Resultados da Busca
533 resultados encontrados com uma busca vazia
- Semana Temática de Oceanografia na USP
Entre os dias 29 de setembro a 03 de outubro de 2025, aconteceu a Semana Temática de Oceanografia (STO) no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP) no Campus Butantã em São Paulo - SP. A STO acontece todo ano no IO-USP e é organizada pelos alunos do curso de Oceanografia que estão prestes a se formar. O evento tem o intuito de difundir conhecimentos e promover debates em todas as áreas da oceanografia para um público geral através de palestras, mesas redondas e minicursos e, geralmente, conta com uma temática norteadora. O tema da 20ª edição da STO foi “ Narrativas do Mar: Tradição Viva, Ciência em Transformação” . Nesta edição, foi dado espaço às vozes que constroem a relação com o mar muito antes da ciência chegar. O intuito foi reconhecer os saberes de comunidades que vivem do oceano, suas histórias, costumes e modos de cuidar desse ambiente que também é casa, sustento e identidade. Nossa editora, Cláudia Namiki , foi convidada pelos alunos a coordenar o evento para garantir que a STO mantenha seu compromisso com a ciência, coletividade e construção de um oceano mais plural. Nas palavras de seus próprios alunos “é ela quem segura o leme quando precisa e é também quem nos incentiva a remar com autonomia”. Sem dúvida sua colaboração e calma presença foi essencial para deixar este evento mais especial! Outra editora do Bate-Papo com Netuno, Luiza Soares , também foi convidada a participar da STO e compartilhar os aprendizados adquiridos na caminhada como divulgadora científica na palestra “ Ciência em transformação - Divulgação Científica como Ferramenta de Mudança ”. Durante sua fala, Luiza destacou as principais ferramentas que podem (e devem) ser utilizadas quando nos comunicamos com um público amplo e diverso. Além de enfatizar, é claro, a dedicação do Bate-Papo com Netuno,que há 10 anos torna a ciência mais democrática! #NetuniandoPorAí #SemanaTematicadeOceanografia #SaberesTradicionais #DivulgaçãoCientífica #ClaudiaNamiki #LuizaSoares
- Nem cima, nem embaixo: estratégias adaptativas de flutuação do plâncton
Texto de Klinton Souza Ilustração de Malu Coutinho Você já deve ter notado como absolutamente TUDO no mundo varia. Até um vira-lata caramelo difere de outro vira-lata caramelo. E ao longo do tempo evolutivo, aquela característica que confere alguma vantagem na sobrevivência do indivíduo e, portanto, tem maior chance de se manter numa população, chamamos de adaptação. Assim como o bico de algumas aves tem formas que lhes permitem a captura de presas específicas, resultado de mudanças que foram selecionadas ao longo da evolução, pequenos organismos habitantes da coluna d'água também desenvolveram estratégias adaptativas para a vida no pelagial. Assim como em grandes animais, a morfologia do plâncton está ligada à sua forma de vida e seu habitat. E venhamos e convenhamos, é lindo ver esses organismos tão pequenos através das lentes de um estereomicroscópio e observar tantas formas, estruturas e movimentos; sem falar das cores (ou falta delas, já que tem até bichinhos transparentes). Esses pequenos organismos, em geral menores que um milímetro, tem formas corpóreas muito curiosas e de composições variadas que influenciam a sua sustentação na coluna d’água. Vista geral de uma amostra de plâncton vivo, em estereomicroscópio (Fonte: Inácio Domingos da Silva Neto, http://cifonauta.cebimar.usp.br/photo/7332/ , com Licença: CC BY-NC-SA 3.0) Uma característica muito importante do plâncton é sua locomoção restrita, porém existem alguns organismos que movimentam-se verticalmente por muitos metros na coluna d’água e usam isso para fugir de predadores; isso é um exemplo de estratégia adaptativa. Outra estratégia adaptativa do plâncton é a morfologia e composição química que permitem a sua flutuação de forma livre na coluna de água. Com relação à morfologia, eles podem ter espículas, apêndices flutuadores, corpos achatados, antenas, e até exoesqueletos menos densos que colaboram na sustentação do corpo na coluna d’água. Já com relação à composição química, eles podem ser gelatinosos ou conter gotas de gordura e tecidos com maior quantidade de água que contribuem para diminuir a sua densidade. Alguns organismos gelatinosos adaptaram-se de tal forma a favorecer a excreção (ou substituição) de íons mais pesados por mais leves. Exemplos de organismos com adaptações para aumentar a flutuabilidade: a) o poliqueta Tomopteris elegans tem corpo achatado e com parapódios (projeções laterais musculosas) e, de quebra, ainda é bioluminescente (isso não ajuda na flutuação, mas é muito interessante!); b) as medusas da espécie Palau stingless são formadas por substâncias gelatinosas, além do corpo em formato medusoide (= “guarda-chuva”); c) a megalopa (estágio larval) do microcrustáceo Neograpsus altimanus tem distribuído em seu corpo gotas de gordura que contribuem para diminuir sua densidade; d) as microalgas da espécie Asterionellopsis glacialis e os microcrustáceos do gênero Sergestes sp. têm espinhos em seu corpo para aumentar a área superficial e, consequentemente, aumentar sua flutuabilidade; e) os copépodos do gênero Diatomus sp. têm um exoesqueleto menos denso e antenas que ajudam na distribuição do seu peso; f) a véliger (estágio larval) de gastrópodes tem apêndices flutuadores. A) Tomopteris elegans ( Fonte . Licença: CC BY-NC-SA 2.0); B) Palau stingless ( Fonte . Licença: CC ATÉ 2.5); C) Neograpsus altimanus ( Fonte . Licença: CC BY-NC-SA 3.0); ( Fonte . Licença: CC BY-NC-SA 3.0); D) Asterionellopsis glacialis ( Fonte . Licença: CC BY-NC-SA 2.0); E) Diatomus sp. ( Fonte . Licença: CC BY-NC-SA 2.0); F) veliger (estágio larval) de Gastropoda ( Fonte . Licença: CC BY-NC-SA 3.0). É muito interessante notar as adaptações desses minúsculos organismos ao longo da evolução “apenas” para flutuar, além de toda a sua importância para o mundo marinho. Vale lembrar que este texto não é uma revisão exaustiva sobre o tema, mas tem a intenção de compartilhar algumas curiosidades e chamar a atenção para estes seres incríveis! E pra você não esquecer que o oceano está cheio de plâncton flutuando, basta cantarolar a música do Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar, vida leva eu!”... Referências ou sugestão de leitura: TUNDISI, JG. & MATSUMURA-TUNDISI, T. Limnologia. Oficina de Textos. São Carlos – SP, p. 150, 2008 CALAZANS D, MUELBERT JH AND MUXAGATA E. 2011. Organismos planctônicos. Cap.9, p.165-166. In: Calazans (Organizador). Estudos Oceanográficos: do instrumental ao prático. Pelotas, Editora textos Plâncton - IOUSP. Disponível em: . Acesso em: 4 maio. 2023. Pagodinho, Zeca. Deixa a Vida Me Levar. [S.l.]: Universal Music, 2007. 1 CD. DEL BIANCO, Murilo. Plâncton. Todo Estudo . Disponível em: https:// www.todoestudo.com.br/biologia/plancton. Acesso em: 02 de May de 2023. Sobre o autor: Graduando em Oceanologia pela Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB. Atualmente, trabalha com Geoturismo dos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, sistematizando e divulgando pontos de interesse geológico e fomentando a conservação dessas paisagem para alunos e professores de escolas públicas e privadas, turistas e visitantes, comunidade acadêmica e comunidade local que trabalha com turismo. Um projeto vinculado ao Centro de Formação em Ciências Ambientais (CFCAm) com atividades no Laboratório de Geologia e Paleontologia (LABGEOP-UFSB). No ano de 2020, tive a mirabolante ideia de entrar num curso que nunca tinha nem ouvido falar, hoje não me vejo mais fora. Cada acontecimento, cada experiência, vem sempre para somar, e no final, mesmo com as dificuldades, se tem o sentimento de gratidão. Instagram pessoal: @klintonsss Email: klinton.souza@gfe.ufsb.edu.br #Convidados #Plâncton #CiênciasdoMar #Adaptação #Flutuabilidade
- Quando me vi doutora e autista
