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- Manguezais e o sequestro de carbono: o que sabemos e o que descobrimos
Por Alex Cabral Ilustração por Alexya Queiroz . Minha tese de doutorado, desenvolvida no Departamento de Ciências do Mar da Universidade de Gotemburgo - Suécia, revelou novos caminhos e estratégias que os manguezais possuem para capturar e armazenar o carbono, reforçando seu papel para mitigar o aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera. Até então, os estudos focavam apenas no potencial de sequestro de carbono pelos mangues e seu estoque nos sedimentos e não olhava m para o transporte horizontal de carbono a partir dos manguezais para plataforma costeira e oceano profundo; isto foi quantificado durante o meu estudo. Aqui destaco alguns dos principais achados dessa pesquisa e como eles podem auxiliar na conservação desse ecossistema importante . O Papel Crucial dos Manguezais Os manguezais são ecossistemas costeiros únicos, conhecidos por sua alta produtividade e pela capacidade de armazenar carbono em seus sedimentos (para mais detalhes sobre os manguezais leia Descomplicando - Manguezais) . Este processo é fundamental para a regulação do clima, pois reduz a quantidade de CO2 na atmosfera. O carbono que é capturado e armazenado no manguezal - e em outros ecossistemas costeiros - é chamado de Carbono Azul . No entanto, há incertezas sobre a real capacidade de sequestro de carbono pelos manguezais e o destino deste carbono na interface terra-oceano e oceano-atmosfera. Estas incertezas se dão tanto pela complexidade dos manguezais em si, como pela complexidade das suas interações com o ambiente marinho, tanto da plataforma continental como do oceano profundo. Sabe-se que o sedimento dos manguezais funciona como um sumidouro (= local de armazenamento) de carbono, mas nos questionamos se esse carbono ficaria apenas imobilizado no sedimento ou se poderia ser transportado para a plataforma continental? Ou até mesmo para o oceano profundo? Poderia o fluxo da água intersticial (aquela que se encontra entre os grãos de sedimento) ser um importante processo para conectar o carbono do manguezal com os demais compartimentos. Modelo conceitual de caminhos do carbono azul em direção ao oceano aberto. As setas amarelas representam caminhos que podem evoluir para sumidouros ou fontes de carbono, as setas vermelhas representam uma fonte de volta à atmosfera e as setas azuis representam sumidouros de carbono de longo prazo. CID: carbono inorgânico dissolvido, COD: carbono orgânico dissolvido, COP: carbono orgânico particulado, CODr: carbono orgânico dissolvido refratário (= resistente à degradação), COPr: carbono orgânico particulado refratário (= resistente à degradação). Fonte: Santos et al. 2021 com licença CC BY 4.0. Novas Descobertas sobre o Ciclo do Carbono e Gases do Efeito Estufa Para estudar estas incertezas, na minha pesquisa de doutorado nós medimos os fluxos de gases de efeito estufa - dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) - entre os manguezais e a atmosfera, e investigamos o destino do carbono (orgânico e inorgânico) transportado para o oceano. Adicionalmente, usamos isótopos de rádio e radônio (que são ótimos traçadores geoquímicos) para rastrear os fluxos de carbono entre a água intersticial do sedimento do manguezal, que também é rica em carbono, e a plataforma continental adjacente. Devido a complexidade das regiões costeiras e marinhas, neste trabalho foi necessário integrar observações em múltiplas escalas espaciais (horas, dias, etc.) e usar diversos traçadores geoquímicos (radioativos e estáveis) para que fosse possível uma compreensão mais abrangente do ciclo do carbono nos manguezais e suas implicações para as estratégias de mitigação das mudanças climáticas. Para que este estudo fosse possível, em 2017, 2021 e 2023 eu e meus colegas (e dezenas de caixas com materiais e equipamentos ) viemos para o Brasil conduzir as atividades de campo junto com pesquisadores de diversas universidades brasileiras (nosso muito obrigado para a UFSC, USP, UFF, UENF, UFSB, UFBA, UFPE e UFPA). Somente assim foi possível estudar os processos nas diferentes sistemas de manguezais, desde os mangues “gigantes” do norte (PA) aos pequenos do sul (SC), passando pela Bahia e Rio de Janeiro. Os resultados da minha tese trazem boas notícias! Eles mostram que os manguezais não apenas capturam carbono da atmosfera e o armazenam em seus sedimentos, mas também exportam uma quantidade significativa de bicarbonato (uma forma de carbono inorgânico) para o oceano; o maior reservatório de carbono do planeta. Esse processo aumenta a capacidade dos manguezais de armazenar carbono em até quatro vezes do que somente considerando o carbono estocado nos sedimentos. Isto ocorre devido ao alto tempo de residência do bicarbonato nos oceanos globais que varia entre 10 e 100 mil anos. Este resultado sugere que o bicarbonato faz parte do “carbono azul” produzido nos manguezais. Além disso, minha pesquisa revelou que os manguezais são também importantes sumidouros de N2O, um gás de efeito estufa mais potente que o CO2 e CH4. Este sumidouro pode compensar em torno de 18% das emissões globais de metano pelos manguezais. Os resultados também indicam que, se não considerarmos os fluxos horizontais de carbono dos manguezais para o oceano, podemos subestimar suas emissões de metano em até 50%, por exemplo. Essas descobertas enfatizam a complexidade das múltiplas vias de transformação e de transporte de carbono no contínuo terra-mar e demonstram a importância de incorporar os fluxos laterais para o oceano e as trocas de outros gases de efeito estufa - que não apenas o CO2 - na avaliação da contribuição dos ecossistemas de carbono azul para a mitigação das mudanças climáticas. Além disso, o papel significativo das exportações laterais destaca a necessidade de mais pesquisas sobre o destino do carbono derivado de manguezais na plataforma continental. Impacto e Necessidade de Proteção Manguezais são ecossistemas costeiros vitais, porém são vulneráveis às ameaças decorrentes das atividades humanas, como a urbanização da zona costeira, a poluição e o desmatamento para as fazendas de camarão (carcinocultura). O aumento do nível do mar, previsto no cenário de mudança climática, também irá acelerar a perda deste ecossistema, já que as potenciais áreas de migração em direção a terra estão ocupadas pelas atividades humanas. Quase metade das florestas de manguezais do mundo está em risco de colapso até 2050, de acordo com uma nova avaliação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) . Portanto, os esforços de proteção e conservação são essenciais. A perda de manguezais tem consequências graves, incluindo maior vulnerabilidade a desastres naturais, perda de meios de subsistência, redução da