, v.39, p. 2-4. Disponível em: . Acesso em: 03 nov. 2015. Sobre os Autores: Juliana Imenis Barradas, CCNH-UFABC, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Evolução e Diversidade, bióloga, mestre em Zoologia (UFPB). juliana.imenis@ufabc.edu.br, http://lattes.cnpq.br/4843331968538355 Larissa de Araujo Kawabe, CCNH-UFABC, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Evolução e Diversidade, bióloga. http://lattes.cnpq.br/7133427266626274 Juliana Nascimento Silva, CECS-UFABC, graduanda em Engenharia Ambiental e Urbana (UFABC) http://lattes.cnpq.br/5975285955317582 Paula Keshia Rosa Silva, CCNH-UFABC, mestranda em Evolução e Diversidade (UFABC) http://lattes.cnpq.br/9557245804556650 Natalia Pirani Ghilardi-Lopes, CCNH-UFABC, professora adjunta, bióloga, doutora em Botânica (USP), http://lattes.cnpq.br/8457066927181345 Otto Müller Patrão de Oliveira, CCNH-UFABC, professor adjunto, biólogo, doutor em Zoologia (USP), http://lattes.cnpq.br/7304237172635774 #biologiamarinha #convidados #gramasmarinhas #joanaho #julianaimenis #juliananascimento #larissadearaujo #nataliapirani #ottomuller #paulakeshia
- Maré vermelha: “nunca vi, nem comi, eu só ouço falar!”
Por Beatriz Figueiredo Sacramento e Juliana Ribeiro de Mesquita Coêlho Ilustração de Luiza Soares Muito se fala sobre a maré vermelha, mas pouco se sabe sobre isso, especialmente na costa do Brasil. No nosso imaginário, conseguimos relacionar a maré vermelha a algo ligado ao oceano, quando a água apresenta mudança de cor ou “mau” cheiro, e quando apresentamos alguns sintomas depois de ir à praia. Além disso, quando ela ocorre, geralmente há a proibição de se comer mariscos, ostras ou peixes por um determinado período de tempo. Mas afinal, o que é maré vermelha? A “maré vermelha” é um fenômeno conhecido pelo crescimento excessivo de microrganismos produtores, que vivem no plâncton ou no bentos, ocasionando uma explosão populacional (também conhecida como floração ou bloom). Embora esses organismos sejam pequenos demais para serem visíveis a olho nu, eles crescem em concentrações tão altas, que mudam até a cor da água, que pode ficar marrom, verde ou vermelha. Mas esse fenômeno não tem nada a ver com a maré! Portanto, o termo correto é “Floração de Algas Nocivas” (FANs), o qual foi mencionado pela primeira vez em 1974, durante a 1ª Conferência Internacional de Florações de Dinoflagelados Tóxicos. Os protagonistas das FANs são organismos que compõem o fitoplâncton ou a comunidade perifítica (organismos que vivem associados a substratos), em sua maioria do grupo dos dinoflagelados e cianobactérias. São microrganismos unicelulares, capazes de realizar fotossíntese, sendo encontrados em meios aquáticos ou úmidos de diversos ecossistemas (Leia mais sobre isso aqui). Ostreopsis cf. ovata (esquerda) – dinoflagelado epibentônico produtor de toxinas coletado em associação com Sargassum sp., no Parque Natural Municipal Marinho do Recife de Fora, Porto Seguro Bahia. Fonte: Laboratório de Estudos Planctônicos e Divulgação científica (LEPLAD/UFSB) com licença CC 4.0 BY SA. Prorocentrum lima explorando o ambiente pelo batimento flagelar (dinoflagelados possuem dois flagelos) e sendo “atropelado” por algum coleguinha apressado. As florações podem ocorrer de forma natural nos mais diversos ambientes aquáticos, sendo essenciais para a produtividade primária desses sistemas. No entanto, são consideradas nocivas (FANs) quando causam impacto ambiental, como formação de manchas, produção de muita espuma na praia, provocam a morte de peixes, aves e baleias ou quando prejudicam a saúde humana, sendo uma ameaça à saúde pública. A temperatura, a luminosidade e os nutrientes disponíveis são fatores que influenciam diretamente no crescimento desses microrganismos. Assim, as condições climáticas e as estações do ano influenciam o desenvolvimento de florações, pois o aumento da incidência de luz solar, a baixa intensidade de ventos e águas quentes e calmas, são usualmente condições favoráveis para o rápido crescimento dessas microalgas. A poluição dos corpos d’água também pode influenciar as FANs, uma vez que o excesso de nutrientes disponíveis (provenientes da agricultura, chuvas, esgoto não tratado, etc.) no meio aquático é um prato cheio para esses organismos. Assim, as condições físico-químicas e biológicas do habitat são alteradas, acarretando em uma série de efeitos negativos em toda a cadeia alimentar. As ficotoxinas, toxinas produzidas por algas e