Por Natasha Travenisk Hoff Ilustração de Cai a Colla . Desde criança, eu sempre fui considerada a chata da turma, a que seguia todas as regras (e ficava brava se alguém por perto não seguia), a que se dava muito bem com os professores e pessoas mais velhas, mas tinha pouquíssimos amigos da minha idade. Muitas vezes, eu demorava para entender alguma brincadeira que faziam comigo (mais tarde, deram um nome para isso: bullying ). Mas dificilmente eu contava isso para alguém, afinal, eu também não era boa em explicar o que eu estava sentindo. Eu gostava de construir brinquedos, fazer artes (aprendi crochê, tricô, pintura em tecido e tela, bordado com a minha avó, sempre com certa facilidade), mas não gostava de inventar histórias brincando de barbie com as minhas irmãs. Pagava para não precisar fazer uma ligação telefônica. “Ah, ela é muito tímida”. E sabe como as coisas são hoje? Exatamente iguais. É claro que, com o tempo, eu melhorei algumas habilidades, o que não quer dizer que não haja um desgaste físico e emocional gigantesco, mas… é o que tenho para hoje. Entendi que eu era o peixe fora d'água e segui minha vida com o menor dano possível. Decidi que faria faculdade de Oceanografia com apenas 12 anos. Estudei a grade horária e os laboratórios que existiam aqui durante o Ensino Médio. Ou seja, preparei-me e tracei toda a minha rota acadêmica: mestrado, doutorado, pós-doutorado - eu já sabia que seria pesquisadora e onde eu queria trabalhar. Doideira ou estava criando algum conforto na previsibilidade do meu futuro? O tempo foi passando e eu me tornei representante de turma na graduação, representante discente em inúmeras comissões estatutárias no instituto e participei da organização de vários eventos, conseguindo financiamento para alguns deles. Na pós-graduação, a mesma coisa. Sempre fui em busca do que fosse melhor para o grupo, sempre lutei pelo que achava justo. Indispus-me com algumas pessoas - machistas, preconceituosos e alguns desinformados. Entrei no programa de pós-doutorado e aí? Pós-doutorandos seguem invisibilizados, sem direitos e representação, mas cheios de cobranças: fui atrás e já conseguimos algumas coisas. Ninguém falou que seria fácil, mas ninguém também avisou que seria tão desgastante. Nesse período todo, minha irmã mais nova se formou psicóloga, e desde os seus primeiros atendimentos, ainda como acompanhante terapêutica, trabalha, principalmente, com pessoas neurodivergentes (isto é, pessoas que têm um funcionamento cerebral diferente de um padrão, considerado “normal” - os chamados neurotípicos ). Muitos dos adultos que passam em atendimento com ela também são neurodivergentes (e pasmem, gente: pessoas autistas, com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) ou trissomia 21 também se tornam adultos! Sim, isso foi uma crítica a um sistema que oferece atendimento apenas para crianças e, no máximo, adolescentes). E, nos últimos anos, ela percebeu que muitos dos meus comportamentos eram compatíveis com os de uma pessoa autista. Aceitei por um tempo essa ideia, mas sem buscar ajuda ou uma confirmação do diagnóstico mesmo. Enquanto isso, convivi (convivo) com um transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e depressão. E vocês sabiam que esses diagnósticos são muito comuns em pessoas autistas em que houve diagnóstico tardio? Por quê? Porque passamos o tempo todo tentando “ser normal”, encaixarmo-nos nas “caixinhas sociais” ou frustrados com o insucesso nessas empreitadas. Além disso, em muitos desses casos, a pessoa possui um nível de suporte mais baixo e conseguiu mascarar as características do autismo ao longo de sua vida. E isso é muito desgastante… por isso, muitos desenvolvem quadros de ansiedade e depressão. Pois bem, com o mental em frangalhos no início de 2024, comecei a ter dificuldades de concentração e não conseguia (e ainda estou enfrentando certa dificuldade) ficar horas na lupa, atividade que faz parte do meu projeto pós-doutorado. Neste ano, optei também por não publicar nenhum artigo científico, que também demanda muito foco e concentração (e agora, estou correndo atrás de cobrir essa lacuna acadêmica… kkcrying). Por conta disso, decidi fazer o teste neuropsicológico, que auxiliou meu psiquiatra a fechar o diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA). Quando o diagnóstico oficialmente veio, ainda foi um choque (para mim, né, porque minha irmã já tinha certeza) e demorei mais uns meses digerindo essa informação. As pessoas não são, e nunca foram, iguais. Não entendo porque ainda cismamos em colocar em caixas tudo e todos! Não seria melhor acolher as diferenças, respeitá-las e buscar conhecimento e recursos para lidarmos com elas? Ah, mas isso dá trabalho, né? É, dá trabalho se tornar uma pessoa melhor. Pense que, assim, o mundo pode melhorar não apenas para pessoas neurodivergentes ou com deficiência, mas para todos! Hoje, tudo se encaixou… mas eu ainda estou aprendendo a entender as minhas necessidades mentais e físicas, a gerir minhas demandas e agradeço à minha família pelo apoio, principalmente às minhas irmãs, com quem tanto aprendo sobre as mil possibilidades de ser, e à minha mãe, que me acudiu tantas vezes e, quando tinha as crises de ansiedade, despencando de Mogi para São Paulo diversas vezes porque perdia a hora para acordar, tinha prova e já levantava passando mal de ansiedade. Eu amo o que eu faço, seja como oceanógrafa e pesquisadora, seja como divulgadora científica. Eu terminei meu mestrado, segui direto para o doutorado e logo engatei no pós-doutorado. Eu sigo cumprindo com as metas que criei para a minha vida. E, agora, posso dizer que sou doutora e autista com muito orgulho. Que este relato possa ajudar outras tantas pessoas que estão nesse caminho de autoconhecimento, tentando se encontrar nesse mundo, e para que os familiares de pessoas neurodivergentes acreditem no potencial delas! Sobre a autora: Oceanógrafa, mestre e doutora em Oceanografia, na área de concentração Oceanografia Biológica, pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), com período sanduíche em Portugal, no CIIMAR (Universidade do Porto). Atualmente, é pesquisadora de Pós-Doutorado no IOUSP e editora voluntária do Bate-Papo com Netuno. A Oceanografia entrou em sua vida muito cedo, quando tinha apenas 12 anos. Desde então, sua curiosidade a leva para novos e diferentes caminhos a cada nova empreitada. Acredita que o diferencial da Oceanografia é justamente a multidisciplinaridade. Assim, tem experiência com análises climatológicas, química inorgânica de sedimentos, unidades de conservação, integridade biótica da ictiofauna, estoques pesqueiros, análises morfométricas, otólitos e, desde 2021, entrou no mundo da paleoecologia! #NatashaHoff #VidaDeCientista #Neurodivergência #PessoasComDeficiência #Autismo
- Ostras e riscos invisíveis
Por Adrielle Beatrice do Ó Martins Você já comeu aquela ostrinha na praia com sal e limão? Ou aquela gratinada cheia de queijo? Se você mora no litoral ou visitou uma das praias da costa brasileira, possivelmente teve a oportunidade de provar essa iguaria. Mas você também já se perguntou de onde ela veio ou como era o ambiente onde ela estava antes de chegar até seu prato? As ostras estão presentes em diferentes ambientes costeiros aqui no Brasil. Há espécies que vivem melhor em águas salgadas, como a Ostrea equestris , e aquelas que prosperam em ambientes de transição, como manguezais e estuários, onde há uma variação da salinidade. Este é caso da Crassostrea rhizophorae , que ocorre principalmente nas regiões mais tropicais do país (Nordeste, Norte e parte do Sudeste) e da espécie Crassostrea gasar , que também é típica de locais de transição, porém ocorre com maior frequência nos estados do Sul e Sudeste do Brasil. Outra espécie comum na costa do Brasil, mas que não é nativa daqui, é a Crassostrea gigas (recentemente renomeada para Magallana gigas ); ela é uma espécie originária do Oceano Pacífico, mas que foi intencionalmente introduzida no Brasil, principalmente para o cultivo, e se adaptou muito bem e hoje é a espécie mais produzida em cultivos na costa brasileira. Santa Catarina é o maior produtor de ostras no Brasil, responsável por até 94% da produção nacional, possuindo extensas fazendas de ostras desta espécie. As ostras são organismos bivalves (moluscos formados por duas conchas) e, por serem filtradores, têm grande valor do ponto de vista do monitoramento ambiental. No processo de se alimentar de partículas suspensas na água, a água também passa pelas suas brânquias, onde ocorre a troca gasosa (respiração). Além disso, as ostras vivem fixas a substratos (rochas, raízes, etc) e, por isso, tudo o que ingerem representa o material a que foram expostas naquele ambiente, diferente de peixes e golfinhos, por exemplo, que podem se alimentar em diferentes regiões. Por fim, o seu metabolismo é consideravelmente mais lento do que outros animais com nível trófico mais alto (como caranguejos e peixes). Dessa forma, as ostras são classificadas como bioindicadores de contaminação e amplamente usadas em trabalhos sobre ocorrência e distribuição de contaminantes no ambiente costeiro. Durante o mestrado, eu realizei um estudo com ostras de mangue na região metropolitana de Salvador - Bahia para avaliar a presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) em Crassostrea rhizophorae da Baía de Todos os Santos (Bahia, Brasil). Os resultados mostraram um aumento da contaminação por hidrocarbonetos de petróleo principalmente em regiões de portos. Outros estudos mostram a influência dos efluentes domésticos e/ou industriais regulares (ou não) nas ostras, apontando riscos de contaminação microbiológica. Hoje, meu foco de pesquisa está na identificação e quantificação de contaminantes de característica emergente - que são contaminantes que já estão presentes no ambiente há bastante tempo, mas