biodiversidade e aceleração das mudanças climáticas. A proteção desses ecossistemas é crucial para manter sua função como sumidouros de carbono e mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Quantificar o potencial de absorção de carbono dos manguezais e analisar seu impacto na atmosfera e no oceano pode levar a uma melhor proteção desses ecossistemas cruciais. Iniciativas como o projeto de restauração "Raízes da Cooperação" ( https://raizesdacooperacao.org.br/ ) destacam a importância de restaurar esses habitats vitais para maximizar o sequestro de carbono. Pesquisas científicas e projetos de restauração e conservação são fundamentais para desenvolver estratégias mais eficazes no enfrentamento das mudanças climáticas e para a proteção de outros sistemas costeiros vegetados importantes, como as marismas e as gramas marinhas. Foto à esquerda: Barco fundeado por 2 semanas dentro do canal de maré do manguezal em Camamu, Bahia. Neste fundeio diversos equipamentos medem em tempo real a concentração de gases do efeito estufa (CO2, CH4 e N2O), isótopos para identificar o sinal da água intersticial do manguezal (222Rn), correntes, oxigênio, salinidade, dentre outros. Foto à direita: Coleta de testemunhos de sedimento na Bahia. Os sedimentos são datados com 210Pb e tem sua concentração de carbono aferida, assim podemos comparar os fluxos de carbono que são soterrados pelos sedimentos dos manguezais com fluxos de carbono emitidos para a atmosfera ou/e exportados para o oceano. Referências e leituras sugeridas: Cabral, A., Dittmar, T., Call, M., Scholten, J., de Rezende, C.E., Asp, N., Gledhill, M., Seidel, M., Santos, I.R., 2021. Carbon and alkalinity outwelling across the groundwater-creek-shelf continuum off Amazonian mangroves. Limnol Oceanogr Lett 6, 369–378. https://doi.org/10.1002/lol2.10210 Cabral, A., Reithmaier, G.M.S., Yau, Y.Y.Y., Cotovicz, L.C., Barreira, J., Viana, B., Hayden, J., Bouillon, S., Brandini, N., Hatje, V., Rezende, C.E. de, Fonseca, A.L., Santos, I.R., 2024a. Large Porewater-Derived Carbon Outwelling Across Mangrove Seascapes Revealed by Radium Isotopes. J Geophys Res Oceans 129, e2024JC021319. https://doi.org/10.1029/2024JC021319 Cabral, A., Yau, Y.Y.Y., Reithmaier, G.M.S., Cotovicz, L.C., Barreira, J., Broström, G., Viana, B., Fonseca, A.L., Santos, I.R., 2024b. Tidally driven porewater exchange and diel cycles control CO2 fluxes in mangroves on local and global scales. Geochim Cosmochim Acta 374, 121–135. https://doi.org/10.1016/j.gca.2024.04.020 Friedlingstein, P., Jones, M.W., O’Sullivan, M., Andrew, R.M., Bakker, D.C.E., Hauck, J., Le Quéré, C., Peters, G.P., Peters, W., Pongratz, J., Sitch, S., Canadell, J.G., Ciais, P., Jackson, R.B., Alin, S.R., Anthoni, P., Bates, N.R., Becker, M., Bellouin, N., Bopp, L., Chau, T.T.T., Chevallier, F., Chini, L.P., Cronin, M., Currie, K.I., Decharme, B., Djeutchouang, L.M., Dou, X., Evans, W., Feely, R.A., Feng, L., Gasser, T., Gilfillan, D., Gkritzalis, T., Grassi, G., Gregor, L., Gruber, N., Gürses, Ö., Harris, I., Houghton, R.A., Hurtt, G.C., Iida, Y., Ilyina, T., Luijkx, I.T., Jain, A., Jones, S.D., Kato, E., Kennedy, D., Goldewijk, K.K., Knauer, J., Korsbakken, J.I., Körtzinger, A., Landschützer, P., Lauvset, S.K., Lefèvre, N., Lienert, S., Liu, J., Marland, G., McGuire, P.C., Melton, J.R., Munro, D.R., Nabel, J.E.M.S., Nakaoka, S.I., Niwa, Y., Ono, T., Pierrot, D., Poulter, B., Rehder, G., Resplandy, L., Robertson, E., Rödenbeck, C., Rosan, T.M., Schwinger, J., Schwingshackl, C., Séférian, R., Sutton, A.J., Sweeney, C., Tanhua, T., Tans, P.P., Tian, H., Tilbrook, B., Tubiello, F., Van Der Werf, G.R., Vuichard, N., Wada, C., Wanninkhof, R., Watson, A.J., Willis, D., Wiltshire, A.J., Yuan, W., Yue, C., Yue, X., Zaehle, S., Zeng, J., 2022. Global Carbon Budget 2021. Earth Syst Sci Data 14, 1917–2005. https://doi.org/10.5194/essd-14-1917-2022 McLeod, E., Chmura, G.L., Bouillon, S., Salm, R., Björk, M., Duarte, C.M., Lovelock, C.E., Schlesinger, W.H., Silliman, B.R., 2011. A blueprint for blue carbon: Toward an improved understanding of the role of vegetated coastal habitats in sequestering CO2. Front Ecol Environ. https://doi.org/10.1890/110004 Middelburg, J.J., Soetaert, K., Hagens, M., 2020. Ocean Alkalinity, Buffering and Biogeochemical Processes. Reviews of Geophysics. https://doi.org/10.1029/2019RG000681 Reithmaier, G.M.S., Cabral, A., Akhand, A., Bogard, M.J., Borges, A. V., Bouillon, S., Burdige, D.J., Call, M., Chen, N., Chen, X., Cotovicz, L.C., Eagle, M.J., Kristensen, E., Kroeger, K.D., Lu, Z., Maher, D.T., Pérez-Lloréns, J.L., Ray, R., Taillardat, P., Tamborski, J.J., Upstill-Goddard, R.C., Wang, F., Wang, Z.A., Xiao, K., Yau, Y.Y.Y., Santos, I.R., 2023. Carbonate chemistry and carbon sequestration driven by inorganic carbon outwelling from mangroves and saltmarshes. Nat Commun 14. https://doi.org/10.1038/s41467-023-44037-w Santos, I.R., Burdige, D.J., Jennerjahn, T.C., Bouillon, S., Cabral, A., Serrano, O., Wernberg, T., Filbee-Dexter, K., Guimond, J.A., Tamborski, J.J., 2021. The renaissance of Odum’s outwelling hypothesis in “Blue Carbon” science. Estuar Coast Shelf Sci 255, 107361. https://doi.org/10.1016/j.ecss.2021.107361 Yau, Y.Y.Y., Cabral, A., Reithmaier, G., Cotovicz, L.C., Barreira, J., Abril, G., Morana, C., Borges, A. V., Machado, W., Godoy, J.M., Bonaglia, S., Santos, I.R., 2024. Efficient oxidation attenuates porewater-derived methane fluxes in mangrove waters. Limnol Oceanogr 9999, 1–18. https://doi.org/10.1002/LNO.12639 Sobre o autor: Alex Cabral é pesquisador e professor (Research Fellow e Lecturer) no Trinity College Dublin, Irlanda. E-mail: cabralda@tcd.ie Tese de Doutorado: “Carbon outwelling and greenhouse gas exchange across mangrove seascapes”. https://gupea.ub.gu.se/handle/2077/81521 Twitter: https://x.com/alexcabralds Researchgate: https://www.researchgate.net/profile/Alex-Cabral Sou manezinho de Floripa, formado em Oceanografia e mestre na mesma área pela UFSC. Meu interesse pela biogeoquímica marinha surgiu cedo, motivado pelo desejo de compreender os efeitos da poluição na Lagoa da Conceição, onde mora minha família. Esse estudo inicial me abriu portas para participar de diversos projetos de pesquisa, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos (bolsista do Ciências Sem Fronteiras). Em 2020, me mudei para a Suécia para continuar minha carreira acadêmica, onde desenvolvi meu doutorado focado nos fluxos de carbono em manguezais brasileiros. Em 2024, me mudei para Dublin, onde continuo explorando os temas que me fascinam e desfrutando do charme e da cultura da cidade. Sigo desenvolvendo parcerias com pesquisadores brasileiros de diversas regiões do país, fortalecendo a ciência oceanográfica. #CiênciasDoMar #Manguezal #CO2 #CarbonoAzul #CiclosBiogeoquímicos #Convidados
- Você tirou férias?