cianobactérias, podem se tornar um problema de saúde pública a partir do contato com a toxina aerolizada durante uma floração ou quando entram na cadeia trófica. Assim, o consumo de mariscos (como ostras e mexilhões) e de peixes que se alimentam desses organismos produtores de toxinas podem causar intoxicação em humanos. As substâncias produzidas pelas cianobactérias são agrupadas em neurotoxinas e hepatotoxinas. Os sintomas das hepatotoxinas incluem fraqueza, náusea, diarreia, vômito e extremidades do corpo frias, enquanto os sintomas das neurotoxinas englobam convulsão, fadiga, tonturas e contrações musculares. A depender da quantidade de toxina ingerida, podem levar à morte por parada respiratória. Já algumas espécies de dinoflagelados, podem produzir toxinas muito potentes, que podem acarretar na morte de peixes e mariscos durante as florações de espécies tóxicas. As principais doenças causadas pelo consumo de dinoflagelados tóxicos (a partir do consumo de mariscos ou peixes contaminados) são o envenenamento diarréico de marisco (vômito, diarreia, náusea, cólicas), ciguatera (náuseas, vômitos, diarreia forte e dor abdominal, mas problemas cardiovasculares e/ou neurológicos também podem aparecer) e envenenamento de marisco paralisante (potencialmente letal, os sintomas incluem náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal, formigamento ou dormência ao redor da boca e lábios, pode espelhar para pescoço e face, ser acompanhado por dor de cabeça, dor abdominal, náusea, vômito, diarréia e uma ampla variedade de sintomas neurológicos). As FANs podem causar uma série de impactos nos ecossistemas aquáticos, tanto marinhos quanto dulcícolas. Pois além da produção de compostos tóxicos, pode ocasionar redução da taxa de oxigênio dissolvido na água - devido à alta taxa de respiração dos organismos fitoplanctônicos e bacterianos (durante o processo de decomposição da floração), entre outros, que afetam diretamente a saúde dos organismos presentes neste ambiente. Consequentemente, os animais dessa região partem em busca de águas com melhores condições ou morrem. Além disso, as FANs atingem diversas atividades comerciais como a aquacultura, as atividades pesqueiras e o turismo. Em regiões que se beneficiam do turismo de “Sol e Mar” e dependem da balneabilidade de suas praias, por exemplo, alterações em relação ao odor e visual do mar podem diminuir a atratividade para os turistas. Agora que você já sabe um pouco mais sobre a maré vermelha, ops, maré vermelha florações de algas nocivas (FANs), se perceber mudanças na coloração ou cheiro da água, evite permanecer no local. E se você sentir sintomas fortes, como os descritos acima, quando estiver na praia, ou logo após consumir peixes ou mariscos, fique em alerta e busque a unidade de saúde mais próxima de você. Referências ou sugestões de leitura: COSTA, Ivaneide Alves Soares et al. Florações de Algas Nocivas: Ameaça às Águas Potiguares. FAPERN, Natal, v. 1, ed. 4, p. 14-16, 2006. LEAL, Ricardo Ferreira; BRAGA, Ana Carolina da Silva. Florações de Algas Nocivas (FANs): Um desafio prático em Oceanografia Costeira. 2013. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/260792836_Floracoes_de_Algas_Nocivas_FANs_Um_desafio_pratico_em_Oceanografia_Costeira . Acesso em: 1 maio 2023. SCHLEMPER, Susana Regina de Mello. As cores das marés: A construção cultural do conhecimento sobre as marés vermelhas. 2002. 245 f. Tese (Doutorado em ciências humanas - sociedade e meio ambiente) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002. SOUZA, Ediane de Carvalho da Silva; MELLO, Sílvia Conceição Reis Pereira; FILHO, José Teixeira de Seixas. A eutrofização das águas causa malefícios à saúde humana e animal. Semioses, [s. l.], v. 8, ed. 1, p. 44-51, 2014. BATISTA, Paulo; LUIZ, José; MUCCI, Negrão; et al. Cianobactérias como indicadoras de poluição nos mananciais abastecedores do Sistema Cantareira. 2010. Dissertação (Mestrado) – Curso em Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo. 116 p. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6134/tde-08112010-095522/publico/PauloBatista.pdf. Acesso em: 24 de fev. de 2022. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Cianobactérias/Cianotoxinas Procedimentos De Coleta, Preservação E Análise. Brasília, 2015. 106 p. Disponível em: https://cupdf.com/document/cianobacterias-cianotoxinas-procedimentos-de-coleta-preservacao-e-analise.html. Acesso em: 25 jun. 2022. MAGALHÃES, Karoline. (2014). Microalgas: ecologia, biodiversidade e importância. In book: IV Botânica no Inverno. p.35-47. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/313302649_Microalgas_ecologia_biodiversidade_e_importancia. Acesso em: 11 de fev. 2022. Sobre as autoras: Beatriz Figueiredo Sacramento Sou Bacharela Interdisciplinar em Ciências pela Universidade Federal do Sul da Bahia e atualmente faço parte do curso de Oceanologia na mesma Universidade. A Interdisciplinaridade da Oceanologia e a vontade de entender como o oceano funciona foram o que me fizeram escolher o curso. Tenho interesse na área física e biológica da Oceanologia. Juliana Ribeiro de Mesquita Coêlho Graduanda em oceanologia pela Universidade Federal do Sul da Bahia. Apaixonada pelo oceano e com maior afinidade na área física e biológica. Atualmente, sou bolsista de iniciação científica no Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha (LECOMAR- UFSB). Estudar oceanologia sempre foi um sonho e estar realizando-o agora, tem sido algo que me deixa muito feliz. #descomplicando #marévermelha #floraçõesdealgasnocivas #convidados #saúdepública
- Peixe-lua: um gigante vagando pelo oceano
Por Camila Tiemi Matino Ilustração de Joana Ho Que tal conhecer um pouco sobre o peixe-lua? Esse peixe elegante, enigmático e estranho ao mesmo tempo. Mas para que falar sobre esse peixe? Ele tem alguma relevância ecológica, importância econômica, ou eles só ficam derivando no oceano? Bom, vamos começar apresentando essas complexas criaturas. Os peixes-lua são espécies da família Molidae, que consiste em três gêneros e cinco espécies. As espécies mais conhecidas pela maioria das pessoas pertencem ao gênero Mola: são grandes, têm o corpo arredondado e coloração acinzentada. Os peixe-lua são encontrados em águas tropicais e temperadas ao redor do mundo e ocupam o posto de maior peixe ósseo sobre o qual existem informações de tamanho. Não é muito difícil de identificar um peixe-lua, já que eles possuem um corpo de formato bem peculiar (difícil mesmo é identificar em nível de espécie!). Esses organismos têm características bem específicas, tanto na fase larval, quanto na fase adulta. As larvas eclodem com menos de 2,0 mm de comprimento, seu corpo é redondo e com vários espinhos (parecido com uma mamona), têm nadadeiras peitorais, dorsal, caudal e anal, e são plânctônicas. Larva de peixe-lua. Foto: Érico S. L. G. dos Santos e Henrique Grande. Todos os direitos reservados. Peixe-lua. Fonte: U.S. National Oceanic and Atmospheric Administration. Domínio Público. Conforme se desenvolve, seu formato muda drasticamente: seus espinhos desaparecem, o corpo ganha uma forma circular e achatada lateralmente, com as nadadeiras dorsal e anal bem proeminentes, e uma estrutura que substitui sua nadadeira caudal, chamado clavus. Quanto ao crescimento, eles podem aumentar em torno de 60 milhões de vezes sua massa corporal inicial, até chegar em sua fase adulta. Em 20 anos o peixe-lua chega a medir 3,0 m de comprimento e pode pesar mais de uma tonelada! No entanto, ser tão grande assim no oceano não é muito vantajoso: além de serem presas de orcas e leões marinhos, muitos peixes-lua são capturados acidentalmente nas redes de pescas. O que acaba sendo o fator que mais impacta na abundância desses peixes. Peixe-lua capturado em Santa Catalina, Califórnia, em abril de 1910. Foto: P.V. Reyes Domínio público. A dificuldade de identificar esses peixes em nível de espécie se mostrou, ao longo dos anos e ainda hoje, que é um grande desafio. Durante o século XIX, a família Molidae tinha mais de 50 espécies com 19 gêneros. Mas, em 1951, o ictiólogo britânico Alec Fraser-Brunner tomou as rédeas da taxonomia dessa família e sugeriu que o gênero Mola teria apenas duas espécies, o famoso Mola mola (encontrado ao redor do mundo) e o Mola alexandrini (que seria a espécie que substituiria a espécie M. mola no oceano Pacífico Sul). Durante 60 anos, essa foi a taxonomia aceita. Porém, sabendo-se de uma possível confusão taxonômica em sua história, muitos cientistas ficaram intrigados com essa família, especificamente com o gênero Mola. Foi aí, que, em 2017, a cientista Marianne Nyegaard descreveu uma nova espécie, a Mola tecta. Em sua tese, Nyegaard revisou alguns indivíduos preservados em museus e identificou uma grande quantidade de espécimes que estavam classificadas erroneamente. Como Mola mola era a mais comum dentre as espécies de peixe-lua, os pescadores não pensavam duas vezes antes de