apenas com o avanço tecnológico das últimas décadas, foi possível identificá-los em amostras ambientais - nesses organismos. Atualmente, meus estudos estão focados na avaliação da presença de fragrâncias e filtros solares em ostras na região da Grande Florianópolis. Mas isso é papo para uma próxima conversa, prometo trazer os resultados! Enquanto isso, reflita aqui comigo… Sabendo da capacidade das ostras de reter contaminantes, será que precisamos parar de consumí-las? Não, não é para você parar de consumir ostras, mas sim saber identificar o que está consumindo e escolher a melhor opção para a sua saúde. Saiba que as ostras provenientes de ostreiculturas fiscalizadas passam por um rígido controle de qualidade sanitário pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), através do Programa Nacional de Moluscos Bivalves Seguros – o MoluBiS . O MoluBiS coleta e analisa tanto a ostra quanto a água do cultivo, verificando a presença de contaminantes microbiológicos, microalgas nocivas , ficotoxinas, contaminantes inorgânicos e até os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. Bacana, né? Nosso desejo é que essas análises sejam ampliadas também para outras classes de contaminantes, como os pesticidas e bifenilas policloradas. É bom saber que o MAPA implantou e coordenou procedimentos desde os grandes produtores até as pequenas associações de marisqueiros para que esse molusco chegue até você sem risco para sua saúde, não é mesmo? Mas, infelizmente, esse programa ainda não abrange toda a costa brasileira devido à falta de infraestrutura laboratorial, logística e cooperação entre órgãos, estando presente apenas em áreas onde a ostreicultura está consolidada, como as regiões Sul e Sudeste do Brasil, além dos estados da Bahia, Pará e Maranhão. Outras formas de regularização seriam a adesão dos produtores ao programa por meio de cooperativas, órgãos estaduais ou pelas universidades e as regularizações coletivas. Portanto, fique atento: apenas ostras oriundas de áreas monitoradas e classificadas - dentro do MoluBiS ou de um sistema equivalente aprovado pelo MAPA - podem ser comercializados legalmente. Para quê se arriscar comendo em locais onde você não sabe a procedência? Então, fique ligado e se atente a alguns pontos importantes na hora de adquirir as suas ostras: 1) Certifique-se da procedência (a melhor forma é perguntando se as ostras vem de área cadastrada no MoluBis e pedindo a identificação do produtor e número de inspeção); 2) Compre em locais confiáveis (prefira sempre as peixarias, mercados e restaurantes regularizados); 3) Evite o consumo durante eventos de florações de algas nocivas ou após chuvas intensas ; e 4) Dê preferência às ostras cozidas (isso evitará possíveis problemas microbiológicos). Seguindo esses conselhos, você vai poder aproveitar a gastronomia multifacetada do Brasil sem medo! Para mais informações: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/programas-de-saude-animal/vigilancia-de-contaminantes-em-moluscos-bivalves https://wikisda.agricultura.gov.br/pt-br/Sa%C3%BAde-Animal/manual_do_programa_nacional_moluscos_bivalves_seguros_molubis https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0025326X19309373 https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0048969724018217 https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0025326X21009115 Sobre a autora: Formada em Engenharia Ambiental e Sanitária pela UNIFACS com mestrado em Geoquímica e doutorado em Energia e Meio Ambiente pela UFBA. Fiz doutorado sanduíche na Universidade de Cádiz para compreender melhor os contaminantes emergentes e uma expedição para Antártica mudou meu modo de ver o mundo. Atualmente estou finalizando um pós-doutoramento em Oceanografia na UFSC, avaliando as ostras aqui da região Sul do Brasil. Sempre tive fascínio pelos organismos bivalves e desenvolvimento de métodos analíticos, então estou sempre associando esses dois mundos no meu dia a dia (junto com um bolinho e brigadeiro de café). #CiênciasDoMar #OceanografiaQuímica #Ostras #Contaminação
- Semana Acadêmica da Biologia Marinha UFRGS 2025
Entre os dias 20 e 24 de outubro de 2025, ocorreu a Semana Acadêmica da Biologia Marinha 2025 , no Centro de Estudos Costeiros Limnológicos e Marinhos (CECLIMAR) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), localizado no município de Imbé, litoral norte do Rio Grande do Sul. Como descrito pela comissão organizadora do Diretório Acadêmico do curso de Biologia Marinha e Costeira e Gestão Ambiental Marinha e Costeira da UFRGS (DABMar): Este evento acadêmico e científico, organizado pelos próprios estudantes do curso, busca fomentar o acesso à cultura e aos diferentes campos de pesquisa das ciências biológicas. Nosso objetivo é promover o pensamento crítico e expandir as perspectivas dos futuros biólogos, abordando temas que complementam a grade curricular e valorizam profissionais de destaque. Nossa editora, Carla Elliff , foi convidada para compor uma mesa redonda sobre mulheres na divulgação científica , representando o Bate-Papo com Netuno. A conversa contou também com as docentes do curso de Biologia Marinha, Profª Drª Rossana Soletti e Profª Drª Elisabeth Cabral . Rossana Soletti é graduada em Farmácia Bioquímica e mestre em Neurociências pela UFSC e doutora em Ciências Morfológicas pela UFRJ. Ela atua em pesquisa e em projetos de extensão, popularização da ciência e produção de recursos educacionais. Rossana está à frente do Maternidade Com Ciência , onde produz e compartilha conteúdo sobre ciência e maternidade. Elisabeth Cabral é bióloga pela UFRPE, mestra e doutora em Oceanografia pela UFPE. Tem experiência de pesquisa nas áreas da ecologia de ecossistemas aquáticos, planctologia e ictiologia; com destaque para o estudo da ecologia do ictioplâncton marinho e estuarino. Elisabeth coordena o projeto de extensão Que Plâncton é Esse? , que busca promover educação ambiental e divulgação científica. A conversa rendeu muitos momentos emocionantes e divertidos! Agradecemos demais ao DABMar pelo convite e à Rossana e à Elisabeth pela parceria - seguimos juntas nessa! #NetuniandoPorAí #SemanaAcadêmica #BiologiaMarinha #DivulgaçãoCientífica #CarlaElliff
- Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) da UFSB, Campus Porto Seguro, 2025
O tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em 2025 foi Planeta Água: a cultura oceânica para enfrentar as mudanças climáticas no meu território e aconteceu nos dias 20 e 21 de outubro no Campus Sosígenes Costa , em Porto Seguro. O evento contou com uma grande diversidade de atividades, com oficinas, minicursos, exposições, rodas de conversa, palestras e atividades culturais. Este evento foi marcado pela presença de mulheres na comissão organizadora e de mulheres em locais de destaque. A noite de abertura também teve roda de samba com as marisqueiras de Belmonte e palestra com Thais Melo, bióloga marinha, formada pela UFRJ, pioneira no turismo de observação de baleias jubarte em Cumuruxatiba e Arraial D’Ajuda. Outra iniciativa que merece destaque foi a realização de uma cuidoteca experimental, com organização de servidoras da UFSB (Carolina Bessa, Catarina Marcolin, Maria Inês Sperandio e Tatiana Dadalto). A cuidoteca recebeu 14 crianças entre 2 e 10 anos de idade, que foram cuidadas por monitores do evento, sob supervisão das organizadoras. Nossa editora Catarina Marcolin fez parte da organização do evento e da cuidoteca e participou da roda de conversa sobre Diversidade e Equidade de Gênero para um Oceano Seguro , juntamente com as editoras Juliana Leonel (UFSC) e Claudia Namiki (USP), além de Lana Resende de Almeida (UNIFESP) e Tatiana Dadalto (UFSB). Roda de conversa sobre Diversidade e Equidade de Gênero para um Oceano Seguro durante a SNCT, 2025 (Fonte: Ana Castro). #NetuniandoPorAi #CatarinaRMarcolin #snct2025 @snct_ufsb.csc
- Academia made me hard, but teaching gave me back my humanity…