Por Carla Elliff Montagem por Carla Elliff. A foto do whatsapp mudou para um post-it amarelo com a palavra Férias em caixa alta, escrito em vermelho. Mas você seguiu se atualizando nos grupos de trabalho sobre as últimas demandas - e até participou das reuniões "mais importantes". Os stories mostraram dias ensolarados na praia. Intercalados com fotos de você no laboratório até tarde. Comemorou a chegada das férias dizendo o quanto os meses anteriores de trabalho foram frenéticos e que você precisa de descanso. Mas, agora, não sabe o que fazer com tempo livre, então senta na frente do computador. Curte e compartilha conteúdos online sobre a importância de cuidar da nossa saúde mental. Mas não pensa duas vezes antes de mandar uma mensagem de whatsapp e pingar uma notificação imediata de trabalho (não urgente) no celular dos colegas, a qualquer hora. Está de férias, é feriado, é final de semana, é um horário fora do expediente: não importa, você ainda está participando da corrida para chegar "lá". Mas onde ou o que é o "lá"? Sei lá... Eu já me vi em alguns desses cenários e tenho certeza que você também. O que isso diz de nós e da cultura que vivemos? As férias de verão acabaram, mas o descanso é um direito (mesmo, olha lá no artigo 24° da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU) e é muito necessário. Imagine que você passa o ano inteiro sedentário e decide por 2 semanas ir numa academia, praticar algum esporte, se exercitar. Além de você provavelmente não saber nem por onde começar (“que esporte eu gosto?”, “tudo doi!”), não dá para dizer que você está cultivando hábitos saudáveis para seu corpo. Com o descanso é o mesmo: é uma prática. Tirar 2 semanas de férias no final do ano não vai resolver todos seus cansaços se você também não pratica o descanso no dia a dia. Bora refletir mais sobre pq agimos assim? Para ouvir, sobre descanso, exaustão e trabalho excessivo: https://open.spotify.com/episode/2rhckrF5GgyZshLHA79u1v?si=6SJE4rgRQySXmaKCXLAd7A Para ver, sobre como o esgotamento mental nos afeta e como sair desse ciclo: Para ler, sobre como o "lá" é flexível: Ilustração por Natasha T. Hoff https://www.batepapocomnetuno.com/post/a-vida-n%C3%A3o-cabe-no-lattes #VidaDeCientista #Férias #Descanso #BurnOut #SaúdeMental #CarlaElliff
- Premiada ou perseguida: uma questão de gênero
Ele inventou o DDT, um agrotóxico, e recebeu o Prêmio Nobel. Ela descobriu os perigos do DDT e foi perseguida e desacreditada. Por Juliana Leonel Rachel Carson nasceu em Springdale, no estado da Pensilvânia (EUA) - um distrito à beira do rio, mas a quase 400 km do mar - e ali cresceu junto de uma irmã e um irmão mais velhos. Rachel Carson. Fonte: WikimediaCommons/ ThomasBrosnihan/ CC-BY-SA-4.0 Rachel cresceu explorando as matas ao redor da cidade. Apesar do seu fascínio pela natureza, principalmente pelo mar, Rachel começou a cursar Letras e depois trocou para Biologia - ela era uma das três únicas mulheres deste curso. Ao se graduar, ela mudou para Baltimore - agora sim perto do mar - para cursar seu mestrado na Johns Hopkins University. A vida de pós-graduanda não foi fácil - e será que é para alguém? No primeiro ano (1932) precisou voltar para a sua cidade devido a problemas financeiros , retornando só no ano seguinte e sempre precisando trabalhar para garantir o seu sustento. Quando finalmente finalizou o mestrado ela estava ávida para começar um doutorado, mas precisou voltar para a cidade natal e ajudar a família que estava com dificuldades financeiras; seu pai havia morrido e ela se tornou a provedora da família - onde estava o irmão dela neste momento? Graças aos esforços de Mary Scott Skinker - sua mentora durante a graduação - Rachel conseguiu um trabalho no Departamento de Pesca dos EUA; ela foi a segunda mulher a ser contratada por esse órgão. Essa não foi a primeira (nem a última) vez que sua mentora a ajudou. Um viva às mulheres que se ajudam! Seu trabalho consistia em escrever roteiros de rádio para uma programa semanal sobre a vida debaixo da água, chamado Romance Under the Waters . Ou seja, Rachel Carlson também fazia divulgação científica! Baseado nas pesquisas que fez para este programa, Rachel escreveu também vários artigos de divulgação que foram publicados em diversos jornais e revistas. Tudo parecia bem, Rachel estava focada na sua carreira e começava a atingir uma certa estabilidade financeira quando, em 1937, sua irmã morre e ela passa a ser a responsável pelos cuidados das duas sobrinhas e da mãe - hello, pai das crianças, cadê você? Embora um de seus livros mais famosos seja Primavera Silenciosa (publicado em 1962), ela já tinha escrito outros livros: Sob o Mar-Vento (1941), O Mar que nos Cerca (1951) e Beira-Mar (1955). Estes dois últimos foram muito bem vendidos e ela recebeu um prêmio de literatura pelo O Mar que nos Cerca, uma iniciativa de pesquisa da Universidade da Colúmbia Britânica. Com isso Rachel pôde deixar seu trabalho no Departamento de Pesca dos EUA e se dedicar à carreira de escritora em tempo integral. A partir daí ela voltou a sua atenção, principalmente, para o tópico de conservação ambiental. Aqui novamente, Rachel precisou mudar de cidade e assumir os trabalhos de cuidado do filho de uma sobrinha que morreu e da mãe que necessitava de mais atenção devido à idade avançada. Quem mais se perguntou “cadê o pai da criança?”? Mas se hoje ainda tratamos o cuidado familiar como talento nato das mulheres, imagina há 70-80 anos? - novamente, cadê o irmão da Rachel e o pai da criança? O foco de Rachel nos praguicidas começou na década de 1940 - muitos deles desenvolvidos graças aos fundos de guerra. Ela tentou publicar um texto em jornal sobre o DDTs , mas foi rejeitado por ser “desagradável”. Porém, isso não a deteve e, após muita pesquisa, ela publicou o livro Primavera Silenciosa em 1962. Seu texto e seu posicionamento geraram muita polêmica e tentaram de todas as formas atacá-la e invalidá-la. E adivinhem… é claro que os ataques vieram de homens. Alguns atacaram suas credenciais científicas: diziam que por ser uma bióloga marinha e não uma bioquímica, ela não tinha propriedade para falar sobre os problemas do uso do DDT. Ela também foi chamada de amadora, afinal não trabalhava em uma instituição de pesquisa. Ela foi chamada de “... uma defensora fanática do culto ao balanço da natureza”. Aparentemente, buscar a conservação da natureza - e todos os benefícios que trazem para nós - era um problema. O Secretário de Agricultura Americana disse que o fato dela “não ser casada (embora fosse fisicamente atrativa) fazia dela uma “provável comunista””. E claro que não podia faltar, a sua escrita foi chamada de muito “emotiva”. As indústrias químicas responsáveis pela produção/venda de praguicidas (tanto o DDT como alguns outros) ameaçaram abrir processos judiciais contra a disseminação das informações contidas no livro. Como Rachel e seu editor já previam estes ataques, eles se precaveram de todas as formas possíveis: buscaram o maior número de apoiadores antes mesmo do livro ser publicado, pediram para pesquisadores renomados revisarem os capítulos e Rachel participou de uma Conferência de Conservação na Casa Branca, quando distribuiu cópias do livro para os delegados que ali estavam. Rachel escreveu o livro e passou por tudo isso enquanto era submetida ao tratamento de radioterapia para combater o espalhamento de umo câncer (em 1950 ela havia removido um câncer de mama e em 1960 ela passou por um mastectomia total). Logo ela que lutava tão bravamente pela regulação de praguicidas cancerígenos. Em abril de 1964, aos 58 anos, Rachel Carson morreu e parte das suas cinzas foram espalhadas ao longo da costa de Sheepscot Bay, no Maine. Mas antes que isso acontecesse, seu irmão - que aparentemente nunca se importou com ela - tentou decidir para onde iriam suas cinzas sem respeitar os últimos desejos dela. Enquanto Rachel foi perseguida e atacada por querer regular o uso irresponsável de praguicidas, o químico suíço Paul Hermann Müller, que descobriu as propriedades praguicidas do DDT, recebeu o prêmio Nobel da Medicina em 1948; além de muitos outros prêmios e honrarias. Ilustração: Caia Colla É, minha gente, o patriarcado não pega leve não. Quantas de vocês lendo este texto não se reconheceram na vida da Rachel, tendo que conciliar trabalho e cuidados de filhos e familiares? Quantas de vocês não tiveram de mudar os planos por questões financeiras? Quantas de vocês tiveram de adiar sonhos enquanto viam homens ao seu redor seguirem plenos e serenos em suas carreiras? Quantas foram atacadas, descredibilizadas, ridicularizadas e assediadas quando se posicionaram? Quantas ouviram seus argumentos serem refutados simplesmente por serem mulheres? Sugestões de leitura: MLA - Michals, Debra. "Rachel Carson." National Women's History Museum. National Women's History Museum, 2015. 22 Jan 2025. Chicago - Michals, Debra. "Rachel Carson." National Women's History Museum. 2015. www.womenshistory.org/education-resources/biographies/rachel-carson . Linha do tempo interativa sobre a vida de Rachela Carson: https://www.rachelcarson.org/interactive-timeline The Life and Legacy of Rachel Carson - https://www.rachelcarson.org/ Sobre a autora: Formada em Oceanologia na FURG com doutorado em Oceanografia Química pela USP. Entre um trabalho, uma bolsa e um intercâmbio passou também pela Unimonte, UFPR e UFBA, Texas A&M University, Health Department of New York, Heriot-Watt University e da Stockholm University. Atualmente é professora adjunta na UFSC. Trabalha com poluição marinha, principalmente contaminantes sintéticos e resíduos sólidos. Mas também atua na geoquímica estudando o ciclo do carbono no ambiente marinho. Desde abril/20 tem se aventurado como mãe do Ian. Não abre mão de cozinhar e experimentar novos sabores, mas não sem antes estudar os processos/química que tornam um prato possível. Também gosta de viajar, ler, fazer trilha e tomar um banho de mar (ou cachoeira). #JulianaLeonel #MulheresNaCiencia #DDT #PrêmioNobel #Câncer
- Public-private partnerships in protected areas from a socio-environmental perspective