identificá-los como M. mola quando quando eram pescados acidentalmente. Essas pescas se mostraram bastante impactantes na abundância desses peixes, tanto que atualmente M. mola é considerada uma espécie vulnerável. Mas será mesmo que é essa a espécie que está vulnerável? Há a possibilidade de que outra espécie de Mola esteja vulnerável? Como as espécies são muito parecidas morfologicamente, elas requerem um procedimento mais detalhado para identificá-las, tais como a contagem de raios das nadadeiras peitorais, dorsal e anal, e, principalmente, a contagem dos ossículos do clavus (aquela estrutura que substitui sua nadadeira caudal, lembra?), e, para aperfeiçoar ainda mais a identificação, é necessária uma análise genética. Assim, é comum que as pessoas se confundam e acabem identificando as diversas espécies como Mola mola, a espécie mais conhecida, inclusive em diários de bordo. Se a identificação dos adultos já é difícil, imaginem quão difícil é a identificação das larvas tão diminutas de peixe-lua. Atualmente, não existem trabalhos publicados para que haja uma distinção morfológica das larvas do gênero Mola. Peixe-lua e seu esqueleto, observe a modificação das nadadeiras dorsal e anal, formando o clavus. Fonte: Nol Aders, com modificações por PaladinWhite. Essas criaturas enigmáticas, apesar de grandes quando adultas, não representam nenhum perigo aos humanos, que, muitas vezes, confundem suas nadadeiras dorsais com as de um tubarão, quando eles vão à superfície. Os peixe-lua até permitem uma grande aproximação de outras espécies, inclusive a espécie humana. E por serem tão grandes, acabam virando hospedeiros de muitos parasitas externos (o que pode vir a incomodar em um certo ponto). Para se livrarem desse incômodo utilizam-se de dois métodos conhecidos: o primeiro é ir a locais mais rasos, como recifes, que abrigam uma infinidade de espécies que os ajudam na remoção dos parasitas. E o outro, é de ir à superfície, onde acontece uma interação com as aves marinhas, que se alimentam desses organismos parasitas incrustados ao longo de seu corpo. Peixe-lua na superfície do mar na baía de Walvis (Namibia). Foto: H.-U. Küenle/CC-BY-SA-4.0 Ao contrário do que muitos pensam, seu modo de vida é bem ativo. Eles são organismos predadores, que se alimentam de zooplâncton e, principalmente, de águas-vivas. Para ir atrás de sua presa, eles se locomovem através de um movimento sincronizado de suas nadadeiras dorsal e anal, e seu clavus é utilizado como um leme. Eles podem atingir altas profundidades, em águas bem geladas, em busca de seus alimentos. Aqui no Brasil, o peixe-lua não tem importância econômica e nem turística, diferentemente de alguns países asiáticos, como Japão e Taiwan, onde possuem muito valor turístico, o que agrega mais valor econômico. Apesar de seus aparecimentos serem esporádicos e incertos, eles são avistados durante mergulhos recreacionais e em avistamentos de cetáceos, trazendo uma grande excitação para os turistas, já que eles são considerados peixes raros. Sabendo-se da grande importância ecológica e turística, e da sua possível vulnerabilidade, é interessante aprofundarmos os estudos sobre as espécies de peixe-lua para tentarmos protegê-los da melhor forma possível. E a melhor proteção, acaba sendo invariavelmente o conhecimento. Se entendemos mais sobre as diferentes espécies de peixe-lua, seus modos de vida e reprodução, conseguimos adequar as medidas de proteção para cada espécie. Referências Bibliográficas Australian Museum’s Fish Site; . Acesso disponível em 10 de Junho de 2020. Nyegaard, M. 2018. The importance of taxonomic clarity of the large ocean sunfish (genus Mola, Family Molidae) for assessing sunfish vulnerability to anthropogenic pressures. - Murdoch University, 2018. Sobre a autora: Camila Matino é oceanógrafa formada pela Universidade de São Paulo. Amante dos oceanos, se apaixonou pelo microscópico mundo do ictioplâncton ao trabalhar na Coleção Biológica Prof. Edmundo Nonato (ColBIO), onde estudou a fundo a distribuição das larvas e adultos do peixe lua ao longo da costa brasileira. #peixelua #descomplicando #Actinopterigios #peixes #NatashaHoff #JoanaDiasHo
- Muito além de um rostinho bonito…