By Juliana Leonel English edit by Carla Elliff * post originally published in Portuguese on October 11, 2023 Illustration by Joana Ho On my second day at university I already knew I wanted to pursue an academic career - years later, I discovered in therapy that I actually wanted to be a researcher since childhood, I’d just never seen one and didn’t know what to call this career. I went through my scientific initiation, I loved doing my end of course paper (in Brazil known as TCC, Trabalho de Conclusão de Curso ), earned a doctorate degree and was a postdoctoral fellow twice. I knew “everything” about doing research - emphasis on the quotation marks, because if there’s one thing we learn in science it’s that we never, ever will know everything… But I had little teaching experience. During my postdoctoral studies, I had the opportunity to teach my first classes by myself (in postgraduate courses) and some shared experiences in undergraduate courses. But all I knew about “giving lessons” came from my own experience as a student. In other words, I never learned anything about teaching methods, nor did I know that a teaching plan was needed (or how to craft one). Back in my days as a student, teachers taught classes without showing us a schedule or course objectives, and would just let us know a few weeks in advance when the exam would take place (usually based mostly on memorization and very little actual critical thinking). More than that, the idea I developed throughout my training was that I had to hold very high standards and be demanding. I couldn’t give students any slack, change agreements, or make exceptions. After all, “if you can’t handle it, this isn’t the place for you”. How naïve and blind I was… life is so much more than just two extremes, there are so many nuances, and with them so many possibilities. Despite this, I can say that I’ve always had a good relationship with my students, or most of them. Although I lacked interpersonal skills, I taught good classes, with up-to-date content, and never refused to explain the material over and over again. However, teaching is much more than that. And it was the students who - fortunately - taught me this. And they did so without me really realizing it, they just showed me that each one is unique, that life stories are individual, that what they carry with them when they enter the classroom is much more than just a pencil and notebook, and that it is impossible - for them and for me - to ignore this. Worries, afflictions, and even joys don’t stay outside the classroom waiting for the lesson to end: they come with them and shape who they are. That's what makes them so special, so unique. And I, as a teacher, can’t expect to put everyone in the same box and reach the same results. Besides learning to respect each person’s individuality - without necessarily needing to know about it - I learned that I don’t need to be like the teachers I had or that I could draw inspiration from those who were exceptions to the rule and who stepped outside the “class - test” box. I learned that I could also change the format of my classes and assessments so that each student could give their best. I learned that I could give them the freedom to show me what they learned (or didn’t learn). I learned to listen and to observe more. No, it wasn’t and easy process. I had to face the fact that “all that” I believed in might not be the best way to approach teaching. After accepting that change was necessary, I had to study and gradually applied this knowledge, testing new forms. But more important than the new teaching methods was opening myself up to understanding students beyond the individual sitting in front of me holding a pencil. And from then on, new bonds were formed and the classroom - which was already a place I felt comfortable in - made much more sense. Today, every semester I learn more and take with me the certainty that teaching, besides being a two-way process, is also a dynamic and constantly changing process. And as such, it is far from being a finished process. There is still much to learn. The effect of learning this extended beyond the classroom, it also helped me in my relationships with early-career researchers I supervise. In fact, they also played an important role in this change. By allowing myself this connection and listening to their experiences, pains, and afflictions I realized that this relationship is never just about the classroom, the lab workbench, or writing a paper together. We all leave a little or ourselves wherever we go and take a little of those who crossed our path. #ScientistLife #Teaching #Learning #JulianaLeonelChat
- Reciclagem no Brasil: a gestão de resíduos e o papel dos nossos heróis invisíveis
Por Nicole Soares e Julia Felitte Ilustração por Joana Dias Ho . O que é a Política Nacional de Resíduos Sólidos? A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi criada em 2010 (Lei nº 12.305), mas só foi regulamentada 12 anos depois, em 2022. Ela trouxe uma nova perspectiva para a gestão de resíduos no Brasil. Seus princípios falam em consumo sustentável, proteção à saúde pública e responsabilidade compartilhada entre empresas, governo e consumidores. Ao responsabilizar os fabricantes, a PNRS introduz a logística reversa, quando a empresa recebe as embalagens pós consumo para reaproveitar e destinar os materiais. Já a responsabilidade dos consumidores está diretamente relacionada com o consumo consciente, a separação adequada de resíduos e a reciclagem, que somente pode ser eficiente no território nacional se o setor público promover coleta seletiva, tratamento, informações e disposição final adequada aos resíduos. Justamente nesse ponto está nosso calcanhar de aquiles. A existência da PNRS por si só não garante… quase nada! Então, o que falta? A Lei mencionada definiu prazos para a desativação dos lixões no país, de acordo com a realidade de cada município. Esse encerramento é muito importante, uma vez que esses espaços podem causar diversos problemas à saúde pública, como a proliferação de vetores de doenças, contaminação dos lençóis freáticos e riscos altíssimos de ferimentos aos catadores. Mesmo com todas essas problemáticas, milhares de municípios ainda convivem diariamente com lixões a céu aberto. De acordo com um relatório da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente, em 2022 foram descartados em média 33 milhões de toneladas de resíduos em pelo menos 3 mil lixões a céu aberto no Brasil (o equivalente a encher 233 Maracanãs!). A dificuldade na desativação dessas estruturas em nosso país é agravada pelas baixas taxas de reciclagem, de 3% a 4%, muito abaixo da média mundial, que é de cerca de 20%. Essa porcentagem é alarmante levando em consideração que o nosso consumo e geração de resíduos só vem aumentando ao longo dos últimos anos. Por que nem tudo é reciclado, mesmo sendo reciclável? Outros fatores, como a desvalorização de determinados materiais e a falta de compradores interessados em reciclá-los, também impactam negativamente a realidade local. Diversas embalagens que encontramos facilmente nas prateleiras do mercado apresentam baixo valor de mercado devido ao alto custo de processamento e dificuldade de reaproveitamento em escala industrial. Embalagens como pacotes de salgadinhos, por exemplo, misturam plástico e alumínio, combinação que dificulta a separação e encarece o processo, fazendo com que, na prática, quase sempre acabem no lixo comum. O isopor é outro caso preocupante. Embora seja tecnicamente reciclável, é volumoso e muito leve, o que encarece o transporte e exige bastante espaço nas cooperativas. Por isso, muitas vezes as indústrias não se interessam em comprá-lo. Sem equipamentos adequados para reciclar resíduos que exigem um processo mais complexo, toneladas desse material seguem para os aterros sanitários em vez de ganhar um novo uso. Um grande motivo para a falta de interesse na reciclagem por algumas empresas são os altos custos operacionais, sem incentivos fiscais adequados. Para efeito de comparação, de acordo com o Ministério da Fazenda, o agronegócio recebeu 158 bilhões de reais em isenções fiscais em 2024. Assim, a produção em massa de embalagens não reaproveitáveis e o conjunto de falta de políticas públicas eficazes, educação, incentivos, fiscalização e estruturação adequada para a reciclagem contribuem para que a maior parte dos resíduos sólidos acabe em aterros sanitários, ou até em lixões clandestinos. Heróis ambientais Sem dúvida, os profissionais que mais impactam o país quando falamos sobre o assunto são os catadores de resíduos recicláveis. No Brasil, de acordo com o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), são cerca de 800 mil trabalhadores em atividade. No mundo, de acordo com a Organização Mundial do Trabalho (OIT) são mais de 15 milhões. Responsáveis por quase toda a reciclagem do nosso país, aproximadamente 90% de todo o material reciclado passa por suas mãos. Eles coletam, separam e classificam cada tipo de resíduo coletado, como papelão, papéis brancos, jornais, garrafas PET, plásticos rígidos, latas de alumínio, sucatas de ferro e aço e vidros, destinando-os corretamente para as empresas que irão reaproveitá-los. Em determinadas regiões, algumas cooperativas de coleta seletiva, que coletam os materiais recicláveis previamente separados, como a Coopercaps (em São Paulo) e a Centcoop (no Distrito Federal), têm feito bons avanços na união de esforços com grandes empresas para promover a estratégia chamada de logística reversa. Além das cooperativas estaduais existe também a Associação Nacional de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT), fundada em 2000. A Associação, que tem como objetivo defender os interesses dos trabalhadores da catação no Brasil, realiza atividades em 269 cidades ao longo de todos os estados