The truths behind the concessions to private initiative of protected areas in the state of São Paulo. By Caio Tancredi Zmyslowski English edit by Carla Elliff *post originally published in Portuguese on November 12, 2020 Fixed seine for artisanal fishing - Ilha do Cardoso State Park (Source: Noeli Neves, license CC BY SA). Do you know how a Conservation Unit (or UC - term used in Brazil for various types of protected areas) is managed? What are its objectives and protection categories? What do public-private partnerships represent in this context? In this text, we will explain more about the reality of UCs in Brazil and share some of the experience of the Ilha do Cardoso State Park (PEIC), located on the southern coast of the state of São Paulo. PEIC is a preserved paradise, often visited by the general public. There, traditional communities, who have lived on the island for centuries, are now fighting for their survival, cultural reproduction, and permanence in the territory. UCs are one of the main international strategies for the conservation of environmental and cultural heritage. In Brazil, the National System of Conservation Units (SNUC) regulates these territories, designating different types and categories of protected areas subdivided into two large groups: those for full protection , whose objective is the complete preservation of biodiversity, allowing only the indirect use of the natural resources present (for example, research, tourism, and environmental education); and those for sustainable use , which accept the presence of populations in these territories, in order to ensure environmental sustainability and the reproduction of the way of life of traditional communities. However, in Brazil's history, the process of implementing conservation units has followed a "top-down" logic, that is, in an imposing manner. Many fully protected parks were implemented in territories of traditional populations that depend directly on nature, and therefore directly impact their way of life. Traditional populations are internationally recognized as allies of environmental preservation, in addition to having fundamental rights recognized by international conventions and treaties, such as the International Labor Convention ( ILO No. 169 ), ratified by Brazil through Decree No. 5,051 of 2004 , which determines that any decisions made about their territories must necessarily and previously be consulted and approved by local populations. In practice, unfortunately, this process of dialogue often does not occur. A sustainable alternative for communities living in protected areas has been Community-Based Tourism (CBT), which integrates tourism activities focused on valuing local history and culture with environmental preservation. In this sense, CBT represents an opportunity to alleviate territorial conflicts, highlighting the importance of communities within protected areas and favoring social agents with small economic capital in cooperative, supportive and sustainable systems. In other words, CBT is an economic activity associated with low-impact production practices, such as subsistence agriculture, fishing, and crafts carried out by communities. Furthermore, CBT can be understood as a strategy to fight for the fundamental rights of traditional peoples to remain in the territory. Artisanal fishing carried out by community members in the Ilha do Cardoso State Park (Source: Noeli Neves, license CC BY SA). In PEIC, this form of tourism has been operating for over 20 years, organized and led by the community in partnership with the UC. Local associations offer schools, groups, excursions, and tourists options for nature trails and walks, workshops, and demonstrations of traditional practices such as artisanal fishing and crafts, environmental education in partnership with environmental technicians and monitors, accommodation and food based on Caiçara cuisine. Due to the restrictive reality of the Park, communities have invested more in the practice of CBT for their survival, sustainability, and reproduction of the Caiçara way of life. Community member and environmental monitor, Noeli Neves accompanies a group of students in the mangrove of the Ilha do Cardoso State Park (Source: Noeli Neves, license CC BY SA). The planning, implementation, and management of protected areas is carried out by the government (federal, state or municipal) with legal governance mechanisms and instruments (management councils, management plans) that guarantee the maintenance, participation, effectiveness, and resources for the promotion of sustainable development of the protected area. However, it turns out that most protected areas in Brazil lack the infrastructure and resources necessary for effective management. Thus, combined with the precariousness of government investments in protected areas and the growing wave of Latin American neoliberalism, there is a tendency to transfer public use of protected areas to large private groups. This is the case of concessions and public-private partnerships, encouraged by the Chico Mendes Institute for Biodiversity Conservation (ICMBio) at the national level and in the State of São Paulo, as provided by Law No. 16,260/2016 , known as the “concessions law”. On June 29, 2016, the State of São Paulo approved, as a matter of urgency and under strong pressure from the State Secretariat for the Environment, the “concessions law”, which regulates 25 State Parks (including PEIC), granting concessions for use and services to the private sector for 30 years. The law became controversial because it was not widely discussed, especially in the municipalities that would initially have their parks granted for private use. It was contested by environmentalists and local organizations because it was broad-based, non-participatory and did not address the specificities and characteristics of each UC. Therefore, this process ends up following a market-driven logic and political interests that contradicts the original objectives of the UCs of preserving environmental and cultural heritage to promote sustainable development and improve local quality of life. As a consequence, this conflict between business and market economic activities and community and traditional productive activities can worsen the situation of social inequality in these locations, in addition to impacting the way of life and the very permanence of the community in its territory. In my final undergraduate project, completed in 2017 at the Oceanographic Institute of the University of São Paulo (USP), I interviewed residents of all seven traditional Caiçara communities on Ilha do Cardoso, and analyzed how important is CBT socioeconomically and culturally for the communities, in addition to analyzing the perception of the community members regarding concessions to private companies. I observed that CBT currently represents a large part of the communities' income. It encourages and reproduces traditional practices and knowledge, such as traditional Caiçara cuisine, local stories, cultural festivals with the Caiçara musical style called fandango, among other things. In the community members' view, all of this rich knowledge and culture can be impacted and replaced by the concession model, mainly because it is an imposing process, without participation and transparency, in which the communities are not involved. Therefore, I propose a reflection: to what extent can concessions and public-private partnerships, so widely disseminated and encouraged in the current political context in Brazil, be threatening the sustainability of traditional communities and their activities such as the CBT? Why allow large private companies to profit from public parks and carry out activities that are already carried out by traditional communities and local associations? Why do we lack incentives for public-community partnerships in UCs, favoring local development? It is now up to us to actively monitor the process and demand that international conventions and treaties be complied with, encouraging the participation of the local community for the best application of these partnerships. About the author: My name is Caio Tancredi, I am an oceanographer who graduated from the University of São Paulo. Since I was a child, I have been an ocean lover, a surfer and the grandson-great-grandson of fishermen and sailors. Living in traditional communities has awakened in me a great interest in getting to know them better and being part of the fight they wage to guarantee their fundamental rights combined with environmental preservation. #MarineSciences #CommunityBasedTourism #TraditionalCommunities #ConservationUnits #UCs #Concessions #Caiçara #SocioEnvironmental #IlhaDoCardosoStatePark #IlhaDoCardoso #Guests
- Descomplicando o Mangue de Pedra
Por Jana M del Favero Recentemente, fiz uma viagem para Búzios (RJ) e, para minha surpresa, enquanto procurava por passeios, deparei-me com uma opção chamada "Mangue de Pedra". Como nunca tinha ouvido falar desse termo, recorri ao "pai dos burros moderno", também conhecido como Google, para descobrir um ambiente costeiro muito peculiar. Fiquei surpresa ao perceber que, apesar de ser mestre e doutora em Oceanografia, nunca tinha ouvido falar desse ambiente singular. Decidi, então, perguntar a alguns colegas da área se sabiam o que era o Mangue de Pedra. Para minha surpresa, apenas duas pessoas souberam responder, e não foi porque aprenderam em seus cursos de graduação ou pós-graduação, mas sim porque também já tinham visitado Búzios. Fiquei ainda mais espantada ao descobrir que até colegas formados no Rio de Janeiro não conheciam esse termo, o que me motivou a escrever este texto. Um manguezal, por si só, já é extremamente importante ecologicamente e economicamente. Eles geralmente se formam em áreas mais abrigadas, desenvolvendo-se sobre solo lamoso e nas desembocaduras de rios (nós temos um post descomplicando manguezais , que você pode acessar depois de ler esse texto, então serei sucinta aqui). Já no Mangue de Pedra, as árvores típicas de um manguezal crescem em um substrato formado por cascalho e areia grossa, e não há rios que descarregam água doce. A água doce que abastece o Mangue de Pedra e permite o crescimento da vegetação típica é subterrânea, proveniente da infiltração das chuvas, que afloram na região costeira. Naturalmente, visitei o local e me deparei com um ambiente ímpar, porém pouco sinalizado e protegido. Essa experiência me mostrou a importância de divulgar a existência desses ecossistemas únicos e de promover a conservação de nossos ambientes naturais. É crucial que estudos sobre o Mangue de Pedra sejam realizados e difundidos, assim como outros tesouros escondidos de nossa biodiversidade, para que possamos valorizá-los e protegê-los adequadamente. Vamos juntos valorizar e proteger nossas jóias naturais. Você já conhecia o Mangue de Pedra? Deixe seu comentário e compartilhe essa descoberta! Para saber mais, acesse: https://www.geoparquecostoeselagunas.com/mangue-de-pedra/ #DescomplicandoNetuno #MangueDePedra #Manguezal #JanaMDelFavero --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Sobre a autora Formada em ciências biológicas pela UFLA, mestre e doutora em oceanografia pela USP, com dupla-titulação com a UMassD. Especializou-se em Gestão Ambiental pelo SENAC e realizou dois pós-doutorados, um no INPE e outro na UFRJ. É sócia e diretora científica na Infinito Mare, fundadora e editora-chefe do Bate-Papo com Netuno e membra convidada do Comitê de Assessoramento da Década do Oceano no Brasil.