Por Andressa Elias de Matos e Ju Leonel Ilustração: Natasha T. Hoff É difícil encontrar alguém que não tenha um certo apreço por algum mamífero marinho. Quantos não querem abraçar um golfinho ou fazer um cafuné em uma foca. Mas eles são muito mais do que fofinhos! Além da função ecológica que desempenham no ecossistema do qual fazem parte, eles também são importantes para estudos de contaminação ambiental. A maioria dos mamíferos marinhos são organismos de topo de teia trófica (pois não tem muitos predadores naturais na fase adulta), vivem muitos anos, gestam e amamentam seus filhotes (como os demais mamíferos) e possuem uma camada de gordura subcutânea - principalmente as baleias e golfinhos - que ajuda na flutuabilidade, a manter a tempera corpórea, além de ser reserva de energia. Algumas espécies são cosmopolitas e outras ocorrem em apenas algumas regiões. Há, ainda, espécies que vivem em diversas regiões, mas se subdividem em populações e estas ocupam uma região bem determinada. Por exemplo, as populações de botos da Lagoa dos Patos/RS e de Laguna/SC: apesar de serem da mesma espécie, estão isoladas e não interagem entre si. Mas o que todas essas características têm a ver com estudos de contaminação? Muitos contaminantes ambientais são lipofílicos, ou seja, tem afinidade por lipídios. Por isso, a camada de gordura subcutânea dos mamíferos marinhos é um local preferencial de acúmulo dessas substâncias. Isso faz deles uma excelente matriz para estudar a presença e distribuição desses compostos. A alta longevidade dos mamíferos marinhos também faz com que, ao longo da sua vida, eles acumulem diversos contaminantes persistentes (aqueles que não são metabolizáveis) nos seus tecidos. Esse processo é chamado de bioacumulação. Fonte: Juliana Leonel com Licença CC 4.0 BY Dessa forma, quanto mais velho for o organismo, maiores serão as concentrações desses contaminantes. No entanto, devido a gestação e lactação, isso não é igual para machos e fêmeas. Durante a gestação e, principalmente, durante a lactação, as fêmeas excretam parte desses contaminantes (principalmente os que têm afinidade a lipídios) através da placenta e do leite. Por isso, as fêmeas adultas costumam ter níveis de contaminação menores que os machos adultos. Por serem organismos de topo de teia trófica, através da alimentação, eles são expostos a todos os contaminantes presentes nas suas presas. Dessa forma, acumulam níveis maiores que os organismos de menor nível trófico. Esse processo de aumento da concentração de um contaminante ao longo da teia trófica é a biomagnificação. Fonte: Juliana Leonel com Licença CC 4.0 BY Outra vantagem desse grupo de organismos, é que eles podem ajudar a elucidar a exposição humana aos contaminantes através da ingestão de peixes e frutos do mar, assim como também a exposição de filhotes durante a gestação e lactação. Além disso, diferentemente do que acontece com peixes, crustáceos e moluscos, que precisam ser mortos para que os tecidos a serem analisados sejam retirados, para as espécies maiores (como as baleias não dentadas) é possível amostrar pequenos pedaços de pele e gordura subcutânea dos animais vivos, sem causar danos neles, através dos uso de dardos. No entanto, vale ressaltar que esse tipo de procedimento tem um alto custo financeiro e exige pessoal treinado (e com autorização) para executá-lo. No Brasil, apesar da ampla extensão litorânea e da ocorrência de dezenas de espécies de mamíferos marinhos, os estudos de poluição se concentram em poucas espécies coletadas principalmente na costa sul e sudeste do Brasil. Para os Poluentes Orgânicos Persistentes, as espécies mais estudadas são o boto-cinza (Sotalia guianensis), a toninha (Pontoporia blainvillei) e o golfinho-pintado-do-Atlântico (Stenella frontalis). De uma forma geral, os organismos de regiões altamente urbanizadas e industrializadas, como da Baixada Santista e da Baía de Guanabara, apresentam os valores mais altos - e mais preocupantes - desses compostos. Sobre Andressa Matos: Me chamo Andressa, tenho 28 anos e sou bióloga por formação, mas foi na oceanografia que encontrei minha verdadeira paixão, os mamíferos marinhos! Faço parte do Laboratório de Poluição e Geoquímica Marinha da UFSC, onde desenvolvi minha pesquisa de mestrado investigando a contaminação de mamíferos marinhos ao longo da costa brasileira por poluentes orgânicos persistentes organoclorados. Atualmente, resido em Curitiba-PR, onde atuo como docente do ensino fundamental e médio e em projetos de educação ambiental. #CiênciasDoMar #Convidadas #MamíferosMarinhos #Poluição #JulianaLeonel #NatashaHoff
- Plastic and COVID-19: results of a crisis caused by excess