brasileiros. Além disso, ela pode oferecer apoio técnico e financeiro aos catadores, atualmente integrando mais de 80 mil trabalhadores. Sem o trabalho desses profissionais, quase sempre invisíveis para a sociedade, a reciclagem no Brasil simplesmente não aconteceria. Eles são, de fato, os verdadeiros heróis ambientais. Porém, apesar de sua relevância, os catadores enfrentam diversos tipos de dificuldades e preconceitos, como a desvalorização social, a marginalização e condições precárias de trabalho. De acordo com dados do IPEA (2013) cerca de 66,1% dos catadores se autodeclaram negros ou pardos, adicionando discriminação racial a mais uma das inúmeras batalhas que enfrentam diariamente. Para melhorar as condições de vida e trabalho dos catadores, é imprescindível valorizar sua profissão. Isso passa pela regulamentação da atividade e pela garantia de direitos trabalhistas básicos. Recentemente, por exemplo, foi proposta a criação de um piso salarial nacional de dois salários mínimos. Mas apenas essa medida não resolve. É fundamental investir também em infraestrutura e dignidade no trabalho. Um exemplo prático é oferecer melhores condições de transporte para os materiais coletados, reduzindo o uso da força braçal e prevenindo lesões. Além disso, os catadores precisam estar presentes nas decisões que definem o futuro da reciclagem no Brasil, para que suas vozes sejam ouvidas e suas necessidades consideradas. Só assim será possível fortalecer o setor e garantir a inclusão real desses trabalhadores na sociedade. Interior de uma cooperativa no município de São Paulo. Foto: Nicole R. Soares Qual o nosso papel? Para contribuir com o futuro que queremos, nós consumidores, temos a função de separar e higienizar corretamente os recicláveis, destinar nossos resíduos no local e horários adequados, e buscar entender o que acontece quando a embalagem sai da nossa casa. Além disso, pequenos gestos de valorização aos profissionais que sustentam a reciclagem no Brasil, como oferecer uma refeição ou água, também podem fazer a diferença. É importante ressaltar que não devemos apenas pensar na reciclagem dos resíduos sólidos, principalmente provenientes das embalagens plásticas, mas também tentar mudar nossa cultura de consumo. É necessário reduzir o consumo desenfreado, optar sempre por produtos com maior reciclabilidade, e incentivar as pessoas ao redor que também repensem seus hábitos. Perguntas como “Eu realmente preciso de tudo isso? Como eu posso mudar meus hábitos de consumo? Para onde o “lixo” vai quando sai de casa?” são um bom jeito de começar. Sabemos que os itens “descartáveis”, especialmente os plásticos, são muito acessíveis e baratos para a indústria, mas, sempre que possível, é interessante buscar alternativas ao uso desses materiais, que não são reciclados, e considerar também dar novos usos ao produto antes de descartá-lo. E, somente quando não houver alternativas de uso, descartar o material de maneira correta. Além disso, o decreto regulamentador da PNRS aborda também o importante tema de educação ambiental na gestão de resíduos sólidos, trazendo a obrigação do governo em promover ações educativas para todos os envolvidos no ciclo dos resíduos, desde sua fabricação até o descarte. Porém, podemos também buscar por essas iniciativas em nossos municípios, ou até mesmo iniciar nossas próprias! Na cidade de São Paulo o Movimento Recicla Sampa , iniciado em fevereiro de 2019, resulta de uma parceria entre Prefeitura, algumas empresas de coleta ( Loga e Ecourbis ) e a Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb). A iniciativa possui um site onde você pode aprender a reciclar de um jeito simples, ver curiosidades sobre reciclagem e até mesmo descobrir quando a coleta seletiva passa na rua mais próxima à sua casa! Além disso, o movimento tem um instagram bem ativo com conteúdos de educação ambiental, informações sobre reciclagem, coleta seletiva e ações realizadas na cidade. Para conhecer melhor o Recicla Sampa, acesse o site: www.reciclasampa.com.br . Exemplos de páginas disponíveis no site reciclasampa.com.br Referências bibliográficas ANCAT - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS. ANCAT. [S.l.]: ANCAT, 2024. Disponível em: https://www.ancat.org.br . Acesso em: 30 out. 2024. BERTÉ, Rodrigo; PELANDA, André Maciel. A importância dos catadores de materiais recicláveis. ln: UNINTER. CNU Central de Notícias UNINTER. [S.l.], 3 mar. 2023. Disponível em: https://www.uninter.com/noticias/a-importancia-dos-catadores-de-materiais-reciclaveis#:~:text=A%20participa%C3%A7%C3%A3o%20dos%20catadores%20no,novos%20produtos%2C%20e%20causam%20menos . Acesso em: 29 out. 2024. BRASIL. Decreto nº 10.936, de 12 de janeiro de 2022. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - SNIS. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2022/Decreto/D10936.htm . Acesso em: 29 out. 2024. BRASIL. Decreto nº 10.936, de 12 de janeiro de 2022. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2022/decreto-10936-12-janeiro-2022-792233-publicacaooriginal-164412-pe.html . Acesso em: 29 out. 2024. BRASIL, Emanuelle. Comissão aprova piso salarial de dois salários mínimos para trabalhador essencial de limpeza urbana. Agência Câmara de Notícias, 7 dez. 2023. Trabalho, previdência e assistência. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/1024060-COMISSAO-APROVA-PISO-SALARIAL-DE-DOIS-SALARIOS-MINIMOS-PARA-TRABALHADOR-ESSENCIAL-DE-LIMPEZA-URBANA . Acesso em: 29 out. 2024. BRITO, Letícia; GERAQUE, Eduardo; RAJÃO, Guilherme. Catadores são parte fundamental para a reciclagem, dizem especialistas. CNN Brasil, 6 set. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/catadores-sao-parte-fundamental-para-a-reciclagem-dizem-especialistas/ . Acesso em: 29 out. 2024. FERREIRA, Cristiano Nicola; OLIVEIRA, Gerson de Lima. O potencial da reciclagem no Brasil de geração de trabalho e renda. Agência GOV, 6 jul. 2024. Trabalho e Emprego. Disponível em: https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202407/o-potencial-da-reciclagem-no-brasil-de-geracao-de-trabalho-e-renda . Acesso em: 29 out. 2024. IBAMA. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: https://www.gov.br/ibama/pt-br/assuntos/emissoes-e-residuos/residuos/politica-nacional-de-residuos-solidos-pnrs . Acesso em: 29 out. 2024. IPEA. Desafios da gestão de resíduos sólidos urbanos no Brasil. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/cts/pt/central-de-conteudo/artigos/artigos/217-residuos-solidos-urbanos-no-brasil-desafios-tecnologicos-politicos-e-economicos . Acesso em: 29 out. 2024. MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ. 14 anos da PNRS e fim dos lixões no Brasil: realidade ou horizonte distante? Disponível em: https://mppr.mp.br/Noticia/14-anos-da-PNRS-e-fim-dos-lixoes-no-Brasil-realidade-ou-horizonte-distante . Acesso em: 29 out. 2024. PANORAMA Ipea - Situação social dos catadores. [S.l.: s.n.], 2016. 1 vídeo (26 min). Publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XQgWrF1F2VI . Acesso em: 29 out. 2024. PREFEITURA DE SÃO PAULO. Cidade de São Paulo oferece alternativas para descarte de resíduos e destinação ambientalmente correta. Portal da Prefeitura, 2024. Disponível em: https://capital.sp.gov.br/web/butanta/w/noticias/99560 . Acesso em: 30 out. 2024. RECICLA SAMPA. Aprenda a reciclar. Recicla Sampa, 2024. Disponível em: https://www.reciclasampa.com.br/aprenda-a-reciclar . Acesso em: 30 out. 2024. PLANALTO. Lei 12.305/2010 - Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm . Acesso em: 29 out. 2024. Sobre as autoras: Nicole é graduanda em Oceanografia pelo IO-USP e bolsista no projeto “Descomplicando Netuno: ampliando a cultura oceânica nas escolas”, coordenado pela Profª Dra. Cláudia Namiki, que foca na produção de conteúdos acessíveis sobre oceanografia para jovens. Idealizadora do projeto de extensão “Oceano para Todos” (@oceano.para.todos), voltado à promoção da cultura oceânica em comunidades próximas à USP. Atua em áreas voltadas à educação ambiental, produção de materiais didáticos, e a conexão entre ciência e sociedade. Já participou do Projeto Ecosteiros (IB-USP) e do Centro de Biologia Marinha da USP (CEBIMar), desenvolvendo atividades com públicos variados. Júlia é estudante de bacharelado em Oceanografia na Universidade de São Paulo, amante da educação ambiental. Já trabalhou com divulgação científica e hoje está inserida em projetos relacionados à cultura oceânica e estudo de meio. Além disso, é bolsista no Projeto Ecosteiros, do Instituto de Biociências da USP. Júlia e Nicole elaboraram este texto como projeto da disciplina “Divulgação Científica e cultura Oceânica”, ministrada pela Prof.ᵃ Dr.ᵃ Cláudia Namiki, do curso de Bacharelado em Oceanografia do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. #Descomplicando #Reciclagem #ResíduosSólidos #Convidados
- Código de conduta: seu evento precisa de um!