- Ciclo de conversas na UFPE: Mulheres na educação ambiental e divulgação das ciências do mar
No dia 23 de agosto de 2022, aconteceu a abertura do evento “ Ciclo de Conversas: Mulheres na Oceanografia ” (CCMO), organizado por discentes do curso de oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco. A primeira conversa do ciclo abordou a temática da atuação das mulheres na educação ambiental e divulgação das ciências do mar . Divulgação da conversa 1 do Ciclo de Conversas: Mulheres na Oceanografia. Fonte: Maria Luiza Rocha Coutinho (CC BY NC-ND) O evento tem como objetivo abordar diversos temas dentro da atuação das mulheres na oceanografia, além de divulgar os trabalhos e pesquisas realizadas por mulheres na área e trazer à tona suas trajetórias e experiências a fim de discutir e, também, de inspirar meninas e mulheres que estejam iniciando suas caminhadas nas ciências do mar. O Bate-Papo com Netuno foi apresentado pela nossa editora, a Dra. Carla Elliff, que apresentou sua trajetória enquanto mulher e cientista do mar. Também participaram da conversa Lia Soares ( Oceanocast ) e a MSc. Mariana Azevêdo ( Núcleo de Educação Ambiental Prof. Fábio Hazin ) . Infelizmente, não foi possível a participação da Profa. Dra. Monica Costa (LEGECE/DOCEAN/UFPE), que também integraria a roda de conversa. A moderação foi feita por Maria Luiza Coutinho, discente de oceanografia na UFPE. Durante a conversa, as convidadas apresentaram suas trajetórias nas ciências do mar e seus respectivos trabalhos na divulgação científica, abordada por Carla e Lia, e na educação ambiental, por Mariana, de maneira presencial e virtual. Participantes da conversa 1 do Ciclo de Conversas: Mulheres na Oceanografia. Fonte: Maria Luiza Rocha Coutinho (CC BY NC-ND) Para mais informações sobre o CCMO, acesse a página do Instagram do Diretório Acadêmico de Oceanografia da UFPE . #NetuniandoPorAí #CarlaElliff #CCMO #MulheresNaOceanografia #MulheresNaCiência #DivulgaçãoCientífica #EducaçãoAmbiental
- VII Semana de Oceanografia da UFPE
Entre os dias 21 e 25 de novembro de 2022, aconteceu a sétima edição da Semana de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (SOUFPE), com o tema “Mudanças Climáticas e Eventos Extremos: a culpa é realmente nossa?”. O evento é organizado todos os anos pela Mar Aberto - Empresa Júnior de Oceanografia da UFPE. Durante o evento, foram abordadas diversas perspectivas das mudanças climáticas ao longo do tempo geológico, na atualidade e as previsões para o futuro, a fim de que os participantes, ao final, pudessem responder à pergunta “a culpa é realmente nossa?”. No dia 24 de novembro, a Maria Luiza Coutinho, integrante da nossa equipe, apresentou na sessão de pôsteres o trabalho intitulado “Popularização da Cultura Oceânica através da plataforma de divulgação científica Bate-papo com Netuno” juntamente com as demais áreas da oceanografia. No pôster, destaca-se o histórico do Bate-Papo com Netuno, as seções temáticas de posts e a quantidade de textos já publicados, além da quantidade de seguidores nas diversas redes sociais onde a iniciativa se faz presente. Maria Luiza R Coutinho, colaboradora do Bate-papo com Netuno, apresentando na sessão pôster da VII Semana de Oceanografia da UFPE. Fonte: Maria Luiza R Coutinho com licença CC BY NC-ND #DivulgaçãoCientífica #CulturaOceânica #VIISOUFPE #MariaLuizaRCoutinho #NetuniandoPorAí
- Jovem cientista ou adolescência acadêmica?
Por Anônima Ilustração de Caia Colla Tecnicamente, sou uma “ jovem cientista ” para a maioria dos editais que aplicam essa categoria. Às vezes, me incomoda essa denominação “jovem”. Tenho quase 35 anos, me viro sozinha, tenho boletos de gente grande para pagar. Dizer que sou uma “jovem” anula tudo isso? Dizer que eu sou uma “jovem cientista” serve para eu me contentar e me conformar em minha posição na hierarquia acadêmica? Tenho graduação, mestrado, doutorado, 5 anos como pesquisadora de pós-doutorado (o famoso pós-doc). Dezenas de publicações, centenas de citações, participação em bancas de graduação e pós. E, mesmo assim, sou uma cientista em início de carreira? Quando é que essa carreira começa? Quando é que ela deslancha? Onde está a linha de chegada nessa corrida? Qual o lugar de uma “jovem cientista”? É um limbo de (i)maturidade? Uma adolescência acadêmica? Jovem demais para ocupar um cargo de chefia, para ter estabilidade na carreira, para ser levada a sério. Velha o suficiente para acumular responsabilidades e atribuições, servir como uma engrenagem na máquina produtivista, ser cobrada como uma profissional completa, mesmo que, numa reunião científica, você seja a única que não tem vínculo empregatício, não tem salário e, terminado o projeto atual, você sai de lá com uma mão na frente e outra atrás. A adolescência é marcada por questionamentos. Seria essa a vocação maior da etapa de “jovem cientista”? Questionar o sistema que nos impõem esse título e que nos passa a mão na cabeça dizendo “muito bem, parabéns por saber brincar de fazer ciência tão direitinho! Mas não vai achando que seu espaço de gente grande tá garantido, hein?” Mas uma “jovem cientista” de 35 anos, com anos de experiência na profissão-não-reconhecida de cientista, tem vontade de ser uma mulher adulta também. Como pensar em “adultezas”, como criar um espaço para chamar de seu (seja um aluguel que você decora a seu gosto ou uma casa própria), família (seja pela maternidade, cuidando de seus pais ou avós, ou qualquer outro papel familiar que você poderia exercer), aposentadoria etc., num sistema que te trata como uma adolescente? Espero que não me entenda mal, nada contra ser jovem. Aliás, ser jovem é exaltado em nossa sociedade. Quantas vezes você já não ouviu “nossa, você nem aparenta sua idade!” como um elogio? A pressão estética por uma juventude eterna está escancarada em qualquer propaganda de cosméticos. E, claro, com um viés maior para as mulheres. Às mulheres, não é dado o direito de envelhecer em paz. Simplesmente ter cabelos brancos, flacidez, rugas... Tudo isso precisa ser escondido, modificado. Pois bem. Cá estou, uma “jovem cientista” com alguns cabelos brancos e outros tantos sinais de que estou de fato tendo o privilégio de ver as primaveras passarem. Mas parece que sigo na balança jovem demais/velha o suficiente. O que acontece agora? #VidaDeCientista #MulheresNaCiencia #JovemCientista #Carreira #Produtivismo
- Afinal, o que tenho a ver com as mudanças climáticas?