By Marina T. Botana English edit by Malu Abieri and Katyanne Shoemaker *post originally published in Portuguese on November 10, 2020 Historically, we have observed that the great crises of humanity were commonly generated by scarcity (lack of water, lack of food, lack of energy resources). However, today, in the middle of the year 2020, we are witnessing a crisis caused by excess and by a disconnect between human beings and their fellow humans in society as well as with nature. Excessive resource exploitation, excessive consumption, excessive waste, excessive pollution and selfishness... Illustration by Yonara Garcia. The COVID-19 pandemic caught everyone by surprise. Overnight, hygiene and cleanliness efforts doubled. The use of disposable products, mostly made of plastic, such as masks and gloves, grew. The investments made at the beginning of the production chain for these inputs were immeasurable, after all, the new needs were health and humanitarian emergencies. We are aware of the importance of these products in containing the coronavirus, however, nothing has been done to improve the final destination of all this new waste. Unfortunately, not only in Brazil, but also in other parts of the world, we observe the absence or extreme inefficiency of public policies for the management and disposal of common and hospital solid waste. This problem has plagued the ocean for many decades now, as the final destination of most of our garbage, whether directly or indirectly, ends up being the sea. Personal protective equipment (PPE) discarded in recent years is no exception: beaches, bays, reefs - all increasingly filled with masks, gloves and other disposable objects made of plastic. Glove and mask found on the coast of Rio Grande do Sul, Brazil. (Photos by Gerson Fernandino, license CC-AS-BY 4.0.). The decrease in demand for oil and gas during the pandemic has reduced global recycling rates, and producing new plastics has become cheaper than buying recycled products. The oil and gas companies themselves released a note saying that the production of plastics could be the salvation to maintain profits and offset the losses generated by the decrease in demand for fuels (Source: OilPrice.com). A study released in June of 2020, estimated that since March 2020, 129 billion masks and 65 billion gloves had been discarded into the ocean each month. When we think about the total amount of plastic, the number becomes even more absurd: 8 million tons per day, the equivalent of dumping a truck full of garbage into the ocean every minute, every day! Can you imagine? In Singapore, since the beginning of the pandemic, an additional 1,400 tonnes of plastic only from take-out food deliveries have been dumped into the oceans every week. In Brazil, this information wasn’t estimated. If we estimate proportionally to the number of people, whereas consumption habits in large cities tend to be similar, São Paulo alone with 44 million inhabitants may produce around 11 thousand extra tons of plastic waste every week! The lack of public monitoring policies makes data surveys more difficult. Little can be said about what we don't know. How can we persuade others to preserve what they don’t know? Luckily, non-governmental organizations have been disclosing what was happening on the southeastern coast over the last few months. The Instituto Mar Urbano, which monitors Guanabara Bay in Rio de Janeiro, revealed shocking images showing terrifying amounts of PPE floating in the bay. In São Paulo, the Instituto Argonauta found a dead Magellanic penguin with an N-95 mask in its stomach and highlighted that the animal's death was linked to the accidental ingestion of the PPE. Another concern about the interaction of marine and coastal masks and organisms, is the danger of entanglement. As shown by the NGO Australian Seabird Rescue, the simple action of cutting the mask straps before discarding them can prevent deaths. “Masks in the Sea” (free translation of the documentary entitled “Máscaras ao Mar”) produced by Instituto Mar Urbano. Necropsy carried out by Instituto Argonauta of the body of a Magellanic penguin found on the coast of São Paulo. In the lower image we see the N-95 mask found in the penguin's stomach. Ingestion may have caused the animal’s death (Photo by: Communication department of Instituto Argonauta license CC-AS-BY 4.0.). It is sad to believe that in a country with immeasurable biodiversity like ours, with more than 8 thousand kilometers of coastline, there are almost no