Por Juliana Leonel Eventos científicos, de extensão e de formação são comuns para as pessoas que trilham uma carreira nas ciências do mar - e para muitas outras áreas também. Nesses eventos, há equipes responsáveis pela organização e há os participantes - alguns poucos ou milhares, a depender do evento; todos com suas histórias, culturas, aprendizados e, consequentemente, com suas próprias opiniões sobre os mais variados assuntos e comportamentos. O que parece simples ou muito claro para uma pessoa, nem sempre o é para a outra. Isso funciona tanto para um conhecimento específico como para um comportamento. Infelizmente, isso também se aplica à forma de se portar das pessoas e o que elas entendem como “limite de respeito aos demais”. Particularmente, eu acho que respeito é respeito e ponto final; que não tem o que ser discutido. Mas, ao mesmo tempo, aprendi que isso nem sempre funciona dessa forma e que, para evitar problemas maiores e mais graves, é necessário estabelecer regras. Abaixo listarei apenas algumas regras que considero inegociáveis: “Não comentar sobre o corpo de uma mulher.” “Não fazer comentários racistas.” “Não ter um comportamento homofóbico.” As frases acima são apenas alguns exemplos de regras de conduta que parecem óbvias e que poderíamos facilmente imaginar que não seria necessário pedir/explicar para ninguém sobre isso. Mas, na prática, não funciona bem assim. Sempre vai ter alguém (ou alguénS) para dizer: “Mas foi só uma piada.” “Era brincadeira.” “E a minha liberdade de expressão?” Mas e aí, o que fazer para estabelecer regras mínimas de boa convivência e evitar situações como essas? Uma sugestão simples seria estabelecer um código de conduta. Pode parecer uma medida até simples demais, que não vai impedir alguém de ser desrespeitoso/a ou até mesmo de cometer um assédio. Mas o objetivo de um código de conduta não é ser um escudo a todo e qualquer comportamento inadequado. Ele serve para alertar as pessoas de forma transparente sobre o comportamento mínimo esperado naquele ambiente. Pode, inclusive, esclarecer para quem não saiba quais são os limites de uma interação assediadora. E, uma vez que elas estão cientes e de acordo, saberão que podem ser penalizadas caso descumpram o estabelecido. No caso de um evento, essa punição pode significar ser convidado a se retirar do local, não poder participar dos próximos, não receber auxílio financeiro, etc. Adicionalmente, o código de conduta também auxilia a equipe organizadora sobre como lidar e responder em situações de comportamento inadequado. Se você já está pensando que escrever um código de conduta dá trabalho, e que parece algo bastante burocrático, que tal começar com algo bem simples, como: Neste evento, prezamos por relações de respeito entre as pessoas. Atenção a algumas regras de convivência: Seja gentil e respeitoso. Não assedie ou importune as pessoas. Não seja preconceituoso, respeite a diversidade de gênero, raça, nacionalidade, etnias. Não serão tolerados comportamentos que deixem outras pessoas constrangidas. As possíveis implicações são: [detalhar o que combina melhor com o seu tipo de evento, demos alguns exemplos acima]. O importante é deixar claro o que não vai ser tolerado naquele espaço. E, com o tempo, o texto poderá ser melhorado. Você deve inclusive incluir seu código de conduta no momento das inscrições e/ou fase de seleção, para o seu evento. As pessoas interessadas em seu evento deverão clicar aceitando as condições de convivência, como forma de dar ciência sobre o assunto. Além das regras mínimas de convivência, o código de conduta ainda pode incluir: como fazer a denúncia, quais as consequências se quebrar o código de conduta etc. O cógido de conduta vai muito além de incentivar as pessoas a respeitarem umas às outras, ter um código de conduta pode ajudar as pessoas que passaram por situações de assédio, importunação e discriminação a se sentirem mais seguras para participar do evento. Você já reparou se nos eventos que participa há um código de conduta? #AssédioNão #VidaCientista #Respeito #EventosCientíficos
- New Ocean
Por Leonardo Cusatis * texto publicado originalmente em julho de 2025 no site http://www.atlantis-t.org/newocean.html O Oceano ainda esconde incontáveis mistérios. Essa última fronteira do nosso planeta nos desafia a ousar, a questionar modelos ultrapassados, a rasgar as malhas da rede do conformismo, a quebrar velhos paradigmas, a furar a bolha do “publicentrismo”, a sair da periferia, a romper monopólios, a pensar fora da caixa, a superar o complexo de vira-lata e mergulhar de cabeça até o abismo mais profundo, em busca do conhecimento. O Brasil precisa de um centro de pesquisa oceânica, privado, independente, sem fins lucrativos, com projetos ousados e criativos que acelerem o conhecimento do nosso Oceano. Internacionalizado, engajado no movimento O pen Science e alicerçado em inovação tecnológica. Alguns desses projetos já existem e estão em desenvolvimento no LabTecMar. É preciso trabalhar em um ambiente que privilegie a ousadia, a criatividade, a intuição, o “olhar de canto de olho”, o pensamento disruptivo, a night science oceânica ! É isso que César Lattes, que no ano passado completaria 100 anos, quis dizer em uma das suas últimas entrevistas: “É preciso que haja também um ambiente criador…”. Einstein também pensava nesse sentido: “Eu acredito na intuição e na inspiração. A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado, enquanto a imaginação abraça o mundo inteiro, estimulando o progresso, gerando a evolução. Ela é, rigorosamente falando, um fator real na pesquisa científica”. As próximas décadas exigirão a criação de novas tecnologias para os desafios que a pesquisa oceânica enfrentará. A robótica (turbinada com IA) será uma das principais ferramentas. O LabTecMar já está desenvolvendo, há mais de uma década, algumas dessas tecnologias, com muita resiliência e determinação. É preciso democratizar a pesquisa oceânica criando tecnologias mais baratas e acessíveis, para acelerar a exploração e o conhecimento do nosso vasto Oceano, em especial das planícies abissais, onde apenas 0,001% já foram visualizadas. O trabalho desse novo Centro de Pesquisas também irá gerar material para um fantástico programa de divulgação científica, que poderá ser comparável ao da exploração espacial. É fundamental divulgar a ciência oceânica para atrair novos pesquisadores nas áreas de STEM (voltada ao oceano) e, ainda, despertar a cultura oceânica nesta e nas próximas gerações. Mas de onde virão os recursos? Será criado um Fundo particular para captação de doações nacionais e internacionais de grandes doadores, o chamado Venture Philanthropy , semelhante ao do Instituto Serrapilheira. O mecenato científico deve ser mais estimulado e divulgado no nosso país. Vamos aproveitar o movimento mundial do The Giving Pledge, no qual bilionários prometem doar parte de suas fortunas ainda em vida. Faz bem fazer o bem! Um detalhe importante: o dinheiro desse Fundo não poderá ser usado, apenas os juros poderão ser utilizados, e também, as doações poderão ser resgatadas, com correção monetária, caso os doadores acharem que os resultados não foram os esperados. Aproveitando, gostaria de fazer um convite a esses grandes doadores para entrarem em contato com o LabTecMar. O Instituto Woods Hole começou assim, há mais de 90 anos, com fundos da filantropia, criando seus próprios equipamentos e com isso gerando pesquisas inéditas. Hoje é a mais importante instituição privada de pesquisa oceânica do mundo. Esse novo Centro terá a forma de um Observatório Oceânico onde as engenharias trabalharão em sinergia com as pesquisadoras e os pesquisadores oceânicos e também com os futuros oceanautas, desenvolvendo tecnologias inéditas e, consequentemente, pesquisas