Por Bruna Sanches e Jéssica Bonfim Apesar das mudanças climáticas parecerem algo muito distante e que, no fundo, preferimos acreditar que isso nunca irá nos afetar, ela está acontecendo há algum tempo e já faz parte da nossa realidade. Se não dermos a devida atenção a este problema, iremos sofrer cada vez mais as suas consequências. Você pode estar se perguntando, mas como as minhas atitudes podem causar impacto no planeta?”. Uma das respostas está mais próxima do que imaginávamos: o plástico! A poluição por plástico e os impactos das mudanças climáticas são dois temas que saem cada vez mais do ambiente acadêmico e se tornam presentes na mídia e em rodas de conversas do dia a dia. Porém, eles são normalmente tratados como problemas distintos, inclusive são poucos os estudos que trazem uma conexão entre os dois. Esses dois temas estão fundamentalmente ligados de três maneiras: 1) a produção de plástico depende fortemente da extração de combustíveis fósseis e do consumo de recursos finitos, diretamente relacionados com as emissões globais de gases de efeito estufa; 2) o clima influencia na distribuição da poluição por plásticos, que se espalha ainda mais com o aumento de eventos climáticos extremos e inundações; 3) o aquecimento global por si só é capaz de causar diversos impactos no ambiente (como aumento do nível do mar e derretimento das calotas polares), mas quando somado à poluição por plásticos, os efeitos sobre os organismos e ecossistemas marinhos podem ser catastróficos. Fonte: traduzido de Ford et al. (2022), com licença CC BY 4.0. Um exemplo de como plásticos e aquecimento global estão conectados: em 2015, a produção de plástico emitiu mais de um bilhão de toneladas métricas de dióxido de carbono (CO2). Isso representa mais de 3% das emissões globais de CO2 oriundas da queima de combustíveis fósseis. Em comparação, seria o equivalente a encher quase 200 trilhões de balões de aniversário apenas com CO2. Então, a solução seria substituirmos todo plástico de origem de combustíveis fósseis pelos feitos à base de biomassa?! Na prática, não é algo tão simples assim! Como esse material alternativo é derivado de biomassa, é preciso terra para cultivar e crescer as matérias-primas necessárias para a fabricação. Para substituir a demanda de plásticos usados globalmente, seriam necessários 61 milhões de hectares para o plantio de matérias-primas de plástico à base de biomassa, uma área maior que a da França. Sem contar o impacto à biodiversidade com o uso dessa terra para plantações em tamanha escala. Além disso, os plásticos à base de biomassa não são necessariamente biodegradáveis ; alguns são, mas outros apenas se degradam em condições industriais específicas ou, ainda, nem se degradam pois são feitos do mesmo polímero oriundo do petróleo (mas aqui com origem vegetal). Embora os plásticos biodegradáveis possam mitigar problemas relacionados à persistência no ambiente por meio da biodegradação, este processo deve ocorrer em condições controladas em um ambiente de compostagem para poder colher os benefícios do composto produzido. Esse é apenas um dos exemplos dos inúmeros estressores ambientais antrópicos, que, somados aos efeitos físicos das mudanças climáticas, podem intensificar ainda mais seus impactos, como o aquecimento global, aumento do nível do mar, aumento da ocorrência e intensidade de eventos climáticos extremos, derretimento de geleiras, entre tantos outros. Por isso, é importante estarmos cientes do nosso papel como indivíduo e sociedade, e sempre buscarmos informações confiáveis e atuais sobre o nosso planeta, que, afinal, é o nosso único lar! Pequenas mudanças no nosso dia a dia podem fazer a diferença, como a troca de plásticos de uso único ou limitado (como garrafas e garfos de plástico) para itens possíveis de serem utilizados diversas vezes como garrafas de vidro ou metal, utensílios de metal e até produtos menstruais reutilizáveis que estão disponíveis no mercado. Além de ser uma forma de economizar dinheiro, você ajuda o planeta evitando a produção e descarte excessivo de plástico no ambiente. Em 2019, houve um grande destaque na mídia para a implementação de leis em diversos estados do Brasil proibindo o fornecimento de canudos de plástico em estabelecimentos comerciais, sendo o objetivo desses projetos de lei contribuir na luta para diminuir a quantidade de plástico descartada no ambiente. Apesar dos canudos terem sido o centro dessa luta, plásticos feitos de polipropileno (incluindo os canudos) representam apenas 4% do plástico produzido no mundo, então por que esse foco apenas no canudo se há tantos outros itens feitos desse material? Eles são exemplos de como as pessoas podem, de alguma forma, participar dessa luta contra a poluição com escolhas simples do dia a dia. Afinal de contas, é necessário começar de algum jeito. Ademais dessas ações individuais, já existem ações criadas por grandes instituições como governos, empresas e ONGs sendo implementadas por todo o planeta para também diminuir o impacto dos plásticos no oceano, como: Eco Barreiras: estruturas flutuantes cujo objetivo é segurar itens próximos da superfície, dentre eles o plástico devido ao seu peso. Podemos encontrar esse método inclusive no Brasil, por exemplo, em um rio que passa por Porto Alegre – RS e outras cinco cidades importantes economicamente que, no ano em que foi implementada, em 2016, retirou 500 toneladas de plástico do canal; Foto do Projeto Eco Barreiras, com licença CC BY-SA 4.0. Projeto Ecoboat/Renove: desenvolvido no Rio de Janeiro, o barco já coletou 40 mil toneladas de resíduos sólidos da superfície do mar, sendo esse lixo trazido para o continente para ser triado e reciclado, dando um final adequado para os materiais; Seabin Project: criado por dois surfistas na Austrália, o equipamento consiste numa “lixeira” flutuante de baixa manutenção que, desde sua implementação, já capturou 4 mil toneladas de resíduos do oceano, sendo esse material coletado passível de ser utilizado para a fabricação de novos Seabins, criando um efeito dominó de reciclagem. É lógico que há também iniciativas que vão além de retirar o lixo que já chegou no oceano e que todo mundo pode ajudar. Podemos cobrar por políticas públicas, como por exemplo o Projeto de Lei Pare o Tsunami de Plástico , adquirir produtos de projetos inovadores, como os da Marulho , que além de retirar as redes fantasma das praias, atua diretamente com comunidades locais, e sempre repensar o próprio consumo: Meu shampoo não pode ser em barra para evitar o descarte de mais uma embalagem? Minha bucha para lavar louça não pode ser vegetal? E se eu testar utilizar calcinhas absorventes ou copinhos ao invés de usar um monte de absorvente todo mês? Essas são apenas algumas entre tantas outras mudanças que podemos realizar no nosso dia a dia. Todas essas ações são exemplos de atitudes que podem e estão sendo tomadas por diferentes atores da sociedade para manter o planeta habitável para nós e os demais seres vivos que nele vivem. Então, trago a pergunta para você, leitor, quais ações estão sendo feitas por instituições públicas ou governantes na sua cidade? E o que você pode fazer para ajudar com os problemas das mudanças climáticas? Referências BBC News Brasil. Mundo declara guerra ao canudo plástico, vilão do meio ambiente. [S. l.], 8 jun. 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-44419803 . Acesso em: 20 jun. 2024. Beegreen. Conheça algumas soluções inovadoras para retirar lixo dos oceanos. Meio Ambiente Notícias, 12 dez. 2019. Disponível em: https://beegreen.eco.br/solucoes-para-retirar-lixo-dos-oceanos/ . Acesso em: 20 jun. 2024. Helen V. Ford, Nia H. Jones, Andrew J. Davies, Brendan J. Godley, Jenna R. Jambeck, Imogen E. Napper, Coleen C. Suckling, Gareth J. Williams, Lucy C. Woodall, Heather J. Koldewey, The fundamental links between climate change and marine plastic pollution, Science of The Total Environment, Volume 806, Part 1, 2022, 150392, ISSN 0048-9697, https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2021.150392 . -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Sobre as autores Bruna Sanches é formada em Oceanografia pelo Instituto Oceanográfico da USP, onde trabalhou com poluição marinha por metais em organismos e sedimentos ao longo do litoral do Brasil, além de questões relacionadas à segurança alimentar e bioacumulação. No mestrado, continuará o trabalho analisando metais em organismos marinhos da Antártica. Jéssica Bonfim é Oceanógrafa pelo Instituto Oceanográfico da USP. Durante a graduação trabalhou com poluição por metais em sedimentos, e o uso de radioisótopos para análise de taxas de sedimentação e geocronologia. Atualmente, é mestranda em Geofísica pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, onde trabalha com o mapeamento de uma geleira na Antártica a partir de dados de anomalia de gravidade. Bruna e Jéssica elaboraram este texto como projeto da disciplina “Oceano e Criosfera em um clima em mudança”, ministrada pela Prof.ᵃ Dr.ᵃ Renata Nagai e o Prof. Dr. César Barbedo Rocha, do curso de Bacharelado em Oceanografia do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. #Plástico #MudançasClimáticas #LixoNoMar #BatePapoComNetuno #PoluiçãoMarinha #CiênciasDoMar #MeioAmbiente #Oceanografia #BrunaSanches #JéssicaBonfim
