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Descomplicando: Escola Azul

Por Jana del Favero e Camila Keiko Takahashi


Ilustração de Malu Coutinho


Nós já descomplicamos aqui no Bate-Papo com Netuno a Cultura Oceânica, aquele movimento que começou nos EUA no início dos anos 2000 após ser notada uma lacuna sobre o oceano no ensino e que culminou na junção de educadores e cientistas do mar para desenvolver recursos pedagógicos para o ensino das ciências do mar (se você não lembra o que é cultura oceânica, pare e leia esse post aqui)


Nós também já mostramos que a situação brasileira não é diferente do resto do mundo. A pesquisadora Carmen Pazoto e colaboradores estudaram os documentos que norteiam o ensino fundamental e médio no Brasil (Parâmetros Curriculares Nacionais, Base Nacional Curricular Comum, Referenciais Curriculares Nacionais) e notaram que de 640 mil palavras, apenas 19 eram relacionadas com o oceano e ambientes marinhos (temos post sobre isso). Até mesmo no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) o tema oceano é negligenciado, sendo que de 1.800 questões das provas de 2014 a 2021, apenas 46 abordaram a temática oceânica (confira esse nosso post também).


Dentre os espaços educacionais não formais a disseminação da Cultura Oceânica pode ser feita através das artes (como o Projeto Somos do Mar), da ciência cidadã (já conhecem o De Olho nos Corais?) e redes sociais (o próprio Bate-papo com Netuno). Esses espaços educacionais não formais são importantes ao atingir um público amplo e diverso, porém eles podem ser de vida curta, acabam envolvendo menos pessoas que os espaços formais e, normalmente, o público atingido já estava ligado com alguma questão ambiental.

Uma mulher fantasiada de um peixe laranja e verde se segura em uma faixa presa em uma árvore na frente de muitas crianças que estão de costas na foto. No fundo, aparece a van do Projeto Somos do Mar e bandeirolas com o nome do projeto

Apresentação do espetáculo “Mar de Soluções” para alunos de uma escola pública de Itapoá - SC (foto cedida por Diulie Tavares /Projeto Somos do Mar com Licença CC BY SA 4.0)


Por isso, ações em espaços educacionais formais são de suma importância. E é nesse contexto que entra o conceito Escola Azul, um programa educacional que tem como missão disseminar a Cultura Oceânica na comunidade escolar e criar gerações mais conscientes e participativas, que contribuam para a sustentabilidade do Oceano.


Esse conceito nasceu em Portugal em 2017, como uma forma de trabalhar transversalmente o tema oceano dentro do currículo escolar. Hoje ele já existe em 16 países do Atlântico, em uma grande mobilização coordenada por três países (Brasil, Portugal e Argentina) chamada Rede Escola Azul Atlântico para disseminar o conceito Escola Azul nos países do Atlântico (iniciativa impulsionada pela Aliança Atlântica para a Pesquisa e Inovação - All-Atlantic Research and Innovation Alliance).


No Brasil, o conceito Escola Azul aterrissou neste mesmo ano (2020), sendo coordenado pelo programa Maré de Ciências da UNIFESP, programa esse endossado pela Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, em parceria com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e apoio do British Council e UNESCO. Hoje já são 90 escolas por todo o Brasil, sendo que esse número não pára de crescer.


Qualquer escola, pública ou privada, que estejam distantes ou perto da praia, pode se inscrever para ser uma Escola Azul, afinal somos todos influenciados pelo oceano. Para isso, ela vai precisar construir um projeto com a sua comunidade escolar que trabalhe o tema oceano de forma interdisciplinar, e considere sua realidade social, ambiental e econômica.


À primeira lida pode parecer complexo, pois não há um projeto único para todas as escolas. Mas é importante lembrar que cada escola está inserida em uma realidade, e sua comunidade escolar é única. Conectar-se à ela e à cultura oceânica, identificar qual projeto é a cara da escola (maximizando o potencial de cada educador envolvido) e instigar a criatividade de cada participante, são etapas importantes de sensibilização para mudanças atitudinais e transformações duradouras em prol da sustentabilidade do oceano.


A escola ainda pode fazer parceria com ONGs ou Institutos para que juntos construam o projeto, fortaleçam e apoiem as ações da Escola Azul, oferecendo cursos e capacitações, compartilhando materiais ou infraestrutura, promovendo ações complementares ou o que mais acordarem na parceria. Foi exatamente isso que o Instituto Mar Urbano fez com o Colégio Notre Dame – Ipanema, na cidade do Rio de Janeiro. Desde o ano passado eles estão trabalhando com os alunos e já realizaram diversas ações, como mini-cursos, visitas a espaços educativos, atividades físicas com pranchas de Stand Up Paddle feitas de garrafas PET que iriam para o lixo, entre tantas outras.

Um homem branco segurando uma menina no colo fala na frente de muitas crianças, que estão de costa na fotografia. Ao fundo vê-se o quiosque chamado de Espaço Azul

Ricardo Gomes, diretor do Instituto Mar Urbano, dá uma aula para alunos do colégio Notre Dame na frente do quiosque do Espaço Azul, localizado na colônia de pescadores Z-13 em Copacabana, Rio de Janeiro (foto cedida por Nathan Lagares/ Instituto Mar Urbano com Licença CC BY SA 4.0)


Tem mais! Neste ano de 2023, o programa Escola Azul convida todas as escolas da rede a participarem do edital Feira de Ciência para uma grande celebração da cultura oceânica no mês de outubro - mês da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia - com feiras de ciência em suas escolas no tema cultura oceânica e ciências básicas para o desenvolvimento sustentável. Escolas Azul da rede pública que participarem do edital têm a oportunidade de concorrerem a prêmios em bolsas do CNPq para que no ano de 2024 desenvolvam Clubes de Cultura Oceânica em suas escolas.


Quer saber mais sobre o Escola Azul? Quer ser um parceiro Escola Azul? Ou ficou interessado no edital Feira de Ciências? Entre em contato com a equipe do Maré de Ciências, eles estão preparados e dispostos para te ajudar a levar o oceano para as salas de aula, seja você um professor, um pesquisador ou um entusiasta.

 

Sobre Camila Keiko Takahashi:

Mãe da Mel e do Noah, possui graduação em Ciências Biológicas, com habilitação em Biologia Marinha pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, mestrado em Gerenciamento Costeiro e de Recursos Hídricos pelas Universidade de Plymouth e Universidade de Cadiz, atualmente cursa o MBA em ESG do Ibmec. Participante de diferentes movimentos e instituições, como a Liga das Mulheres pelo Oceano, Deep Blue Ambiental e Sociocracy For All, acredita na potência do coletivo e da educação na geração de mudanças positivas no mundo. Integrante da equipe do Maré de Ciência, atua diretamente nos programas Escola Azul e Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica.



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