oceânicas inéditas. Será incentivada a igualdade de gêneros nos cargos de pesquisa e direção, dando também condições às pesquisadoras de conciliarem a maternidade com a pesquisa. Tudo com uma gestão científica profissional. Será um presente para a Década do Oceano. Ainda temos meia Década para concretizar esse sonho! No último parágrafo do último capítulo do livro: “Fronteiras do Conhecimento em Ciências do Mar”, o nosso saudoso Professor Paulo Lana escreveu: “Acredito que a ideia de que podemos resolver os grandes problemas da ciência e da sociedade de forma linear e disciplinar está teórica e metodologicamente ultrapassada. As pessoas, grupos de pesquisa e instituições que derrubarem esse paradigma estarão na crista da onda para produzir conhecimento novo e relevante”. Vamos “surfar” na crista dessa onda?! A imaginação é o limite! Sobre o autor: Sou formado em Ciências Biológicas pela UFPR, sou Inventor e fundador do LabTecMar, que desde 2011 desenvolve novas tecnologias para pesquisa e exploração oceânica. E antes de tudo sou um visionário. Participei de dois cruzeiros oceanográficos a bordo do saudoso Besnard. Foi quando fui definitivamente “fisgado por Netuno”. Minha missão é colaborar para a criação de um Centro de Pesquisa Oceânica, particular e independente, no Brasil. #CiênciasDoMar #CentroDePesquisasMarinhas #PesquisaETecnologia #CiênciaEInovação #DécadaDoOceano #Convidados
- Demystifying Ocean Literacy
By Mari Andrade and Jana del Favero English edit by Carla Elliff * post originally published in Portuguese on September 15, 2020 Knowing and understanding the ocean's influence on us and our influence on the ocean: this is the essence of Ocean Literacy . Here in Brazil, we call this “ Cultura Oceânica ”, which translates more directly as “ocean culture” - we’ll explain more about this translation in a moment. It may seem like a strange combination of words at first, but culture and the ocean are closely related. Ocean Literacy is about engaging people to reconnect with the ocean, in a relationship based on quality knowledge , accessibility, ecosystem and cultural diversity, and behavior change. Where did this all come from? The desire to gather elements to support this aspiration for reconnection began in 2002, when education professionals and marine scientists came together in the US to develop pedagogical resources for teaching marine sciences. Education professionals identified this gap in teaching and managed to mobilize research institutes to address this demand at conferences and technical meetings between 2003 and 2004. This was an important step in identifying the need to bring "the next generation of scientists, fishers, farmers, businesspeople, and political leaders" closer to the sea. In other words, the discussion of humanity's relationship with the ocean had enormous potential and, therefore, needed to overcome the waves and navigate other seas, with a diversity of stakeholders. This is how the term Ocean Literacy emerged, and in 2004 itself, there was an effort to define its fundamental principles and concepts, which then began to be addressed at conferences every two years in the US. ⠀ A few years later, Ocean Literacy crossed the Atlantic and arrived in Europe, joining the discussions on education and scientific outreach taking place there. Since 2011, projects, events, and international cooperation agreements have begun to consider Ocean Literacy as a crucial topic in Marine Sciences. The urgency to address it has made Ocean Literacy an intergovernmental issue. Thus, UNESCO and the Intergovernmental Oceanographic Commission have taken on the responsibility of stimulating this global discussion and developing tools for its implementation. With the launch of the 2030 Agenda in 2015 and the announcement of the Decade of Ocean Science for Sustainable Development in 2017, the challenge of incorporating this concept here in Brazil has been taken on. Ocean Literacy in Brazilian seas The first task we had here was to translate the term Ocean Literacy. Literacy is an English term that emerged in the 19th century to define the "ability to read and write." Since then, it has been used as "competence or knowledge in a certain area" or "alphabetization". ⠀ This term exists in Portuguese, as the word literacia , and has more or less the same meaning. In Portuguese from Portugal, speaking of literacy is more common than in Brazil. In Brazilian Portuguese, the term can convey the idea that we need to be "literate," experts in the subject. But this contradicts the purpose of reconnecting people with the ocean, which is meant to be democratic and free for everyone. Ocean Literacy for All toolkit in Portuguese So we went through literacia do oceano , literacia azul , educação marinha , alfabetização dos mares , and other variations of the term in Brazilian Portuguese. It wasn't until 2019 that the term Cultura Oceânica (“Ocean Culture”) was adopted, when a Portuguese version of the IOC-UNESCO Ocean Literacy for All toolkit was released. This provided much of the inspiration for this text, at an event organized by the Maré de Ciência (Tide of Science) project. Culture is a complex term, with many dimensions and meanings. But in every way, it brings a sense of connection and responsibility that are important and meaningful to Brazil. ⠀ What is ocean literacy about? But how do we connect people with the ocean? What can we talk about? Where should we begin? All the discussions over the past few years have provided some fundamental principles , which are basic topics described in the toolkit as starting points for marine conversations. They are: ⠀ Earth has a global and very diverse Ocean. The Ocean and marine life play a strong role in Earth's dynamics. The Ocean exerts a significant influence on climate. The Ocean makes Earth habitable. The Ocean supports an immense diversity of life and ecosystems. The Ocean and humanity are strongly interconnected. There is much to discover and explore in the Ocean. ⠀ The toolkit provides innovative tools, methods, and resources to help educators and learners around the world understand these complex ocean processes and functions, and to raise awareness of the most pressing issues within the topic. While these principles are the result of recent research in ocean science, for communication and connection to occur, it is crucial that other types of knowledge be incorporated, fostering opportunities to recognize regionalities and people, which are so diverse here in Brazil. Ocean literacy helps us situate society in its current relationship with the sea and guide it toward treating the ocean with respect in the present to ensure the same opportunities for future generations. It's high time the ocean was part of our conversations, right? About the guest author: Mari Andrade Mariana researches and communicates participatory processes for ocean conservation. She is a member of the National Governance Committee, an All-Atlantic Youth Ambassador in Brazil ( @queridoatlantico / @AllAtlanticYouth) and co-founder of @bloom.ocean : an agency for change for people, projects, and businesses connected to the ocean. She is also a researchers for the São Paulo Strategic Plan for Monitoring and Assessment of Marine Litter , contributes to the Marine Science Entrepreneurship Working Group ( @gtecienciasdomar ) and is an advisor to the Women’s League for the Ocean ( @ligadasmulherespelosoceanos ). This text is based on a series of posts about Ocean Literacy that Mariana wrote for @queridoatlantico. #OceanDecade #UN #SustainableDevelopment #MCTI #UNESCO #IOC #JanaDelFaveroChat #GuestAuthors #DemystifyingNeptune
- O impacto silencioso das espécies exóticas invasoras: o que está em jogo nos ecossistemas insulares?