- Encontro Brasileiro de Divulgadores de Ciência
Entre os dias 27 e 28 de agosto, ocorreu o Encontro Brasileiro de Divulgadores de Ciência no Instituto Principia (São Paulo, SP). Organizado pela RedeComCiência , Blogs de Ciência da UNICAMP e pelo próprio Instituto Principia , o evento contou com mesas de discussão relacionando divulgação científica com as Universidades, redes e o próprio jornalismo; além de grupos de trabalho nos quais se discutiu sobre financiamento e profissionalização, a busca de espaço para novas iniciativas, acessibilidade e como lidar com tópicos polêmicos e desinformação. Vale destacar a presença feminina no evento, compondo 70% entre palestrantes e moderadoras. Imagem 1: Mesa de discussão composta apenas por mulheres no Encontro Brasileiro de Divulgadores de Ciência. Fonte: Natasha Travenisk Hoff com licença CC BY NC-ND As Ciências do Mar estiveram ali representadas não apenas pelo Bate-Papo com Netuno, mas também pela Adriana Lippi ( Liga das Mulheres pelo Oceano ), Gustavo Shintate ( ICRS Student and Early Research Chapter) e pelo Gabriel Leandro Gomes, o Gabu ( Projeto Cachalote Peregrino ). Imagem 2: Nossa editora Natasha T. Hoff na sessão de pôsteres do Encontro Brasileiro de Divulgadores de Ciência. Fonte: Natasha Travenisk Hoff com licença CC BY NC-ND Nossa editora Natasha T. Hoff representou o Bate-Papo na sessão de pôsteres no dia 27 (Imagem 2), juntamente com divulgadores de diversas outras iniciativas de divulgação científica das diversas áreas do conhecimento. Ela também participou do grupo de trabalho cuja pergunta central era: Como tornar o conteúdo da divulgação científica mais acessível para pessoas com deficiência? Esta foi uma oportunidade muito enriquecedora e que se espera contribuir para tornar o Bate-Papo com Netuno mais acessível. Que tenha sido o primeiro de muitos encontros de divulgadores de Ciência e que novas propostas de mudanças venham por aí! # NetuniandoPorAí #NatashaTHoff #EBDC #DivulgaçãoCientífica
- O oceano e o ENEM
Por Maria Luiza Coutinho O oceano é importante para a manutenção da vida no planeta Terra, como na regulação do clima e produção de oxigênio, sendo o verdadeiro “pulmão do mundo". Muitos de nós sabemos disso - ou pelo menos a nossa comunidade Netuniana sabe! Mas a questão é: por que a temática do oceano é tão negligenciada nas questões do ENEM? Assuntos como a composição da Terra são explorados rotineiramente, mas por que o oceano, que representa cerca de 70% do planeta, não? Me dei conta disso quando ingressei no curso de Oceanografia da UFPE e, ainda no primeiro semestre, na disciplina de “Introdução à Oceanografia”, a professora Monica da Costa passou um trabalho no qual eu e a Anna Carolina Felipe, deveríamos quantificar as questões do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em que a temática do oceano era abordada. O resultado foi surpreendente e isso nos intrigou. Desde então, levamos essa informação a eventos nacionais de Oceanografia para ampliar o debate. O ENEM existe desde 1998 e surgiu com o propósito de avaliar o conhecimento dos concluintes do ensino médio no Brasil. Com a reestruturação ocorrida em 2009, o ENEM passou a ser uma das principais vias de acesso ao ensino superior no país. As questões da prova, principalmente a redação, abordam temas da atualidade dentro de um contexto aplicado, integrando todas as áreas do saber científico e do cotidiano, a fim de estimular o desenvolvimento de soluções para os problemas do mundo contemporâneo. Apesar do novo rearranjo da prova do ENEM, percebe-se que questões que abordam assuntos relacionados ao oceano apresentam-se de maneira escassa. Basta ter feito a prova, pelo menos uma vez na vida, que isso fica perceptível. Podemos contar nos dedos de uma única mão quantas questões caíram. Assim, começamos a nos questionar se isso estaria relacionado com a inexistência da abordagem do assunto nas escolas do Brasil, pois nota-se que, quando discutido, é geralmente nos grandes centros urbanos litorâneos. Fizemos uma revisão de 1800 questões que formam 20 cadernos de provas do ENEM dos anos de 2014 a 2021, incluindo os formatos digitais do exame que aconteceram em 2020 e 2021. Os temas das redações desde a criação da prova também foram analisados a fim de quantificar quantos abordavam o oceano de maneira direta ou indireta. As questões, após identificadas, foram separadas em 5 categorias: oceanografia biológica, oceanografia física, oceanografia química, oceanografia socioambiental e oceanografia geológica. E adivinhem… O resultado foi chocante! Apenas 46 questões, dentre 1800, abordavam a temática do oceano, representando um valor de 2,6%. Dentre elas, a área mais abordada é a oceanografia biológica, seguida pela oceanografia socioambiental, oceanografia química e física. A menos abordada foi a oceanografia geológica, com somente 2 questões. Total de questões (N=1800) das edições do ENEM 2014-2021 que abordavam a temática do oceano (N=46). Fonte: Maria Luiza R Coutinho com licença CC-BY-NC-ND. Gráfico com o número de questões sobre a temática do oceano por ano do ENEM. 2020 (D) e 2021 (D) representam a versão da aplicação digital do exame. Fonte: Maria Luiza R Coutinho com licença CC-BY-NC-ND. Mas o que esses dados querem nos dizer? O óbvio! O oceano está sendo negligenciado através de práticas humanas que tem gerado inúmeros danos como a poluição ou a extinção de espécies. Grande parte destes problemas estão associados à falta de conhecimento da população sobre a influência dos oceanos em todo o sistema Terra e devido a isso, a importância de que todos o conheçam, pois conhecendo podemos começar a ter boas práticas para preservá-lo. Estudos mostram que o tema Impactos Ambientais sempre foi abordado nas provas do ENEM, mas de maneira escassa e desintegrada. Esse cenário não é diferente quando se observa o ensino do mesmo nas escolas brasileiras. Muitas vezes, o assunto não possui abordagem ampla, tornando-o de difícil entendimento e mecânico para os alunos, que findam não formando uma visão crítica sobre o assunto. Isto faz com que os espaços de manifestações se tornam restritos a apenas uma parte privilegiada da sociedade. Uma vez que as escolas brasileiras possuem uma falsa noção de sucesso diante ao quantitativo de aprovações nos vestibulares, as práticas pedagógicas e os professores têm sua autonomia limitada aos conteúdos mais explorados na prova. Com isso, assuntos como o funcionamento do oceano, de extrema importância para a população, são abordados superficialmente quando convém. O próprio termo “ Cultura Oceânica ” surgiu no início dos anos 2000 nos Estados Unidos quando pesquisadores perceberam que a temática do oceano não era abordada na grade curricular das escolas do país. O cerne do termo é a influência que o oceano tem nos humanos e, também, a influência que os humanos têm no oceano, realizando uma abordagem holística não só das relações naturais, mas compreendendo as relações humanas sociais, históricas, culturais e econômicas. A perspectiva que se tem é que com a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável essa realidade mude, mas para isso é necessário que haja uma maior difusão da cultura oceânica, não só no litoral, mas também, no interior do país. Para isso, é necessário um maior fortalecimento entre a universidade e a comunidade através da atuação e criação de projetos extensionistas, formações de professores para que possam repassar o conhecimento para seus alunos de forma íntegra e, claro, que a temática do oceano seja integrada não só a disciplinas de ciências exatas da natureza, mas de forma multidisciplinar. E nós, cientistas e amantes do mar, precisamos nos mobilizar para isso! Os dados apresentados foram publicados por mim e pela Ana Carolina Felipe da Siva na Tropical Oceanography, Recife, v. 49, n. ESPECIAL, p. 5-8, 2022 (acesse aqui ) #CiênciasDoMar #ENEM #CulturaOceânica #EducaçãoOceânica #EnsinoBrasileiro #Oceano #BatePapoComNetuno #MariaLuizaRCoutinho