programs for monitoring garbage in the sea or on the beaches and that there are still no effective policies in place regarding waste disposal. Even worse is to think it’s normalized that this responsibility is transferred to civil society. The entire budget of the Ministry of the Environment (MMA) represents only 0.06% of public spending in Brazil. This year, we are already in November and only 55% of the budget approved for the entire year has been spent (Source: http://www.portaltransparencia.gov.br/). When called negligent, the representatives allege that they “have no funds” for the implementation of monitoring programs. The scarcity of funds is a reality, now the negligence of not using what little has been approved is a pure sign of dystopia, that is, of camouflaged authoritarianism. All of this makes it impossible to create solutions for the real problems we face now and which will be even worse for future generations. These are alarming problems for Brazilian reality, but they are also pervasive throughout the world due to the development model. If we can even call all of this development, since the main pillars of development are economic growth, consumption, and enrichment to the detriment of quality of life, environmental health and resource sharing. “A system in which the motivation axis is limited to profit, without having to get involved in environmental and social impacts, is trapped in its own logic. Everything has to gain with the maximum extraction of natural resources and externalization of costs”, said economist Ladislau Dowbor. The environmental and health crises caused by COVID-19 are, first and foremost, a crisis of the model of excess itself. The wheel of production and consumption must turn at any cost, obeying the cycle of capital reproduction, regardless of the environmental impacts and social inequalities aggravated by this process. In this system, “the more, the better.” That said, I wonder to what extent the implementation of plastic waste monitoring and disposal programs, even if global, would be really effective within these guidelines of excess and unbridled consumption. This and any other environmental and social revolutions must be followed by a break in the logic of these dystopias rooted in the system. There is no point in thinking about sustainability policies that are not accompanied by curbing the logic of consumption. Rethink, reduce and reuse before recycling... COVID-19 and all the environmental and socioeconomic crises that were linked and/or aggravated by it are a consequence of the ills intrinsically linked to the logic of excess of our current model of “development.” The health crisis will pass, but the PPE and plastics discarded in nature will survive for hundreds of years. As long as the system logic is not changed, it will be a simple matter of time before new viruses appear. The environment will continue to be exploited in an unsustainable way and global inequalities will only become more and more serious. As an environmental scientist, I believe I have little ability to discuss social, economic, and political issues in more depth. However, the pandemic sparked my interest in other areas of knowledge. This outdated “development” model fulfills its role very well in training excellent professionals who are exceptionally technical in their respective areas, but who often fall short in social, ethical and moral issues. Taking part in this whole is the duty and responsibility of every human being living in society. If there is another plausible development model and/or a solution to mitigate excess and develop more effective public policies for the real problems we face, at this moment I don't know. But I believe that the integration of different views and broad discussion on the subject is essential for us to develop new perspectives and not lose hope in building a better world… For those who enjoyed the text, here are some reading suggestions: A. Kimini, “How the COVID-19 plastic boom could save the oil industry,” OilPrice.com (2020). Adyel, Tanveer M. "Accumulation of plastic waste during COVID-19." Science 369, no. 6509 (2020): 1314-1315. https://science.sciencemag.org/content/369/6509/1314 Livro “A era do capital improdutivo” – Ladislau Dowbor, 2 ͣedição – dowbor.org #MarineLitter #PlasticInTheOcean #PlasticPollution #COVID19 #PPEwaste #ScienceAndCitizenship #EnvironmentalResponsibility #Rethink #Reuse #MarinaTBotanaChat #MarineScience