Por Millena Barreto Hoffmann Você sabia que algumas espécies (às vezes algumas mais comuns e carismáticas como os gatos domésticos), podem representar uma ameaça real à biodiversidade e à vida humana? Ilustração por Joana Dias Ho . Embora a maioria de nós as considere parte do cotidiano, espécies exóticas , quando introduzidas em novos ambientes, podem causar estragos incalculáveis. O que são essas espécies? O que acontece quando elas são introduzidas em sistemas insulares, como o arquipélago de Fernando de Noronha? E como isso afeta diretamente os serviços que a natureza nos oferece, como o turismo, a regulação do clima e os recursos naturais essenciais para nossa sobrevivência? Em um recente estudo publicado na revista Ecosystem Services, investigamos como quatro espécies exóticas invasoras – o gato doméstico ( Felis catus ), o teiú ( Salvator merianae ), o rato-preto ( Rattus rattus ) e a árvore leucena ( Leucaena leucocephala ) – impactam serviços ecossistêmicos vitais. (A) Gato doméstico ( Felis catus ) predando o lagarto mabuia (Foto: Guilherme Tavares Nunes); (B) leucena (Leucaena leucocephala ) (Foto: Evandro Jolkowski); (C) rato-preto ( Rattus rattus ) (Foto: Milos Andera); e (D) teiú ( Salvator merianae ) predando um filhote de tartaruga marinha (Foto: Elizeu Souza Júnior). Licença Creative Commons (CC BY). Como as espécies exóticas invasoras alteram os ecossistemas? Para aprofundarmos isso, precisamos entender que espécies exóticas são aquelas introduzidas em um ambiente fora de sua área de distribuição natural (geralmente por ação humana). Quando se estabelecem e proliferam, podem causar impactos ambientais, econômicos e até ameaçar a saúde pública, denominadas portanto como espécies exóticas invasoras . Os serviços ecossistêmicos, por sua vez, são os benefícios que a natureza proporciona às pessoas, incluindo a regulação do clima, a provisão de recursos naturais e as oportunidades de lazer e turismo. As espécies exóticas invasoras impactam os serviços ecossistêmicos de diversas formas. Por exemplo, quando uma planta invasora reduz o habitat ecológico de plantas nativas cruciais na regulação de temperatura e precipitação local; ou quando competem com espécies nativas que fornecem recursos alimentares, como frutas e peixes, diminuindo sua disponibilidade; além disso, as invasoras podem alterar a paisagem, tornando o ambiente menos atrativo para o turismo. No caso de Fernando de Noronha, os efeitos das invasoras são intensificados pela característica da ilha. A proliferação e distribuição dessas espécies são facilitadas pelo seu isolamento geográfico, enquanto as espécies nativas possuem mecanismos de defesa mais limitados contra elas. O estudo identificou 21 serviços ecossistêmicos na ilha, divididos em três categorias: provisão (recursos essenciais), regulação e manutenção (processos ecológicos) e culturais (valores históricos e turísticos). Veja exemplos do impacto de algumas espécies em Fernando de Noronha: O gato doméstico foi introduzido no arquipélago possivelmente durante o século XVII e atualmente conta com uma população estimada em 1.287 indivíduos na ilha principal, sendo 439 selvagens. Destacam-se como um dos principais responsáveis pelos impactos negativos na fauna nativa, como aves (como o sebito e a cocoruta) e répteis (como a mabuia), além de ser um potencial transmissor de doenças, como a toxoplasmose. O rato-preto , introduzido possivelmente no século XVI após os primeiros exploradores europeus, também representa uma ameaça significativa, competindo por recursos e servindo como vetor de doenças. Atualmente, esses ratos são encontrados nas ilhas principais e secundárias, mesmo em regiões isoladas e desprovidas de atividade humana. O teiú , foi documentado pela primeira vez em 1950, mas provavelmente chegou antes, potencialmente introduzido para controle de ratos (como os gatos) ou como fonte de alimento de emergência. Os teiús são agora os predadores mais abundantes na ilha, predando uma variedade de espécies nativas, incluindo filhotes de tartarugas. Já a leucena , uma árvore invasora, foi introduzida intencionalmente para fins como forragem e sombreamento. Desde então, essa espécie se tornou a planta invasora mais disseminada na ilha, reduzindo severamente o espaço para a vegetação nativa, impactando toda a cadeia ecológica. O que afinal descobrimos no estudo? Os resultados do estudo indicam que todas essas espécies causam perdas significativas nos serviços ecossistêmicos da região, afetando processos ecológicos essenciais, como a polinização e a diversidade genética, além de comprometerem serviços culturais que sustentam a economia local, como o turismo. Embora a leucena apresente alguns benefícios pontuais, como a proteção contra erosão, sua expansão descontrolada sufoca espécies nativas essenciais para o equilíbrio ecológico. Para avaliar esses impactos, utilizamos abordagens inovadoras, combinando a Avaliação de Efeitos de Espécies Invasoras (INSEAT) com modelos do software InVEST, o que permitiu mapear as áreas mais vulneráveis à perda de serviços ecossistêmicos. As zonas de vegetação primária, que abrigam as espécies nativas, foram identificadas como as mais ameaçadas, e esse resultado é fundamental para embasar planos de manejo nas unidades de conservação. Com essas informações, é possível direcionar ações mais eficazes para o controle das espécies invasoras e a conservação dos ecossistemas locais. Qual é a solução para esse problema crescente? Os achados da pesquisa reforçam a necessidade urgente de estratégias integradas para o controle de espécies exóticas invasoras em Fernando de Noronha. É crucial considerar tanto a conservação da biodiversidade quanto a percepção da comunidade local. A gestão dessas espécies é essencial para proteger a biodiversidade nativa e manter os serviços ecossistêmicos. Por isso, priorizamos o manejo de alto impacto para gatos domésticos e ratos-pretos, focando ações em áreas vulneráveis, como as primitivas. Além disso, é essencial preencher lacunas de pesquisa, especialmente sobre a leucena, para entender seus papéis ecológicos e informar o manejo direcionado. Mais do que nunca, devemos promover o monitoramento contínuo e a educação ambiental. Isso garante que escolhas públicas e governamentais sejam feitas com responsabilidade e conhecimento, garantindo que o patrimônio natural de Fernando de Noronha – e de tantos outros ecossistemas – não seja irreversivelmente comprometido. Esforços futuros também devem quantificar valores econômicos e culturais dos serviços ecossistêmicos afetados, usando ferramentas como INSEAT e InVEST. Isso refinará avaliações e apoiará decisões baseadas em evidências. Ao adotar uma abordagem integrativa, reforçamos a relevância global de combater os impactos das espécies exóticas invasoras, apoiando a conservação e a resiliência dos ecossistemas insulares. O artigo completo foi publicado na revista Ecosystem Services e pode ser acessado pelo link: https://doi.org/10.1016/j.ecoser.2025.101703 Referências / Sugestão de leitura: Carleton, M.D., Olson, S.L., 1999. Amerigo Vespucci and the rat of Fernando de Noronha: a new genus and species of Rodentia (Muridae: Sigmodontinae) from a volcanic island off Brazil’s continental shelf. Am. Museum Novitates 3256, 1–59. Dias, R.A., Abrahao, C.R., Micheletti, T., Mangini, P.R., Gasparotto, V.P.O., Pena, H.F.J., Ferreira, F., Russell, J.C., Silva, J.C.R., 2017. Prospects for domestic and feral cat management on an inhabited tropical island. Biol. Invasions 19, 2339–2353. Fonseca, F.S., Mangini, P.R., Mello, T.J., Araújo, R., Silva, J.C.R., Micheletti, T., 2021. Feral cat population rises on Fernando de Noronha archipelago: wildlife needs different cat control approaches, and needs it now. Biodiversidade Brasileira 11, 1–9. https://doi.org/10.37002/biobrasil.v11i3.1888 . IPBES. 2023. Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services - Summary for policymakers of the thematic assessment report on invasive alien species and their control of the intergovernmental science-policy platform on biodiversity and ecosystem services. Roy, H. E., Pauchard, A., Stoett, P., Renard Truong, T., Bacher, S., Galil, B. S., Hulme, P. E., Ikeda, T., Sankaran, K. V., McGeoch, M. A., Meyerson, L. A., Nunez, M. A., Ordonez, A., Rahlao, S. J., Schwindt, E., Seebens, H., Sheppard, A. W., Vandvik, V. (Eds.). Bonn: IPBES secretariat. DOI: 10.5281/zenodo.7430692. Mello, T.J., Oliveira, A.D., 2016. Making a bad situation worse: an invasive species altering the balance of interactions between local species. PLoS One 11, e0152070. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0151707 . Sobre a autora: Graduada em Ciências Biológicas com Ênfase em Biologia Marinha e Costeira (UERGS/UFRGS) e atualmente mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia (UFRGS), Millena já investigou os efeitos de espécies invasoras em Fernando de Noronha e atuou como IC no projeto "Uso tridimensional por aves marinhas e peixes-voadores no arquipélago de São Pedro e São Paulo". Atualmente, realiza sua pesquisa de mestrado sobre a ecologia individual de aves marinhas contaminadas no Arquipélago dos Abrolhos. Apaixonada pelo mar, pratica natação sempre que possível para manter o contato com a água. Além disso, acredita que a ciência só tem valor quando compartilhada, dedicando-se também à educação ambiental e divulgação científica. Para contato, seu e-mail é millenahoffmann@gmail.com . #Convidados #CiênciasDoMar #EspéciesInvasoras #FernandoDeNoronha #Biodiversidade #ServiçosEcossistêmicos