- Environmental Protection Areas: without management they are just "paper parks”
By Jana M. del Favero English edit b y Lidia Paes Leme and Katyanne Shoemaker *post originally published in Portuguese on October 9, 201 5 Illustration adapted from Greenpeace . Unidades de Conservação (UCs), or Conservation Units in English, are the Brazilian denomination for what is widely known as protected areas . They are legally-protected natural areas essential for the conservation of biodiversity. While these regions protect diverse and fragile ecosystems, they also play an important role for society's well-being; controlled activities for public use can be developed in their space, be they of a scientific, educational or recreational nature. However, the creation of protected areas alone is not enough to ensure their preservation. It is necessary to manage them effectively in order to conserve the resources therein (see references below for more information on this), which is more or less equivalent to keeping your house in order. Creating conservation units without the foresight of managing them causes countless regional problems. For example, poor implementation can damage the relationship between the local communities and the maintaining institutions (such as the Chico Mendes Institute for Biodiversity Conservation - ICMBio and the Forestry Foundation - FF), resulting in regional dissatisfaction and the wearing away of the institutional name and image (see references). According to a study from 2002, listed below, a large fraction of the conservation units in the world are so-called " paper parks ", that is, despite the designation of protected area, no steps were ever actually implemented to properly manage them. In order to eliminate the risks of creating "paper parks" in Brazil, the Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (National System of Conservation Units) was created. SNUC is an established set of official guidelines and procedures specific to different management categories (details of those categories can be found here ). According to the Panorama of Conservation of Coastal and Marine Ecosystems in Brazil (available here ), in 2010 there were 222 UCs created in coastal and marine areas, 102 federally managed and 120 state managed. Only 1.57% of the 3.5 million square kilometers of ocean under Brazilian jurisdiction is protected in conservation units. If you include the estimated area included in coastal zones, that percentage rises to 3.14%, or less than a third of the target set by the National Biodiversity Commission (Conabio), which is a commission created with the objective of protecting at least 10% of its marine and coastal area. Among the entire Brazilian coast, the region of the State of São Paulo is the one that suffers most from anthropogenic actions (changes made by humans), mainly due to real estate pressure. Additionally, the coast of São Paulo is increasingly targeted due to its strategic location in relation to the major industrial centers in the country and the connection with port systems for imports and exports. Oil discoveries in the pre-salt region of the Santos Basin also attract the oil and gas industry and road and railroad enterprises. Within the State of São Paulo, the municipality of Bertioga is one of the few areas still preserved, even though it is located near urban centers and on the busy Rio - São Paulo axis. This region constitutes an important biological corridor between marine-coastal environments, represented by the restinga and the Serra do Mar, thus forming a continuous area whose protection is fundamental to guarantee the preservation of ecological processes and gene flow. Thus, based on the biological relevance of the area the State Council of Environment - Consema sought to preserve the area in October 2010. After years of discussion and analysis of different proposals submitted by different agencies, a region consisting mostly of the Restinga de Bertioga State Park (PERB) was designated an Area of Relevant Ecological Interest (ARIE). The PERB was officially created by State Decree No. 56,500, December 9, 2010 (more information about the PERB here ). Location of the Restinga de Bertioga State Park. PESM = Parque Estadual da Serra do Mar (Source: Banzato et al., 2012 ). In this same year, 2010, I was taking a specialization course in Environmental Management at Senac and needed to do the final paper for my course (TCC). I got together with a group of 3 people from different areas: Barbara Banzato - oceanographer, José Augusto Auroca - sociologist, and Juliana Carbonari - tourism expert, and we had no doubts about which area to study, PERB! At the time it was necessary to urgently implement integrated environmental management programs that would guarantee the prompt establishment of the PERB and active popular participation in environmental issues, thus avoiding the creation of yet another paper park. Thus, to contribute to the elaboration of the management plan for the UC in question, we conducted an environmental diagnosis of the PERB area and its surroundings through a critical analysis of the current park conditions, identifying the strengths and weaknesses of the area and possible threats and opportunities for the park. We used two methods, SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats) and GUT (Gravity, Urgency and Tendency), to analyze 18 questionnaires obtained through interviews with key people linked to the creation of the PERB. The main advantages of the park as pointed out by the methods were: abundance of natural resources, strategic location of the PERB, mosaic with different UCs, good conservation status of different ecosystems, preservation of the area, research development and ecotourism potential. The most important threats were: proximity to urban centers, lack of infrastructure, influence of a federal highway, hunting, fishing, irregular occupation and uncontrolled tourism. Left: Itaguaré River mouth - Right: Aerial view of the region. Photos: Adriana Mattoso. Source Left: Itaguaré River mouth - Right: Spoonbills in the region's mangrove Photos: Adriana Mattoso. Source The work was relevant in two aspects: by representing the first initiative to analyze PERB - pointing out its most critical restrictions and driving forces that can help in the effective management of the park, and by using easy-to-use methodologies to analyze UCs, showing that they can help in effective management (the published work can be obtained here ). Today, doing a quick search on PERB, I saw that they opened earlier this year (2015) two new trails, developing ecotourism practices for recreation and environmental education (information here ). I was glad to see that, it seems to me, PERB will not be just another "paper park" . References: ARTAZA-BARRIOS, O.H. Análise da Efetividade do Manejo de duas Áreas de Proteção Ambiental do Litoral Sul da Bahia. Revista de Gestão Costeira Integrada, v. 7, n.2, p. 117-128. 2007. BANZATO, B. M. ; FAVERO, J. M. ; AROUCA, J. A. C. ; CARBONARI, J. H. B. . Análise ambiental de unidades de conservação através dos métodos SWOT e GUT: O caso do Parque Estadual Restinga de Bertioga. Revista Brasileira de Gestão Ambiental, v. 6, p. 38-49, 2012. FARIA, H.H. Eficácia de gestão de unidades de conservação gerenciadas pelo Instituto Florestal de São Paulo, Brasil. 2004. 401f. Dissertação (Doutorado em Geografia) – Universidade Estadual de São Paulo, 2004. TERBORGH, J.; SCHAIK, C. V. Por que o mundo necessita de parques? In: Tornando os parques eficientes: estratégias para conservação da natureza nos trópicos. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2002. #MarineScience #CoastalEcosystems #MarineEcosystems #PaperParks #ConservationUnits #ProtectedAreas #JanaMDelFavero












